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PF vai apurar hospedagem de Bolsonaro na Embaixada da Hungria

Ex-presidente ficou no local por dois dias, revelou jornal dos EUA




Bolsonaro passou duas noites na embaixada da Hungria após operação e apreensão de passaporte, diz jornal. Foto: Embaixada da Hungria/Divulgação

Agência Brasil 🇧🇷 

A Polícia Federal vai apurar as circunstâncias da hospedagem do ex-presidente Jair Bolsonaro na Embaixada da Hungria, em Brasília, entre os dias 12 e 14 de fevereiro, poucos dias após a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que investiga a existência de uma suposta organização criminosa que teria atuado numa tentativa de golpe de Estado no Brasil. A informação foi confirmada à Agência Brasil por fontes da PF. Segundo essas fontes, a polícia vai verificar se Bolsonaro violou alguma das restrições impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 


A hospedagem de Bolsonaro na embaixada foi revelada nesta segunda-feira (25), pelo jornal norte-americano The New York Times. A matéria do jornal dos Estados Unidos sugere que Bolsonaro, alvo de investigações criminais, tentou fugir da justiça já que o ex-presidente não pode ser preso em uma embaixada estrangeira que o acolheu, porque está legalmente fora do alcance das autoridades nacionais.


O The New York Times teve acesso a imagens da câmera de segurança da embaixada, que mostram que o ex-presidente permaneceu dois dias no local, acompanhado por seguranças e funcionários do escritório diplomático. O embaixador Miklós Halmai também aparece acompanhando o presidente no local.



A publicação analisou as imagens das câmeras de segurança do local e imagens de satélite, que mostram que Bolsonaro chegou no dia 12 de fevereiro à tarde e saiu na tarde do dia 14 de fevereiro.


As imagens mostram também que a embaixada estava praticamente vazia, exceto por alguns diplomatas húngaros que moram no local. Segundo o jornal, os funcionários estavam de férias porque a estadia de Bolsonaro foi durante o feriado de carnaval.


Segundo a reportagem, no dia 14 de fevereiro, os diplomatas húngaros contataram os funcionários brasileiros, que deveriam retornar ao trabalho no dia seguinte, dando a orientação para que ficassem em casa pelo resto da semana.


Defesa

A defesa do ex-presidente da República confirmou que ele passou dois dias hospedado na embaixada da Hungria em Brasília “para manter contatos com autoridades do país amigo”. Em nota, os advogados de Bolsonaro dizem que ele mantém um bom relacionamento com o premier húngaro, com quem se encontrou recentemente na posse do presidente Javier Milei, em Buenos Aires.


“Nos dias em que esteve hospedado na embaixada magiar [húngara], a convite, o ex-presidente brasileiro conversou com inúmeras autoridades do país amigo atualizando os cenários políticos das duas nações. Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, diz a defesa de Bolsonaro.


Na tarde de hoje, em São Paulo, durante um evento do PL, o seu partido, Bolsonaro comentou indiretamente o caso, dizendo que frequenta embaixadas e conversa com chefes de Estado.


"Muitas vezes esses chefes de Estado ligam para mim, para que eu possa prestar informações precisas do que acontece em nosso Brasil. Frequento embaixadas também aqui pelo nosso Brasil, converso com os embaixadores. Não tenho passaporte, está detido, senão estaria com o Tarcísio [Freitas, governador de São Paulo] juntamente com Ronaldo Caiado [governador de Goiás] nessa viagem a Israel, um país irmão, um país fantástico em todos os aspectos.


Passaporte

O passaporte de Bolsonaro foi apreendido pela Polícia Federal durante a Operação Tempus Veritatis, deflagrada pela PF no dia 8 de fevereiro, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.


A operação foi deflagrada após o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ter fechado acordo de colaboração premiada com investigadores da PF.


Autonomia

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha, comentou, em entrevista a jornalistas, nesta segunda-feira, a notícia da hospedagem de Bolsonaro na embaixada húngara. "Que o Bolsonaro é um fugitivo confesso, é zero surpresa. Mais uma vez, ele mostrou seus planos de fugir. Fez isso no final do ano retrasado [2022], depois das eleições, ter fugido para os Estados Unidos", afirmou.


Em seguida, observou que cabe à Justiça analisar se o caso configura alguma irregularidade e destacou que o governo garante "absoluta autonomia ao funcionamento institucional da Polícia Federal". 


Maioria do TSE mantém decisão que declarou Bolsonaro inelegível



Em julgamento virtual, ministros negaram recurso do ex-presidente


Foto: Marcello Casal JR/Agência Brasil 

Agência Brasil 🇧🇷 

A maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou hoje (22) recurso para derrubar a decisão que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível por oito anos. O julgamento do caso foi iniciado na madrugada desta sexta-feira no plenário virtual do tribunal.

Em junho deste ano, Bolsonaro foi condenado pelo TSE por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação pela reunião realizada com embaixadores, em julho do ano passado, no Palácio da Alvorada, para atacar o sistema eletrônico de votação. A legalidade do encontro foi questionada pelo PDT.

Até o momento, quatro dos sete integrantes do TSE rejeitaram o recurso da defesa. Além do relator, Benedito Gonçalves, votaram no mesmo sentido Alexandre de Moraes, André Ramos Tavares e Cármen Lúcia. Faltam os votos de Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques e Nunes Marques.

No recurso apresentado ao TSE, os advogados de Bolsonaro alegaram que houve cerceamento de defesa no julgamento pela falta de análise de todos os argumentos apresentados pela defesa e para apresentação de testemunhas.

O caso é analisado no julgamento virtual, no qual os ministros inserem os votos no sistema eletrônico e não há deliberação presencial. A análise do recurso está prevista para terminar no dia 28 deste mês.

‘Que cada um siga a sua vida’, diz Bolsonaro sobre Mauro Cid, seu braço direito

O tenente-coronel ficou em silêncio durante depoimento sobre fraude na inserção de dados de vacinação

Foto: Reprodução


POR CARTACAPITAL 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) visitou nesta quinta-feira 18 o Senado e participou de uma reunião no gabinete de seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).


Ele chegou à Casa Alta logo depois de o tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, ficar em silêncio durante depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília. Há duas semanas, Cid foi preso acusado de participar de um esquema de falsificação de dados de cartões de vacinação no sistema do Ministério da Saúde.


Cid é suspeito de organizar e operar as alterações, a incluírem os cartões de Bolsonaro e de sua filha Laura.“Não tenho conversado com ele. Está em segredo de justiça isso aí. Vi agora que ele ficou em silêncio. Isso é ele com o advogado dele”, afirmou o ex-capitão a jornalistas. “Excelente oficial do Exército brasileiro. Ele fez o melhor de si. Peço a Deus que não tenha errado. E que cada um siga a sua vida.”


Em depoimento à Polícia Federal na última terça-feira 16, Bolsonaro declarou que Cid administrava sua conta no aplicativo ConecteSUS. Ele alegou, porém, não saber quem controlava o acesso à conta de sua filha Laura. Na oitiva, o ex-capitão disse não ter ordenado a inserção de dados falsos sobre vacinas no sistema.


“INDAGADO se solicitou a MAURO CESAR CID que acessasse o aplicativo ConecteSUS e emitisse o certificado com dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do declarante, respondeu QUE não”, diz um trecho da transcrição do depoimento. Bolsonaro também declarou que se Cid arquitetou o esquema, isso ocorreu “à revelia”, mas disse não acreditar no protagonismo do militar na fraude.


Informado de que o IP utilizado para acessar o ConecteSUS e emitir o certificado falso pertence à Presidência da República e foi cadastrado no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse não saber quem teria acessado o aplicativo.


A enfermeira Cláudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, chefe da Central de Vacinação de Duque de Caxias (RJ), afirmou em depoimento à PF ter emprestado sua senha para o secretário de Governo da cidade, João Brecha, apagar os registros de vacinação do ex-presidente dias depois da emissão.


Silva disse ter compartilhado sua senha por não ver “qualquer má-fé” no pedido do secretário e acreditar que a mudança nos dados seria “idônea”.


A informação inserida no sistema em 21 de dezembro de 2022 é de que Bolsonaro teria tomado duas doses de vacina (em agosto e em outubro). Em 22 de dezembro, um certificado de vacinação do ex-capitão foi emitido dentro do Palácio do Planalto. Cinco dias depois, após uma nova emissão, o usuário em nome da servidora apagou o registro do sistema, sob a justificativa de um “erro”.



Deputados dos EUA pressionam Biden a expulsar Bolsonaro




Em carta, 46 congressistas pedem ao líder americano que revogue permissão de permanência do ex-presidente brasileiro. Texto também exige investigação de possíveis ações tomadas nos EUA em apoio aos ataques em Brasília.

Bolsonaro está na Flórida desde dezembro, quando abandonou a Presidência dois dias antes da posse de Lula. © Evaristo Sa/AFP


 Deutsche Welle

Cresce a pressão nos Estados Unidos para que o presidente do país, Joe Biden, force Jair Bolsonaro a deixar o território americano, na esteira dos ataques perpetrados por apoiadores extremistas do ex-presidente na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.


Um grupo de 46 congressistas do Partido Democrata enviou uma carta a Biden pedindo que ele revogue o visto diplomático ou qualquer permissão que Bolsonaro tenha para permanecer nos EUA.


No documento, os parlamentares também exigem que o governo "investigue qualquer ação tomada em solo americano para ajudar a insurreição" ocorrida em Brasília, seja apoiando, coordenando ou financiando os atos golpistas e violentos.


"Não devemos permitir que Bolsonaro ou qualquer outro ex-funcionário do governo brasileiro se refugie nos Estados Unidos para escapar da justiça por crimes que possam ter cometido durante seu mandato, e devemos cooperar plenamente com qualquer investigação do governo brasileiro sobre suas ações, se solicitado", escreveram os congressistas na carta.


Visto de autoridade

O ex-presidente de extrema direita está na Flórida desde o fim de dezembro, quando abandonou a Presidência da República dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.


Na carta, os democratas observam que Bolsonaro entrou nos EUA ainda como chefe de Estado brasileiro, portando então um visto A-1, concedido a diplomatas ou funcionários de governos.

Vídeo relacionado: Congressistas querem expulsão de Bolsonaro dos EUA (Dailymotion)


"Como ele não é mais o presidente do Brasil, nem está servindo atualmente como funcionário do governo brasileiro, solicitamos que se reavalie o status dele no país para determinar se existe uma base legal para sua estada e se revogue qualquer visto diplomático que possa ter", afirmam.


O governo americano ainda não se manifestou sobre o status legal que Bolsonaro mantém nos Estados Unidos.


Contudo, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, afirmou na segunda-feira que estrangeiros que entram nos EUA com um visto A-1 têm 30 dias para deixar o país se não fizerem mais parte de um governo."Ameaça às instituições democráticas"

Na carta, os congressistas também dizem que Bolsonaro, durante seu governo, ameaçou as instituições democráticas e que suas ações incitaram apoiadores radicais a cometerem atos de violência.


"Sua disseminação de desinformação, sua recusa em pedir a seus apoiadores que aceitassem os resultados das eleições e seus apelos ativos para se mobilizar contra as instituições democráticas incitaram milhares de manifestantes a invadirem prédios do governo e se envolverem em atos violentos", afirma o texto.


Após os ataques golpistas de 8 de janeiro, Biden conversou por telefone com o presidente Lula e expressou "o apoio inabalável dos Estados Unidos à democracia no Brasil".


A condenação entre congressistas americanos também foi rápida, bem como o apoio à expulsão de Bolsonaro do país. Ainda no dia 8, o deputado democrata Joaquín Castro, do Texas, pediu a extradição do ex-presidente brasileiro.


"Ele é um homem perigoso. Deveriam mandá-lo de volta para seu país natal, o Brasil", disse o deputado. "Apoio o presidente Lula e o governo democraticamente eleito no país", completou o democrata, que também relacionou a invasão em Brasília com o ataque ao Capitólio americano em 2021. "Terroristas domésticos e fascistas não podem usar a cartilha de Trump para minar a democracia."


A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, também relacionou os eventos em Brasília com o Capitólio: "Vemos fascistas tentando fazer o mesmo no Brasil." Na mesma mensagem, ela manifestou solidariedade a Lula e apoiou o fim do "refúgio" de Bolsonaro nos EUA.


ek (Efe, AFP)

“Não dá para falar em quem ganhou ou perdeu", diz especialista sobre debate entre Lula e Bolsonaro


Pandemia, corrupção e programas sociais marcaram os principais confrontos entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro no primeiro debate do segundo turno. AP - Marcelo Chello


No primeiro debate do segundo turno, neste domingo (16), Lula e Bolsonaro trocaram acusações sobre pandemia, corrupção, ação social, transposição do São Francisco e crime organizado. Apesar de tenso, o encontro não teve xingamentos nem agressões.


Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília


Difícil apontar quem venceu o primeiro debate entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições. O petista claramente se saiu melhor na primeira parte do confronto direto entre eles, onde cada um teve ao todo 15 minutos e o tema dominante foi a pandemia de Covid-19. Mas, no último bloco, Bolsonaro soube controlar melhor o nervosismo e Lula se alongou demais nas respostas sobre o escândalo na Petrobras, garantindo ao adversário cinco minutos livres de fala ao fim.


“Não dá para falar em quem ganhou ou perdeu. O debate teve momentos. No início, Lula desestabilizou Bolsonaro ao sair do púlpito e se dirigir ao expectador. Mas no terceiro bloco, quando  Bolsonaro encosta em Lula e adota, vamos dizer, um tom mais debochado, ele se sai melhor”, afirmou à RFI o analista político Creomar de Souza. “Bolsonaro ficou, no fim, com um bom tempo para falar, prova de que ficou melhor na última fase, mas acabou que não conseguiu sair de sua bolha e falar para além dos seus”, completou.


Não fugindo à regra desses programas nas últimas eleições, o debate avançou pouco em propostas e os dois saíram pela tangente em várias questões formuladas por jornalistas. Numa delas, ambos disseram que não vão aumentar o número de membros do Supremo Tribunal Federal, iniciativa que tem sido alardeada por apoiadores de Bolsonaro, caso o militar seja reeleito, como forma de aumentar a influência do Executivo sobre o Judiciário.


Magro em projetos, mas carregado de personalismo do tipo “eu fiz” pelas duas partes, o debate da Band acabou surpreendendo pelo tom de civilidade entre os arquirrivais. “Foi mais organizado e civilizado do que imaginávamos. O que vimos foram muitos ataques pessoais, porém não ao ponto de descambar para xingamentos ou coisa do gênero”, disse Souza.


Para o analista o fato é que ambos mostraram nervosismo em algum momento e isso ilustra a divisão dos eleitores que tem levado os especialistas a não fazerem prognóstico sobre o que sairá das urnas dia 30. “Não arriscaria dizer. É uma eleição, é aberta, e o resultado será bem apertado. Vemos a cada semana uma eleição mais complexa”, avaliou Creomar de Souza. Para ele, “Lula parece sentir o peso de ter de manter a vantagem atendendo a expectativas de vários segmentos que votaram nele”, ao passo que “Bolsonaro vai usando a máquina como pode, fazendo o jogo que está habituado a fazer”.


Auxílios


Um dos assuntos mais recorrentes do debate foi ação social e auxílio aos mais pobres. "Eu queria me dirigir ao Nordeste. Porque foi o meu governo que triplicou o valor do Bolsa Família. Antes uma mãe ia a um supermercado e saía com o carrinho vazio. Hoje ela consegue comprar de verdade porque aumentamos o valor", afirmou Bolsonaro.


"Eu pergunto quantas universidades e escolas técnicas você construiu e você fala em Bolsa Família! Saiba que fomos nós que levamos adiante o maior programa de distribuição de renda que esse país já teve. E não era apenas Bolsa Família, mas muito mais, inclusive aumento de 74% do salário mínimo", replicou Lula.


Na primeira etapa do debate, os dois usaram boa parte do tempo para trocar acusações acerca da pandemia de coronavírus, compra de vacinas e programas sociais. Todo mundo viu que você não visitou um hospital e fez pouco caso da doença. Você leva nas costas mais de 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas – acusou Lula. "A vacina foi disponibilizada em dezembro e nós começamos a vacinar em janeiro. Todo mundo que quis recebeu a vacina", retrucou Bolsonaro


Os dois também divergiram ao falar de ações em favelas.


"Eu conheço bem o Rio e o senhor esteve na comunidade do Salgueiro. Não havia nenhum policial ao seu lado, mas você estava rodeado de traficantes. É tão verdade sua afinidade com bandidos e traficantes que as urnas mostraram isso, porque o senhor teve 4 de cada 5 votos vindos dos presídios", criticou Bolsonaro.


"Eu tenho orgulho de ser o único candidato a presidente que vai a uma favela sem colete a prova de balas. E fui mesmo com as pessoas dizendo para tomar cuidado porque o Bolsonaro tem amigos milicianos. Fui no complexo do Alemão num evento com milhares de brasileiros extraordinários, gente honesta que acorda às 5 horas para trabalhar. Os grandes bandidos você sabe onde estão. Seu vizinho tinha mais de cem armas em casa", respondeu Lula.


Crime organizado


Num outro momento de dedos em riste, o tema foi crime organizado. "Tivemos em São Paulo vários militares mortos em ataques criminosos. E o senhor não transferiu o traficante Marcola para um presídio federal. Tive eu que assumir para fazer com Sérgio Moro a transferência dele para um presidente de segurança máxima. Por quê não transferiu?" perguntou Bolsonaro.


"Quem tem ligação com milícias e criminosos você sabe que não sou eu. Você sabe quem é. E se tivessem pedido a gente transferiria, a gente faria. Mas o governo de São Paulo deve ter tido suas razões para não querer a transferência. E fui eu quem construiu cinco presídios de segurança máxima nesse país. Quantos você ergueu? Nenhum", respondeu Lula.


Transposição do rio São Francisco


Bolsonaro e Lula também disputaram a paternidade da transposição do São Francisco. "O projeto é do meu governo que executou 88% das obras. Meu adversário fez apenas 3,5%"Você poderia ter pelo menos sensatez de falar: ‘gente, eu quero dizer que essa obra aqui é do presidente Lula, ele foi mais competente do que eu, eu só vou aqui dar um empurrãozinho para acabar esse pedacinho que tá faltando’. Mas dizer que foi sua? Você acha que alguém acredita?”, disse Lula.


"Era pra ter acabado em 2010, no seu governo. Passou para 2012, no governo Dilma. Só que o Brasil vivia uma explosão de corrupção. O senhor negou água para seus irmãos nordestinos. Eu fui lá, com o Rogério Marinho, que agora se elegeu senador pelo Rio Grande do Norte. O povo reconheceu o trabalho dele", respondeu Bolsonaro. "E foram também vários embates sobre corrupção", disse.


"O senhor comprou 51 imóveis com dinheiro vivo e vem me falar de corrupção?", questionou o candidato petista. "Senhor Lula, o senhor está querendo voltar ao local do crime, é isso que está querendo, mas o povo não vai permitir", afirmou Bolsonaro. 


Além dos dois candidatos o que chamou muito a atenção foi a presença do ex-juiz Sérgio Moro na claque de Bolsonaro, inclusive auxiliando o candidato nos intervalos. Moro deixou o governo acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal, mas agora diz que eles têm mais afinidades que discordâncias.

Em meio à possibilidade de reeleição de Bolsonaro, indígenas vão à Europa pedir ‘socorro’

Sam Sataré Mawé, Tukumã Pataxó, Val Munduruku e Thaline Karajá integram grupo de indígenas da Amazônia que veio à Europa denunciar violações dos seus territórios. © Lúcia Müzell/ RFI

RFI

Um grupo de indígenas de várias etnias da Amazônia está na Europa para pedir ‘socorro’, depois que os resultados do primeiro turno das eleições no Brasil apontaram um segundo turno apertado entre o atual presidente, Jair Bolsonaro, e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Apoiados por organizações ambientalistas francesas, o grupo participa de eventos em Paris e em Bruxelas, onde fica a sede da Comissão Europeia.


Os indígenas querem chamar a atenção para as violações dos seus direitos, como invasões de terras demarcadas, aumento do desmatamento, da contaminação dos rios e dos assassinatos, e exigir ações dos europeus para pressionar o governo brasileiro a protegê-los. Um dos principais eixos de ação é pelas relações comerciais, a exemplo do projeto que tramita nas instâncias europeias para proibir o chamado “desmatamento importado” no bloco – ou seja, interditar a compra de produtos oriundos de áreas desmatadas ilegalmente em outros países externos à União Europeia.


“Mexer na economia é o primeiro passo para cobrar do Brasil que ele tenha compromisso com as nossas pautas socioambientais e tenha responsabilidade. Os nossos direitos precisam ser garantidos de fato, não só no papel”, disse Val Munduruku, que veio do Pará e participou de uma conferência na manhã desta quinta-feira (13).


"A gente precisa, muitas vezes, ter que sair do nosso país, como a gente está fazendo agora, para levar a nossa luta a um patamar que as pessoas conseguem escutar. Dentro do nosso país, na grande maioria das vezes, a gente não tem um espaço de fala”, lamenta Tukumã Pataxó, da Bahia. 



Batalhas no Congresso

Sam Sataré Mawé, do Amazonas, lembra que, das cerca de 30 candidaturas indígenas para a Câmara e o Senado, apenas duas candidatas conseguiram um assento para defender os direitos dos povos originários – Sônia Guajajara e Célia Xacriabá. O perfil mais conservador do Congresso recém-eleito promete tornar ainda mais difícil a luta dos indígenas contra projetos de lei como o PL 490, relativo ao marco temporal, o PL 2633, que facilita a grilagem em terras indígenas, e o PL191, que abre caminho para a mineração. Neste contexto, a possibilidade de reeleição de Bolsonaro, no dia 30 de outubro, é vista como uma ameaça ainda maior.


“Se ele for reeleito, é como se o próprio povo brasileiro estivesse assinando um genocídio dos povos indígenas e de seu próprio povo”, aponta.


Thaline Karajá, também do Pará, observa que, além das questões ambientais, que despertam maior interesse dos europeus, o desmantelamento dos órgãos de atuação ambiental pelo governo federal levou à piora do quadro de outros problemas, como o descaso com a saúde indígena. Segundo ela, no seu território, 12 crianças morreram só nesse ano por doenças evitáveis – número que se elevaria a 3 mil no conjunto dos biomas brasileiros, durante o atual governo.


"A Funai era responsável pela saúde dos povos indígenas, mas ela foi desmontada nesse governo genocida de Bolsonaro. Não temos assistência médica, acesso à saúde. Toda a vez que vou num território, não vejo nenhum aparelho de pressão. Não vejo um antibiótico, remédios básicos”, conta. "Se a gente se machucar, a gente não tem como se cuidar. Se for algo muito sério, a gente morre.”


Assédio a ‘índios de iPhone’

Os indígenas relatam que, pelas redes sociais, têm recebido críticas por viajarem à Europa – mas argumentam que não recebem a atenção que deveriam dos políticos, da imprensa ou da população brasileira. "Tem muita gente lá no Brasil que está falando: ‘olha aí esses índios lá na França, usando iPhone. Eles não são indígenas’. Somos sim, e a gente usar um iPhone, usar a tecnologia para nos proteger não nos faz menos indígenas, não vai mudar o nosso DNA. A gente está pedindo socorro para o planeta, para a vida”,denunciou Thaline Karajá.


"Arco, flecha e telefone" são as armas dos indígenas para denunciar crimes contra seus territórios, afirmam. © Lücia Müzell/ RFI


“Temos o arco e flecha, mas também temos o celular como arma, para filmar e divulgar as violações que sofremos todos os dias. Faz parte das nossas ferramentas para o mundo ver”, complementa Tukumã, antes de Sam Sataré Mawé afirmar que nenhum deles está em Paris para uma viagem romântica.


"É uma questão de luta e resistência. O fato de a gente estar aqui é porque a gente precisa sair porque senão a nossa voz não sai do Brasil. Não estamos aqui porque queremos”, ressalta Sam. "Não é fácil pegar dias de barco, horas de voo, estar em um país diferente, com uma língua diferente, uma alimentação diferente, para falar para as pessoas que as consequências das ações delas nos afetam e influenciam o nosso povo”, insiste.  


Os indígenas realizarão neste sábado (15) uma manifestação em Paris. Na semana que vem, em Bruxelas, devem ser recebidos pelo ministro do Meio Ambiente belga e por autoridades do Parlamento e da Comissão Europeia.

Entre preocupação e entusiasmo: imprensa francesa analisa campanha de Lula para o segundo turno


@ Texto por: RFI

Dois grandes jornais franceses, o Le Monde e o diário econômico Les Echos, analisam nesta terça-feira (11) a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o segundo turno. O petista, líder nas pesquisas de intenção de voto ante Jair Bolsonaro, tem recebido apoios importantes, mas os resultados do primeiro turno preocupam simpatizantes da candidatura progressista.


O Partido dos Trabalhadores deve adaptar sua estratégia, se quiser garantir a vitória em 30 de outubro, escreve o Le Monde. Em reportagem no Rio de Janeiro, o correspondente do jornal francês no Brasil constatou a decepção dos eleitores que votaram em Lula e acreditavam na vitória no primeiro turno. A diferença de apenas 5% à frente de Bolsonaro é vivida com tristeza e grande preocupação pela militância petista. 


As alianças concluídas com Simone Tebet (MDB) e o PDT, de Ciro Gomes, eram necessárias, mas não bastam. Nos próximos dias, Lula precisará conquistar eleitores de centro e de direita. Na avaliação do Le Monde, o petista terá de detalhar medidas destinadas a garantir a estabilidade fiscal e atrair evangélicos com posicionamentos conservadores.


Conquistar o eleitorado evangélico é, aliás, a tarefa mais complicada. Por isso, apesar do desagrado provocado em parte da esquerda progressista, Lula declarou novamente que era contra o aborto na última sexta-feira (7), relata a reportagem. O petista se prepara com afinco para o debate de 16 de outubro, uma vez que seu desempenho, comparado ao de Bolsonaro, foi considerado decepcionante, acrescenta o Le Monde.


Tebet: apoio decisivo?

Em tom um pouco mais otimista, o diário econômico Les Echos diz que Lula recebeu o apoio de economistas importantes, como Armínio Fraga e Octavio de Barros. Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso, declarou apoio ao petista por considerar a política econômica de Bolsonaro "um fracasso". O investidor também nota um crescimento de movimentos autocráticos no mundo, que pouco a pouco deterioram a qualidade da democracia. 


Já Octavio de Barros, fundador do think tank República do Amanhã, acusa Bolsonaro de copiar no Brasil o modelo de governo adotado pelo primeiro-ministro da Hungria, o ultraconservador Viktor Orbán. Segundo Barros, nos últimos quatro anos, as instituições brasileiras foram enfraquecidas e a democracia brasileira foi corroída por dentro.


Bolsonaro aposta no apoio de governadores aliados ao PL para ser reeleito no segundo turno, explica o diário econômico francês. Porém, o cientista político Claudio Couto, da FGV, entrevistado pelo Les Echos, acredita que o apoio de Simone Tebet a Lula é ainda mais valioso em termos de migração de votos.

Lula e Bolsonaro disputarão o segundo turno em 30 de outubro



Os brasileiros terão que esperar mais 27 dias para conhecer o próximo presidente da República. Na votação deste domingo (2), os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) chegaram à frente na corrida presidencial, mas não conseguiram o número de votos necessários para encerrar a escolha e terão que disputar um segundo turno.


Às 23h50, com 99,9% das seções totalizadas, Lula registrou o apoio de 57.173.187 eleitores, o equivalente a 48,4% dos votos válidos. O atual presidente Bolsonaro alcançou 51.051.226  votos (43,22%). 


Os candidatos a presidente e a governador que passaram ao segundo turno podem voltar a fazer campanha depois de 24 horas do fim da votação — isto é, depois das 17h desta segunda-feira (3). A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão recomeça dia 7 e vai até o dia 28. 


Luta pela reeleição

Jair Messias Bolsonaro, 67 anos, tenta permanecer no cargo após ter sido eleito presidente em 2018. Natural de Campinas (SP), é capitão reformado do Exército. Começou sua carreira política no Rio de Janeiro (RJ), em 1989, quando foi eleito vereador. Foi deputado federal por sete mandatos consecutivos, de 1991 e 2018 — ano em que se candidatou a presidente da República. Elegeu-se pelo PSL, mas atualmente está no PL. 


Em setembro de 2018, durante uma passeata em Juiz de Fora (MG), sofreu um atentado a faca e teve que passar por cirurgias e ficar internado. Com uma campanha voltada para temas morais, foi eleito no segundo turno de 2018, com 55% dos votos.


Bolsonaro é pai de cinco filhos. Três deles são políticos: Carlos Bolsonaro é vereador no Rio de Janeiro; Eduardo Bolsonaro é deputado federal por São Paulo; e Flávio Bolsonaro (PL) é senador pelo Rio de Janeiro. Ele também é pai de Jair Renan Bolsonaro. Sua caçula, Laura Bolsonaro, de 11 anos, é fruto do atual casamento, com Michele Bolsonaro.


O vice de Bolsonaro é Walter Souza Braga Netto, 65 anos. Mineiro de Belo Horizonte, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) em 1975 e alcançou o posto de general de Exército, o mais alto da hierarquia da Força.


Durante o governo Bolsonaro, foi ministro da Casa Civil (de fevereiro de 2020 a março de 2021) e da Defesa (entre março de 2021 e abril de 2022). Antes de entrar para a política, atuou como interventor federal no Rio de Janeiro (RJ), de fevereiro a dezembro de 2018, durante o governo do presidente Michel Temer (MDB). Também concorre pelo PL.


Tentativa de retorno

Luiz Inácio Lula da Silva, 76 anos, nasceu em Garanhuns (PE). Aos sete anos, migrou com a família para Santos (SP). Trabalhou em indústrias de metalurgia e foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Liderou greves na região do ABC paulista e, em 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT).


Lula foi deputado federal por São Paulo (1987-1991) e tentou a Presidência da República por três vezes (1989, 1994 e 1998) até ser eleito em 2002, e reeleito, em 2006. 


Em abril de 2018 foi preso, depois de condenado por corrupção. Assim, ele foi impedido de concorrer à Presidência da República naquele ano, com base na Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135, de 2010). O ex-presidente passou 580 dias preso em uma cela da Polícia Federal no Paraná. Em abril de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações de Lula, que recuperou seus direitos políticos.


Lula foi casado com Maria de Lourdes da Silva e com Marisa Letícia Lula da Silva, tendo ficado viúvo dos dois casamentos. Pai de cinco filhos, Lula hoje é casado com a socióloga Rosângela da Silva, conhecida por Janja.


O vice do candidato petista é Geraldo Alckmin (PSB), 69 anos. Médico anestesista e professor, começou sua carreira política em 1973, quando assumiu o cargo de vereador em sua cidade natal, Pindamonhangaba (SP). 


Em 1976 elegeu-se prefeito e, na sequência, deputado estadual e federal. Alckmin foi governador de São Paulo por dois períodos: de 2001 a 2006 e de 2011 a 2018, sendo o político que por mais tempo comandou o governo paulista desde a redemocratização do Brasil.


Ele também tentou a Presidência da República em 2006 e 2018. Em março de 2022, Alckmin migrou do PSDB para o PSB, para ser candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula.


Alckmin é casado, desde 1979, com Maria Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, mais conhecida como Lu Alckmin. O casal teve três filhos: Sophia, Geraldo e Thomaz. Este último morreu em um acidente de helicóptero, em abril de 2015.


Fonte: Agência Senado

Processo mostra que o povo confia nas urnas, aponta Alexandre de Moraes



Em entrevista coletiva na noite deste domingo (2), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, afirmou que o fato de a abstenção não ter aumentado e a quantidade de votos válidos ter crescido são provas da confiança que a população tem no sistema eletrônico de votação.


— A maioria da população acredita fielmente nas urnas eletrônicas. O comparecimento eleitoral e o aumento dos votos válidos em cerca de 7,5 milhões de votos demonstram essa confiança. O que vimos hoje foi um comparecimento maciço da população e um grande número de votos válidos — afirmou, após a confirmação de que as eleições presidenciais terão um segundo turno ente Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).


O presidente do Senado e do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, acompanhou o pronunciamento e a entrevista de Moraes ao lado do ministro, na sede do TSE em Brasília.


Durante a entrevista, Moraes também fez duras críticas a um documento do PL, partido de Bolsonaro, divulgado recentemente, que põe em xeque o sistema eleitoral em relação à transparência das urnas eletrônicas.


— Essa contestação do PL é um documento falso e fraudulento, que está sendo investigado não só no inquérito [das fake news] por mim, mas também pelo ministro Benedito Gonçalves. E no que tange às Forças Armadas, não recebemos nenhum documento — acrescentou o ministro, já que havia sido indagado também sobre alguma eventual contestação partindo dos militares.


Na abertura de seu pronunciamento, Moraes lembrou que o processo eleitoral brasileiro vem sendo oficialmente acompanhado por entidades de prestígio internacional, como o Mercosul, a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Instituto Carter, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e diversas outras, cujos representantes se encontravam no TSE.


Representantes da União Europeia e das embaixadas dos EUA e da Alemanha também estavam no TSE, onde acompanharam a finalização do processo eleitoral em 1° turno e o pronunciamento e declarações de Alexandre de Moraes.


Fonte: Agência Senado

Após disputa acirrada entre Lula e Bolsonaro, analistas dizem que 2° turno será imprevisível

Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro disputarão o segundo turno da eleição presidencial em 30 de outubro. © RFI


A performance de Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu neste domingo (2) e levou decisão da eleição presidencial para o segundo turno. A diferença entre o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual chefe de Estado foi bem menor que do apontavam pesquisas e vitória de conservadores em todo o país mostra força do presidente para o próximo 30 de outubro.


Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília


Em torno das 21 horas e 30 minutos em Brasília, o resultado do 1° turno estava matematicamente definido, segundo anunciou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com 98,67% das urnas apuradas, no final da noite de domingo, Luiz Inácio Lula da Silva contabilizava 49,17% dos votos e Bolsonaro tinha 43,14%. 


Em terceiro lugar, vinha Simone Tebet (MDB) com 4,26% dos votos, seguida por Ciro Gomes (PDT) com 2,19%, Soraya Thronicke (União) com 0,83%, e Felipe D'Avila (Novo) com 0,26%. Nas últimas colocações, estavam Padre Kelmon (PTB) com 0,07%, Léo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU) com 0,02%, e Constituinte Eymael com 0,01%. Os votos nulos contabilizaram 1,78% e os brancos 0,94%.


Até sábado (1°), as pesquisas de intenção de voto apontavam o líder petista como o grande favorito para voltar ao Palácio do Planalto, incluindo a possibilidade de vencer no primeiro turno. No entanto, Brasil só vai conhecer seu presidente da República em 30 de outubro e a essa altura não é possível mais apontar um favorito. Jair Bolsonaro liderou boa parte da apuração, quando os Estados do sul e sudeste estavam com contagem mais avançada.

Luiz Inácio Lula da Silva virou o placar quando o total apurado já estava em 70% das urnas e os votos no nordeste e norte começaram a avançar. Os dois mantiveram uma margem muito próxima de votos quase todo o tempo. 


Resultados inesperados


“O resultado do primeiro turno da eleição surpreendeu muita gente. A imprensa, os institutos de pesquisa, políticos e analíticos. Não só pelos votos que Bolsonaro alcançou, mas pelas votações estaduais onde representantes do bolsonarismo mais puro sangue ganharam já no primeiro turno”, disse à RFI o historiador Francisco Teixeira. “O centro do Brasil ruiu. O PT e seus aliados conseguiram uma sobrevida, mas uma sobrevida muito difícil”, reiterou.


Mostra de como os bolsonaristas abocanharam mais votos do que diziam os institutos de pesquisa está no Sudeste. Em São Paulo, por exemplo, o ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ficou na frente de Fernando Haddad (PT). Os dois vão disputar o segundo turno. No senado por São Paulo, contrariando as expectativas, venceu o astronauta e ex-ministro Marcos Pontes (PL), derrotando o até então favorito Márcio França (PSB). No Rio de Janeiro, o atual governador Cláudio Castro (PL) foi reeleito no primeiro turno.


Para o historiador, a campanha pelo voto útil fez migrar votos para o PT e, assim, é de se esperar que os que ainda votaram em outros candidatos deem uma vantagem a Bolsonaro na segunda fase. “Teremos uma eleição entre dois polos, sem nenhum centro. O centro não existe mais. E há possibilidade de que grande parte dos votos que ainda foram para Ciro Gomes, Simone Tebet e mesmo para alguns nanicos migrem agora para Jair Bolsonaro. O Brasil nesse momento vive a real chance de ter a continuidade desse governo”, analisa Teixeira.


No Senado, alguns destaques: o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro foi eleito representante do Paraná. A ex-ministra de Bolsonaro, Damares Alves levou a vaga pelo Distrito Federal. O vice-presidente, Hamilton Mourão, venceu a disputa  no Rio Grande do Sul com o petista Olívio Dutra. Em São Paulo, contrariando pesquisas, venceu o ex-ministro de Bolsonaro, o astronauta Marco Pontes.

Bolsonaro e Lula, de norte a sul

Bolsonaro esteve em Pernambuco, Lula em Curitiba   -   Direitos de autor  SILVIO AVILA/AFP

@ De  Euronews

A grande velocidade, aproximam-se as eleições presidenciais brasileiras de 2 de outubro. Mas os números parecem abrandar as pretensões de Jair Bolsonaro, que esteve em campanha por Pernambuco. A sondagem do Instituto Datafolha dá-lhe 33% dos votos contra 45% para o rival Lula da Silva.


"A nossa família é sagrada. Nós defendemos a família de verdade. Nós não queremos a legalização de drogas aqui no Brasil. Nós não queremos a legalização do aborto aqui no Brasil. E nós não admitimos a ideologia de género para os nossos filhos", declarou o presidente em Caruaru.


Já Lula da Silva andou por Curitiba, lá onde esteve preso durante 580 dias. Entre as várias personalidades que o vieram apoiar esteve a antiga presidente, Dilma Rousseff.


"Todo o mundo sabe que Bolsonaro não entende de educação, não entende de emprego, não entende de sindicato, não entende de enfermagem, não entende absolutamente de nada a não ser de fake news e mentir para a sociedade brasileira como ele faz todo o santo dia", disse Lula.


Caso o escrutínio não se resolva no primeiro turno, o segundo turno está marcada para 30 de outubro.

Eleições 2022: Vantagem de Lula é folgada ou apertada? Por que pesquisas dão resultados diferentes



Pesquisas eleitorais de diferentes institutos respeitados no Brasil têm captado a mesma tendência na disputa presidencial: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera as pesquisas, enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), aparece em segundo lugar, seguido de longe por Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).


No entanto, o tamanho da vantagem de Lula sobre Bolsonaro medida nessas pesquisas tem variado bastante. Enquanto alguns desses levantamentos colocam o petista com chance de vitória já no primeiro turno, em 2 de outubro, outros indicam que o mais provável é a disputa ser decidida apenas no dia 30 de outubro, em um segundo turno contra o candidato à reeleição.

A pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (15/09), por exemplo, indica que o petista lidera com folga a corrida eleitoral: ele recebeu 45% das intenções de voto, contra 33% de Bolsonaro, uma distância de doze pontos percentuais.


A sondagem Ipec divulgada na segunda-feira (12/09), por sua vez, traz o melhor cenário para Lula: ele apareceu com 46% da preferência dos eleitores, uma vantagem de 15 pontos percentuais sobre o candidato à reeleição, que teve 31%.


Considerando apenas votos válidos (sem contar brancos e nulos), esse levantamento coloca Lula com 51% de apoio dos eleitores, o que pode ser suficiente para elegê-lo em primeiro turno.


Já na pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira (14/09), a diferença entre os dois está em oito pontos percentuais, com Lula recebendo 42% das intenções de voto e Bolsonaro, 34%.


O Ipec foi fundado por executivos do antigo Ibope Inteligência, instituto de longa tradição no Brasil que fechou as portas em 2021. Por isso, é tido como referência em pesquisa eleitoral, assim como o Datafolha, que atua há décadas no ramo.


A Quaest começou a fazer pesquisas eleitorais em âmbito nacional apenas neste ano, mas é respeitada por especialistas no tema.


Outros levantamentos recentes, feitos por telefone, apontaram margem ainda mais estreita que a da Quaest. O Poder Data, por exemplo, divulgou também na quarta-feira um levantamento em que a distância é de apenas seis pontos percentuais, com 43% para o petista e 37% para o presidente.


A diferença é a mesma captada pela última pesquisa da FSB, divulgada segunda-feira, que deu 41% para Lula e 35% para Bolsonaro.


Já o Ipespe, outro que faz pesquisa por telefone, divulgou no sábado (10/09) sondagem que mostra o petista com 44% e o presidente com 36%, uma distância de oito pontos.


Quase todos os levantamentos citados têm margem de erro de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. A única exceção é o do Ipespe, cuja margem de erro é de três pontos.


O que explica diferenças? Qual é mais correta?




Essas discrepâncias entre as pesquisas têm levantado questionamentos nas redes sociais: afinal, qual pesquisa estaria mais correta? E o que explica essas variações?


Segundo especialistas em pesquisa eleitoral ouvidos pela BBC News Brasil, é normal que diferentes institutos não tenham resultados idênticos porque a forma como cada um faz a pesquisa varia.


Isso está relacionado a escolhas metodológicas de cada empresa, explica o estatístico Neale Ahmed El-Dash, que estudou métodos de pesquisa durante seu doutorado na USP e é fundador da empresa Polling Data.


Por exemplo, alguns institutos optam por fazer pesquisas presenciais, em que as entrevistas com os eleitores são feitas nas ruas (Datafolha) ou em visitas aos domicílios dos entrevistados (Ipec e Quaest). Outros institutos preferem fazer as entrevistas por telefone, opção mais barata.


Neste ano, as pesquisas presenciais têm captado, em geral, uma vantagem maior para Lula, enquanto as por telefone têm indicado que Bolsonaro estaria mais próximo do petista - uma hipótese para essa diferença é que esse método teria mais dificuldade de medir a opinião de eleitores mais pobres que preferem Lula, já que uma parte da população de menor renda não tem acesso a telefone (entenda melhor ao final da reportagem).


No entanto, tem chamado atenção o fato de mesmo institutos que fazem pesquisa presencial domiciliar terem captado resultados bem diferentes entre si, como Ipec e Quaest.


Nesse caso, o principal fator que parece explicar a discrepância é a diferença de metodologia dos dois institutos para definir o perfil de renda dos entrevistados.


Toda pesquisa é feita a partir de uma amostra. Levantamentos eleitorais nacionais, por exemplo, costumam ouvir cerca de mil a três mil pessoas. Para que esse grupo sirva como um bom termômetro da opinião dos mais de 156 milhões de eleitores brasileiros, é importante que o perfil dos entrevistados reproduza o perfil do eleitorado.


Por exemplo, os registros oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que mulheres são 53% dos eleitores e homens, 47%. Dessa forma, os institutos buscam uma amostra que tenha 53% de mulheres entrevistadas e 47% de homens.


Tamanho da vantagem de Lula sobre Bolsonaro tem variado bastante nas pesquisas

A definição da renda dos entrevistados, porém, é mais complexa e cada instituto adota metodologias diferentes, explicou à reportagem o estatístico Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Survey Research Center, da Universidade de Michigan.


Na pesquisa do Ipec, que dá maior vantagem a Lula, 57% dos entrevistados eram pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos. Já na pesquisa Quaest, em que a liderança de Lula está mais apertada, 38% dos eleitores ouvidos estão nesse grupo de renda.


Essa diferença tem impacto grande no resultado porque Lula tem recebido apoio bem maior entre os mais pobres. Dessa forma, uma pesquisa que ouve mais eleitores desse segmento, tende a medir uma intenção de voto maior para o ex-presidente. Já a que ouve mais eleitores de maior renda tende a medir um cenário melhor para Bolsonaro.


Para checar se essa hipótese está correta, Raphael Nishimura fez uma simulação, aplicando a distribuição dos grupos de renda da Quaest nos resultados do Ipec e vice-versa. A simulação confirmou a tese, pois mostra uma aproximação do resultado dos dois institutos.


Quando se aplica a distribuição de renda do Ipec nos dados coletados pela Quaest, Lula aparece com 45% de intenção de voto (em vez de 42%) e Bolsonaro com 32% (em vez de 34%). A diferença entre ambos então sobe de oito para treze pontos nessa simulação, se aproximando da vantagem de quinze pontos medida pelo Ipec.


Já quando se aplica a distribuição de renda da Quaest nos dados coletados pelo Ipec, Lula fica com 43% (em vez de 46%) e Bolsonaro com 35% (em vez de 31%), reduzindo a diferença de quinze para oito pontos (a mesma medida pela Quaest).


Por que os institutos têm faixas de renda tão diferentes?

Alguns analistas políticos têm afirmado nas redes sociais que essa diferença metodológica seria consequência do atraso no Censo, que estava previsto para 2020, mas está ocorrendo apenas agora. Essa pesquisa é realizada a cada dez anos pelo IBGE e coleta dados de renda de toda a população brasileira.


Segundo a avaliação desses analistas, a falta de um Censo atualizado deixou os institutos sem parâmetros confiáveis de renda, provocando uma grande variação das faixas usadas nas pesquisas.


No entanto, os especialistas consultados pela reportagem não consideram o atraso do Censo relevante para as pesquisas eleitorais. Segundo eles, outro levantamento realizado pelo IBGE trimestralmente, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), fornece bons parâmetros de renda, substituindo bem o Censo.


Dessa forma, dizem os entrevistados, o que explica a diferença são escolhas metodológicas de cada instituto.


No caso da Quaest, o instituto aplica exatamente a distribuição de renda medida pela Pnad, cujo dado consolidado mais recente é de 2021.


Dessa forma, seus entrevistadores têm ido a campo sempre com o objetivo de ouvir 38% de pessoas com renda familiar de até dois salários mínimos, 40% com renda familiar entre dois e cinco salários mínimos, e 22% com renda familiar acima de cinco salários mínimos.


Já Ipec e Datafolha não utilizam cotas de renda nas suas sondagens. Ou seja, ambos vão a campo sem ter como meta cumprir um certo percentual de pessoas em cada faixa salarial.


A BBC News Brasil tentou entrevistar a diretora do Ipec, Márcia Cavallari, para entender melhor a metodologia empregada, mas não obteve retorno.


Já a diretora do Datafolha, Luciana Chong, falou com a reportagem. Segundo ela, o instituto usa apenas cotas fixas de gênero e idade, tendo como referência os dados oficiais do TSE sobre a composição do eleitorado.


No entanto, embora não haja cotas para outras variáveis, o Datafolha usa dados do seu histórico de pesquisas para garantir que a amostra represente bem outras características do perfil dos eleitores. O instituto tem décadas de atuação.


"Além da variável renda, o Datafolha monitora outras: religião, escolaridade, ocupação, voto declarado em 2018, para garantir que a amostra é representativa do universo pesquisado. Para isso consideramos nosso histórico de pesquisas", respondeu por escrito.


Para Chong, não faz sentido usar uma cota fixa de renda porque os ganhos dos brasileiros têm variado muito, ainda mais após a pandemia de covid-19, quando o governo pagou benefícios sociais de forma intermitente para a população.


Segundo pesquisas do Datafolha, a faixa de brasileiros com até dois salários mínimos de renda familiar subiu de 48% para 60% da população no momento em que o pagamento do Auxílio Emergencial foi suspenso pelo governo, no final de 2020. Em meados de 2021, o benefício retomou, em valor menor.


Depois, já no final daquele ano, o governo passou a pagar o Auxílio Brasil, que teve o valor elevado de R$ 400 para R$ 600 no mês passado. Atualmente, o Datafolha considera que os brasileiros com até dois salários mínimos de renda familiar são 51% da população, patamar que serve de parâmetro nas pesquisas eleitorais.


Já o diretor da Quaest, Felipe Nunes, diz que a distribuição de renda medida pela Pnad não sofre variações tão bruscas ano a ano, de modo que o dado de 2021 continua adequado para 2022. Na sua avaliação, não usar cotas de renda pode levar as pesquisas a subestimarem em suas amostras os grupos de renda mais alto.


"A maior crítica feita a pesquisas domiciliares, por sinal bem fundamentada, diz respeito à dificuldade de se ter acesso a condomínios e edifícios: é muito trabalhoso tentar entrevistar um morador de um luxuoso edifício em Pinheiros (bairro nobre de São Paulo). Sem as cotas de renda, é possível que se subestime esses eleitores", argumentou em artigo ao jornal O Globo, em que detalha a metodologia da Quaest.


Nishimura também considera a Pnad uma boa referência para cotas de renda. Ele diz, porém, que não é possível saber qual dos institutos está medindo melhor a intenção de voto do eleitor.


"Existem inúmeras decisões metodológicas que os institutos precisam fazer e, cada uma delas, acarreta em consequências para a qualidade das estimativas de pesquisa", ressalta.


O estatístico da Universidade de Michigan lembra que pesquisas eleitorais são retratos do sentimento do eleitor no momento das entrevistas e não servem para prever o resultado das urnas, já que as preferências do eleitor podem mudar até o dia da votação.


Dessa forma, ele diz, não adianta comparar as pesquisas feitas agora com o saldo das urnas em outubro. Na sua avaliação, a melhor forma de avaliar a qualidade da metodologia de cada instituto seria comparar pesquisas de boca de urna (feitas no dia da votação) com o resultado oficial contabilizado pelo TSE. No entanto, como o sistema eletrônico brasileiro permite apurar o resultado oficial com muita agilidade, sondagens de boca de urna estão se tornando pouco comuns.


Pesquisas por telefone x pesquisas presenciais

A pesquisa presencial, adotada pelo Datafolha e o antigo Ibope (atual Ipec), é o método de sondagem eleitoral com mais tradição no Brasil. Os levantamentos por telefone, porém, têm se tornado cada vez mais comuns por aqui, ressalta El-Dash, tendência que acompanha o que ocorreu em outros países, como Estados Unidos.


Segundo ele, boas pesquisas podem ser realizadas com ambos os métodos, que apresentam vantagens e desvantagens. A pesquisa por telefone, por exemplo, não alcança o eleitor que não possui uma linha fixa ou um celular. Por outro lado, explica El-Dash, é mais fácil chegar a eleitores de maior renda, que vivem em condomínios, assim como aqueles que moram em áreas mais violentas, em que também pode ser difícil o acesso da pesquisa presencial.


De acordo com El-Dash, não está totalmente claro porque as pesquisas por telefone costumam dar uma vantagem menor para Lula do que as presenciais.


"Uma hipótese é que as pessoas se sentem mais à vontade para falar que vão votar no Bolsonaro no telefone do que ao vivo, mas a gente não tem dados para comprovar isso", ressalta.


Outra possível explicação, diz Nishimura, é que Lula teria apoio maior que Bolsonaro entre eleitores mais pobres, sem telefone, que acabam não sendo entrevistados nesses levantamentos.


Os institutos que realizam pesquisas por telefone minimizam esse efeito. O gerente de Pesquisas de Opinião Pública do Instituto FSB Pesquisa, André Jacomo, ressalta que 96,8% dos domicílios brasileiros possuem acesso à telefonia fixa ou móvel, segundo o dado mais recente do IBGE, relativo ao último trimestre de 2019.


"Há um acesso quase universal à telefonia no Brasil, de acordo com as estatísticas oficiais. Assim, não há como afirmar que a pesquisa telefônica não alcança o eleitor de menor renda", disse à reportagem.


"Em pesquisas eleitorais, optamos desde 2018 pelas pesquisas telefônicas porque elas se mostram mais ágeis e antecipam tendências de movimentos do eleitorado. Nas eleições de 2018, nossas pesquisas telefônicas anteciparam todos os movimentos dos eleitores e, às vésperas do primeiro e do segundo turnos, nos aproximamos muito do resultado das eleições, sempre com diferenças inferiores à margem de erro", argumentou ainda.


Para Nishimura, é positivo que o país tenha um cardápio de pesquisas com diferentes metodologias. Isso permite agregar o resultado de diferentes levantamentos, minimizando eventual viés que cada pesquisa possa ter.


Na eleição desse ano, alguns veículos de imprensa brasileiros criaram agregadores de pesquisas eleitorais. Cada um escolhe quais institutos acompanhar e alguns optam por dar diferentes pesos para as pesquisas, de acordo com sua tradição, ou decidem excluir sondagens que fogem muito dos resultados mais comuns.


O agregador de pesquisas eleitorais do jornal Estado de S. Paulo, por exemplo, que considera pesquisas por telefone e presenciais de 14 empresas, indicava na noite de quarta-feira (14/09) que a intenção de voto em Lula está em 44%, contra 33% de Bolsonaro, uma diferença de 11 pontos percentuais.


O cenário mudou pouco na comparação com um mês antes. Em 14 de agosto, o agregador mostrava o petista com 45% e o presidente com 32%, distância de 13 pontos.


- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62912179

Steve Bannon: Estrategista de Trump e aliado de Bolsonaro se diz 'fascinado' por Lula

"Um enfrentamento, cabeça a cabeça, entre dois políticos carismáticos de estatura global."

Steve Bannon diz que as eleições de 2022 no Brasil são 'uma das mais intensas e dramáticas do século 21'


Steve Bannon, o ideólogo da nova direita radical populista e estrategista principal do ex-presidente americano Donald Trump, define assim a eleição presidencial brasileira, que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente das sondagens de intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.

A eleição, que Bannon afirma ser a segundo mais importante do ano para o seu movimento de direita, também será, nas palavras dele, "uma das mais intensas e dramáticas eleições do século 21".


Aliado de Bolsonaro, a quem chama de "herói", Bannon não esconde o fascínio que tem por Lula. "Eu sou fascinado por Lula", diz, afirmando que estudou o petista por "muitos e muitos anos".


"Eu acredito muito nos trabalhadores. E parte do nosso trabalho tem sido atrair democratas e sindicalistas para a nossa causa. Então, tem coisas que Lula defende em que nós acreditamos", diz Bannon, que reconhece "o tremendo sucesso financeiro" da gestão do petista no Brasil no começo dos anos 2000.


Ele, no entanto, atribui a Lula proximidade que o próprio petista jamais ostentou com o Partido Comunista Chinês e sugere que, no poder, o ex-presidente faria do Brasil uma base para a China nas Américas, o que seria "uma questão para a segurança nacional dos EUA".


Considerado um mentor pela família Bolsonaro, Bannon afirma ser uma espécie de "posto de intercâmbio", promovendo a conexão direta entre os políticos brasileiros e expoentes da direita radical global como o húngaro Viktor Orbán, o italiano Matteo Salvini ou o próprio Trump.


De acordo com Bannon, essas conversas e conexões são centrais não apenas por questões ideológicas, mas para que cada grupo compartilhe com os demais experiências de campanha que possam potencializar suas chances de vitória em cada país.


Ele sugere, por exemplo, que Trump poderia ter economizado muito dinheiro na corrida presidencial de 2016 se tivesse aprendido como usar o Facebook como Bolsonaro usou na campanha em 2018.


Sobre a campanha atual, Bannon aposta que a figura da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, será capaz de unir o apoio dos evangélicos cristãos e impulsionar uma onda que empurre Bolsonaro com Lula para o segundo turno no próximo dia 2 de outubro.


Já em relação às Forças Armadas, ele diz ver menos apoio a Bolsonaro do que o próprio Trump teve no setor militar. Vale lembrar que o então presidente americano se viu barrado em diversos momentos de usar as Forças Armadas em seu projeto político.


Bannon defende que os militares brasileiros são "ator-chave" em um momento em que o presidente brasileiro faz alegações de fraude nas eleições brasileiras, sem provas. Mas descarta em território brasileiro algum cenário do tipo como a invasão do Capitólio 6 de janeiro deste ano, como até mesmo integrantes do governo americano têm alertado ser possível.


"O mundo exterior não deveria estar metendo o nariz nisso, seja o governo dos Estados Unidos, o pessoal de (fórum econômico de) Davos ou outros globalistas", afirma.


Bannon, porém, admite que o 6 de janeiro foi um erro para seu grupo político — porque os impediu de lançar mão de manobras legislativas que pudessem, de acordo com sua perspectiva, contestar o pleito que elegeu Joe Biden a ponto de forçar nova votação.


Assim como três quartos dos republicanos, ele segue repetindo que Biden não é um presidente legítimo. Ele é investigado por seu papel na invasão — que ele diz ter sido nenhum — e também enfrenta um processo por ter se recusado a depor diante do Congresso sobre o assunto.


A despeito disso, diz que tanto o trumpismo quanto o bolsonarismo são movimentos democráticos. E reconhece que podem não triunfar nas urnas sempre.


"Você não vai ganhar todas as eleições. E quando você ganha, pode não estar no poder para sempre, mas faz parte de um processo. Se você olhar para o fluxo desde a crise financeira de 2008, não há absolutamente nenhuma dúvida de que a direita nacionalista populista não é apenas ascendente, que nós ganhamos muito mais do que perdemos, e fizemos algumas mudanças bastante significativas, seja (com) Trump nos Estados Unidos, (com) Brexit (no Reino Unido) e Bolsonaro no Brasil", afirma Bannon.


Na Justiça americana, Bannon enfrenta também uma acusação de ter enriquecido ilicitamente desviando recursos de doação de trumpistas para a construção do muro na fronteira com o México, uma promessa de campanha do ex-presidente. O caso já o levou, inclusive, a ser preso. Bannon nega qualquer crime.


Leia a seguir os principais trechos da entrevista — editada por concisão e clareza — que Bannon concedeu à BBC News Brasil via zoom, diretamente do estúdio onde grava seu programa político, o War Room.


BBC News Brasil - No ano passado, o senhor disse que a eleição brasileira é a segunda mais importante de 2022, atrás apenas das eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos, em novembro. Por quê?


Steve Bannon - Vamos voltar a 2016. O Brexit, que aconteceu em junho, e a vitória de Trump (na eleição presidencial americana em novembro daquele ano) estavam intrinsecamente ligados. Essas coisas tendem a se mover em ciclos, e a inspiração e as questões que surgiram no Reino Unido com o (partido de direita radical britânico) Ukip e o Brexit foram algumas das coisas sobre as quais estávamos discutindo nos Estados Unidos, basicamente soberania, fronteiras, imigração.


A mesma coisa se repete agora. Nós tivemos a vitória dos Democratas Suecos (partido de direita radical que saiu vencedor nas últimas eleições e comporá pela primeira vez o governo do país). Você tem Giorgia Meloni (de um partido pós-fascista e favorita a ser a primeira ministra da Itália), a quem conhecemos e com quem trabalhamos há anos, e com ela está surgindo na Itália e no sul da Europa uma coalizão de direita.


Mas o mais importante sempre foi o Brasil. E digo isso porque o pleito brasileiro é muito próximo da eleição americana de meio de mandato (em novembro), e as questões (discutidas nos dois processos) são mais ou menos as mesmas.


Steve Bannon é um aliado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL)

Bolsonaro é um grande herói para todos nós. Ele está no nível de Viktor Orbán (na Hungria) como alguém que defendeu a soberania nacional e realmente construiu uma base. Ele tem evangélicos, ele tem pessoas da classe trabalhadora. Se você olhar para o Brasil, (o bolsonarismo) é muito parecido com o movimento Maga (Make America Great Again, de republicanos ligados ao Trump), os bolsonaristas são muito parecidos com os desvalidos do America First, o que chamamos de hobbits do condado (metáfora de Bannon para aludir à vida de anseios simples dos trumpistas).


Isso é o que você vê em Bolsonaro. E as pessoas alinhadas contra ele, particularmente os globalistas, são as mesmas (que estão contra Trump). E mais especificamente por causa dessa corrida eleitoral, a associação de Lula com o Partido Comunista Chinês, principalmente no que se refere a commodities e recursos naturais, fazem desta, eu acho, uma das eleições mais importantes, não apenas deste ciclo (eleitoral), mas nos últimos tempos.


BBC News Brasil - O senhor está dizendo que o Lula tem uma relação especial com a China, mas no ano passado, sob Bolsonaro, o Brasil foi o país no qual a China mais investiu no mundo. Como isso cabe no seu argumento?


Bannon - Obviamente, o Brasil é um país de recursos naturais com um grande negócio de exportação. O Partido Comunista Chinês precisa desses recursos. Mas eles foram comprados no mercado livre. Isso é bem diferente da relação de Lula com a China.


Lula foi várias vezes a Pequim. Lula tem uma visão de mundo comum à do Partido Comunista Chinês. E o sucesso econômico (do governo Lula) está diretamente ligado aos negócios de exportação e commodities do Partido Comunista Chinês, que essencialmente olha para o Brasil como quase uma espécie de colônia para eles, principalmente em recursos naturais.


Lula vai trazer tudo isso de volta. E os chineses veem o Brasil mais do que nunca como um necessário parceiro de commodities. Então, a relação entre Bolsonaro e o Partido Comunista Chinês é mais comercial. Com Lula é muito diferente. Ele dará uma grande base para o Partido Comunista Chinês na América Latina e isso se tornará uma importante questão de segurança nacional para os Estados Unidos.


BBC News Brasil - O senhor começou essa conversa fazendo claras conexões entre o Brexit e a eleição de Trump. Existe uma conexão clara tanto de projeto como de ideologia e de ações, entre as direitas radicais no Brasil, nos Estados Unidos com Trump, na Hungria de Orbán, na Alemanha com a AfD?


Bannon - Não há dúvida. Eu trabalho nesse projeto há vários anos. Lembre-se que logo após (vencer) a Casa Branca, acho que eu fui a primeira pessoa a recomendar que o Movimento Cinco Estrelas (partido italiano antissistema) e a Liga do Norte (partido italiano de direita radical) se unissem. Eu disse a eles: "Ei, vocês dois são partidos populistas, tentem colocar suas diferenças de lado". E eles fizeram isso e apoiaram Matteo Salvini.


Então, sim, há absolutamente conexões e não apenas na ideologia. São todos nacionalistas, são partidos da classe trabalhadora e populistas. Eles são antielite, são particularmente antielite financeira, antibanco central, anti-Wall Street, anticorporações globais. E há contra todos eles o mesmo tipo de resistência.


No Brasil, é um pouco diferente. Você tem os militares que, na minha visão, foram bastante comprometidos pelo Partido Comunista Chinês e acho que estão ainda menos alinhados com Bolsonaro do que pensamos que a maioria dos militares - não necessariamente as lideranças - está com o nosso movimento aqui nos Estados Unidos.


Então, há correlações diretas, eu acho, com Salvini e Giorgia Meloni na Itália, com Orbán, com quem acabei de encontrar no CPAC (conferência conservadora), em Dallas (Texas). São todos movimentos de direita que falam sobre as mesmas questões, com o apoio da polícia, da classe trabalhadora, e lidando com questões globais, enquanto em cada nação constroem suas próprias bases, um movimento nacionalista populista de, francamente, muita força e muito poder.


BBC News Brasil - Por que o senhor diz que Bolsonaro não tem apoio dos militares? Como viu o 7 de setembro, dos 200 anos de independência?


Bannon - Bolsonaro concorreu em 2018 tendo como seu vice-presidente um general (da reserva, Hamilton Mourão). E, no início, foi tão difícil para Bolsonaro quanto foi o primeiro ano do presidente Trump, para que ele conseguisse ganhar força e assumir o Estado administrativo em Washington.


Vimos Bolsonaro governando aos trancos e barrancos também no primeiro ano, e isso era impulsionado principalmente por seu vice-presidente, que fez parte das Forças Armadas. E você viu que os militares tinham seu próprio ponto de vista de como as coisas deveriam ser feitas.


Eu acho que hoje, com toda a questão da integridade eleitoral nos tribunais, os militares são obviamente um ator-chave. E eu sei que há muitas, muitas pessoas nas Forças Armadas que apoiam o presidente Bolsonaro, ele é um paraquedista egresso das Forças Armadas. Mas os militares, particularmente os membros seniores do quadro militar, inclusive o vice-presidente, fizeram mais do que qualquer um para realmente contrariar muito do que Bolsonaro queria levar adiante.


BBC News Brasil - Bolsonaro mobilizou o 7 de setembro para mostrar poder e conexão com os militares. Ainda assim, não te parece que ele tenha o apoio amplo desejado nas Forças?


Bannon - O 200º aniversário (da independência) foi muito impressionante. Parte disso era, obviamente, o patriotismo dos militares em geral. Mas as imagens que chegaram aqui aos Estados Unidos foram, francamente, de tirar o fôlego. O tamanho, a escala (do ato).


A grande mídia tem minimizado Bolsonaro, sugerindo que ele tem dificuldade em ganhar força nas pesquisas, que a campanha não está indo bem. É por isso que foi muito de tirar o fôlego, a escala das multidões e da celebração e, obviamente, os militares estarem lá. E principalmente porque o Lula, que eu acho que estava tendo um dia de Joe Biden, decidiu fazer campanha no conforto de sua casa.


Então, não me entenda mal, mas seria de esperar que os militares seriam ainda mais favoráveis a Bolsonaro, dado o que ele representa. Ele quer tornar o Brasil grande novamente, quer que o Brasil tenha soberania, quer deixar claro que o Brasil é um bom administrador da Amazônia, mas que, no limite, são do Brasil as decisões (sobre a floresta) e não de algum tipo de comunidade mundial.


Então, tenho percebido há tempos que há certos elementos das Forças Armadas que claramente não o apoiam. E eu acho que muito disso vai ficar claro nesta eleição, e particularmente nos tribunais, com os juízes que definem como as eleições são conduzidas.


Tivemos Eduardo (Bolsonaro) vindo ao simpósio cibernético em Dakota do Sul, em agosto do ano passado, promovido por Mike Lindell (empresário americano trumpista acusado de promover os atos de 6 de janeiro). Eduardo deu uma das melhores apresentações do Simpósio, lá ele listou os problemas que eles têm e as preocupações que eles têm sobre as urnas eletrônicas.


Então, eu espero que isso seja totalmente monitorado e fiscalizado pelas autoridades, pelos tribunais, pelos militares, por todos, para que haja uma eleição limpa e justa.


Tenho usado muito do meu tempo conversando com as pessoas nos bastidores (da disputa brasileira), e sinto que há uma grande onda pró-Bolsonaro agora. Um elemento que não estava na campanha de 2018 é a primeira-dama (Michele Bolsonaro). Ela assumiu agora um papel muito público e acho que ela pode ser uma força muito grande para essa onda, à medida em que vamos vendo os evangélicos se unirem.


Eu sempre digo que é muito difícil fazer pesquisas nos Estados Unidos por causa do movimento America First, o movimento Maga, eles desconfiam muito de qualquer tipo de mídia, então geralmente não respondem à pesquisas eleitorais. Eu acho que a mesma coisa pode estar acontecendo no Brasil, onde você tem esse ressurgimento desse movimento populista, particularmente a parte cristã evangélica, que eu não tenho certeza se é pesquisada com precisão. Então, acho que esta será uma das eleições mais intensas e dramáticas do século 21. E acho que Bolsonaro vai chegar à vitória a partir de uma onda.


Trump tem a aprender com Bolsonaro sobre como usar as redes sociais, diz o ideólogo

BBC News Brasil - O senhor afirmou que tem trabalhado nesse movimento populista de direita global há anos. O senhor tem atuação direta na campanha de Bolsonaro hoje?


Bannon - Não estou atuando na campanha de Bolsonaro, não trabalho em nenhuma campanha individual em nenhuma nação. Eu acho que isso é um papel para as pessoas de cada país desempenhar. O que eu tento fazer, especialmente com Eduardo, é falar sobre como (desenvolver) um movimento nacionalista populista na América Latina, em como conectá-lo, fazer com que as pessoas de cada país se comuniquem, compartilhem ideias, digam o que está dando certo ou não.


Sempre tentei ser uma espécie de posto de intercâmbio, para garantir que possamos fazer conexões e interconectar pessoas. Acredito que, nesses países, cabe a essas pessoas realmente tomar essas decisões, e as pessoas podem aprender a fazer campanha, aprender a enviar mensagens, aprender a construir redes, etc.

O que é mais impressionante, principalmente com Bolsonaro, é que foi ele quem nos ensinou muitas lições sobre redes sociais. Quando conheci a família Bolsonaro em Nova York, em 2018, fiquei fascinado com a campanha deles. A única preocupação que eu tinha era com a segurança. Naquela época, ele chegava aos aeroportos e era arremessado pra cima e carregado como um jogador de futebol. Eu disse para Eduardo que eles deveriam ser muito mais cautelosos com isso.


Mas o que eu achei mais incrível, tanto com Bolsonaro, quanto com Salvini na Itália, em menor grau, é como eles chegaram praticamente à perfeição no uso do Facebook, no manejo das lives de Facebook, como atraíram multidões quase sem usar dinheiro. Os recursos limitados que Bolsonaro tinha em 2018 e seus resultados são realmente uma lição de política moderna sobre como conduzir uma campanha popular. Obviamente, agora eles estão maiores e mais sofisticados. Mas, ainda hoje, Bolsonaro ainda teria ao menos uma coisa ou duas a ensinar ao presidente Trump sobre como conduzir uma campanha ou sair de uma cilada.


BBC News Brasil - Como foi essa aproximação com a família Bolsonaro?


Bannon - Quis conhecê-los porque eu tinha visto o que eles tinham feito até aquele momento, acho que isso foi em julho de 2018. E eu me lembro de dizer pra eles: "Pessoal, se vocês seguirem nessa direção, mantendo este ritmo, acho que levam no primeiro turno". E lembro que ele chegou muito perto disso. Acho que ele teve 46% dos votos, e precisava de 50% (mais um).


Quando nos encontramos, ele tinha apenas 16%,17% ou 18%, algo assim. Mas o que eu vi foi alguém que sabia não apenas enviar mensagens, mas se conectar. Eu digo às pessoas quando elas entram na política que precisam estar cientes de que hoje o público sabe identificar falsários. Esse é um dos poderes da Internet. Então, (pra ter sucesso na política) você tem que realmente acreditar no que está propagando e tem que ser capaz de se conectar com as pessoas. Não se trata mais de dinheiro. E eles venceram. Por quê? Em parte, porque eles se conectaram às mídias sociais e saíram interagindo com pessoas.


Bolsonaro obviamente é uma figura carismática, e Lula também. Isso é o que é tão único sobre esta corrida. Você tem duas figuras de estatura global, importantes para o mundo, e que sabem como se conectar com a pessoa comum.


E Bolsonaro tinha realmente o que nos ensinar, porque lembre-se, quando fizemos (a campanha de Trump no) Facebook, principalmente em 2016, gastamos muito dinheiro ali. Quer dizer, nós meio que jogamos o jogo deles no que diz respeito à publicidade. Bolsonaro, não. Ele se conectou com as pessoas com uma mensagem e com sua humanidade e realmente fez com que as pessoas fizessem parte da estratégia do Facebook, ele fez do público parte do processo, algo que realmente não havia sido feito antes, na escala de um país como o Brasil, por isso me surpreendi com esses caras. Essas pessoas realmente levaram a política moderna a outro nível.


Então não, não há conselho que Steve Bannon possa dar a Bolsonaro sobre como fazer uma campanha no Brasil, não apenas sobre as questões do país, mas como se conectar com seus compatriotas.


Acho que o que torna isso tudo tão fascinante é que eu acredito muito nos trabalhadores. E, parte do nosso trabalho tem sido atrair democratas e sindicalistas para a nossa causa. Então, tem coisas que Lula defende que nós acreditamos. Vocês realmente têm dois líderes populistas agora. Acho que o Lula se esgotou com o tempo, mas essa é realmente uma campanha de dois populistas se enfrentando, cabeça a cabeça, e por isso acho fascinante.


BBC News Brasil - O senhor esteve se informando sobre o Lula? Parece bastante interessado nele.


Bannon - Eu sou fascinado pelo Lula. Sou atraído por grandes personalidades. Eu estudei Lula por muitos, muitos anos, e, particularmente, no início dos anos 2000, antes do colapso financeiro global de 2008, ele teve um tremendo sucesso financeiro (no governo). Talvez as pessoas no Brasil não entendam, mas o carisma dele, de Eduardo, do presidente Bolsonaro, é algo que você não vê na política americana, com exceção de Trump e algumas outras poucas pessoas.


Então, eu estudo Lula há muito tempo. Acho-o um personagem fascinante. Acho-o um personagem trágico porque acredito que ele realmente acreditava no que dizia. E acho que ele é uma figura trágica por isso. Eu acho que ele é parte da rede (política) que o Partido Comunista Chinês corrompeu em todo o mundo. É um exemplo perfeito disso.


'Estudei Lula por muitos, muitos anos', afirma Bannon

BBC News Brasil - O senhor diz isso, mas Lula não admite essa proximidade e inclusive tem criticado publicamente a falta de divergências no Partido Comunista Chinês…


Bannon - Acho que ele entende que (a associação) é algo tão negativo, que ele precisa fazer algum tipo de separação, mesmo que ela não seja real. Ele é um político muito experiente, muito sofisticado quando se trata de mídia e, particularmente, mídia global. E acho que ele entende que as coisas pioraram com a questão dos uigures (minoria étnica que teriam seus direitos humanos violados pelo governo chinês).


Se você vai ser um político pragmático e tentar ser eleito em um país ocidental, você tem que sentar lá e dizer: "Oh, o Partido Comunista Chinês é ruim". Vemos a mesma coisa nos Estados Unidos. Mas a influência do Partido Comunista Chinês na América é bastante profunda. Então, acho que Lula apenas entendeu como é radioativa qualquer associação com o Partido Comunista Chinês e resolveu ser vocal sobre isso.


BBC News Brasil - O senhor mencionou a questão das urnas eletrônicas. Bolsonaro está atrás nas pesquisas de intenção de voto. Ele próprio já admitiu que não tem prova de fraude nas eleições. Inclusive, ele venceu todas as eleições que disputou com a urna eletrônica. Então por que bater nisso? Esse tipo de argumento é legítimo numa disputa política ou é uma forma de deslegitimar o sistema político e a democracia?


Bannon - Essa é uma boa pergunta. Eu nunca fui um sujeito afeito a máquinas. Dito isto, já vi o suficiente da tecnologia, o suficiente dos problemas que tivemos com as urnas eletrônicas nos Estados Unidos, de modo que sou um dos grandes defensores de que adotemos o sistema francês nos Estados Unidos, onde todas as cédulas de papel são preenchidas pelos eleitores no dia de votação, numa sessão eleitoral. E às 21h ou 22h do mesmo dia, você tem os resultados. Se a França pode fazê-lo, os Estados Unidos podem fazê-lo. E acho que o Brasil pode fazer.


Espero e rezo para que tudo aconteça bem (nas eleições brasileiras). E é por isso que estou pedindo um escrutínio e transparência, porque acredito muito que, independentemente do que as pesquisas digam, basta ver o que está acontecendo: acho que Bolsonaro vai subir a ponto de ir com Lula para o segundo turno e, depois, vencê-lo.


Vimos um público massivo no Dia da Independência, se a campanha de Bolsonaro for capaz de transformar cada uma daquelas pessoas em multiplicadores de votos, ele teria o potencial até de ganhar em primeiro turno. Então eu espero que as pessoas fiquem vigilantes sobre essas urnas, porque a última coisa que você quer é qualquer tipo de disputa sobre o resultado.


BBC News Brasil - Mas o senhor está ciente que, historicamente, no Brasil, o voto em papel foi uma enorme fonte de fraude e que até mesmo Bolsonaro, nos anos 1990, advogava pela informatização das eleições para diminuir o problema? Não há uma contradição nisso?


Bannon - Você está absolutamente correta sobre a história. Mas acho que a diferença é que hoje temos processos melhores, sofisticação para lidar com voto em papel, coisa que não tínhamos antes. Os franceses nos ensinaram como fazer. E eles são o modelo.


Por outro lado, máquinas podem ser hackeadas (o TSE nega que urnas possam ser hackeadas no Brasil), com toda essa loucura de servidores e o nível de ataque cibernético que se pode fazer hoje. Então, o sistema em papel pode ser aperfeiçoado, mas o das urnas eletrônicas não pode. Agora, espero que haja e acredito que haverá salvaguardas suficientes e no Brasil, que os agentes públicos estejam trabalhando nisso para que não tenhamos essa controvérsia.


No final das contas, o que você quer ter certeza que aconteça é, independente de quem seja o vencedor, você possa dizer: "Bolsonaro ganhou" e o pessoal do Lula aceita. Ou, "o Lula ganhou" e o povo do Bolsonaro aceita. As pessoas precisam aceitar a derrota, e você só consegue isso através da transparência.


Bannon destaca o engajamento da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na campanha

BBC News Brasil - Esse é um ponto central. Pessoas de diferentes países pelo mundo, incluindo os Estados Unidos, estão alertando de que poderia haver no Brasil um evento como o 6 de janeiro.


Bannon - Não acredito nisso, e também acho que o que foi o 6 de janeiro tem sido muito exagerado…


BBC News Brasil - Mas o Capitólio foi invadido, cinco pessoas morreram…


Bannon - (Interrompe a pergunta) A maioria das mortes (no episódio do Capitólio) foi motivada pela reação exagerada da polícia. O dia 6 de janeiro foi exagerado como uma questão política. Os democratas bateram nessa tecla, mas isso não ressoa com o povo americano. Isso até nos ajudou porque eles perderam muito tempo falando disso enquanto (aumentavam) os problemas nos Estados Unidos, particularmente a invasão (de imigrantes) em nossa fronteira sul e o colapso de nossa economia.


Os democratas estão focados nessa coisa da antidemocracia. Nós amamos a democracia. Vamos dar aos democratas um supositório de democracia em 8 de novembro. Como eu acredito que Bolsonaro e seu movimento vão dar a Lula e seus seguidores um supositório de democracia. O que esperamos é transparência, certo? Todo mundo só quer concordar que, afinal, foi uma eleição honesta.


Então, não, eu não acredito que o Brasil vai ter uma situação como o de 6 de janeiro. As razões pelas quais eu acho isso são: Bolsonaro vai ter uma onda e vai vencer, haverá transparência e todo mundo vai fazer o seu trabalho, e é nisso que as pessoas devem se concentrar.


Eu também digo às pessoas no Brasil: se apodere do seu próprio voto e assuma o controle de seu sistema eleitoral. O mundo exterior não deveria estar metendo o nariz nisso, seja o governo dos EUA, o pessoal de (fórum econômico de) Davos ou outros globalistas. Nesta eleição, não poderia haver mais coisas em jogo para o povo no Brasil. Ela deve ser decidida pelo povo do Brasil, por processos que são executados por brasileiros, que os brasileiros possam olhar uns para os outros depois e dizer: 'tudo bem, eu entendo que isso foi transparente e esse foi o resultado'.


BBC News Brasil - Há uma situação de medo de violência política no país, com sete a cada dez pessoas dizendo temer algum ataque por seu posicionamento político. As pessoas identificam essa violência com Bolsonaro e seu grupo, com as suspeitas lançadas sobre as urnas e a defesa de armamento civil. Nos Estados Unidos, Biden disse que o Maga é um risco à democracia. Esse movimento populista de direita radical respeita a democracia?


Bannon - É um movimento democrático, isso (dizer que não é) é (acusação) da mídia. Vamos ganhar nas urnas. Temos dois terços (do eleitorado) agora nos Estados Unidos. (agregado de pesquisas eleitorais do site FiveThirtyEight mostra que 44.9% dos americanos querem vitória democrata no Congresso, contra 43.4% que preferem republicanos). Vamos tomar a Câmara dos Deputados por, não sei, 30, 40 ou 50 cadeiras. Nós vamos manter nossas posições no Senado e ainda levar duas ou três.


Nós amamos a democracia e aqui está a razão: nós temos os votos. Então, quando Biden vem e demoniza as pessoas é simplesmente porque ele não pode falar sobre seus feitos. Seu governo é um colapso financeiro e econômico do nosso país: inflação fora de controle, recorde na queda do patrimônio líquido (das famílias) do nosso país foi anunciada na semana passada: são US$ 6 trilhões (a menos) para o povo americano.


Eles querem falar sobre 6 de janeiro e democracia, eu digo, vamos esperar até a noite de 8 de novembro (eleição nos EUA) e ver para quem a democracia funciona, ok? Acredito piamente, somos um movimento de base, temos estratégia de política local: assumir o governo local, assumir o conselho escolar local, assumir os postos de funcionários eleitos locais. E como você faz isso? Você vota em si mesmo e nos seus e então a gente vai ter mais votos.


Mesma coisa com Bolsonaro. Você vê o quanto a mídia global bate nele. É por isso que eu diria às pessoas no Brasil: vá votar e convença todo mundo a votar, é assim que as insurgências populistas ganham, nós ganhamos nas urnas.


E, lembre-se, viemos de trás. Quando assumi a campanha de Trump (em 2016), tínhamos 88 dias pela frente, o presidente Trump estava quatro, oito, doze pontos atrás nas pesquisas e nós ganhamos. Foi a maior surpresa de um azarão de todos os tempos. Por quê? Porque nós fomos e nos comunicamos com pessoas da classe trabalhadora em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. É o que estamos fazendo desta vez. Teremos vitórias arrebatadoras e faremos isso com uma coisa chamada voto. O Presidente Joe Biden fala em terrorismo doméstico? O que as mães que vão para os conselhos escolares têm de terroristas domésticas? É tudo um disparate. As pessoas veem isso, e vão às urnas e vão votar.


Bannon critica o presidente americano, Joe Biden, e o seu governo

BBC News Brasil - Algumas pessoas argumentam que o 6 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado, já que estava acontecendo a certificação de votos do presidente Biden no Congresso, e essas pessoas interromperam isso, invadiram o prédio com armas…


Bannon - (interrompe a pergunta) Lamento dizer, mas isso é mentira. Ninguém nunca provou que as pessoas na multidão tivessem armas (a reportagem da BBC News Brasil presenciou pessoas com tacos de beisebol e hastes de bandeiras na área externa ao Capitólio e o FBI afirmou também que havia gente com spray de pimenta e artefatos explosivos de fabricação caseira). O 6 de janeiro e o que aconteceu, o motim no Capitólio, isso trabalhou contra nós, foi um erro, porque (derrubou) tudo pelo que trabalhamos. Estávamos prestes a ter 24 horas, 12 horas em cada Casa (Senado e Câmara) para passar por cada um dos seis estados em que havia controvérsias.


Eu nunca disse que eles seriam contados como eleitores de Trump, mas que os eleitores de Biden não poderiam ser certificados de acordo com as regras estabelecidas na Lei de Contagem Eleitoral de 1887. Isso forçaria o que chamamos de eleição contingente, que obrigaria a Câmara dos Deputados a entrar e não votar pela consciência do membro individual, mas por delegação estadual-partidária. Nessa votação, Trump ganharia por 27 a 23, ou se você incluir (a republicana anti Trump) Liz Cheney em Wyoming, por 26 a 24.


Eu ainda acredito nisso. Acredito que (o vice-presidente) Mike Pence (que presidia a sessão que sacramentou a vitória de Biden) tomou a má decisão (o atual entendimento majoritário no país é que Pence tinha responsabilidade apenas cerimonial, sem poderes para alterar a certificação dos votos. Pence se recusou a atuar no plano de Trump).


Eu acredito que você verá isso começando em janeiro ou fevereiro do ano que vem, com a nova (composição) da Câmara, quando eles vão julgar de verdade o que houve no 6 de janeiro (Bannon se recusou a testemunhar diante da Comissão Congressual que investiga o que aconteceu no 6 de janeiro e enfrenta processo judicial por isso). O que precisamos é de um fórum para julgar isso em um contexto adequado, com os democratas tendo posição minoritária.


Sou um grande defensor de que temos que fazer isso. O país está meio que em chamas. Lembre-se, 40% a 45% do povo americano não acham que Joe Biden é um presidente legítimo. Eu não acho que ele seja legítimo. Isso nunca aconteceu em nossa nação. Nunca tivemos dúvidas sobre a legitimidade de (Abraham) Lincoln. Na verdade, o fato de ele ser legítimo é o que causou a Guerra Civil.


BBC News Brasil - As semelhanças entre Trump e Bolsonaro são evidentes e já falamos delas. Mas o senhor vê algum paralelo entre Biden e Lula?


Bannon - Ele está fazendo uma campanha como Biden. Quer dizer, acho que o que é tão interessante ou curioso é que aqui temos uma figura populista dinâmica que não está realmente hoje executando uma campanha populista dinâmica. Acho que a comemoração dos 200 anos foi o exemplo mais contundente de que ele não é um populista numa campanha popular. As multidões não estão lá, a intensidade não está lá.


BBC News Brasil - Trump deixou o poder, Bolsonaro está atrás nas pesquisas agora, na América Latina governos de direita perderam as eleições, na Europa Ocidental isso também vem acontecendo, a candidata da direita radical Marine Le Pen não venceu Emmanuel Macron, na França…


Bannon - (interrompe) Calma lá, calma lá. Depois de Le Pen na presidencial, na eleição regional, Macron perdeu feio (pra direita radical) e, por isso, ele não consegue governar. Mas, na América Latina, eu concordo com você, houve um movimento recente de esquerda populista. Uma coisa que acho que podemos concordar é que o mundo está se tornando mais populista. Partidos mais tradicionais, seja à esquerda ou à direita, ou centro, não têm conseguido entregar para as pessoas o que as pessoas querem. Então, os vitoriosos têm sido mais os populistas.


Mas veja o Chile, onde você tem (Gabriel Boric) uma personalidade jovem e dinâmica vinda da esquerda populista que prometeu muito e, de repente, houve o golpe esmagador que o povo chileno deu na votação da Constituição (que acabou rejeitada), acho que isso mostra que ainda há uma forte soberania nacionalista e uma direita populista no Chile que também pode trazer moderados e centristas. Então, há, sim, um fluxo e refluxo.


Acho que as coisas estão mais populistas agora. Acho que o Brasil é um exemplo perfeito disso. Acredito que a direita populista está em ascensão, mas você tem que entregar. Lembre-se, uma vez que você está no poder, você tem que ser capaz de entregar (bons resultados) para as pessoas. Acho que isso é fundamental.


BBC News Brasil - Que críticas você faria aos governos da direita populista?


Bannon - Tudo é um processo. Se você olhar para o primeiro ano do governo Trump, uma das coisas que mais nos prejudicaram é que tínhamos 4 mil posições para preencher na administração no governo americano, mas nós não tínhamos (pessoas suficientes para isso), éramos um movimento relativamente novo que vencia a primeira grande eleição nacional e precisávamos de pessoas de qualidade para colocar lá.


Se você olhar para o Bolsonaro, essas situações também acontecem, (a dificuldade) de preencher o governo com pessoas competentes que possam realmente efetuar mudanças. E acho que você vai ter algumas vitórias dos populistas em que talvez os governos não tenham um bom desempenho. Isso não é o fim do mundo. Lembre-se, tudo isso é um processo.


Com Salvini e o que eles fizeram, é quase um exemplo perfeito. Tínhamos a esquerda e a direita se juntando e no final, eles não conseguiram deixar suas diferenças totalmente de lado e esse governo durou apenas alguns anos, mas foi um bom experimento. Mas agora você tem Giorgia Meloni liderando uma coalizão realmente à direita e o grupo de Salvini e outros fazem parte dela. Você tem mais pessoas, elas são mais qualificadas, são mais gente numericamente.


Nos Estados Unidos, estamos treinando pessoas hoje para que, quando vencermos em 2024, estejamos prontos para assumir o comando imediatamente. Eu acho que você vê isso em governos em geral, particularmente na América Latina, a escassez de pessoal que também pode implementar políticas.


Não é um mundo perfeito. Você não vai ganhar todas as eleições. E, quando você ganha, pode não estar no poder para sempre, mas faz parte de um processo. Se você olhar para o fluxo desde a crise financeira de 2008, não há absolutamente nenhuma dúvida de que a direita nacionalista populista não é apenas ascendente, que nós ganhamos muito mais do que perdemos, e fizemos algumas mudanças bastante significativas, seja Trump, Brexit e Bolsonaro no Brasil. Portanto, acreditamos direcionalmente que estamos avançando não apenas em marcha, mas também em ascensão.


- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62944023

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