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Eclipse do Sol poderá ser visto na Região Sul do Brasil

 Parte do Sudeste e do Centro-Oeste também poderão observar fenômeno



© Reuters/USA Today Network/Bobby Goddin/Proibida reprodução


Por Agência Brasil

O eclipse anular do Sol da próxima quarta-feira (2) poderá ser visto por observadores na parte sul das regiões sudeste e centro-oeste, além de toda a região sul do Brasil. O fenômeno ocorre quando a Lua se alinha entre a Terra e o Sol, o que faz com que a sombra da Lua não cubra totalmente o Sol, mesmo o satélite estando muito mais próximo da Terra do que o Sol, o que faz aparecer o chamado "anel de fogo" no céu.

O eclipse será visto como anular em uma estreita faixa que passa pelo Oceano Pacífico, Oceano Atlântico e no extremo sul da América do Sul, incluindo Chile e Argentina.

De acordo com a astrônoma do Observatório Nacional (ON), Josina Nascimento “quanto mais ao sul maior será a área eclipsada”, explicou. 

Fenômeno

Tanto no eclipse total quanto no anular a lua se alinha entre a Terra e o sol, bloqueando toda ou a maior parte da luz do sol em uma parte da superfície da Terra. A sombra mais escura, onde toda a luz solar é bloqueada, é chamada umbra. Em torno da umbra se define a sombra mais clara, a penumbra, onde a luz solar é parcialmente bloqueada e o eclipse é visto como parcial.

“Esse tipo de eclipse ocorre quando a Lua está em seu apogeu, o ponto mais distante de sua órbita da Terra, ou próxima deste ponto, fazendo com que pareça menor do que o Sol no céu. A frequência com que os eclipses do Sol ocorrem é em média 2 vezes por ano, podendo ser somente parciais, anulares ou totais. O último eclipse anular do Sol ocorreu em 14 de outubro de 2023 e foi visto em uma parte do Brasil”, esclareceu Josina.

No eclipse de outubro de 2023, o Observatório Nacional (ON) coordenou uma grande ação integrada internacional para observação e transmissão do evento astronômico. A transmissão do Eclipse Anular do Sol pelo ON superou 2,2 milhões de visualizações. Além disso, a NASA e o Time and Date retransmitiram as imagens brasileiras.

De acordo com a astrônoma, eclipses da Lua e do Sol costumam ocorrer em sequência. Isso se deve à inclinação da órbita da Lua em relação à Terra. No caso deste eclipse anular, ele faz par com o eclipse parcial da Lua ocorrido na noite de 17 para 18 de setembro último.

Observação

Para aqueles que pretendem observar o eclipse, é importante estar em um local com vista desimpedida para o oeste, uma vez que o evento ocorrerá próximo ao pôr do sol. No Rio de Janeiro, por exemplo, o eclipse parcial começará às 17h01, atingirá seu máximo às 17h42, e o Sol se porá às 17h52.  Josina Nascimento alerta para os cuidados necessários para observar o fenômeno. “Em hipótese alguma olhe diretamente para o Sol sem proteção adequada. Óculos escuros, chapas de raio-X ou outros filtros caseiros não protegem contra os danos. É essencial utilizar filtros certificados, como os óculos especiais para observação solar ou vidros de soldador 14”, avaliou.

Transmissão ao vivo

O Observatório Nacional fará transmissão ao vivo do eclipse anular no YouTube, em parceria com astrônomos do Projeto Céu em sua Casa: observação remota e com o Time And Date, organização internacional que fornece serviços relacionados ao tempo, clima, fenômenos astronômicos e fusos horários.

SindCT leva a Amazônia para Curitiba!


O Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial – SindCT, participará da 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que acontece de 23 a 29 de julho na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.


A participação do SindCT será no espaço SBPC Jovem, destinado aos alunos de ensino médio e superior, com a Exposição Amazônia Vive.


Após o sucesso da participação do SindCT na reunião de 2022, com uma exposição sobre as urnas eletrônicas, um metaverso da urna eletrônica e o lançamento nacional do livro sobre a história das urnas eletrônicas brasileiras, o SindCT foi convidado pela SBPC a participar da reunião de 2023.


Neste ano, a Exposição Amazônia Vive, leva para Curitiba a experiência de estar dentro da Floresta Amazônica através de óculos de realidade virtual. Além da experiência em realidade virtual, os visitantes também poderão visitar um metaverso 3D especialmente criado sobre a Amazônia.


A Exposição aborda os principais elementos da floresta, sua composição, fauna, flora, povos originários, desmatamento, queimadas, garimpo ilegal, ações de monitoramento, fiscalização e preservação da floresta e as instituições públicas federais que atuam na região.


O objetivo da Exposição é mostrar, além da importância da Floresta Amazônica e sua bacia hidrográfica, como a pesquisa científica colabora para a preservação da vida na região.


Os alunos que visitarem o stand do SindCT receberão, entre outros brindes, a História em

Quadrinhos “Amazônia Vive – Uma aventura na Amazônia” explicando o conteúdo da exposição. O artista ilustrador da HQ, Zeco Rodrigues, também estará na exposição, produzindo caricaturas dos visitantes para presenteá-los.


Além disso, o jornalista contratado pelo SindCT, Júlio Cancellier, responsável pela criação do metaverso da urna eletrônica e do metaverso da Amazônia, promete muito mais surpresas para os alunos.


A Exposição também estará conectada com o Instagram, mostrando em tempo real as atividades que serão realizadas na exposição através do perfil: https://www.instagram.com/expoamazoniavive/


Por enquanto, apenas o site da exposição dá uma pequena amostra do que será apresentado na SBPC Jovem deste ano: https://sindct.org.br/expoamazonia/

Nova técnica pode facilitar a descoberta de alvos terapêuticos e mecanismos de doenças

 

Em estudo publicado na Science, time internacional de pesquisadores descreve ferramenta que possibilitou encontrar mais de 800 interações até então desconhecidas entre proteínas e metabólitos. Trabalho pode facilitar a busca de tratamentos para diferentes moléstias (imagem: Minutemen/Wikimedia Commons)

André Julião | Agência FAPESP – Estudo publicado na revista Science descreve uma técnica que pode facilitar descobertas relacionadas tanto a mecanismos de doenças quanto a possíveis tratamentos.

Batizada de MIDAS (sigla em inglês para diálise acoplada a espectrometria de massas para a descoberta alostérica sistemática), a metodologia permitiu detectar 830 interações consideradas de baixa afinidade entre proteínas e metabólitos (produtos do metabolismo das células), que dificilmente poderiam ser descobertas pelos métodos até então existentes.

“As diferentes vias metabólicas trocam informações entre si e se regulam, o que é muito importante para o metabolismo. No entanto, essas interações são de baixa afinidade, muito difíceis de se detectar com as técnicas usadas atualmente. É uma conversa muito sutil, como um cochicho”, ilustra Maria Cristina Nonato, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP) e coautora do artigo.

A pesquisadora foi convidada a fazer parte do estudo por conta do seu trabalho – apoiado pela FAPESP – com a fumarase, uma enzima com potencial para ser alvo farmacológico contra parasitas como Leishmania e Trypanosoma. A proteína também tem relação com alguns tipos de câncer e doenças genéticas (leia mais em: agencia.fapesp.br/24367/).

Segundo Nonato, as técnicas atualmente usadas foram desenvolvidas para captar interações dentro de uma mesma via metabólica, onde são muito mais evidentes ou esperadas. A MIDAS tem uma sensibilidade maior e pode encontrar mesmo as interações inesperadas, que passariam despercebidas por outras metodologias.

A MIDAS é baseada numa técnica bioquímica clássica conhecida como diálise de equilíbrio, que faz medidas de afinidade de ligação para interações entre receptores e ligantes. O grupo de Jared Rutter, professor da Universidade de Utah e coordenador do estudo atual, publicou o primeiro piloto da metodologia para estudo de interações entre proteínas e metabólitos em 2012.

A plataforma publicada agora tem uma série de melhorias, que permitiram identificar sistematicamente interações de metabólitos com mais de 200 proteínas humanas em um tempo relativamente curto.

Caminho promissor

Para Kevin Hicks, primeiro autor do estudo e pesquisador da Escola de Medicina da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, o trabalho, junto com outros realizados recentemente por outros grupos, demonstra que existe uma profunda e até então pouco valorizada rede conectando o metabolismo de pequenas moléculas e proteínas funcionais.

“À medida que aprendemos mais sobre essa rede de interações, obtemos uma nova compreensão de como as células respondem ao seu estado metabólico. Essas interações, até então desconhecidas, vão proporcionar uma profunda compreensão sobre o que é saúde e doença, além de contribuir para a descoberta de novos tratamentos”, afirma à Agência FAPESP.

No trabalho publicado agora, os pesquisadores focaram no metabolismo de carboidratos, importante para a obtenção de energia por todos os seres vivos. No entanto, a ferramenta tem potencial para o estudo do metabolismo de modo geral.

“Uma das estratégias para a busca de novos tratamentos se baseia na modulação da atividade de proteínas e enzimas pela interação com pequenas moléculas. Essa é uma busca constante da ciência que pode ser facilitada com esses estudos, uma vez que revela não somente novas interações, mas novos mecanismos de modular a ação de proteínas. Isso pode ser explorado desde já com os resultados obtidos, mas ainda há muito espaço para ser ampliado”, explica Nonato.

Entre todas as proteínas analisadas no estudo, em apenas duas delas foi possível determinar a estrutura tridimensional, um passo importante para descobrir possíveis moléculas que possam regulá-las. Uma delas foi justamente a fumarase humana, para a qual foi descoberta e caracterizada a interação com o metabólito AP-3, um componente do metabolismo de fosfonato.

Para a determinação da estrutura 3D, foi utilizada a linha de luz Manacá, da nova fonte de luz síncrotron brasileira do Sirius, localizada no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.

Com o trabalho, não apenas o grupo de Nonato pode seguir num caminho promissor para o estudo de doenças causadas por parasitas, como outras equipes terão a possibilidade de usar a biblioteca de interações resultante do estudo. Pesquisadores podem ainda usar a MIDAS para encontrar novas interações no metabolismo das células tanto em condições normais quanto frente a diferentes patologias.

O artigo Protein-metabolite interactomics of carbohydrate metabolism reveal regulation of lactate dehydrogenase pode ser lido em: www.science.org/doi/10.1126/science.abm3452.
 


Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Lula entregará a cientistas medalha retirada por Bolsonaro

Premiação havia sido concedida e depois foi retirada por decreto

 Lula entregará a cientistas medalha retirada por Bolsonaro. © Valter Campanato/Agência Brasil


Agência Brasil 

O infectologista Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda e a sanitarista Adele Benzaken serão condecorados pelo governo federal com a Ordem Nacional do Mérito Científico. Em novembro de 2021, os dois chegaram a ser agraciados com a honraria em decreto assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro. No entanto, dois dias depois, ele editou um novo decreto cancelando a condecoração. Em protesto contra a medida, outros 21 cientistas agraciados assinaram uma carta renunciando coletivamente à honraria.


"Lula devolverá a medalha a esses dois cientistas. E todos aqueles que recusaram a condecoração no governo anterior também irão receber a medalha", anunciou a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, em discurso hoje (2) no Rio de Janeiro, durante a 13º Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE).


A Ordem Nacional do Mérito Científico foi criada em 1993 para reconhecer contribuições científicas e técnicas de personalidades brasileiras e estrangeiras. A indicação dos agraciados é realizada por uma comissão formada por nove membros, designados de forma paritária pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), pela Academia Brasileira de Ciências e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A lista de nomes deve ser elaborada levando em conta os serviços relevantes à ciência, tecnologia e inovação e o destaque dentre por suas qualidades intelectuais, acadêmicas e morais entre os pares.


Ao cancelar a condecoração de Marcus Lacerda e Adele Benzaken, Bolsonaro não apresentou nenhuma justificativa. Após o episódio, a renúncia coletiva de outros 21 agraciados não foi a única reação da comunidade científica. Mais de 270 pesquisadores condecorados em anos anteriores também publicaram uma carta. Eles acusaram o governo de censurar e perseguir cientistas e manifestaram preocupação com o uso da honraria com interesses políticos e ideológicos.


Adele Benzaken havia sido diretora do Departamento de HIV/Aids do Ministério da Saúde entre 2016 e 2019, quando foi demitida do cargo pelo governo federal após a publicação de uma cartilha voltada para homens trans. Já Marcus Lacerda liderou um estudo no qual concluiu em 2020 que a cloroquina era ineficaz para o tratamento de covid-19. Seu artigo foi publicado na Journal of the American Medical Association, uma revista científica de referência internacional.


Bolsonaro defendia o uso da cloroquina para enfrentar a pandemia de covid-19, embora não tivesse respaldo científico. Após publicar os resultados de sua pesquisa, Marcus Lacerda chegou a ser atacado nas redes sociais por apoiadores do então presidente, incluindo seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Curitiba vai sediar encontro de ciência e tecnologia



O prefeito Rafael Greca recebeu, nesta segunda-feira (29/8), o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. O encontro foi para formalizar o apoio da cidade na realização da 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que será sediada pela UFPR no período de 23 a 29 de julho de 2023.


“É uma honra receber esse encontro, uma alegria para Curitiba. Além de sediar o evento, nossa cidade será parceira em atividades pedagógicas, culturais e turísticas”, declarou Greca.


Neste ano, o encontro aconteceu em Brasília, na sede da Universidade de Brasília e durante o evento a cidade de Curitiba foi apresentada como a próxima sede.


“Desde que foi criado, Curitiba já sediou cinco vezes o nosso evento, e agora em 2023, depois de 37 anos, voltaremos à cidade”, declarou Ribeiro.


Ciência e Tecnologia

O objetivo da reunião anual é debater políticas públicas de ciência e tecnologia e difundir os avanços da ciência. Fundada em 1958, a entidade civil sem fins lucrativos é voltada para a defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. 


Sediada em São Paulo, a SBPC representa mais de 160 sociedades científicas afiliadas e mais de 5 mil sócios ativos, entre pesquisadores, docentes, estudantes e cidadãos brasileiros interessados em ciência e tecnologia.


Em paralelo vai acontecer o encontro SBPC Jovem que inclui a Expotec (Feira de Ciências). Com a participação de alunos e em parceria com a Agência Curitiba será montada uma Vila da Inovação, no Centro Politécnico.


Presenças

  • Também participaram da reunião, o professor Ricardo Fonseca, reitor da UFPR; Graciela Muniz, vice-reitora UFPR; Mayara Carneiro, coordenadora de Extensão na UFPR; Helton José Alves, superintendente da UFPR; Tatiana Turra, presidente do Instituto Municipal de Turismo; e Ana Cristina de Castro, presidente da Fundação Cultural de Curitiba.

Trabalhar mais de 55 horas por semana aumenta risco de AVC e infarto

O excesso de trabalho aumenta o risco de morte por doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado nesta segunda-feira (17). 



O estudo, publicado na revista Environment International, baseou-se nos anos anteriores à pandemia de Covid-19 e à generalização do trabalho à distância. Os autores sintetizaram dados de dezenas de pesquisas com centenas de milhares de participantes.

"Trabalhar 55 horas ou mais por semana representa um grave perigo para a saúde", destaca a médica María Neira, diretora de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS. "É hora de todos nós - governos, empregadores e trabalhadores - finalmente reconhecermos que longas horas de trabalho podem causar mortes prematuras", acrescenta.

O estudo conclui que essa quantidade de horas trabalhadas está associada a um aumento de 35% no risco de acidente vascular cerebral (AVC) e 17% no risco de morte por doença isquêmica do coração, em comparação com uma pessoa que trabalha entre 35 e 40 horas semanais.

 A OMS e a OIT estimam que 398 mil pessoas morreram de derrame cerebral e 347 mil de doenças cardíacas em 2016 por esse motivo. Entre 2000 e 2016, o número de óbitos por doenças cardíacas relacionadas a longas jornadas de trabalho aumentou em 42%, enquanto no caso dos AVCs o crescimento foi de 19%.

A maioria das mortes registradas se refere a pessoas de 60 a 79 anos, que trabalharam em excesso quando tinham entre 45 e 74 anos.

"Embora se saiba que quase um terço da morbidade total estimada em relação ao trabalho seja atribuída às longas jornadas de trabalho, a realidade é que é o primeiro fator de risco para doenças ocupacionais", resumiu a OMS. "Não encontramos nenhuma diferença entre sexos no que diz respeito ao efeito de longas jornadas de trabalho sobre a incidência de doenças cardiovasculares", declarou Frank Pega, especialista da OMS.

Mesmo assim, a morbidade é particularmente elevada entre os homens, com 72% dos óbitos por esta causa, pois representam uma grande parte dos trabalhadores no mundo. A situação é mais grave entre as pessoas que vivem nas regiões do Pacífico ocidental e sudeste da Ásia, onde os trabalhadores informais são obrigados a trabalhar por longas jornadas, explicou Pega.


Mais trabalho no lockdown

 A OMS expressou preocupação com o aumento do número de pessoas que trabalham por muitas horas, o que representa atualmente 9% da população mundial. E a pandemia não deve ajudar a reverter a tendência.

"O trabalho à distância se tornou a norma para muitas atividades, geralmente apagando as fronteiras entre a casa e o trabalho. Além disso, muitas empresas se viram obrigadas a reduzir ou interromper as atividades para economizar dinheiro, e as pessoas que permanecem em seus empregos acabam com horários de trabalho mais prolongados', declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS.

Ele advertiu que "nenhum emprego vale o risco de sofrer um acidente vascular cerebral ou uma doença cardíaca. Os governos, os empregadores e os trabalhadores devem chegar a um acordo para estabelecer limites que protejam a saúde dos trabalhadores". Ao mencionar um estudo do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica em 15 países, Pega indicou que "o número de horas de trabalho aumentou quase 10% durante o lockdown".

O home-office dificulta a desconexão dos trabalhadores, disse Pega, que recomendou a organização de períodos de descanso.

(Com informações da AFP)

Bolsonaro é denunciado na ONU por ‘devastadora tragédia humanitária’

A denuncia foi apresentada pela Comissão Arns e a organização não governamental Conectas

CartaCapital

O presidente Jair Bolsonaro foi denunciado, nesta segunda-feira 15, na sede do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, pela negligência na condução da pandemia do novo coronavírus.

A denuncia foi feita pela Comissão Arns e a organização não governamental Conectas. As entidades acusam o presidente de promover uma devastadora tragédia humanitária, social e econômica no Brasil a partir de seu negacionismo.

“É por isso que estamos aqui, hoje, para chamar a atenção deste Conselho e apontar a responsabilidade do Presidente Bolsonaro”, afirmou em seu discurso a representante da Comissão Arns, Maria Hermínia Tavares de Almeida.

  • “Viemos aqui hoje para criticar as atitudes recorrentes do presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia. Ele desdenha das recomendações dos cientistas; ele tem, repetidamente, semeado descrédito em todas as medidas de proteção – como o uso de máscaras e distanciamento social- promoveu o uso de drogas ineficazes; paralisou a capacidade de coordenação da autoridade federal de Saúde; descartou a importância das vacinas; riu dos temores e lágrimas das famílias e disse aos brasileiros para parar ‘de frescura e mimimi'”, destacou Maria.

O Brasil passa pelo seu pior momento da pandemia. O País já soma mais de 278 mil óbitos pela Covid-19.

No discurso, as entidades ainda lembraram que todas as medidas econômicas e sanitárias em vigor no Brasil ocorreram por determinação dos poderes legislativo e judiciário federal, bem como de governadores e prefeitos.



Cientistas criam membrana cutânea e estrutura para enxertos ósseos com colágeno de esponjas marinhas

 


Karina Ninni  |  Agência FAPESP – Um grupo de pesquisa coordenado por Ana Claudia Renno e Renata Neves Granito, ligado ao Laboratório de Biomateriais e Engenharia de Tecidos (Labetec) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), conseguiu extrair colágeno e biossílica de esponjas marinhas e com eles desenvolver uma membrana para reparo de queimaduras e úlceras da pele e uma estrutura para enxertos ósseos. O projeto tem apoio da FAPESP.

Os produtos estão em diferentes fases dos testes pré-clínicos. O colágeno foi extraído da espécie Aplysina fulva e o bioativo biossílica foi obtido da espécie Tedania ignis.

O colágeno já é um material bastante utilizado para essas finalidades, mas na maioria dos casos se usa matéria-prima de tecido de boi ou de porco e os produtos originados são muito caros. Não há ainda, no mercado, nenhum produto do gênero à base de colágeno marinho.

“No mercado existe uma série de protocolos ou tratamentos para fraturas e úlceras ou queimaduras, mas geralmente ou são muito caros, ou não têm a capacidade adequada de aceleração dos processos de reparo e regeneração. Começamos a procurar alternativas para extrair bioativos do ambiente marinho, aqui em Santos, onde está localizado o Labetec, e tentar elaborar com eles biomateirais que pudessem suprir essa lacuna”, relembra Ana Claudia Renno, fisioterapeuta e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Bioprodutos e Bioprocessos da Unifesp, campus Baixada Santista.

Os cientistas extraíram o colágeno da esponja marinha, fizeram a prospecção para identificar o bioativo e realizaram uma série de testes biológicos para comprovar a biocompatibilidade do colágeno marinho e sua capacidade de acelerar o processo de reparo dos tecidos. “A composição desse colágeno da esponja é muito similar à composição do colágeno dos vertebrados. Por conta dessa similaridade, e já havendo uma série de referências na literatura sobre a utilização do colágeno em diversos processos regenerativos, conseguimos identificar e processar o material e usá-lo na produção de membranas e estruturas para enxerto ósseo.”

Renno afirma que um ponto crucial para conseguir ultrapassar a fase de laboratório e seguir para os testes clínicos é a otimização do rendimento da extração. “Estamos testando e comparando protocolos para que possamos otimizar a extração dos bioativos das amostras e, futuramente, ter realmente um produto que chegue ao mercado e beneficie a população.”

As esponjas foram coletadas na Praia Grande de São Sebastião, graças a uma cooperação do Labetec com o Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBImar-USP). “Elas são coletadas por mergulhadores, com uma espátula, a uma profundidade de cinco metros. Colocamos em água salgada e trazemos para o laboratório rapidamente, para fazer o processamento, pois elas duram no máximo um dia.” No laboratório, as amostras são processadas, higienizadas e estocadas até que chegue o momento de fazer a extração.

“O ideal seria cultivá-las, para que não tenhamos de retirá-las da natureza. É possível cultivá-las em aquários, mas esses animais são muito sensíveis, são filtradores. E também há a alternativa de cultivá-los no mar mesmo. Neste caso, a possibilidade de sucesso é maior, porque é o hábitat deles, mas nosso grupo ainda não está trabalhando com o cultivo no mar. Estamos tentando o cultivo em aquários, onde conseguimos controlar temperatura, composição da água e outras variáveis, para obtenção de uma amostra homogênea e padronizada para extrair o colágeno.”

Membrana para tratamento de queimaduras

O projeto da membrana para tratamento de queimaduras e lesões cutâneas começou com o mestrado do aluno Tiago Akira Araújo. “Esse aluno já manufaturou a membrana a partir do colágeno marinho e já temos o protótipo. Ele padronizou os procedimentos de extração do colágeno e agora estamos terminando de testar a toxicidade em células da pele. Pretendemos começar os testes pré-clínicos em animais até o fim do ano. Ele já tem uma empresa e a ideia é transformar a membrana em produto”, adianta Renno.

A equipe realizou entrevistas com cirurgiões plásticos e dermatologistas para levantar eventuais problemas apresentados pelos produtos já existentes no mercado. “Além do alto custo das membranas, algumas não têm a capacidade adequada de acelerar o processo de reparo cutâneo. E, muitas vezes, esses curativos não são reabsorvíveis: eles têm de ser trocados em espaços curtos de tempo, o que é ruim para o paciente, causa dor, desconforto e risco de infecção. Nossa membrana, por outro lado, deverá ficar no tecido, na área da queimadura, sendo reabsorvida até que o corpo consiga substituí-la por tecido normal.”

A pesquisadora também salienta que a matéria-prima de origem vertebrada (bois e porcos) tem de ser monitorada passo a passo, porque há a possibilidade de transmissão de doenças caso não seja muito bem processada.

O objetivo do grupo ao trabalhar com a esponja foi tentar criar uma membrana que tenha efetividade biológica e capacidade de acelerar o processo de reparo, além de ser absorvível, a partir de uma matéria-prima nacional, fácil de ser acessada e processada, com reagentes químicos amigáveis e com custo reduzido para que o produto seja mais acessível à população.

“Acreditamos que essa membrana à base de colágeno marinho poderá chegar ao mercado mais barata do que as similares, porque ela é mais fácil de processar. O Tiago otimizou um protocolo baseado em água como solvente para extração do colágeno. Conseguiu obter um rendimento muito bom, com efetividade biológica bastante significativa a partir da extração com água. Outros protocolos usavam diferentes solventes, alguns tóxicos. Ao fazer com água é possível reduzir o custo do produto e também a toxicidade.”

Enxertos ósseos

O trabalho com o material destinado a enxerto para fraturas ósseas está ligeiramente mais adiantado que o feito com a membrana, pois começou antes. Os testes pré-clínicos já estão em andamento.

Para mimetizar o tecido ósseo e obter uma estrutura para enxertos, o grupo utilizou tanto a parte orgânica (a espongina, que é o colágeno propriamente dito), quanto a parte mineral (inorgânica) da esponja, a biossílica. “Associamos a parte orgânica com a parte mineral e conseguimos obter um compósito com propriedades muito similares às do tecido ósseo. Fizemos um enxerto manufaturado, realizamos sua caracterização e iniciamos os testes, tanto in vitro, com células ósseas, quanto in vivo, com animais.”

Os cientistas também adicionaram a espongina a materiais já comumente usados para enxertos ósseos, como a hidroxiapatita e o biossilicato. “Nosso objetivo nesses trabalhos foi tentar melhorar as propriedades bioativas, ou seja, a capacidade desses materiais de acelerar o processo de reparo ósseo, principalmente com a hidroxiapatita, que, apesar de largamente utilizada, não consegue finalizar o processo de consolidação da fratura e tem propriedades biológicas bastante limitadas. Assim, partindo do pressuposto de que materiais biomiméticos – que simulam a composição dos tecidos biológicos – têm uma capacidade maior de acelerar os processos de reparo, pensamos em introduzir espongina nesses materiais já amplamente difundidos para ver se conseguíamos otimizar seu potencial biológico.”

Segundo Renno, a equipe conseguiu bons resultados com o misto de espongina (30%) e hidroxiapatita (70%). “Conseguimos melhorar a capacidade de acelerar o processo de reparo com números bastante expressivos quando comparados ao material feito apenas de hidroxiapatita. Quanto ao biossilicato, que já tem uma utilidade biológica bastante significativa e é bastante caro, geralmente importado, nossa expectativa era, também, conseguir reduzir um pouco o custo do compósito final. Neste caso, usamos 20% de espongina e 80% de biossilicato.”

O grupo tem 12 artigos relacionados à área de pesquisa, entre publicados e aceitos em revistas internacionais, e reúne cerca de 20 pesquisadores entre alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado, sob orientação das professoras Ana Claudia Renno e Renata Neves Granito. “Nossa equipe é multidisciplinar: temos biólogos, químicos, dentistas e cirurgiões plásticos. Temos também colaborações com diversas universidades, incluindo todas as públicas do Estado de São Paulo e ainda com a Universidade do Minho, em Portugal”, diz Renno.

O pesquisador Paulo Roberto Gabbai Armelin, apoiado pela FAPESP, está iniciando os testes de impressão da membrana e do enxerto ósseo.


Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Pesquisadores desenvolvem lente plana mil vezes mais fina que um fio de cabelo

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Uma lente mil vezes mais fina do que um fio de cabelo foi desenvolvida por pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP). A peça poderá ser empregada como lente fotográfica em smartphones ou utilizada em outros dispositivos que dependam de sensores. “No contexto tecnológico atual, suas aplicações são quase ilimitadas”, diz à Agência FAPESP Emiliano Rezende Martins, professor do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da EESC-USP e um dos coordenadores da pesquisa.
Foto: Augusto Martins/USP)

A pesquisa foi publicada na revista ACS Photonics, com o título “On Metalenses with Arbitrarily Wide Field of View”. O estudo foi apoiado pela FAPESP por meio de bolsa de estágio de pesquisa no exterior conferida ao doutorando Augusto Martins, autor principal do artigo.


A lente é constituída por uma única camada de silício, de espessura nanométrica, dotada de nanopostes que interagem com a luz. A impressão dessa estrutura é feita por meio de litografia – uma técnica já bem conhecida e utilizada na fabricação de transistores.

Segundo Rezende Martins, as chamadas metalentes surgiram há cerca de 10 anos e possibilitam a máxima resolução fisicamente possível. O problema é que seu ângulo de visão é extremamente fechado, inferior a um grau de circunferência. “Uma maneira de solucionar o problema é compor metalentes, formando estruturas complexas”, informa.

Os autores perceberam que, em uma lente convencional, o campo de visão aumenta quando o índice de refração também aumenta à medida que a lente vai ficando mais plana. O que fizeram, então, foi projetar uma metalente de modo a imitar uma lente totalmente plana, que teria um índice de refração infinito – algo impossível de obter no caso de uma lente convencional.

“Nossa lente tem um campo de visão arbitrário, que idealmente pode chegar a 180 graus sem distorção da imagem. Já testamos sua efetividade para um ângulo de 110 graus. A partir dessa abertura, a energia da luz diminui devido ao efeito de sombra. Mas isso pode ser corrigido por meio de pós-processamento”, afirma Rezende Martins.
A composição compromete a super-resolução das metalentes, porém a resolução obtida é suficiente para todas as aplicações convencionais. Com uma câmera construída por meio de impressão 3D, o doutorando Augusto Martins testou a lente. E obteve imagens de alta resolução em amplo campo de visão. “Por enquanto, só conseguimos fotografar em verde. Mas, nos próximos meses, vamos aprimorar a lente, para que todas as cores sejam viabilizadas”, diz.

O artigo On Metalenses with Arbitrarily Wide Field of View pode ser acessado em
https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acsphotonics.0c00479.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

É possível que uma tempestade solar destrua nossa civilização?

Erupções solares podem golpear a Terra e ter graves consequências para a humanidade se não estivermos preparados

PATRICIA SÁNCHEZ BLÁZQUEZ|PABLO G PÉREZ GONZÁLEZ
EL PAÍS / 25 JUL 2020 - 11:28 BRT.
A imagem mais próxima já feita do Sol / AFP
A cada segundo, no centro do Sol, 700 milhões de toneladas de hidrogênio se transformam em 695 milhões de toneladas de hélio mediante fusão nuclear. A diferença de massa, equivalente a 15 arranha-céus como o Empire State, vira energia segundo a famosa equação de Einstein, E=mc2. Esta energia é a que faz o Sol brilhar e a responsável por, mesmo a 150 milhões de quilômetros de distância, recebermos o seu calor.

A energia gerada no núcleo do Sol é transportada ao exterior e às camadas mais externas e menos densas. Quando recebem o calor de abaixo, começam a ebulir. Isto cria enormes correntes de gás quente que viajam centenas de milhares de quilômetros, levando o calor gerado no centro para a superfície, do mesmo modo como ao fervermos água em uma chaleira no fogão. Devido à alta temperatura, os elétrons dos átomos são separados do seu núcleo, por isso o gás do Sol é uma sopa de partículas carregadas, o que chamamos um plasma. Quando uma partícula carregada está em movimento, ela gera um campo magnético, de modo que estas correntes de plasma funcionam como um dínamo e levam também o campo magnético à superfície.

Os campos magnéticos não costumam ser tão ordenados como o da Terra, pois a rotação do Sol é mais rápida no Equador (25 dias) do que em latitudes médias (28 dias). Sim, o Sol não é como uma pião, cuja rotação é uniforme; conforme nos afastamos do Equador, o material vai “ficando atrasado”, anda mais devagar. Por isso, as linhas de campo magnético se retorcem e se enredam umas com as outras, impedindo em alguns casos os movimentos do gás, que fica confinado (uma palavra muito na moda e que se usa muito em física). Como resultado visível do fenômeno magnético, aparecem regiões mais frias e escuras na superfície do Sol, que chamamos de manchas, que seriam as zonas onde os tubos de fluxo magnético afloram à superfície. As manchas sempre aparecem em pares, assim como acontece com os polos de um ímã.

Embora seja famosa a disputa travada entre o jesuíta Christopher Scheiner e o astrônomo florentino Galileu Galilei pela prioridade do descobrimento das manchas no Sol, o fato é que o primeiro registro conhecido delas aparece no Livro das Mutações (I Ching, 易經), escrito por volta de 1200 a.C.. Este foi o primeiro dos múltiplos registros que os astrônomos chineses e coreanos realizaram, fundamentalmente por encomenda do imperador, que os usava para realizar presságios. Na cultura asteca, onde se adorava ao deus sol, existem registros indicando como seu rosto aparece “bicado” pela varíola, o que pode ser uma indicação destas manchas. Também no Ocidente as manchas foram observadas muito antes, mas a concepção aristotélica do universo como imaculado e perfeito, depois adotada pela Igreja, fez que a ideia de um Sol manchado fosse considerada uma heresia. Desde meados do século XIX sabemos que as manchas aparecem, se tornam mais abundantes e desaparecem em períodos de 11 anos, o chamado ciclo de atividade solar, no qual o campo magnético global do Sol troca de polaridade (os polos norte e sul se invertem).

Como as partículas carregadas respondem à presença de um campo magnético, a acumulação de plasma nos pontos onde o campo magnético aflora às vezes pode ser observada na forma de imensos arcos de fogo que se estendem por centenas de milhares de quilômetros. Esses arcos eventualmente se tornam instáveis e podem chegar a se romper, liberando toda a imensa energia acumulada neles no que chamamos de uma ejeção de massa coronal. Estes eventos lançam partículas carregadas a velocidades muito altas, capazes de viajar, em alguns casos, a distância da Terra ao Sol em menos de um dia. Quando chegam à Terra, a atmosfera absorve a radiação e as partículas são desviadas pelos campos magnéticos terrestres, a chamada magnetosfera, e seguem a trajetória de suas linhas de campo, dirigindo-se para os polos da Terra, onde acabam penetrando e interagindo com os gases da atmosfera e criando as belas auroras polares.

Entretanto, se uma ejeção de massa coronal for suficientemente grande, pode deformar a magnetosfera terrestre, dando lugar a fenômenos como o ocorrido em 1º de setembro de 1859, o chamado evento de Carrington. Às 11h18 daquele dia, Richard Carrington estava fazendo esboços das manchas solares quando observou uma imensa eclosão luminosa que parecia sair de dois pontos do grupo de manchas. Dezessete horas mais tarde, uma onda de auroras boreais transformou a noite em dia em toda a América do Norte, chegando até a Colômbia.

Felizmente, a única tecnologia moderna já em uso naquela época era o telégrafo. Estes falharam em todo o mundo, causando faíscas nas linhas e ateando fogo a alguns escritórios, mas sem causar males maiores. Entretanto, na sociedade em que vivemos hoje as correntes elétricas produzidas nestes eventos podem chegar a afetar os satélites de comunicação e navegação e inclusive a queimar os transformadores de alta tensão, nos deixando sem abastecimento elétrico. Em 2012, a Terra escapou por pouco de uma ejeção de massa coronal tão poderosa como a de 1859. Se a tempestade solar acontecesse uma semana antes, teria nos atingido em cheio, causando danos nos sistemas eletrônicos avaliados, só nos Estados Unidos, em até 2,6 trilhões de dólares (13,4 trilhões de reais), sendo necessários vários anos para a sua reparação total.

Mas ainda há outras (potenciais) más notícias. Uma publicação de 2012 descobriu que estrelas similares ao Sol podem ter superfulgurações, muito mais energéticas que o evento de 1859. Se estas tempestades nos apanharem despreparados, as consequências podem ser catastróficas. Dependemos da eletricidade para tudo. Uma falha no sistema de fornecimento significaria que não teríamos luz, computadores, comunicações, água corrente. Haveria desabastecimento nos supermercados, e a comida apodreceria por não poder ser refrigerada. Além disso, devido à falta de eletricidade, seria complicado voltar a construir o sistema de suprimento. É difícil predizer os danos totais que um destes eventos causaria em nossa sociedade, mas cedo ou tarde saberemos, é só questão de tempo. Há filmes sobre isso, pode acontecer, estamos avisados! – tanto quanto com o que estamos vivendo agora.

A missão Solar Orbiter (SolO), uma colaboração entre as agências espaciais europeia e norte-americana (ESA e NASA, respectivamente) enviou há alguns dias as imagens do Sol mais próximas já obtidas. Um dos objetivos desta missão é entender melhor os ciclos de atividade solar, justamente para podermos nos precaver deles. Esperemos que estes esforços nos salvem dos presságios do imperador Wang Mang, que dizia em relação às manchas solares: “São uma anormalidade e só podem estar indicando a chegada de catástrofes”.

Patricia Sánchez Blázquez é professora titular na Universidade Complutense de Madri (UCM).

Pablo G. Pérez González é pesquisador do Centro de Astrobiologia, ligado ao Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha e ao Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (CAB/CSIC-INTA).

Pela 1ª vez, cientistas localizam planeta enquanto ele está sendo formado

(Reuters) - Astrônomos descobriram o que parece ser uma ala de maternidade planetária, observando pela primeira vez um planeta em processo de nascimento dentro de um enorme disco com gás denso e poeira ao redor de uma estrela recém-formada.

Disco ao redor da estrela AB Aurigae, em imagem do Very Large Telescope 20/05/2020 
ESO/Boccaletti et al/Divulgação via REUTERS.
Este grande planeta jovem está se formando em torno de uma estrela chamada AB Aurigae, que tem cerca de 2,4 vezes a massa do sol e está localizada em nossa galáxia Via Láctea, a 520 anos-luz da Terra, disseram pesquisadores nesta quarta-feira.Um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano: 9,5 trilhões de quilômetros.

Os cientistas usaram o Very Large Telescope, do Observatório Europeu do Sul, no Chile, para localizar uma estrutura em espiral dentro do disco rodopiante em torno da AB Aurigae gerada pela presença de um planeta. Eles detectaram um padrão de “torção” de gás e poeira na estrutura espiral, marcando onde o planeta estava se aglutinando.“Leva vários milhões de anos para que um planeta esteja em sua fase final, então o nascimento não está bem definido no tempo. No entanto, podemos dizer que provavelmente fomos capazes de capturar um planeta em processo de formação”, disse o astrônomo do Observatório de Paris Anthony Boccaletti, que liderou a pesquisa publicada na revista Astronomy & Astrophysics.

Mais de 4.000 planetas foram descobertos orbitando estrelas além do nosso sistema solar. Os cientistas estão ansiosos para aprender mais sobre como eles nascem à medida que o gás frio e a poeira se consolidam nesses discos ao redor de novas estrelas.

O planeta está localizado cerca de 30 vezes mais longe de sua estrela do que a distância da Terra ao sol, disse Boccaletti. Parece ser um grande planeta gasoso, não rochoso como a Terra ou Marte, acrescentou ele.

Medicamento antiviral triplo se mostra promissor em teste contra Covid-19

LONDRES (Reuters) - Uma combinação tripla de medicamentos antivirais ajudou a aliviar os sintomas em pacientes com infecção leve a moderada por Covid-19 e reduziu rapidamente a quantidade de vírus em seus corpos, segundo resultados de um pequeno teste em Hong Kong.


Foto: REUTERS/Vitaly Nevar
Cientistas trabalham no enfrentamento ao coronavirus. 1/4/2020
O teste, que envolveu 127 pacientes, comparou aqueles que receberam o medicamento combinado - composto pelo remédio para HIV lopinavir – ritonavir, o de hepatite ribavirina e o tratamento para esclerose múltipla interferon beta - com um grupo de controle que recebeu apenas o medicamento para HIV.

As descobertas, publicadas na revista médica Lancet, mostraram que, em média, as pessoas que receberam o medicamento triplo alcançaram o ponto de nenhum vírus detectável cinco dias antes do que as do grupo de controle - 7 dias versus 12 dias.

“Nosso teste demonstra que o tratamento precoce de Covid-19 leve a moderada com uma combinação tripla de medicamentos antivirais pode suprimir rapidamente a quantidade de vírus no corpo do paciente, aliviar os sintomas e reduzir o risco para os profissionais de saúde”, disse Kwok- Yung Yuen, professor da Universidade de Hong Kong que co-liderou a pesquisa.

Ele afirmou que o menor risco para os profissionais de saúde ocorre devido ao efeito da droga combinada na redução do ‘derramamento viral’ - que é quando o vírus é detectável e potencialmente transmissível.

Segundo Kowk-Yung Yuen, a descoberta é encorajadoras, mas o efeito da droga tripla precisa ser testado em um número maior de pacientes e em pessoas com casos mais graves de Covid-19.

A verdadeira história da cientista sem estudos que descobriu os coronavírus

Esquecido pela passagem do tempo, trabalho da virologista escocesa June Almeida há mais de meio século está sendo fundamental no combate à pandemia da covid-19

June Almeida trabalhando com um microscópio em 1956.
CARLOS MEGÍA (S MODA)
EL PAÍS - 08 MAio 2020 
Apesar de ser uma aluna brilhante, June Almeida (cujo sobrenome de solteira era Hart) teve que abandonar os estudos aos 16 anos. O salário de motorista de ônibus do pai não era suficiente para pagar as despesas para cursar a Universidade de Glasgow e a jovem começou a trabalhar em 1947 como técnica de laboratório em um hospital analisando amostras de tecido. Seu salário mal chegava às duas libras semanais (a metade do salário de um estagiário atualmente). Apesar de sua escassíssima formação acadêmica, a escocesa conseguiu se tornar uma referência científica por seu trabalho pioneiro na identificação e no diagnóstico de vírus. Menos de duas décadas depois de ter sido obrigada a abandonar o ensino médio, ela se tornou, aos 34 anos, a primeira pessoa a identificar o coronavírus. Esta é a tristemente esquecida história da mulher cujas descobertas hoje são fundamentais na luta contra a covid-19.

Hugh Pennington, um dos microbiologistas mais importantes do Reino Unido, foi aluno de Almeida, da qual diz que era tão brilhante quanto pouco convencional. Em uma entrevista ao jornal The Herald, este professor da Universidade de Aberdeen lamenta que tenha sido precisamente uma pandemia o que tirou do esquecimento histórico uma das cientistas mais destacadas de sua geração. Apesar do meio século que se passou, “sem suas descobertas, as coisas teriam sido muito mais lentas” para lidar com a crise sanitária. “Seu trabalho acelerou nosso conhecimento sobre o vírus. Foi uma pioneira com um talento incrível. Tudo o que ela tocava em sua pesquisa transformava em ouro”, acrescenta.

Aos 24 anos June se casou com o artista venezuelano Enriques Almeida – com quem teve uma filha – e se mudaram para o Canadá. Lá, como havia menos rigor na hora de contar com pessoal sem diploma universitário, a escocesa foi contratada como técnica de microscópio pelo Instituto do Câncer de Ontário. A metodologia desenvolvida por Almeida, que visualizava melhor os vírus por meio do uso de anticorpos, permitiu utilizar microscópios eletrônicos para diagnosticar infecções virais e identificou algumas como a rubéola. Seu trabalho começou a ser reconhecido no mundo da medicina e recebeu uma oferta para voltar a Londres e se juntar à equipe da Escola de Medicina do Hospital St. Thomas, o mesmo onde o primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi internado em 5 de abril.

Foi lá, fazendo parte da unidade de pesquisa do resfriado comum ao lado do doutor David Tyrrell que ela se tornaria a descobridora do coronavírus. Tyrrell havia tido problemas para cultivar em laboratório a amostra de um menino doente de um internato de Surrey, uma cidade a menos de uma hora de carro ao sul de Londres. Diante do fracasso, os pesquisadores pensaram que aquele patógeno poderia ser um tipo diferente de vírus, apesar de provocar sintomas semelhantes aos da gripe. Embora o médico tenha confessado posteriormente que “tinham poucas esperanças” de encontrar algo novo, decidiram enviar a amostra, conhecida como B814, para June Almeida. Com sua técnica de microscopia, a virologista obteve imagens claras do vírus e lembrou-se de ter visto outros semelhantes em pesquisas anteriores com frangos e camundongos. Graças à cepa B814 foi identificado o primeiro coronavírus humano, denominado assim por Almeida, Tyrell e o professor Tony Waterston por causa da estrutura de halo do vírus.

Como em tantas outras ocasiões ao longo da história quando falamos de façanhas realizadas por mulheres, a primeira reação de suas colegas foi de absoluta rejeição. Uma revista científica se recusou a publicar sua descoberta, argumentando que as provas enviadas eram apenas imagens de baixa qualidade de partículas do vírus da gripe. Somente em 1965, o British Medical Journal divulgou a façanha e dois anos depois o Journal of General Virology publicou as fotografias. Hoje esse artigo pode ser lido gratuitamente na Internet.

Como argumenta Hugh Pennington, o trabalho de Almeida continua sendo relevante 56 anos depois da descoberta, e seus métodos estão sendo usados para lutar contra a atual pandemia (a covid-19 é uma doença provocada por um coronavírus). “Os cientistas chineses usaram sua tecnologia para identificá-lo, repetiram o que ela fez”, ratifica. June Almeida se aposentou em 1985 e mudou completamente de registro. Ela se mudou com o segundo marido (Phillip Gardner, também virologista aposentado) para a cidade litorânea de Bexhill-on-Sea, trabalhou como professora de ioga e dedicou seu tempo à restauração de porcelana e antiguidades. Na década de oitenta, voltou ao Hospital St. Thomas como assessora e participou da publicação das primeiras imagens em alta qualidade do HIV. June Almeida morreu em 2007, aos 77 anos.

“O sucesso de June foi resultado de uma combinação de originalidade de pensamento –ao buscar e, normalmente, encontrar explicações simples para o que pareciam ser problemas complexos– e conhecimentos técnicos. Qualquer conversa com ela, independentemente do tamanho do grupo, era tão estimulante quanto divertida: ela tinha um senso de humor muito vivo e, às vezes, travesso”, escreveu sua filha Joyce Almeida, psiquiatra de profissão. “Nunca pensei que o fato de ser mulher a detivesse em nada”, conclui o professor Pennington no The Herald. “Ela abriu seu próprio caminho e respondia de forma enérgica a qualquer crítica. E normalmente tinha razão.”

O que você deve saber sobre os tratamentos experimentais contra o coronavírus

Antivirais e hemoterapia parecem promissores, mas como funcionam e quando saberemos se realmente são eficazes contra a covid-19?

Por Michael Greshko
FINS DE SEMANA NÃO EXISTEM MAIS para Lisa Gralinski há algum tempo. Na maioria dos dias, a microbiologista passa turnos de 12 horas em uma unidade de biossegurança no campus da Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. Com roupas de proteção e um respirador, ela trabalha a centímetros de distância de um grupo potencialmente letal de coronavírus, incluindo a cepa causadora da pandemia de covid-19.

Gralinski é uma entre os milhares de cientistas em todo o mundo que correm contra o tempo para testar tratamentos capazes de conter a pandemia viral mais grave dos últimos tempos. Até a presente data, a Agência de Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, a FDA, não aprovou nenhum medicamento específico para o tratamento da covid-19. Esses fármacos provavelmente levariam meses para serem validados ou anos para serem produzidos do zero.

Nesse meio tempo, os hospitais recorrem a tratamentos que já foram aprovados para outras doenças. É por isso que se ouve falar bastante do medicamento antimalárico hidroxicloroquina, da droga antiviral experimental remdesivir e de tratamentos envolvendo plasma convalescente, um produto derivado do sangue de pacientes recuperados que poderia ajudar o sistema imunológico de uma pessoa infectada a combater o vírus.

Atualmente, os médicos podem prescrever esses medicamentos a pacientes com covid-19 em estado crítico apenas mediante autorização da FDA, que analisará cada caso, de acordo com um programa conhecido como programa de “uso compassivo”. Mas os especialistas ainda não sabem ao certo se algum tratamento será eficaz contra a covid-19. Em 21 de abril, um painel de especialistas dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos enfatizou que os pesquisadores ainda não têm evidências suficientes para afirmar se a hidroxicloroquina, o remdesivir ou o plasma convalescente podem combater a infecção. O mesmo painel, no entanto, desaconselhou o uso de hidroxicloroquina em combinação com o antibiótico azitromicina devido aos possíveis efeitos colaterais tóxicos.

Os médicos não terão certeza até os medicamentos serem avaliados em estudos randomizados e controlados. Nesses estudos clínicos, metade de um grupo de pacientes recebe o medicamento aleatoriamente e a outra metade — o grupo controle — recebe uma dose idêntica, exceto pelo fato de que a dosagem não contém o princípio ativo.

“Se você não tem um grupo de controle, nunca saberá se um medicamento foi benéfico ou prejudicial”, explica Andre Kalil, professor do departamento de medicina interna do Hospital da Universidade de Nebraska.

Conheça alguns dos tratamentos que estão sendo atualmente testados dessa maneira, bem como estimativas de quanto tempo estarão amplamente disponíveis para o público em geral.

O potencial do plasma
De todos os tratamentos atualmente testados contra a covid-19, os medicamentos antimaláricos hidroxicloroquina e cloroquina têm indiscutivelmente o melhor perfil. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, os enaltece repetidamente como possíveis soluções. Até o momento, apenas alguns estudos em pequena escala foram publicados sobre a hidroxicloroquina e, até agora, eles não demonstraram eficácia contra a covid-19. Pior ainda, dados iniciais sugerem que o uso de medicamentos para tratar o coronavírus pode ter sérios efeitos colaterais na saúde do coração.

Por outro lado, um dos tratamentos em desenvolvimento mais promissores é também um dos mais antigos: o plasma convalescente. A ideia é isolar o plasma — a parte líquida do sangue — e processá-lo para extrair um soro rico em anticorpos, que são proteínas que se ligam a patógenos em nossos organismos, selecionando-os para destruição.

“Quando você recebe uma vacina, você produz os seus próprios anticorpos, mas quando recebe plasma, recebe os anticorpos de outra pessoa”, explica Arturo Casadevall, microbiologista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins.

A técnica do plasma convalescente é usada há mais de um século e remonta à pandemia de gripe ocorrida em 1918. Ela foi bastante desenvolvida na década de 1940 quando o cientista da Harvard Medical School, Edwin Cohn, publicou uma técnica para separar o plasma em seus diversos componentes, incluindo um soro rico em anticorpos.

Depois que Casadevall chamou atenção do público dos Estados Unidos para essa técnica em um artigo do Wall Street Journal de fevereiro, ele e outros médicos importantes organizaram um consórcio nacional para testá-la contra a covid-19. Embora sejam necessários mais dados, a FDA analisa cada caso para autorizar o uso de plasma em pacientes com covid-19 grave, e alguns relatos de caso baseados em observação foram publicados em revistas médicas.

“Acredito que devido ao momento que estamos vivendo agora, sem uma solução comprovada e legítima para este problema espantoso que atinge o mundo todo, precisamos tentar”, diz James Musser, presidente do Departamento de Patologia e Medicina Genômica do Houston Methodist, em Houston, Texas.

Em 28 de março, o Houston Methodist se tornou o primeiro hospital nos Estados Unidos a receber a aprovação da FDA para utilizar plasma convalescente no tratamento experimental de pacientes com covid-19. O plasma convalescente foi obtido de pacientes que tiveram a covid-19 e se recuperam e que não apresentaram mais sintomas por pelo menos duas semanas. Um dia antes, no periódico Journal of the American Medical Association, pesquisadores chineses relataram que, em duas semanas de tratamento, quatro em cada cinco pacientes com covid-19 grave tratados com plasma se recuperavam de lesões pulmonares sérias, permitindo que três pacientes fossem retirados dos ventiladores.

Em 6 de abril, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, pesquisadores chineses relataram que, dos dez casos graves de covid-19 tratados com plasma, três apresentaram tamanha melhora durante o período de teste que tiveram alta, e os outros sete apresentaram melhora significativa.

Os hospitais de todo o país agora estão obtendo permissão para tratar seus pacientes com plasma convalescente — até mesmo de forma preventiva. Em 3 de abril, Casadevall e sua equipe na Universidade Johns Hopkins receberam aprovação da FDA para testar o uso de plasma convalescente em profissionais da saúde e em outros profissionais que trabalham na linha de frente, como forma de impedir que contraíssem a covid-19. Em 13 de abril, a FDA emitiu orientações mais amplas a hospitais que estavam testando o tratamento.

“Obviamente, não saberemos se funciona até que os testes sejam concluídos”, diz Casadevall, “mas com base no histórico, parece promissor”.

Introdução aos antivirais
Ao mesmo tempo, hospitais de todo o mundo estão testando centenas de medicamentos chamados antivirais, conhecidos por inativar os mecanismos bioquímicos utilizados pelos vírus para entrar nas células e se reproduzir dentro delas. O maior desses estudos, o estudo Solidariedade da Organização Mundial de Saúde, cadastrou hospitais em 90 países. Diferentes estudos sendo realizados nos Estados Unidos e em outros lugares já recrutaram centenas de pacientes em dezenas de hospitais.

O arsenal de medicamentos testados inclui o remdesivir, um medicamento antiviral experimental desenvolvido pela empresa farmacêutica norte-americana Gilead Sciences. O remdesivir funciona imitando um componente básico do RNA viral, o material genético usado pelo coronavírus, que impede seu funcionamento correto à medida que o vírus tenta se replicar. O medicamento foi originalmente desenvolvido para combater o ebola, mas um estudo de 2018 e 2019 descobriu que era ineficaz contra esse vírus.

No entanto, um estudo de janeiro publicado na revista científica Nature Communications constatou que o remdesivir bloqueou a replicação do vírus MERS, um parente da nova cepa de coronavírus, em uma placa de Petri. Esse resultado foi logo seguido por estudos similares em laboratório com o SARS-CoV-2.

No entanto, nenhum estudo publicado até o momento confirmou que o medicamento seja eficaz contra a covid-19 em pacientes humanos. Em 10 de abril, pesquisadores anunciaram no periódico New England Journal of Medicine que entre 53 pessoas que receberam o medicamento em um programa de uso compassivo, 36 receberam alta ou necessitaram de suporte respiratório menos intensivo durante o período do estudo. No entanto, esse estudo não avaliou se a quantidade de vírus foi alterada no organismo dos pacientes durante o tratamento. Portanto, não está claro se o medicamento estava realmente funcionando conforme prescrito.

As esperanças aumentaram em 16 de abril, quando a publicação médica STAT informou que os primeiros resultados em Chicago pareciam ser promissores para o remdesivir. Mas uma semana depois, os resultados de um estudo chinês foram acidentalmente publicados de forma precoce em um banco de dados da Organização Mundial da Saúde. O resumo do estudo, que acabou sendo excluído, afirmou que o medicamento não oferecia benefício claro em comparação com os cuidados padrão. No entanto, o médico chefe da Gilead Sciences, Merdad Parsey, posteriormente divulgou uma declaração de que o estudo havia sido finalizado antes do previsto devido ao baixo recrutamento de participantes e, portanto, suas conclusões não eram estatisticamente válidas.

Gralinski, da UNC-Chapel Hill, acrescenta que, como o remdesivir interrompe a replicação viral, ele só pode ser eficaz nos estágios iniciais da covid-19. Quando alguém apresenta sintomas graves, grande parte do dano causado é do próprio sistema imunológico do paciente. Em estudos anteriores realizados em camundongos, Gralinski descobriu que o tratamento deve começar 24 a 36 horas após a infecção para evitar consequências graves.

“É compreensível que se deseja testar esses medicamentos nos pacientes mais afetados e com maior necessidade de intervenção”, diz ela. “Mas se alguém está com muita dificuldade respiratória, a condição é causada muito mais pela resposta imune ao hospedeiro” do que pelo próprio vírus.

Um veredicto sobre o remdesivir pode sair em breve, pois espera-se que dois grandes estudos na China divulguem seus resultados ainda este mês. Kalil, que está realizando o estudo sobre remdesivir da Universidade de Nebraska como parte de uma iniciativa do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, diz que a coleta de dados pode ser concluída em algumas semanas, com os primeiros resultados disponíveis em maio. Ele acrescenta que o estudo deles tem pacientes suficientes — de 500 a 600 — o que permite afirmar se casos moderados e graves respondem ao medicamento.

“Isso é extraordinário. Trabalho com estudos clínicos há 20 anos, e o período de realização do estudo é um recorde”, afirma Kalil. “Nós, como cientistas e médicos, aprendemos as lições do passado e colocamos tudo em prática mais rápido do que nunca.”

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