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Papa: Cântico das Criaturas, um grande ensinamento sobre o cuidado da criação



O afresco da Pregação aos Pássaros, das Histórias de São Francisco, na Basílica Superior de Assis 


Por ocasião da XXIV Semana da Língua Italiana no Mundo, a Embaixada da Itália junto à Santa Sé, em colaboração com o Pátio dos Gentios, organizou um evento para estudar e celebrar o oitavo centenário da famosa composição de São Francisco de Assis. O cardeal Ravasi: não vamos perder a nossa admiração pela criação.


Fausta Speranza - Vatican News

É necessário continuar “o trabalho de conscientização no cuidado da criação”, “há um grande ensinamento naquela oração que há oito séculos nunca deixou de bater e que São Francisco compôs no final de sua vida”. Foi assim que o Papa Francisco, através da mensagem enviada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, expressou encorajamento pela iniciativa que aconteceu na manhã desta terça-feira (15/10) na sede da Embaixada da Itália junto à Santa Sé, 800 anos após a redação do Cântico das Criaturas por São Francisco.


Os fundamentos da língua italiana

O evento foi desejado pelo embaixador Francesco Di Nitto para o aniversário especial, mas também por ocasião da XXIV Semana da Língua Italiana no Mundo, uma vez que o Cântico constitui a base do desenvolvimento da língua italiana, além de ser um símbolo da proteção da criação. A iniciativa foi realizada em colaboração com o Pátio dos Gentios e sob o patrocínio do Comitê Nacional para a celebração do 8º centenário da morte de São Francisco de Assis.


Os palestrantes

O eco da riqueza cultural e espiritual do Cântico das Criaturas ao longo dos séculos foi revivido no discurso do cardeal Gianfranco Ravasi, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Cultura, e no de Roberto Antonelli, presidente da Accademia Nazionale dei Lincei. A profundidade poética emergiu nas palavras de Davide Rondoni, presidente do Comitê Nacional para as celebrações do oitavo centenário da morte de São Francisco de Assis.


O encontro foi realizado no Palazzo Borromeo e moderado pela jornalista Grazia Serra

Do Cântico, uma visão positiva da natureza

Entre outros, o cardeal Ravasi citou referências dos Salmos que foram as fontes de inspiração para o Cântico. Em um admirável percurso de referências e curiosidades, o cardeal deu o sentido daquele horizonte cósmico no qual as criaturas são as “letras da criação”, que é, portanto, como um livro aberto. Ele citou o Salmo 104, explicando que talvez não esteja entre as fontes diretas do Cântico, mas enfatizando que ele representa um dos mais admiráveis “cânticos das criaturas” bíblicas. E recordou o conceito subjacente que emerge, em particular, dos versículos 13,5 do Livro da Sabedoria e que encontra eco em São Francisco: a palavra é impotente para expressar a grandeza de Deus, mas a partir da beleza das criaturas cósmicas se ascende ao criador.


O Cântico, portanto, louvor a Deus e às suas criaturas, que se desdobra com intensidade e vigor em suas obras, torna-se também um hino à vida. O cardeal Ravasi também enfatizou como a oração de São Francisco é permeada por uma visão positiva da natureza, uma vez que a imagem do Criador se reflete na criação. Daí o senso de fraternidade entre o homem e toda a criação, que é muito diferente do contemptus mundi, ou seja, o desapego e o desprezo pelo mundo terreno, marcado pelo pecado e pelo sofrimento, típico de outras tendências religiosas medievais. Assim, a criação se torna um meio grandioso de louvar ao Criador. E esse sentimento de admiração diante da natureza deve ser preservado hoje, recomendou o cardeal, enfatizando a importância de não perder a admiração e as maravilhas da criação.


A participação do cardeal Ravasi

Um texto literário refinado e não ingênuo

O presidente Antonelli falou sobre a escrita e o valor literário do texto do Santo de Assis, também conhecido como Cântico do Irmão Sol. Ele lembrou que a simplicidade do sentimento expresso é refletida por uma sintaxe simples, mas também explicou que os versos são agrupados em pequenos blocos facilmente reconhecíveis, diferenciados tematicamente. A questão é que a homogeneidade desses blocos é garantida por dispositivos formais calculados que - ele enfatizou - os críticos modernos reabilitaram como refinados e cuidadosos, não ingênuos como se pensava na era romântica. Entre outras considerações, Antonelli lembrou como estudos recentes esclareceram a raiz da Úmbria de termos que até recentemente eram interpretados como francesismos. Um exemplo da profundidade cultural que, 800 anos depois, continua a fascinar e desafiar.


Um hino à fraternidade

Rondoni enfatizou, por sua vez, o apelo de São Francisco ao valor de uma humanidade que deve permanecer tal, recusando-se a reduzir as pessoas a usuários de tecnologia e preservando o senso de fraternidade que o santo experimentou em sua própria pele e que conota precisamente o humano. O texto do Cântico, explicou, "foi acompanhado de música, composta pelo próprio Francisco, e agora perdida, mas mantém seu valor poético, particularmente na forma de ’prosa rítmica assonante”. O Cântico, portanto, disse Rondoni, também sugere que não se pode renunciar à riqueza poética.


O manuscrito litúrgico iluminado do século XIII, exibido para a ocasião pela BAV


O manuscrito litúrgico da Biblioteca do Vaticano

Por ocasião do encontro, a Biblioteca Apostólica Vaticana colocou à disposição para exibição no Palazzo Borromeo um precioso manuscrito litúrgico do século XIII, no qual uma extraordinária miniatura faz referência a dois momentos fundamentais da vida de São Francisco de Assis: o sermão aos pássaros e os estigmas. Uma escolha diferente, comparada à hipótese de expor uma cópia do Cântico, desejada pelo prefeito Mauro Mantovani, para dar um sentido ao desenvolvimento cultural que tomou vida a partir do próprio Cântico, e ilustrada pela diretora do Departamento de Manuscritos, Claudia Montuschi.

Papa: na Igreja há lugar para todos, mas não para abusos. Casos sejam revelados e julgados


A Santa Missa no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, marcou o encerramento da viagem Apóstolica de Francisco à Bélgica e Luxemburgo. Durante a homilia, o Papa pronunciou palavras fortes contra os abusadores, pedindo que os casos sejam revelados e não acobertados.


Thulio Fonseca – Vatican News

A Santa Missa presidida pelo Papa Francisco neste domingo, 29 de setembro, no Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, contou com a presença de milhares de fiéis, reunidos também para celebrar a beatificação da venerável serva de Deus, Ana de Jesus, religiosa carmelita descalça que desempenhou um papel fundamental na difusão da reforma teresiana.

Em sua homilia, o Papa refletiu sobre as palavras de Jesus: «Se alguém escandalizar um destes pequeninos que creem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço» (Mc 9, 42). O Pontífice advertiu que devemos nos atentar para não escandalizar ou obstruir o caminho dos “pequeninos”, lembrando a responsabilidade que todos temos em cultivar uma fé aberta, inclusiva e acolhedora.


Na Igreja há lugar para todos, mas não para o abuso!

A seguir, o Pontífice pronunciou as palavras mais fortes da homilia, citando os casos de abusos:


Pensemos no que acontece quando os pequeninos são escandalizados, atingidos, abusados por quem deveria cuidar deles; nas feridas de dor e de impotência antes de tudo nas vítimas, mas também em seus familiares e na comunidade. Com a mente e com o coração, lembro das histórias de alguns desses "pequeninos" que encontrei anteontem. Eu os ouvi, senti seu sofrimento de abusados e repito aqui: na Igreja há lugar para todos, todos, todos, mas todos seremos julgados e não há lugar para o abuso, não há lugar para acobertar o abuso. Peço a todos: não acobertar os abusos. Peço aos bispos: não acobertar os abusos. Condenar os abusadores e ajudá-los a se curar desta doença do abuso. O mal não deve ser escondido, mas revelado, que se saiba, como fizeram alguns abusados, e com coragem. Que se saiba. E que seja julgado o abusador, seja leiga, leigo, padre ou bispo: que seja julgado!


Papa profere a homilia durante a Santa Missa


Humildade, gratidão e alegria

O Santo Padre enfatizou a necessidade de abertura, recordando os episódios bíblicos do Livro dos Números e do Evangelho de Marcos presentes na liturgia deste XXVI Domingo do Tempo Comum, onde a ação do Espírito Santo surpreende ao escolher para sua obra não apenas os que parecem eleitos, mas também aqueles à margem. “A Comunidade dos cristãos não é um círculo de privilegiados, é uma família de salvos”, afirmou Francisco, apontando que o Batismo é um chamado para todos, e que devemos viver nossa missão com humildade, gratidão e alegria, sem sermos obstáculo para os demais.

A falta de misericórdia é um “escândalo”

Em seguida, o Papa abordou a comunhão, inspirando-se na Carta de São Tiago, que nos exorta a evitar o egoísmo e a abraçar o caminho do amor e da partilha. Para o Pontífice, a falta de misericórdia, especialmente com os mais pobres e marginalizados, é um verdadeiro “escândalo” em nossa sociedade:

“Pensemos, por exemplo, na situação de tantos imigrantes sem documentos: são pessoas, irmãs e irmãos que, como todos, sonham com um futuro melhor para si e para os seus e, em vez disso, ficam muitas vezes sem ser escutados e acabam por ser vítimas de exploração”.


A força do testemunho autêntico 

Por fim, o Santo Padre destacou a importancia do testemunho na vida cristã trazendo à luz o exemplo da nova beata Ana de Jesus. A carmelita, que seguiu os passos de Santa Teresa de Ávila, deixou um legado de simplicidade, oração e caridade em uma época de grandes desafios:

“Numa época marcada por dolorosos escândalos, tanto dentro como fora da comunidade cristã, ela e as suas companheiras conseguiram trazer de novo tantas pessoas à fé a ponto de alguém descrever a sua fundação nesta cidade como um ‘íman espiritual’”.


Papa Francisco durante a celebração


Ao concluir, o Papa Francisco convidou os fiéis a seguirem o testemunho deixado por Ana de Jesus e a renovarem seu compromisso com o Evangelho da misericórdia, vivendo a fé com abertura, comunhão e testemunho.

“Acolhamos, pois, com gratidão o modelo, simultaneamente delicado e forte, de ‘santidade feminina’ que ela nos deixou, renovando o compromisso de caminharmos juntos seguindo as pegadas do Senhor", exortou o Pontífice.

O Papa no Angelus: no cuidado com os mais fracos está o verdadeiro poder


Quer ser grande? Faça-se pequeno, coloque-se a serviço de todos. Com uma palavra tão simples quanto decisiva, Jesus renova nosso modo de vida. Ele nos ensina que o verdadeiro poder não está no domínio dos mais fortes, mas no cuidado com os mais fracos: disse Francisco no Angelus ao comentar o Evangelho deste XXV Domingo do Tempo Comum


Raimundo de Lima – Vatican News


Quantas pessoas sofrem e morrem por causa das lutas pelo poder! Essas são vidas que o mundo rejeita, assim como rejeitou Jesus. Quando Ele foi entregue nas mãos dos homens, não encontrou um abraço, mas uma cruz. No entanto, o Evangelho continua sendo palavra viva e cheia de esperança: Aquele que foi rejeitado, ressuscitou, é o Senhor! Foi o que disse o Papa na alocução que precedeu o Angelus ao meio-dia deste domingo (22/09), XXV Domingo do tempo Comum.



Hoje, disse Francisco, o Evangelho da liturgia (Mc 9,30-37) nos fala de Jesus anunciando o que acontecerá no ápice de sua vida: “O Filho do Homem é entregue às mãos dos homens e eles o matarão, mas depois de três dias ele ressuscitará”. Os discípulos, no entanto - observou o Pontífice -, enquanto seguem o Mestre, têm outra coisa em suas mentes e lábios. Quando Jesus lhes pergunta sobre o que estavam falando, eles não respondem.

Fiéis e peregrinos rezam o Angelus com o Papa Francisco (Vatican Media)


Quer ser grande? Faça-se pequeno


“Prestemos atenção a esse silêncio: os discípulos silenciam porque estavam discutindo sobre quem era o maior. Que contraste com as palavras do Senhor! Enquanto Jesus lhes confiava o sentido da própria vida, eles falavam de poder. E agora a vergonha fecha suas bocas, como antes o orgulho havia fechado seus corações. No entanto, Jesus responde abertamente às palavras sussurradas ao longo do caminho: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último”. Quer ser grande? Faça-se pequeno, coloque-se a serviço de todos.”



Com uma palavra tão simples quanto decisiva, prosseguiu o Santo Padre, Jesus renova nosso modo de vida. Ele nos ensina que o verdadeiro poder não está no domínio dos mais fortes, mas no cuidado com os mais fracos.


Fiéis e peregrinos rezam o Angelus com o Papa Francisco (Vatican Media)

Quem acolhe o menor, a mim acolhe


Francisco retomou a passagem desta página do Evangelho em que Jesus chama uma criança, coloca-a no meio dos discípulos e a abraça, dizendo: “Aquele que receber uma destas crianças por causa do meu nome, a mim recebe”. A criança não tem poder: ela tem necessidade. Quando cuidamos do homem, reconhecemos que o homem está sempre necessitado de vida.




“Nós, todos nós, estamos vivos porque fomos acolhidos, mas o poder nos faz esquecer essa verdade. Então nos tornamos dominadores, não servidores, e os primeiros a sofrer são os últimos: os pequenos, os fracos, os pobres.”


Sejamos como Maria, sem vanglória e prontos para servir

Como faz habitualmente, Francisco concluiu propondo-nos – à luz da Palavra do Evangelho - algumas interpelações para nossa reflexão pessoal.



“Sei reconhecer o rosto de Jesus nos pequeninos? Eu cuido do meu próximo, servindo com generosidade? Agradeço àqueles que cuidam de mim? Oremos juntos a Maria, para sermos como ela, livres da vanglória e prontos para servir.”


Fiéis e peregrinos rezam o Angelus com o Papa Francisco (Vatican Media)

O Papa no Angelus: a Eucaristia é necessária a todos nós

 

Francisco iniciou a alocução que precedeu a oração mariana do Angelus, com as palavras ditas com simplicidade por Jesus: “Eu sou o pão vivo, descido do céu”. “O pão celestial, que vem do Pai, é o Filho que se fez carne por nós. Esse alimento é mais do que necessário para nós, porque sacia a fome de esperança, a fome de verdade, a fome de salvação que todos nós sentimos, não no estômago, mas no coração”, frisou o Papa.

Mariangela Jaguraba - Vatican News


O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, deste domingo (18/08), com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.


O Pontífice iniciou a alocução, que precedeu a oração, com as palavras ditas com simplicidade por Jesus: “Eu sou o pão vivo, descido do céu”.


“Diante da multidão, o Filho de Deus se identifica com o alimento mais comum e cotidiano. Entre os que ouvem, alguns começam a discutir: como Jesus pode nos dar sua própria carne para comer? Hoje, também nos fazemos essa pergunta, mas com admiração e gratidão”, disse o Papa, propondo duas atitudes sobre as quais refletir. “Admiração e gratidão diante do milagre da Eucaristia”, sublinhou Francisco.


As palavras de Jesus nos surpreendem

A primeira atitude é “maravilhar-se, porque as palavras de Jesus nos surpreendem. Ainda hoje, Jesus sempre nos surpreende em nossa vida”.


“O pão do céu é um dom que supera todas as expectativas.”


Quem não entende o estilo de Jesus permanece desconfiado: parece impossível, até mesmo desumano, comer a carne de um outro. Carne e sangue, ao contrário, são a humanidade do Salvador, sua própria vida oferecida como alimento para a nossa. 


Reconhecer Jesus onde ele se faz presente 

“Isso nos leva à segunda atitude: a gratidão, porque reconhecemos Jesus ali onde ele se faz presente para nós e conosco. Ele se faz pão por nós”, sublinhou Francisco, destacando as palavras de Jesus: “Quem come a minha carne permanece em mim e eu nele”.


O Cristo, verdadeiro homem, sabe muito bem que é preciso comer para viver. Mas ele também sabe que isso não é suficiente. Depois de ter multiplicado o pão terreno, Ele prepara um dom ainda maior: Ele mesmo se torna verdadeira comida e verdadeira bebida. Obrigado, Senhor Jesus!


Jesus cuida da maior necessidade

“O pão celestial, que vem do Pai, é o Filho que se fez carne por nós. Esse alimento é mais do que necessário para nós, porque sacia a fome de esperança, a fome de verdade, a fome de salvação que todos nós sentimos, não no estômago, mas no coração. A Eucaristia é necessária a todos nós”, disse o Papa, acrescentando:


Jesus cuida da maior necessidade: ele nos salva, alimentando a nossa vida com a sua, para sempre. Graças a Ele, podemos viver em comunhão com Deus e entre nós.


“O pão vivo e verdadeiro não é, portanto, algo mágico que resolve repentinamente todos os problemas, mas é o próprio Corpo de Cristo, que dá esperança aos pobres e vence a arrogância de quem se empanturra em detrimento deles.”


A seguir, Francisco convidou todos a se perguntar: “Tenho fome e sede de salvação, não apenas para mim, mas para todos os meus irmãos e irmãs? Quando recebo a Eucaristia, que é o milagre da misericórdia, sou capaz de me maravilhar com o Corpo do Senhor, que morreu e ressuscitou por nós?”


“Rezemos juntos à Virgem Maria para que nos ajude a acolher o dom do céu no sinal do pão”, concluiu o Papa.


Papa: as coisas materiais não preenchem a vida, seguir o caminho da caridade


O Papa Francisco rezou ao meio-dia deste domingo a oração do Angelus, diante dos fiéis e peregrinos reunidos neste domingo na Praça São Pedro. “Se cada um der aos outros o que tem, com a ajuda de Deus, mesmo com pouco, todos podem ter algo", afirmou.


Silvonei José – Vatican News

"As coisas materiais não preenchem a vida: somente o amor pode fazer isso. E para que isso aconteça, o caminho a seguir é o da caridade, que não guarda nada para si, mas compartilha tudo": foi o que disse o Papa, antes do Angelus, diante dos fiéis e peregrinos reunidos neste domingo na Praça São Pedro.

"Hoje, o Evangelho nos fala de Jesus que, depois do milagre dos pães e dos peixes, convida as multidões, que o procuram, a refletir sobre o que aconteceu, para entender seu significado. Eles haviam comido aquele alimento compartilhado e puderam ver como, mesmo com poucos recursos, graças à generosidade e coragem de um jovem, que colocou à disposição dos outros o que ele tinha, todos foram alimentados até a saciedade”.

O sinal era claro, destacou o Papa: “se cada um der aos outros o que tem, com a ajuda de Deus, mesmo com pouco, todos podem ter algo".

E, em vez disso, eles não entenderam – completou o Santo Padre: “confundiram Jesus com uma espécie de mágico, e voltaram para procurá-lo, esperando que repetisse o prodígio como se fosse uma magia".

"Eles foram protagonistas de uma experiência para seu caminho, mas não compreenderam o significado dela: sua atenção estava voltada apenas para os pães e peixes, para o alimento material, que acabou imediatamente – continuou o Papa. Eles não perceberam que isso era apenas um instrumento, que o Pai, enquanto saciava a fome deles, lhes revelava algo muito mais importante: o modo de vida que dura para sempre e o sabor do pão que sacia para além da medida".

O verdadeiro pão, em resumo, - disse o Papa - "era e é Jesus, seu Filho amado feito homem, que veio para compartilhar nossa pobreza para nos conduzir, por meio dela, à alegria da plena comunhão com Deus e com nossos irmãos e irmãs, em dom".

"As coisas materiais não preenchem a vida: somente o amor pode preenchê-la. E para que isso aconteça, o caminho a ser seguido é o da caridade que não guarda nada para si, mas compartilha tudo", observou o Santo Padre.

"Isso não acontece também em nossas famílias? Pensemos naqueles pais que lutam a vida inteira para educar bem seus filhos e deixar-lhes algo para o futuro. Como é bonito quando essa mensagem é compreendida, e os filhos são gratos e, por sua vez, tornam-se solidários uns com os outros como irmãos! E como é triste, ao contrário, quando eles brigam por herança, e talvez não se falem por anos", enfatizou.

A mensagem da mamãe e do papai, seu legado mais precioso, não é o dinheiro, - enfatizou o Papa - "mas o amor com o qual eles dão a seus filhos tudo o que têm, assim como Deus faz conosco, e dessa forma eles nos ensinam a amar".

"Vamos nos perguntar, então: qual é a minha relação com as coisas materiais? Eu sou escravo delas ou as uso livremente, como instrumentos para dar e receber amor? Sei dizer "obrigado" a Deus e a meus irmãos e irmãs pelos dons recebidos e compartilhá-los?

Francisco concluiu pedindo a Maria, que deu a Jesus toda a sua vida, que nos ensine a fazer de todas as coisas um instrumento de amor.

O Papa: a literatura educa o coração e a mente e abre à escuta dos outros

Francisco dirige uma carta aos candidatos ao sacerdócio, mas também aos agentes pastorais e a todos os cristãos, para sublinhar o "valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal", porque os livros abrem novos espaços interiores, enriquecem, ajudam a enfrentar a vida e a compreender os outros.


Papa Francisco  (
VATICAN MEDIA Divisione Foto)


Tiziana Campisi – Vatican News

Um bom livro abre a mente, estimula o coração, treina para a vida. Palavra do Papa Francisco, que pegou caneta e papel para fazer com que os futuros sacerdotes, mas também "todos os agentes pastorais" e "qualquer cristão" entendam o "valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal". Com a "Carta sobre o papel da literatura na educação", escrita em 17 de julho e publicada neste dia 4 de agosto, o Pontífice pretende "despertar o amor pela leitura" e, sobretudo, "propor uma mudança radical de ritmo" na preparação dos candidatos ao sacerdócio, de modo que se dê mais espaço à leitura de obras literárias. Como a literatura pode "educar o coração e a mente do pastor" para "um exercício livre e humilde da própria racionalidade" e para o "reconhecimento frutífero do pluralismo das línguas humanas", ela pode ampliar a sensibilidade humana e levar a "uma grande abertura espiritual". Além disso, a tarefa dos fiéis, e dos sacerdotes em particular, é "tocar o coração dos seres humanos contemporâneos para que eles possam se comover e se abrir diante da proclamação do Senhor Jesus", e em tudo isso "a contribuição que a literatura e a poesia podem oferecer é de valor inigualável".


Os efeitos benéficos da leitura

No texto, Francisco enfatiza primeiramente os efeitos benéficos de um bom livro que, "muitas vezes no tédio das férias, no calor e na solidão de alguns bairros desertos", pode ser "um oásis que nos distancia de outras escolhas que não são boas para nós" e que, em "momentos de cansaço, raiva, decepção, fracasso e quando nem mesmo na oração conseguimos encontrar a quietude da alma", pode nos ajudar a superar momentos difíceis e "ter um pouco mais de serenidade". Porque talvez "essa leitura abra novos espaços interiores" que nos ajudem a não nos fecharmos "naquelas poucas ideias obsessivas", que depois "nos prendem de maneira inexorável". As pessoas costumavam se dedicar à leitura com mais frequência "antes da onipresença da mídia, das redes sociais, dos telefones celulares e de outros dispositivos", observa o Papa, que ressalta que, em um produto audiovisual, embora "mais completo", "a margem e o tempo para 'enriquecer' a narrativa ou interpretá-la são geralmente reduzidos", enquanto a leitura de um livro "o leitor é muito mais ativo". Uma obra literária é "um texto vivo e sempre fértil". Acontece, de fato, que "ao ler, o leitor é enriquecido com o que recebe do autor", e isso "permite que ele faça florescer a riqueza de sua própria pessoa".


Dedicar tempo à literatura nos seminários

Embora seja positivo que "em alguns seminários se ultrapasse a obsessão dos ecrãs - e pelas fake news venenosas, superficiais e violentas - e se dedique momentos à literatura", à leitura, a falar sobre "livros, novos ou antigos, que continuam a nos dizer muitas coisas", reconhece Francisco, em geral, "no caminho de formação daqueles que estão a caminho do ministério ordenado" não há um espaço adequado para a literatura, considerada "uma expressão menor da cultura que não pertence ao caminho de preparação e, portanto, à experiência pastoral concreta dos futuros sacerdotes". "Tal abordagem não é boa", diz o Papa, levando a "uma forma de grave empobrecimento intelectual e espiritual dos futuros sacerdotes", que assim não têm "acesso privilegiado, precisamente através da literatura, ao coração da cultura humana e, mais especificamente, ao coração do ser humano". Porque, na prática, a literatura tem a ver "com o que cada um de nós deseja da vida" e "entra em uma relação íntima com nossa existência concreta, com as suas tensões essenciais, com os seus desejos e os seus  significados".


Livros como companheiros de viagem

Relembrando os anos em que lecionou em uma escola jesuíta em Santa Fé, entre 1964 e 1965, o Papa conta que, como professor de Literatura, os alunos deveriam estudar El Cid, enquanto eles "pediam para ler García Lorca". "Por isso, decidi: em casa estudariam El Cid, e, durante as aulas, abordaria os autores de que os jovens mais gostavam", recorda Francisco, acrescentando que eles preferiam "obras literárias contemporâneas"; porém, à medida que fossem lendo o que os atraía no momento, iriam adquirindo em geral o gosto pela literatura, pela poesia, e depois passariam a outros autores, porque "no fim, o coração busca mais, e cada um encontra seu próprio caminho na literatura". A esse respeito, o Papa confessa que ama "os artistas trágicos, porque todos nós poderíamos sentir suas obras como nossas, como uma expressão de nossos próprios dramas". O Pontífice adverte que não se deve "ler algo por obrigação", pelo contrário, deve-se selecionar as próprias leituras "com abertura, surpresa, flexibilidade".


Fazer encontrar Jesus feito carne

Hoje, para "responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não busquem saciá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne", os crentes e os sacerdotes, ao anunciar o Evangelho, devem se comprometer para que "todos possam se encontrar com um Jesus Cristo feito carne, feito humano, feito história". Nunca se deve perder de vista "a 'carne' de Jesus Cristo", recomenda o Pontífice, "aquela carne feita de paixões, emoções, sentimentos, histórias concretas, mãos que tocam e curam, olhares que libertam e encorajam, de hospitalidade, de perdão, de indignação, de coragem, de intrepidez: em uma palavra, de amor". Por essa razão, enfatiza Francisco, "uma assídua frequência à literatura pode tornar os futuros sacerdotes e todos os agentes pastorais ainda mais sensíveis à plena humanidade" de Cristo, "na qual se derrama toda a sua divindade".


O hábito da leitura tem resultados positivos

Na carta, o Papa também enuncia as consequências positivas que, segundo os estudiosos, decorrem do "hábito de ler", que ajuda a "adquirir um vocabulário mais amplo", "a desenvolver vários aspectos" da própria inteligência, "também estimula a imaginação e a criatividade", "permite que as pessoas aprendam a exprimir as suas narrativas de uma forma mais rica", "melhora também a capacidade de concentração, reduz os níveis de deficit cognitivo, e acalma o stress e a ansiedade". Em termos concretos, a leitura "prepara-nos para compreender e, assim, enfrentar as várias situações que podem surgir na vida", continua Franciso, "ao ler, mergulhamos nas personagens, nas preocupações, nos dramas, nos perigos, nos medos de pessoas que acabaram por ultrapassar os desafios da vida". E com Borges podemos chegar ao ponto de definir literatura como "ouvir a voz de alguém".


Reduzir, contemplar, escutar

A literatura serve, “em suma, a fazer eficazmente a experiência da vida”. E se a nossa visão ordinária do mundo é como que “reduzida” e limitada pela pressão que os objetivos operacionais e imediatos do nosso agir exercem sobre nós “e também o serviço – cultual, pastoral, caritativo – pode tornar-se” somente algo a fazer, o risco passa a ser o cair na busca duma “eficiência que banaliza o discernimento, empobrece a sensibilidade e reduz a complexidade”.


Assim, em "nossa vida cotidiana", devemos aprender “a distanciarmo-nos do imediato, a reduzir a velocidade, a contemplar e a escutar. Isto pode acontecer quando, de modo desinteressado, uma pessoa se detém para ler um livro.


É necessário “recuperar formas hospitaleiras e não estratégicas de relacionamento: ocorre distância, lentidão, liberdade para uma abordagem da realidade, em palavras simples, a literatura nos permite "treinar nosso olhar para buscar e explorar a verdade das pessoas e das situações", "nos ajuda a dizer nossa presença no mundo". Além disso, insiste o Papa, "lendo um texto literário" vemos através dos olhos dos outros, desenvolvemos "o poder empático da imaginação", "descobrimos que o que sentimos não é só nosso, é universal, e, por isso, até a pessoa mais abandonada não se sente só”.

Francisco: que o espírito olímpico e paraolímpico favoreça relações de paz

 O Papa lança um novo post de sua conta na rede social X reafirmando que as Olimpíadas, que começam hoje, e as Paraolimpíadas no final de agosto, são um antídoto para não cair na tragédia da guerra e acabar com as violências". Que o esporte construa pontes e derrube barreiras. 


Paris, a Torre Eiffel com os anéis olímpicos  (ANSA)


Alessandro De Carolis - Cidade do Vaticano

"Possa o esporte construir pontes, abater barreiras e favorecer relações de paz." O Papa acende e reacende a chama do "autêntico espírito olímpico e paralímpico" no dia em que os Jogos de Paris estão prestes a começar oficialmente, com a abertura programada para a noite desta sexta-feira, 26 de julho. Com um post em sua conta na rede social X @Pontifex_pt, o Santo Padre reafirma que as Olimpíadas e as Paraolimpíadas que começarão em 28 de agosto são "um antídoto para não cair na tragédia da guerra e para acabar com as violências".


Esporte, oportunidade de diálogo

Ontem também a Athletica Vaticana havia lembrado esse desejo do Papa em uma carta enviada às atletas e aos atletas na véspera da abertura dos Jogos, que "são antes de tudo histórias de mulheres e homens que hoje não conseguem parar «a terceira guerra mundial aos pedaços» (como define Francisco), mas sugerem - lê-se na carta - a possibilidade de uma humanidade mais fraterna. Através da linguagem do diálogo esportivo, popular e compreensível para todos."

Grande revezamento

"Sem nunca recorrer a atalhos e com lealdade", escreve ainda a Athletica Vaticana, os Jogos "podem ser oportunidades de esperança, nas pequenas e grandes questões de cada pessoa e da humanidade. Sim, as Olimpíadas e as Paraolimpíadas podem ser estratégias de paz e antídoto aos jogos de guerra." O que importa é encarnar "os verdadeiros valores do esporte: paixão, inclusão, fraternidade, espírito de equipe, lealdade, redenção, compromisso e sacrifício". Sabendo que "o esporte não é só vitória ou derrota, o esporte é uma jornada na vida que nunca se faz sozinho". 


  • Vatican News
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O Papa: reconduzir a uma nova vida aqueles que caem na escravidão das drogas

 A catequese de Francisco, na Audiência Geral, foi dedicada à trágica realidade da dependência de drogas no âmbito do Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas celebrado nesta quarta-feira, 26 de junho. Segundo o Papa, "a redução da dependência de drogas não pode ser alcançada através da liberalização do seu consumo, isto é uma ilusão". O Pontífice definiu os traficantes como "assassinos e traficantes de morte".

Mariangela Jaguraba - Vatican News


Nesta quarta-feira (26/06), Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, o Papa Francisco dedicou sua catequese, na Audiência Geral, a este tema.


O Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987. O tema deste ano é "A evidência é clara: investir na prevenção".


João Paulo II e Bento XVI sobre as drogas

São João Paulo II afirmou que "o abuso de drogas empobrece todas as comunidades onde está presente. Diminui a força humana e a fibra moral. Isso prejudica os valores estimados. Destrói o desejo de viver e contribuir para uma sociedade melhor". Francisco recordou que quem faz uso de drogas "traz consigo uma história pessoal diferente, que deve ser ouvida, compreendida, amada e, na medida do possível, sanada e purificada". Os usuários de drogas "continuam tendo uma dignidade enquanto pessoas filhas de Deus”. "Todo mundo tem dignidade", acrescentou o Papa.


"No entanto, não podemos ignorar as intenções e más ações dos distribuidores e traficantes de drogas. Eles são assassinos", sublinhou Francisco, recordando que o Papa Bento XVI usou palavras severas durante sua visita à comunidade terapêutica "Fazenda da Esperança", no Brasil, em 12 de maio de 2007. Assim disse Bento XVI: “Digo aos que comercializam a droga que pensem no mal que estão provocando a uma multidão de jovens e de adultos de todos os segmentos da sociedade: Deus vai exigir de vocês satisfações. A dignidade humana não pode ser espezinhada desta maneira”.


Pôr fim à produção e ao tráfico

Segundo o Papa, "a redução da dependência de drogas não pode ser alcançada através da liberalização do seu consumo, isto é uma ilusão, como foi proposto por alguns, ou já implementado, em alguns países. Se for liberalizada o consumo será maior".


“Tendo conhecido muitas histórias trágicas de usuários de drogas e suas famílias, estou convencido de que é moralmente necessário pôr fim à produção e ao tráfico destas substâncias perigosas.”


Quantos traficantes de morte existem, porque os traficantes de drogas são traficantes de morte! - quantos traficantes de morte existem, movidos pela lógica do poder e do dinheiro a qualquer custo! Esta praga, que produz violência e semeia sofrimento e morte, exige um ato de coragem de toda a nossa sociedade.


A prevenção para combater o abuso e o narcotráfico

"A produção e o tráfico de drogas também têm um impacto destrutivo na nossa casa comum", disse ainda o Papa, sublinhando que "isto tem se tornado cada vez mais evidente na bacia amazônica".


“Outra forma prioritária de combater o abuso e o narcotráfico é a prevenção, que se faz promovendo maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida pessoal e comunitária, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança para o futuro.”


O trabalho da Igreja

O Pontífice disse que em suas viagens em várias dioceses e países ele visitou "diversas comunidades de recuperação inspiradas no Evangelho". "São um testemunho forte e esperançoso do compromisso dos sacerdotes, das pessoas consagradas e dos leigos em pôr em prática a parábola do Bom Samaritano. Do mesmo modo, sinto-me confortado pelos esforços empreendidos por diversas Conferências Episcopais para promover legislação e políticas justas relativas ao tratamento das pessoas dependentes do consumo de drogas e à prevenção para deter este flagelo", disse ainda Francisco.


O Papa citou como exemplo a rede da Pastoral latino-americana de Acompanhamento e Prevenção das Dependências (PLAPA). "O estatuto desta rede reconhece que 'a dependência do álcool, das substâncias psicoativas e de outras formas de dependência (pornografia, novas tecnologias, etc.) é um problema que nos afeta indistintamente, para além da diversidade dos contextos geográficos, sociais, culturais, religiosos e etários. Apesar das diferenças, queremos organizar-nos como rede: partilhar experiências, o entusiasmo e as dificuldades'".


Francisco mencionou também os Bispos da África Austral, que em novembro de 2023 convocaram um encontro sobre o tema “Capacitar os jovens como agentes de paz e de esperança”. Os representantes da juventude presentes na reunião reconheceram aquela assembleia como um “marco significativo para uma juventude saudável e ativa em toda a região”. Prometeram ainda: “Aceitamos o papel de Embaixadores e Defensores que vão lutar contra o uso de substâncias. Pedimos a todos os jovens que tenham empatia uns com os outros em todos os momentos”.


Não ficar indiferentes

“Queridos irmãos e irmãs, perante a trágica situação da dependência de drogas de milhões de pessoas em todo o mundo, perante o escândalo da produção e do tráfico ilícito de drogas, “não podemos ficar indiferentes. O Senhor Jesus parou, fez-se próximo, curou as feridas.”


Seguindo "o estilo da sua proximidade, também nós somos chamados a agir, a parar diante de situações de fragilidade e de dor, a saber escutar o grito da solidão e da angústia, a inclinar-nos para levantar e reconduzir a uma nova vida aqueles que caem na escravidão das drogas". "Rezemos também pelos criminosos que gastam e fornecem drogas aos jovens: são criminosos, são assassinos. Rezemos por sua conversão", disse ainda o Papa.


Por fim, neste Dia Internacional contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, Francisco convidou a renovar "como cristãos e comunidades eclesiais o nosso compromisso de oração e de combate às drogas".


Mães e esposas de prisioneiros ucranianos com o Papa

 Tetyana, Tamara, Alla, Vialyetta presentes na Audiência Geral na Praça de São Pedro para contar a Francisco sobre o sofrimento que sentem pelos seus familiares, combatentes de Azov, condenados à prisão perpétua: “Ele é o único que pode nos ajudar, gostaríamos que ele pedisse a libertação de todos os prisioneiros." Os últimos contactos com os familiares são de meses ou mesmo anos atrás: “Não recebemos cartas nem telefonemas e nem nos dizem nem mesmo onde estão, só temos informações da mídia”


As mulheres entregam seus presentes ao Papa Francisco 
(Vatican Media)


Salvatore Cernuzio – Cidade do Vaticano

A última vez que Tetyana viu seu filho foi em 6 de dezembro de 2021, ela ouviu sua voz em 9 de maio de 2022 e a última mensagem de texto que recebeu dele data de 17 de maio de 2022. Em março passado, por um canal de TV russo, ela soube que ele foi julgado e condenado a vinte e dois anos. Tamara espera pelo marido há mais de dois anos e tudo o que sabe sobre ele é que está na Sibéria, na colônia "Severny Volk", onde também esteve detido o dissidente Alexei Navalny. Alla não vê o marido desde 21 de fevereiro de 2022, ela falou com ele no dia 18 de maio de 2022 e ele contou que havia se ferido no braço, ao sair da siderúrgica Azovstal, em Mariupol. Através de um companheiro de prisão libertado, soube que seu braço funcionava com 30% de sua capacidade devido a uma infecção. Vialyetta, Violetta em italiano, vive todos os dias com o terror constante de receber a notícia da morte do marido, preso há dois anos e com um tumor na cabeça. Ela recebeu informações sobre ele e a sentença que recebeu, por meio de telegramas de canais russos e da autoproclamada República de Donetsk.


O Papa, o único que pode nos ajudar

 

Tetyana, Tamara, Alla e Vialyetta foram com grande carga de sofrimento e preocupações à Praça de São Pedro para a Audiência Deral deste 26 de junho. Fizeram tudo para estar ali porque queriam ter contacto com o Papa Francisco, o único - dizem - capaz de desbloquear esta situação complicada e muito delicada dos seus filhos e maridos, combatentes do batalhão Azov, primeiramente barricados na siderúrgica Azovstal em Mariupol e agora prisioneiros e condenados na Rússia à prisão perpétua – “injustamente” e “ilegalmente”, afirmam – juntamente com outros 101 ucranianos.


“Por que o Papa? Porque é a última possibilidade, ele está perto de Deus. Ele é o único que pode ajudar. Acredito que nos ajudará”, afirmam as quatro mulheres ao microfone de Svitlana Dukhovich da seção ucraniana da Rádio Vaticano/Vaticano News. As mulheres têm bem fixas na mente as datas, horas e circunstâncias muito precisas de quando viram e ouviram os familiares ou as informações recolhidas dos meios de comunicação social e companheiros de prisão sobre o que estão vivendo. “Sabemos as coisas deles... A Cruz Vermelha prometeu-nos que teríamos tido contacto, mas não recebemos cartas nem telefonemas e eles nem sequer nos dizem onde estão.”


O temor de que nunca mais voltem para casa

 

“Há 101 pessoas de Azov condenadas ilegalmente e gostaríamos realmente que o Papa pedisse a Putin para libertar todas elas, porque podem ser trocadas somente por meio de anistia ou perdão”, afirmam elas. O receio é que a Rússia não deixe regressar os seus familiares, porque foram condenados, numa possível troca “de todos por todos”, como pediu o Papa em muitos dos seus apelos. “Temos cada vez menos possibilidades”, explicam. “Eles podem simplesmente ser retirados da lista de trocas e pronto. E eles nunca voltarão para casa."


“Como parentes, estamos indefesos”

 

“A prisão perpétua é terrível”, sublinha Alla, de 23 anos, até o início do conflito gerente de uma loja de tecnologia. “Tentamos todas as opções e batemos em todas as portas possíveis. Tentamos transmitir a nossa dor e o sofrimento dos nossos entes queridos a todos que encontramos e pedimos ajuda. Hoje, infelizmente, como parentes estamos desamparados. É por isso que estamos aqui e fazemos tudo para que o Papa nos ouça, ouça as nossas histórias, ouça os nossos filhos, entenda quanto tempo eles estiveram lá e que sofrimento eles passaram”.  O seu Oleksiy, de 26 anos, foi condenado duas vezes depois da saída de Azovstal. “Não tenho contato com ele há muito tempo”, diz ela. “No dia 6 de maio de 2023, quando ocorreu a troca de prisioneiros de Azov, o companheiro de prisão do meu marido foi libertado e me contatou informando que estava na mesma cela que ele. Perguntei-lhe sobre o braço lesionado e ele disse-me que sempre havia uma infecção e que só funcionava com 30%. de sua capacidade".


Na prisão com um tumor na cabeça

 

O marido de Vialyetta, uma estudante, também se chama Oleksiy; o seu estado de saúde é significativamente pior devido a um tumor na cabeça, que é “benigno”, mas que “deve ser examinado de quatro em quatro meses para poder ser removido a tempo”. Em fevereiro de 2024, Oleksiy foi condenado à prisão perpétua por um tribunal de Donetsk, tendo sido interposto recurso no tribunal em junho, mas a sentença foi mantida. Ele está preso há mais de dois anos. “Em 17 de maio de 2022, ele se rendeu por ordem do Alto Comando ucraniano e agora não há mais contato com ele. A única informação que consigo encontrar, bem como a forma como tomei conhecimento da sua condenação, são telegramas de canais russos e da autoproclamada República de Donetsk, onde o vi pela primeira vez depois dois anos. Ele estava absolutamente péssimo, havia perdido pelo menos 15kg, pelo que pude ver. Lá não há atendimento médico, ninguém pode examinar o tumor dele, apesar de saber disso”.


Em uma das colônias mais duras da Sibéria

 

Tamara, educadora e tradutora do inglês antes da guerra, conta que a única coisa que sabe sobre Serhiy, seu marido de 26 anos, é que ele foi condenado à prisão perpétua e que hoje está na colônia siberiana Severnyj Volk, "uma dos mais duras da Rússia." “Recentemente soube pela mídia que durante a chamada 'acolhida' (a chegada de um novo preso) ele sofreu violência que lhe causou uma comoção cerebral, fratura nas costelas, hematomas e forte estresse”.


As últimas palavras ouvidas do marido datam de 16 de maio de 2022, quando ele disse: “Não se preocupe, vai dar tudo certo. Nos veremos em breve. Vamos nos preparar para um casamento de verdade." Os dois, aliás, casaram-se on-line em março de 2022 (na Ucrânia durante a guerra é possível casar com soldados à distância, ndr), quando ele já estava em Azovstal. Eles também gostariam de se casar “de verdade”, mas Tamara não tem todas essas esperanças. Ela as perdeu ao ver Serhiy no tribunal em um site: “Não o reconheci porque ele havia perdido muito peso, estava com uma aparência pálida e vazia. Lá ouvi a sentença de prisão perpétua." Ela chorou durante os três dias seguintes: “Depois do julgamento, pelo que eu sei, Serhiy desistiu, perdeu as esperanças. Também é muito difícil para mim continuar esperando."


Uma mãe que luta e lutará

 

Em vez disso, Tetyana, uma ex-vendedora de loja, espera contra todas as esperanças pelo retorno de seu filho Artem. Seu único filho. “Na época da invasão ele tinha 21 anos. Em 19 de junho ele comemorou seu terceiro aniversário em cativeiro”. O jovem ingressou na Azov em 2019. Os últimos contatos virtuais datam de há dois anos; ela também viu o rapaz na TV, foi julgado e condenado a 22 anos. “Ninguém me contatou”, diz ela. “Apenas uma vez, um mês após o ataque a Olenivka (uma instalação nos territórios da autoproclamada República de Donetsk, onde morreram dezenas de pessoas detidas como prisioneiros de guerra, ndr.), recebi um telefonema da Cruz Vermelha me perguntando se eu sabia alguma coisa sobre meu filho. Mas eu nem sabia se ele estava vivo." “Meu filho – acrescenta – sabe que sua mãe não ficará indiferente, sabe que sua mãe lutará. E isso me dá forças para lutar por ele, porque estou livre e ele não."


Presentes para o Papa

 

Todos os domingos, às 15h, as quatro mulheres se reúnem em manifestações em Kiev: “Há muita gente que participa e nos dá forças para continuar lutando”. “É muito importante para nós – responde Tamara – porque entendemos que não estamos sozinhos, que esta dor não é só nossa... Nos entendemos, podemos chorar e rir juntos”


Hoje choraram diante do Papa, a quem entregaram vários presentes: um desenho representando a condição dos presos ucranianos, um livreto fotográfico contendo a história de cada um deles, com imagens de quando eram felizes juntos com seus entes queridos antes o conflito e depois na trágica situação atual, uma escultura de gesso com as duas mãos amarradas por uma corda que o Papa segurou nas mãos, permanecendo em silêncio por alguns momentos.

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