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Empresa de automação que atua no setor de agronegócio celebra 34 anos com crescimento e vagas abertas

 


A empresa, natural do Paraná, chegou a 200 colaboradores em plena pandemia, está com várias vagas em aberto e possui planos para aumentar ainda mais este número até o fim do ano.

Às vésperas da estação das flores, a Reymaster Materiais Elétricos comemora 34 anos. Sendo a primavera tempo de plantar novos sonhos e deixar germinar a prosperidade e a esperança da renovação da vida, e depois de ter investido pesado em treinamentos, contratado mais de 50 profissionais em plena pandemia da Covid-19 e celebrado o número de 200 colaboradores, a empresa paranaense decide assumir a ambição de ser cada vez mais completa e crescer ainda mais, de modo acelerado. 

Tudo porque, segundo um estudo da Universidade de Stanford, publicado pelo jornal El País, é justamente com 34 anos que chegamos ao auge da juventude, no aspecto biológico. Daí em diante, vem a maturidade, entretanto, segundo o diretor da Reymaster, Marco Stoppa, nem tudo são flores neste cenário, afinal, “quem se considera 100% pronto, experiente e desenvolvido não está passível a melhorias e aperfeiçoamento. E nós estamos. Este é o nosso principal foco: inovar e melhorar sempre”.

Com a pretensão de fechar o ano com faturamento 50% maior que 2020, o segredo para que os resultados da Reymaster continuem a pleno vapor, mesmo em uma época na qual a maioria das empresas está atravessando dificuldades, está na inovação, na automação e no emprego de técnicas modernas em processos de atendimento.

Para Stoppa, a chave do sucesso sempre foi a definição límpida dos caminhos a serem percorridos para conquistar objetivos estratégicos. 

“Durante toda a nossa trajetória, acompanhamos a velocidade com que as coisas mudam. A prioridade sempre foi colocar novas ideias em competitividade no mercado, nos movendo rapidamente”, afirma. Neste sentido, um grande divisor de águas, que contribuiu sobremaneira para a ascensão da empresa, foi o investimento na plataforma Salesforce, um software de gestão que digitalizou todo o processo de relacionamento com o cliente, fazendo com que a Reymaster fosse lembrada pelos consumidores em uma compra futura, gerando, assim, a fidelização.

Compactuando com a máxima “a melhor propaganda é feita por clientes satisfeitos”, de Philip Kotler, considerado a maior autoridade do marketing, outras ações que a Reymaster considera como principais patrimônios são o suporte técnico em áreas como automação industrial Siemens, eficiência energética e identificação industrial.

"Auxiliamos nossos clientes a superar os desafios estratégicos e reduzi custos". E, por fim, toda essa produtividade só é possível, nas palavras de Stoppa, "graças ao empenho e à dedicação do corpo técnico da empresa, que leva solução para os clientes e oportunidades de crescimento para a Reymaster". 

Por isso; contrariando as estatísticas da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento, que aponta que as empresas brasileiras investem apenas 16,6 horas em treinamento de funcionários por ano; os colaboradores da Reymaster recebem mais de 100 horas de capacitação, estando constantemente atualizados e preparados para os desafios de suas funções.

A Reymaster é natural de Curitiba, referência nacional em termos de qualidade de vida e eleita a cidade mais inteligente do Brasil por três vezes consecutivas, segundo o Intelligent Community Forum (ICF). 

A matriz da empresa na capital paranaense é um complexo de dez mil metros, onde é mantido um estoque a pronta-entrega de mais de 40 mil itens. Com uma unidade em Joinville, Santa Catarina, ao todo, há 200 funcionários registrados em seu quadro e a projeção é que haja expansão deste número ainda para este ano, afinal, nos seus planos para um futuro nada distante, está a concretização e aberturas de novas filiais em regiões estratégicas.

  • Fonte: Equipe de Jornalismo
  • Engenharia de Comunicação - Assessoria Reymaster

Noruega bloqueia € 30 milhões de Fundo Amazônia

"Bolsonaro é incapaz de construir discurso coerente": especialistas franceses analisam linguagem do presidente

Bolsonaro diz, sobre movimentação financeira de ex-assessor de filho, que se cometeu erro vai pagar a conta

(Reuters) - O presidente eleito Jair Bolsonaro voltou a dizer nesta quarta-feira que vai pagar a conta se tiver cometido algum erro no caso da movimentação financeira atípica de um ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que é deputado estadual e senador eleito.

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou movimentação de 1,2 milhão de reais do ex-assessor Fabrício Queiroz. O próprio Bolsonaro já reconheceu que há depósitos de Queiroz na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

“Eu não sou investigado, meu filho Flávio não é investigado e, pelo que me consta, nosso ex-assessor será ouvido pela Justiça na semana que vem, onde a gente espera obviamente que ele dê esclarecimentos”, disse Bolsonaro em transmissão ao vivo em uma rede social.

“Se algo estiver errado, seja comigo, com meu filho, com Queiroz, que paguemos a conta deste erro. Não podemos comungar com erro de ninguém.”

No sábado, o presidente eleito explicou os depósitos na conta da mulher em função de um empréstimo que havia feito a Queiroz e afirmou estar disposto a responder se cometeu um erro em não declarar essa operação no Imposto de Renda.

“Eu já o socorri financeiramente em outras oportunidades. Nessa última agora houve um acúmulo de dívida e ele resolveu me pagar... em 10 cheques de 4 mil reais. Eu não botei na minha conta porque tenho dificuldade para ir em banco e deixei para minha esposa”, disse Bolsonaro no fim de semana.

“Se errei (em não ter declarado o dinheiro recebido de Queiroz), eu arco minha responsabilidade junto ao fisco”, acrescentou.

O presidente eleito lamentou o episódio na transmissão e reafirmou seu compromisso no combate à corrupção, uma de suas principais bandeiras na campanha eleitoral.

Tomaremos providência se houver acusação "robusta", diz Bolsonaro sobre investigação de Onyx

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta terça-feira que tomará providência se houver “qualquer acusação robusta de irregularidade” ao se referir à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar investigação preliminar contra o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), por suspeita de caixa 2.


Inicialmente, Bolsonaro disse que não tinha visto a decisão de Fachin porque estava reunido até o momento da entrevista coletiva. Ao ser informado pela imprensa, ele respondeu: “Abriu? Nada preocupa. E havendo qualquer acusação robusta de irregularidade, como acertado com o ministro Moro, tomaremos providência”, disse.

O presidente eleito falava indiretamente à entrevista do indicado ao ministro da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro, dada no mês passado ao programa Fantástico segundo o qual ministro do novo governo que vier a ser alvo de acusação “consistente” de corrupção deve ser afastado.

Ao ser questionado se Onyx ficará com toda a articulação política, Bolsonaro respondeu que não.

“Não, fica com Onyx, com Santos Cruz (indicado ministro da Secretaria de Governo), fica comigo. Todo mundo tem que falar de política. Um tem uma atividade mais voltada para os Estados e municípios, outro para dentro do Parlamento”, disse.

Fachin acatou na segunda-feira pedido da Procuradoria-Geral da República para abertura de investigação contra Onyx e outros parlamentares por trechos de delações premiadas de executivos do grupo J&F sobre episódios de caixa 2.

Essa apuração é preliminar e ainda prévia a uma eventual abertura formal de inquérito contra o parlamentar —não se sabe se a PGR fará esse pedido. Ainda assim, nesse procedimento já se pode realizar determinados tipo de investigação.

Em sua decisão, divulgada nesta terça-feira, Fachin afirmou que há “necessidade de autuação de casos e autoridades especificados pelo titular da ação penal como feitos autônomos para as necessárias e ulteriores deliberações”.

No pedido encaminhado ao STF, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, defendeu que investigações contra Onyx e outros nove parlamentares permaneçam na corte e que sejam autuadas como petições autônomas para a continuidade das investigações.

No caso de Onyx, Dodge pediu que sejam investigados supostos episódios envolvendo caixa 2 nos anos de 2012 e 2014 que constam de planilhas entregue por delatores da JBS, processadora de carne controlada pelo grupo J&F.

À noite, Onyx disse que a investigação é uma oportunidade de esclarecer o assunto.

“Para mim é uma bênção, porque vai permitir que tudo se esclareça”, disse a jornalistas na Câmara dos Deputados. “Não tenho problema com isso, ao contrário, é uma chance de resolver.” 

O futuro ministro já tinha divulgado uma nota afirmando que agora poderia encerrar de forma definitiva o caso.

CONFIANÇA PESSOAL
Colega na futuro governo, Moro disse que Onyx tem a sua “confiança pessoal”, ao comentar a decisão do STF.

“Eu já me manifestei. É uma questão atinente ao ministro Onyx, as questões devem ser indagadas a ele, o que eu tenho a presente do ministro Onyx, e isso eu assisti de perto, foi o grande esforço que ele realizou para aprovar as 10 medidas do MP (contra a corrupção), ocasião na qual ele foi abandonado pela grande maioria dos seus pares, por razões que não vem aqui ao caso, mas ele demonstrou naquela oportunidade o comprometimento pessoal, com custo político significativo naquela oportunidade, para a causa anticorrupção”, disse Moro a repórteres.

“Então ele tem a minha confiança pessoal”, acrescentou o ex-magistradro durante rápida entrevista em que anunciou novos nomes para sua equipe no Ministério da Justiça e Segurança Pública.A

Carlos Bolsonaro anuncia saída da equipe de presidente eleito e retomará mandato de vereador


BRASÍLIA (Reuters) - Depois de ter surgido como possível nome para assumir a Secretaria de Comunicação do futuro governo, o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, informou nesta quinta-feira que está se afastando da transição e reassumindo o cargo na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

“O meu ciclo de tentar ajudar diretamente chegou ao fim. São 18 anos de vida pública dedicados ao que acredito. Estes últimos 3 meses de licença não remunerada para acompanhar o que sempre acreditei se encerram. Semana que vem volto às atividades na Câmara de Vereadores do Rio”, escreveu Carlos no Twitter.

“Complemento aos amigos que desde ontem não tenho mais, por iniciativa própria, qualquer ascensão às redes sociais de Jair Bolsonaro”, acrescentou.

Carlos Bolsonaro era, até este momento, responsável pelas redes sociais pessoais e da campanha do pai. Seu nome surgiu como alternativa à Secom em entrevista dada pelo futuro secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Mais tarde, em entrevista ao site Antagonista, Bolsonaro confirmou a possibilidade.

“O cara é uma fera nas mídias sociais. Tem tudo para dar certo”, disse o presidente eleito ao site, acrescentando que a decisão seria de Carlos, que estaria analisando os prós e contras.

Nesta quinta-feira, ao ser questionado se Carlos poderia realmente assumir o cargo, Bolsonaro disse que a questão “foi levantada” e que reconheceu em entrevista que a possibilidade existia.

“Mas não tem nada certo, dificilmente ele vai para lá. Dificilmente ele aceitaria, seria levado para o nepotismo, eu nunca pratiquei isso, não interessa fazer isso”, disse o presidente eleito. “A tendência é esse assunto morrer”.

Diplomação de Bolsonaro é marcada para 10 de dezembro, confirma TSE


A diplomação do presidente eleito Jair Bolsonaro foi marcada para 10 de dezembro, às 11h, nove dias antes do prazo final definido no calendário eleitoral. A informação foi confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Pela manhã, a presidência do TSE entrou em contato com o ministro extraordinário Onyx Lorenzoni para discutir a realização da solenidade antes de 19 de dezembro, conforme previsto anteriormente. Esta é a data limite para o ato.

No contato com Lorenzoni, o TSE sugeriu que a campanha de Bolsonaro antecipasse em cinco dias sua prestação de contas final, cujo prazo limite para entrega é 17 de novembro. Desse modo, a corte tem como adiantar também o julgamento das contas, que deve ser feito antes da diplomação.

A antecipação da diplomação foi feita de comum acordo tendo em vista que Bolsonaro deve ser submetido a uma cirurgia em 12 de dezembro, para a retirada da bolsa de colostomia que vem sendo utilizada por ele desde que levou uma facada, em 6 de setembro. Será a terceira cirurgia de Bolsonaro em decorrência do ataque.

Resultados das eleições presidenciais do Brasil

Evolução do voto dos Estados nas cinco últimas votações


Mercado dá boas vindas a Bolsonaro e segue passos de Paulo Guedes para a economia real

Bolsa abriu com alta, risco país chegou a cair a piso mínimo, e dólar ficou em 3,60 reais.
Nomes da equipe ministerial e detalhes de medidas já anunciadas estão no radar de investidores




Quem esperava uma euforia na Bolsa de Valores de São Paulo um dia após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições pode ter se frustrado num primeiro momento. A bolsa abriu em alta, como esperado, de até 2,70%, para depois reduzir esse ímpeto. Na verdade, a bolsa já vinha em alta desde a semana passada, acompanhando o ritmo das pesquisas eleitorais que colocavam o capitão da reserva como o grande favorito e nesta segunda manteve o ritmo, muito embora tenha invertido o viés de alta após o almoço. O dólar abriu a 3,60 reais e o risco país, importante medida para fechar negócios no exterior,  chegou a ficar abaixo dos 200 pontos no início do dia, depois de meses de oscilações que chegaram a levar o indicador para acima dos 300 pontos.

Para se ter uma ideia, quando Lula estava perto da primeira vitória em 2002, o risco país, que trafegava numa média de 1000 pontos à época, teve um pico de 4.000 pontos com a confirmação de que o petista assumiria a presidência. Não há dúvidas que o mercado financeiro dá as boas vindas para o candidato que eles apostavam como a melhor opção para o Brasil que precisa acertar as contas públicas e estimular a economia. Agora, o objetivo é ter um detalhamento dos planos do presidente eleito, com quase 58 milhões de votos. “Passada a eleição, as atenções se voltam, agora, para a fase de transição de governo e a definição de nomes para a futura equipe ministerial, bem como para a sinalização das primeiras medidas que serão tomadas a partir e 1º de janeiro de 2019, data da posse”, diz relatório do Bradesco.
Isso porque o país tem enormes desafios como estabelecer um ajuste fiscal à altura dos desafios do país. Na noite de domingo, Paulo Guedes, que será o czar da economia do Governo Bolsonaro, já reafirmou que seu foco é a redução do déficit primário, com foco em privatizações e foco na reforma da Previdência, que deve acontecer no ano que vem, segundo outro nome já confirmado na equipe do novo Governo, Onyx Lorenzoni. “O primeiro grande item é a Previdência”, afirmou ele a jornalistas. “O segundo é o controle de gastos públicos, as despesas com juros”, afirmou o futuro ministro, lançando música aos ouvidos do mercado financeiro.

Há um voto de confiança claro dos investidores de curto prazo sobre a qualidade de Guedes, admite Pablo Spyer, da corretora Mirae, que inclusive já trabalhou com Guedes e endossa sua fama de 'gênio'. “Mas agora é a hora da verdade. Depois de uma eleição agressiva, olham-se fatores externos, como a alta de juro nos Estados Unidos, a crise fiscal italiana, a guerra comercial ente os Estados Unidos e a China”, diz Spyer. Ele lista ainda a tensão na Arábia Saudita com a morte do jornalista Jamal Khashoggi e o Brexit questionado na Inglaterra. “São assuntos sérios e relevantes que agora precisam ser colocados na pauta e que trarão efeito negativo para as moedas emergentes”, diz ele.

Guedes ainda apontou que vai acelerar as privatizações e que está alinhado com a criação de marcos regulatórios para atrair investimentos em infraestrutura, um dos grandes gargalos do país. Mas nem todos os agentes econômicos  estão seguros sobre a boa coordenação para tirar os planos do papel. Há um temor evidente sobre medidas que dependem da aprovação do Congresso. “Embora a eleição de Jair Bolsonaro como próximo presidente do Brasil deva melhorar o sentimento dos investidores e reduzir a volatilidade cambial, um Congresso fragmentado ainda representa um risco para as reformas”, diz, em relatório, a Moody’s Investors Service. Samar Maziad, vice-presidente da Moody's, descreve que a expectativa é que Bolsonaro confirme as políticas pró-mercado que prometeu ao longo da campanha . “Embora esperemos uma continuidade das políticas públicas, a capacidade de construir apoio no Congresso para aprovação das reformas fiscais ainda não foi testada”, diz ela.

A eleição de um Congresso fragmentado, com 30 partidos representados, deve trazer obstáculos, na avaliação de Maziad, e por enquanto, o presidente eleito não assegura a confiança necessária. “A retórica de campanha do presidente eleito sugere que ele pode confrontar o modo de funcionamento das instituições brasileiras, criando, consequentemente, ruído político no processo. A capacidade de sustentar o momento político favorável e o apoio do Congresso ainda precisam ser comprovados”, completa a vice-presidente da Moody's.

Há, ainda, uma expectativa sobre qual será o estilo empregado pela equipe de Bolsonaro para as novas investidas. Na conversa com jornalistas, Guedes foi enfático com uma jornalista argentina dizendo que o “Mercosul não é prioridade. Está claro?”, disse ele em tom ríspido. A Argentina, principal parceiro do bloco comum, é o terceiro parceiro comercial do Brasil, depois da China e Estados Unidos.

Ciro critica “interesses mesquinhos” e quer liderar uma oposição sem PT

Com vitória de Bolsonaro, esquerda busca organizar seu espólio de votos, enquanto pedetistas dizem que não se aliarão mais com partido de Lula




"A esquerda brasileira passará por uma disputa de liderança", vaticina Vitor Marchetti, professor de Ciência Política da Universidade Federal do ABC. Com a saída do Partido dos Trabalhadores do Governo, agora por meio do voto popular, as forças que orbitam em torno de agendas mais progressistas devem se reorganizar. Só não se sabe, ainda, em torno de quem. Enquanto Fernando Haddad, o candidato que apesar de derrotado da disputa presidencial deste domingo obteve 47 milhões de votos, afirmou nesta segunda-feira que voltará a dar aulas, Ciro Gomes (PDT), o terceiro colocado na disputa e que se absteve de declarar apoio no segundo turno, afirmou no Twitter que Jair Bolsonaro enfrentará "a todos nós que lhe movemos oposição dentro do marco da decência e do espírito público", dando um passo a mais na cisão que ficou bem marcada entre o pedetista e o partido de Lula nestas eleições.

Nas últimas semanas, Haddad esperou que Ciro se envolvesse em sua campanha para tentar derrotar Bolsonaro, mas o pedetista não fez nada a não ser pedir um "voto contra a intolerância", dias após seu partido declarar um frio "apoio crítico" ao candidato do PT. Nesta segunda-feira, em sua mensagem nas redes sociais ele já se apresenta como postulante à liderança da oposição ao agora presidente eleito: "Essa oposição que nasce não se confunde com forças que só defendem a democracia ao sabor de seus interesses mesquinhos ou crescentemente inescrupulosos ou mesmo despudoradamente criminosos."
A vitória do ultraconservador Bolsonaro representou mais do que a derrota de Haddad. Marcou um erro de avaliação do PT. Na medida em que os dirigentes do partido digerem a decepção nas urnas, um diagnóstico parece consensual: eles subestimaram o sentimento antipetista na sociedade, que acabou sendo um dos principais trunfos que impulsou o sucesso do capitão reformado do Exército. Garantiram a maior bancada de deputados no Congresso e uma vitória expressiva em todos os Estados do Nordeste, mas não imaginavam que o ódio ao partido de Lula no resto do país seria suficiente para desequilibrar a balança para o outro lado.

Ciro, agora, tenta ocupar o espaço aberto pelo fracasso de Haddad e se colocar como referência para quem pretende fazer frente a Bolsonaro dentro e fora do Congresso. E, com isso, se fortalecer para a próxima disputa presidencial. Carlos Lupi, o presidente do PDT, afirma que o ex-ministro passará os próximos quatro anos percorrendo o país para consolidar sua candidatura à Presidência em 2022. "Com o PT nós não estaremos aliados. Escolheram o caminho deles no primeiro turno, de hostilidade a nós. Só somos úteis a eles quando declaramos apoio. A gente cansou de declarar apoio a quem não nos respeita", diz Lupi ao EL PAÍS. A fala se alinha com a própria fala de Ciro no domingo, que afirmou "que nunca mais fará campanha com o PT".

Disputa aberta
Não está claro se Ciro, um político que já trocou de partido mais de sete vezes e que hoje está numa sigla de tamanho médio, conseguirá cumprir esse papel e escantear o PT como protagonista da oposição. O que parece certo é que há espaço para a disputa: a legenda criada por Lula na década de 80 ainda é, sem dúvidas, a maior agremiação de esquerda do Brasil, mas não há qualquer expectativa que o ex-presidente, preso há mais de seis meses em Curitiba, seja solto em breve. Para além do vácuo deixado por Lula, Haddad nunca foi uma figura forte dentro do PT e tem pouca influência no partido. Também precisa lidar com a guerra interna dos que pretendem se firmar como o próximo sucessor de Lula. Por outro lado, a grande quantidade de votos e o apoio da militância na reta final do pleito pode cacifá-lo como nome influente na sigla, caso ele pretenda se aprofundar pela estrutura partidária. 

Ao menos são esses os planos que parte do PT tem para ele. Antevendo os movimentos de Ciro, há uma ala no partido que quer que Haddad use o capital político obtido nestas eleições para ser a cara da legenda na oposição radical ao governo Bolsonaro. "Ele não é um quadro político mais para ficar dando aula. Ele é um quadro para rodar o país, debater as coisas e reorganizar o próprio partido, dar uma cara nova ao PT", diz o senador reeleito Humberto Costa. Qual cara? "Uma cara mais moderna, mais de diálogo", complementa o parlamentar pernambucano.

A reorganização do PT não depende só da vontade de Haddad. O resultado das eleições aumentou o peso na estrutura partidária dos políticos do Nordeste, o enclave mais pobre do País e onde o partido conseguiu seus melhores resultados eleitorais —além da vitória de Haddad, elegeu quatro Governadores da região. É de lá, por exemplo, que vem o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que se apresenta como um dos petistas que mais poder terá nas futuras decisões internas do partido. "Não vejo dificuldades na reorganização do PT, elegemos 56 deputados federais", disse Wagner nesta semana. "De todos os partidos abalroados [pela onda antipolítica], e com a gente tomando tanta porrada na televisão durante cinco anos, o PT é o que mais consegue estar em pé."

Wagner foi eleito para o Senado e no passado manteve opiniões contrárias às de Lula. Ele foi, por exemplo, uma das poucas vozes que defenderam que o PT não deveria apresentar um candidato nas eleições presidenciais deste ano e apoiar Ciro. Diante da derrocada de Haddad, não são poucos no partido que agora concordam com ele.

CRESCIMENTO DO PSOL TAMBÉM PRESSIONA O PT
O cerco ao PT ocorre por outros lados. O PSOL, fundado por dissidentes petistas que defendem propostas abertamente progressistas, como o casamento igualitário, conseguiu eleger no pleito para o Legislativo 10 deputados federais, o dobro do que tem hoje. "Embora o PSOL seja bastante pequeno, esse resultado nos diz que há espaços do eleitorado que antes eram do PT e que estão sendo ocupados pelo PSOL", diz Marchetti.

A eleição da instabilidade





Segundo turno contrapõe dois projetos e visões opostas de Brasil: um extremista de direita e um social-democrata de um partido desgastado. Independente do vencedor, resultado não deve marcar fim da crise política.

Em um clima de acirramento nunca visto antes desde a redemocratização, os brasileiros voltam às urnas neste domingo (28/10) para escolher um novo presidente da República. Na disputa estão dois candidatos com projetos e visões opostos: o ex-capitão de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-prefeito social-democrata Fernando Haddad (PT).

Seja qual for o desfecho do pleito, parece certo que o Brasil não deve deixar tão cedo a crise política que persiste há quatro anos, desde a vitória apertada de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves e a deflagração da Operação Lava Jato, que sacudiu as velhas estruturas políticas do país.

Bolsonaro, um deputado que nas últimas décadas teve uma carreira inexpressiva, mas que soube aproveitar a onda antissistema que contagiou boa parte do eleitorado, chega à reta final da eleição embalado pela liderança ao final do primeiro turno e expressivas vitórias do seu partido, o PSL. A legenda saiu da obscuridade para se transformar na segunda maior força da Câmara Federal, marcando a entrada em peso da extrema direita no Congresso. 

Nos últimos 30 anos, nunca um candidato como Bolsonaro havia chegado tão longe. Com ideias autoritárias, ele refutou as expectativas de que adotaria uma postura mais moderada no segundo turno. Pelo contrário, continuou a expressar ódio aberto aos adversários e à imprensa e a semear boatos sobre a legitimidade do processo eleitoral, além de ter sido beneficiado por uma indústria de mentiras que tomou de assalto as redes sociais ao longo do pleito. 

Sua campanha tem tido por enquanto uma estratégia bem-sucedida. Na última pesquisa Datafolha, ele aparecia como o favorito para vencer o pleito, apesar de ter perdido parte da vantagem sobre Haddad nos últimos dias. Mesmo se não vencer, Bolsonaro já mudou a forma de fazer política no país, onde velhas estruturas partidárias deram lugar a campanhas mais enxutas. O discurso conciliatório e de inclusão perdeu espaço para um conteúdo mais radical e virulento.

Já Haddad conduziu uma das campanhas mais heterodoxas das eleições presidenciais brasileiras: é o substituto de um ex-presidente que permanece preso e vem influenciando a campanha de dentro da prisão. Seu partido, o PT, ainda conseguiu escapar no primeiro turno da onda antissistema que atingiu outras siglas tradicionais, como o MDB e o PSDB, mas os petistas chegam ao segundo turno com a difícil missão de romper um tabu histórico: nunca houve uma virada entre primeiro e segundo turnos.

Haddad ainda carrega o peso dos casos de corrupção que atingiram seu partido e do passivo da derrocada econômica do governo Dilma Rouseff. Ele ainda teve que lidar com o ressentimento de outros adversários no primeiro turno que poderiam ser potenciais aliados. Apesar da desvantagem, o partido não jogou a toalha e conseguiu diminuir em alguns pontos a desvantagem nas pesquisas, apelando para que o eleitorado não embarque em uma aventura com o autoritário Bolsonaro. 

Um desses candidatos vai governar o país pelos próximos quatro anos. Há pouco mais de um ano, existia a expectativa de que o pleito de 2018 poderia ser uma oportunidade de recomeço para estancar a crise política e institucional e deixar o moribundo e impopular governo de Michel Temer para trás. 

No entanto, a própria campanha já refletiu a persistência da crise e novos desdobramentos preocupantes no país. Ainda na fase pré-eleitoral, o candidato que aparecia na liderança das pesquisas foi preso e teve o registro eleitoral negado. Já na campanha, surgiram dezenas de relatos de casos de violência política. Jornalistas que publicaram reportagens críticas a Bolsonaro foram assediados e ameaçados. O próprio candidato do PSL foi alvo de um ataque a faca em setembro. Diariamente, jornais e sites tiveram que publicar textos para refutar mentiras grosseiras que foram disseminadas em redes sociais.

Mesmo favorito, Bolsonaro já vem construindo uma narrativa em caso de derrota: apontar que as urnas eletrônicas foram manipuladas, e a eleição, fraudada. Já os petistas devem insistir em pedidos de cassação da chapa liderada pelo PSL por suspeita de envolvimento em um esquema de caixa 2 para financiar uma rede de fake news em redes sociais.

A campanha também mostrou o potencial de criação de crises em um eventual governo Bolsonaro. No último fim de semana, foi revelado um vídeo em que um dos filhos do candidato fala em fechar o Supremo Tribunal Federal. O próprio Bolsonaro já havia expressado anteriormente a intenção de aumentar o número de vagas na corte - um plano que tem semelhanças com ações tomadas pelo governo chavista da Venezuela.

No último domingo, o candidato também fez um novo discurso ameaçador contra os adversários, afirmando que "ou vão para fora ou para a cadeia" e que "esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria, essa pátria é nossa". Além disso, seus planos para a área econômica ainda permanecem vagos. Ele nunca exerceu um cargo executivo e não tem experiência em negociações políticas.

Já Haddad, apesar de ter direcionado sua campanha ainda mais para o centro para se contrapôr ao autoritarismo do ex-capitão, não lidou de modo definitivo com as contradições e problemas do PT. No segundo turno, a campanha petista diminuiu a associação com Lula, sua liderança máxima, mas nunca deixou claro qual deve ser o papel do ex-presidente em um eventual governo Haddad e como será a postura do partido em relação à condenação.

Uma pesquisa divulgada em fevereiro apontou que 53% dos brasileiros são favoráveis à prisão de Lula. Segundo o cientista político Oliver Stuenkel, da FGV-SP, em um eventual governo Haddad, "qualquer ação para libertar o ex-presidente deve complicar os esforços para superar a polarização e focar em necessidades concretas".   

O novo presidente ainda terá que lidar com um cenário político totalmente novo. Ainda no primeiro turno, o país viu a derrocada de antigas forças políticas como o PSDB e o MDB. Tomados por uma onda antissistema, os eleitores ainda puniram dezenas de antigos figurões - muitos deles suspeitos de corrupção - que dominaram o Congresso por décadas.

Segundo o cientista político Carlos Mello, do Insper, independente do vencedor, o resultado tem tudo para manter o país em estado de tensão. "A realidade é que quem vier a vencer a disputa não vencerá de lavada, não será massacrante, nem consagrador. A quantidade de indivíduos contrariados com o resultado será enorme, nada desprezível. Improvável que se resignem imediatamente com o resultado. O país sairá dividido", diz. 

ESPECIAL-O esquadrão de militares da reserva por trás de Bolsonaro

BRASÍLIA (Reuters) - O homem que provavelmente será o próximo ministro da Defesa do Brasil recebeu dois repórteres diante da porta, e depois os dispensou educadamente.

    “Peço desculpas”, disse ele antes de voltar a um salão de conferências lotado de um hotel de Brasília. “Sob ordens do Bolsonaro, é silêncio de rádio total até depois das eleições.”

A figura grisalha e aristocrática de 70 anos era Augusto Heleno Ribeiro Pereira, general de quatro estrelas da reserva do Exército. Em breve o mundo poderá ouvir muito mais de Heleno e de uma série de militares de alta patente da reserva que poderão ajudar a conduzir a quarta maior democracia do mundo. Sua ascensão tem deixado muitos brasileiros temerosos dos dias em que as Forças Armadas davam as cartas no país.

Heleno é o decano de um pequeno grupo de generais da reserva que orquestraram discretamente o crescimento do candidato presidencial Jair Bolsonaro (PSL), favorito nas pesquisas para vencer o segundo turno no domingo diante do petista Fernando Haddad. Bolsonaro, um capitão da reserva do Exército de extrema-direita combativo, prometeu reprimir o crime, acabar com a corrupção e varrer tudo que se colocar em seu caminho.

    A maior parte de seu círculo íntimo manteve laços estreitos com a atual liderança militar —por exemplo Hamilton Mourão, general de quatro estrelas e vice na chapa de Bolsonaro que passou para a reserva em fevereiro.

    De forma geral, militares de alto escalão vêm mantendo distância da política desde o final da ditadura em 1985, mas os níveis alarmantes dos crimes nas ruas e a corrupção enraizada no governo deram a líderes militares a coragem de se envolver no processo eleitoral.

    Enquanto alguns brasileiros se preocupam com o que veem como uma intromissão dos militares em um espaço civil sagrado, outros acolhem a mudança.

    “Há uma espécie de conscientização de que os militares são capazes de colocar ordem na casa”, disse Heleno em entrevista em maio deste ano. “Mas (as Forças Armadas) têm plena consciência de que esse (intervenção) não é o caminho. O caminho são as eleições.”

    Durante mais de um ano, Heleno e cerca de uma dúzia de outros generais da reserva e acadêmicos conservadores, conhecidos como o Grupo de Brasília, se reuniram semanalmente em um salão de conferências sem identificação do Brasília Imperial Hotel, que fica cerca de 3 quilômetros a oeste do palácio presidencial.

    Ao redor de uma mesa negra repleta de canecas de café de porcelana manchadas e rodeada por 14 cadeiras cor de vinho, eles elaboraram estratégias e tentaram aparar as arestas de Bolsonaro, candidato conhecido por seus rompantes homofóbicos, misóginos e racistas.

    Em entrevistas recentes à Reuters, membros do Grupo de Brasília passaram ao largo de minúcias a respeito de como um possível governo Bolsonaro atuará.

    Ao invés disso, eles voltaram com insistência ao tema da lei e da ordem. Quase 64 mil pessoas foram assassinadas no Brasil no ano passado, a maior cifra do mundo, e a nação está lutando para se livrar do rescaldo de um escândalo de corrupção épico que implicou as esferas mais altas do governo e do empresariado.

    Muitos brasileiros estão empolgados com a perspectiva de ver Bolsonaro mostrando pulso firme. Ele recebeu mais de 49 milhões de votos no primeiro turno de 7 de outubro, perto da maioria que o teria poupado de um confronto direto com Haddad.

    “Não tenho medo de militares no governo, não. Acha que estou preocupado com militares? A criminalidade no Brasil é muito grande. Ter os militares no controle seria uma boa opção, para ter mais segurança. Eu acharia até bom, seria tranquilo”, disse Kenyson Santos, de 24 anos, que trabalha no comércio varejista da capital do país.

    Mas muitos outros estão alarmados com o possível retrocesso para um controle autoritário, mesmo que venha pelas urnas, e não com tanques nas ruas.

    Michael Albertus, cientista político da Universidade de Chicago cuja pesquisa se concentrou na transição brasileira da ditadura para a democracia, disse que o país “está em um momento perigoso”.

    “O governo (Bolsonaro) daria aos militares carta branca para fazer todo tipo de coisas”, disse Albertus. “Eles serão muito mais poderosos do que nunca desde que o Brasil fez a transição para uma democracia.”

    ORDEM E PROGRESSO?
    Bolsonaro serviu no Congresso durante três décadas sem grande destaque. Repudiado com frequência por ser visto como um implicante, ele elogiou muitas vezes a ditadura militar.

    Mas acontecimentos explosivos dos últimos cinco anos abriram caminho para sua ascensão.

    Em 2013 milhões de pessoas foram às ruas em uma série de manifestações em grande parte espontâneos para protestarem contra os impostos altos, a má qualidade dos serviços públicos e a classe política corrupta responsável por essa realidade.

    Uma eleição presidencial tumultuada no ano seguinte dividiu o Brasil. A presidente Dilma Rousseff se reelegeu derrotando Aécio Neves, e dois anos mais tarde sofreu um impeachment, sendo afastada do cargo por manipular as contas públicas. Ela e seus apoiadores denunciaram um golpe. Enquanto isso a operação Lava Jato apanhou dezenas de líderes empresariais e políticos, e uma recessão cruel tomou conta da economia. 

    Em meio ao caos resultante, Bolsonaro, isento de acusações de corrupção, viu uma oportunidade de se posicionar como um candidato limpo capaz de governar o Brasil com uma disciplina rígida, segundo integrantes do Grupo de Brasília.

    Bolsonaro procurou primeiro Oswaldo Ferreira, general de quatro estrelas da reserva do Exército e ex-comandante do corpo de engenharia da corporação. Os dois homens treinaram juntos décadas antes na Academia Militar das Agulhas Negras.

    Ferreira, por sua vez, recrutou Heleno, seu mentor militar, que em 2004 ajudou a reprimir gangues de criminosos no Haiti como primeiro comandante de uma missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU). A partir daí sua rede se ampliou.

    Bolsonaro não é o único ex-militar se aventurando na política. Um de seus confidentes, o general da reserva Paulo Chagas, disse que também se animou a concorrer a um cargo público por medo de ver o Brasil desmoronar —mas não triunfou na eleição para governador de Brasília.

    Mesmo assim ele prevê a vitória de Bolsonaro, e muito sofrimento à frente para delinquentes e políticos corruptos.

    Bolsonaro defende mais liberdade para a polícia atirar em supostos criminosos e quer que os militares ajudem a expurgar as gangues de traficantes que controlam as favelas das maiores cidades do país.

    O general falou que, ao contrário da época do regime militar, onde as pessoas podiam ir à praia e não havia arrastão, hoje Brasil é “o país da impunidade”, onde deliquentes são soltos.

Para ele, a esquerda tentou demonizar o regime militar, e os jovens que não viveram essa época pensam que “a volta dos militares, seja por que meio for, é uma volta do terror de Estado”.

“Mas o terror de Estado é contra os bandidos e não contra a sociedade. Hoje quem tem que viver apavorado são os bandidos,” disse Chagas.

    Políticos corruptos também estão na alça de mira.

    “Com certeza a maior pavor dessa gente é o Bolsonaro assumir o país e fazer uma investigação rigorosa para descobrir as entranhas da corrupção e muito mais gente... vai ter que prestar contas ao país pelo mal que causou”, disse Chagas.

    Ele acusou o PT de quebrar a Petrobras e acumular dinheiro em contas fora do país com projetos como o porto de Mariel em Cuba, onde “se gastou muito mais do que custou.”

    O discurso duro já está causando arrepios.

Mais de uma dúzia de autoridades do governo e membros de grupos da sociedade civil que conversaram com a Reuters disseram estar ouvindo ecos da ditadura.

    “Eu vivi na ditadura. Dentro de mim, no clima do país, começo a sentir a mesma sensação”, disse um funcionário de alto escalão do Executivo, que não quis ser identificado por medo de represálias de um provável governo Bolsonaro. “É a pior situação possível que eu podia imaginar.”

    ORDEM NA CASA
    De volta ao Imperial Hotel, dois outros membros do Grupo de Brasília —Ferreira e Aléssio Ribeiro Souto, possível novo ministro da Educação— concordaram em conversar com a Reuters do lado de fora de sua Sala de Guerra.

    Vestindo jeans bem passados e camisas de gola engomadas, os homens foram corteses e formais, um contraste acentuado com a gíria coloquial e muitas vezes ofensiva de Bolsonaro.

    Eles e outros colegas do grupo têm trabalhado para moderar o candidato intempestivo, aconselhando-o a falar calmamente em entrevistas à imprensa.

    Ferreira e Souto enfatizaram que são simples técnicos atuando sob as ordens do presidenciável. Eles disseram que não estão envolvidos no dia a dia das operações de campanha, mas em determinar como executar a visão estratégica que estão moldando se ele se eleger.

    Ferreira, que foi para a reserva em 2017, passou a carreira construindo estradas e pontes para o Exército, principalmente na Floresta Amazônica, abrindo-a para o desenvolvimento. Ele afirma que uma prioridade de uma eventual gestão Bolsonaro seria terminar centenas de projetos que os últimos governos não foram capazes de finalizar.

    Souto é um general de três estrelas da reserva que supervisionou o centro de tecnologia do Exército. Ele disse que defenderia que o criacionismo fosse ensinado nas escolas do Brasil ao lado da teoria da evolução, parte do plano de Bolsonaro para reformular o ensino para agradar sua grande base de conservadores religiosos.

    Souto também compartilha da visão de Bolsonaro segundo a qual os livros de história do Brasil deveriam classificar o período de 1964 a 1985 como um movimento para combater o comunismo, ao invés de uma ditadura.

    Desta vez a mudança virá através dos votos, não de um golpe militar, prometeu Souto.

    “Nós acreditamos que o objetivo fundamental do ser humano é a paz e a harmonia. O instrumento da obtenção da paz e harmonia é a democracia. E os fundamentos da democracia são a liberdade, a verdade, a coragem e a ética.”

Haddad diz que Brasil está fazendo de conta que não sabe quem é Bolsonaro

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira que o Brasil está fazendo de conta que não sabe quem é o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, mas que todos sabem.

Em rápida entrevista coletiva no Rio de Janeiro, Haddad disse que o volume de notícias falsas diminuiu após reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre suposto pagamento por empresários para envio em massa de mensagens no WhatsApp contra sua candidatura.

O petista acusou o adversário, no entanto, de agora usar o horário eleitoral gratuito para propagar mentiras.

Qual é o futuro da democracia no Brasil?





Perguntamos a representantes de quatro fundações políticas alemãs no país como eles analisam, como observadores estrangeiros, a atual guinada à direita e o cenário de crescente polarização. Todos mostram preocupação.

A menos de três semanas para a realização do segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, observadores políticos alemães consultados pela DW Brasil afirmam que a polarização observada durante o processo eleitoral não acabará em 2019, mesmo após a definição do próximo presidente, e que a democracia no país está se enfraquecendo.

Em entrevista à DW, falam sobre o futuro da democracia brasileira representantes das fundações dos principais partidos alemães no Brasil: Fundação Konrad Adenauer, ligada à União Democrata Cristã (CDU); Fundação Friedrich Ebert, ligada ao Partido Social-Democrata (SPD); Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde; e a Fundação Rosa Luxemburgo, ligada ao partido A Esquerda.

DW Brasil: Ao que tudo indica, independente do vencedor, o país deverá começar 2019 novamente dividido. Como você enxerga esta nova polarização?

Franziska Hübner, representante adjunta da Fundação Konrad Adenauer no Brasil: Desde o primeiro mandato de FHC, em 1994, o Brasil ficou sujeito a uma polarização política permanente entre PSDB e PT. Agora, os eleitores poderão escolher entre dois extremos: do lado da ultradireita está Jair Bolsonaro e seu discurso nacionalista e radical; já do esquerdo está Haddad, visto por muitos como a marionete do Lula, que já alertou sobre um novo intervencionismo de Estado na economia. Independentemente de quem se eleger, o país ficará dividido, porque ambos os candidatos, apesar de terem muito apoio, têm os maiores índices de rejeição.

Thomas Manz, diretor da Fundação Friedrich Ebert no Brasil: É bem provável que a polarização que marcou o processo eleitoral não termine com as eleições. Os dois candidatos têm propostas bem diferentes a respeito da democracia, estado de Direito e desenvolvimento econômico. O próprio Congresso reflete essa polarização: de um lado, vemos o crescimento dos aliados de Bolsonaro, que vai ter um apoio significativo no Congresso. Por outro, o campo da esquerda consolidado não só com a bancada do PT, mas também com outras legendas da esquerda.

Annette von Schönfeld, diretora da Fundação Heinrich Böll no Brasil: As eleições estão refletindo uma forte polarização na sociedade, lamentavelmente acompanhada de muito ódio. Eu imagino que virão tempos difíceis pela frente.

Gerhard Dilger, ex-diretor do escritório em São Paulo da Fundação Rosa Luxemburgo: Sim. Mas, desta vez, a polarização poderá ser entre um campo democrático ampliado e, quem sabe, vitorioso, e a direita golpista. A polarização do ódio que começou em 2013/2014 e que praticamente criou Bolsonaro é a mudança mais triste na cultura política do Brasil nas últimas décadas. Uma vitória de Haddad não vai acabar com ela, mas pode ser o início de uma virada.

DW Brasil: Como você analisa o estado da democracia brasileira?

Franziska Hübner: Somente 13% dos brasileiros estavam contentes com a democracia no ano passado, e as taxas de confiança nas instituições como Congresso e partidos são muito baixas, mas não são surpreendentes em face da crise política interna. O descrédito nas instituições democráticas, em conjunto com a falta de capacidade dos políticos eleitos de resolver os problemas da população, deixaram um vácuo de insatisfação e frustração. Muitos eleitores sentem que a política se esqueceu deles. No primeiro turno, um populista da ultradireita [Bolsonaro] tomou proveito deste vácuo.

Thomas Manz: A democracia está bem enfraquecida e, entre os motivos, estão o desequilíbrio dos Poderes, a degeneração das instituições democráticas, o processo de Judicialização da política e, ainda, da politização da Justiça. O enfraquecimento dos partidos políticos é um pilar também da perda de força das instituições democráticas. Se quase a metade dos eleitores vota num candidato que defende a ditadura e o autoritarismo, isso é um sinal de que os valores democráticos não estão fortemente enraizados na democracia brasileira.

Annette von Schönfeld: As instituições existem e formalmente funcionam. Mesmo assim, percebemos que outras forças e interesses não alinhados com os valores da democracia e dos direitos humanos estão crescendo no país de forma preocupante.

Gerhard Dilger: A democracia está na UTI. Uma vitória da direita autoritária seria o maior retrocesso na América Latina desde a época das ditaduras cívico-militares.

DW Brasil: A direita avançou no Congresso. Pode-se esperar retrocessos?

Franziska Hübner: As bancadas mais conservadoras, como a evangélica, ruralista e da bala registraram um forte crescimento. Devido a esse movimento, as discussões sobre valores tradicionais ou morais em vários âmbitos da sociedade entrarão na agenda do Congresso.

Thomas Manz: O avanço da extrema direita no Congresso vai polarizar ainda mais os debates. Será um cenário complicado, seja quem for o vencedor das eleições. De um lado, haverá ainda um centrão como uma força decisiva que vai continuar fazendo o que sempre fez: vender votos e querer apoio para suas demandas individuais. Do outro, há também uma força significativa que quer impor também sua interpretação sobre a democracia e estado de Direito à toda sociedade brasileira.

Annette von Schönfeld: A direita avançou mesmo, mas não podemos esquecer que os retrocessos já estão em curso com as medidas tomadas pelo governo atual que poderão ser aprofundados nos próximos anos. Acho que, nas políticas públicas, na legislação, ou seja, em vários temas podem acontecer sérios retrocessos, visto que nos últimos anos houve avanços importantes. Por exemplo, na área dos direitos sexuais e reprodutivos um retrocesso na legislação sobre aborto e direitos relacionados às pessoas LGBTI; na legislação indígena, com diminuição de terras indígenas; perda de políticas públicas para pequenos camponeses ou mudanças na legislação ambiental que fragilizam licenças ambientais e outras políticas. Vamos ver também se o Brasil mantém a sua política para combater as mudanças climáticas.

Gerhard Dilger: O avanço da direita é mais um retrocesso, e a composição do Congresso está cada vez mais distante do povo brasileiro. Isso só poderia ser mudado com uma reforma política profunda.

DW Brasil: Até que ponto pode-se colocar o que está acontecendo no Brasil – avanço do ceticismo e desconfiança com a política tradicional – num contexto internacional?

Franziska Hübner: Parte do lema do Bolsonaro “Brasil acima de tudo" faz lembrar o lema do atual presidente dos EUA, Donald Trump, que ganhou as eleições com a mensagem "America First", ou seja, usando um forte tom nacionalista. Da mesma maneira como Trump ou outros partidos populistas na Europa, como, por exemplo, o alemão Alternativa para a Alemanha (AfD), Bolsonaro apresenta-se como um político de fora da "velha política" – embora ele tenha sido deputado federal por sete mandatos seguidos. Muitos eleitores estão abertos às promessas dos populistas no Brasil e no mundo porque se sentem esquecidos pela política e perguntam "Quem cuida de nós?" em um mundo cada vez mais globalizado, ou porque temem uma piora da sua situação. Essa ansiedade aparece em várias partes do mundo. 

Thomas Manz: Nós temos no plano global uma tendência à direita, mas isso tem a ver também com o descrédito das instituições e da democracia representativa. Cada um quer ser representado por si mesmo, e isso causa uma falta de identificação com projetos que tentam criar maioria e que defendam uma certa ideologia. Existe uma fragmentação muito forte dentro do espectro político que torna a política mais complicada e, por isso, geram-se menos resultados positivos. Esse movimento é parte do contexto internacional.

Annette von Schönfeld: Com certeza estamos vendo um auge de movimentos de direita a nível mundial, e isso faz com que opiniões que, antes tabu, hoje estejam mais fáceis de se falar em voz alta. Um tom de ódio e de medo ao outro está fazendo parte dos debates. Acho que isso tem muito a ver com o aumento das inseguranças sociais, o sentido de perda e o medo de não conseguir pertencer aos vencedores nas sociedades, o que fortaleceu a nova onda conservadora. Isso também está acontecendo no Brasil. Mas, com os escândalos na política nos anos recentes, se acrescentou uma raiva contra a classe política estabelecida e o sentido de ter sido traído.

Gerhard Dilger: Sim, há fenômenos parecidos nos Estados Unidos e na Europa. São uma consequência do fracasso do "neoliberalismo progressista" (Clinton, Blair, Schröder). Felizmente, Bernie Sanders e Jeremy Corbyn estão achando caminhos para criar projetos modernos de socialismos democráticos que poderiam ser um remédio contra o neoliberalismo fascista, mas eles são exceções, por enquanto.

DW Brasil: Líderes internacionais veem ainda com cautela o que acontece no Brasil. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, por exemplo, não houve mais Consultas Intergovernamentais de Alto Nível entre Brasília e Berlim. É possível esperar mudanças?

Franziska Hübner: O Brasil experimentou crises internas muito graves nos últimos anos. O maior escândalo de corrupção na América Latina, o revelado pela Lava Jato, fez vibrar a classe política brasileira inteira. Ao mesmo tempo, o Brasil passou pela maior crise econômica na sua história e pelo impeachment. Pôde-se observar que líderes internacionais se distanciaram do Brasil. Em todo caso, o Brasil é um ator importante, tanto no campo regional como globalmente. Seria desejável que as consultas governamentais entre Brasil e Alemanha fossem retomadas no próximo ano. Da mesma forma, o Brasil é um ator essencial para um fechamento bem-sucedido das negociações sobre o acordo de livre-comércio Mercosul-UE. 

Thomas Manz: Depende do resultado do segundo turno. Se Bolsonaro for eleito, eu espero mudanças no comportamento da comunidade internacional. E no caso da Europa e Alemanha, eu espero que eles revisem suas posturas sobre o Brasil. Afinal, ser sócio estratégico implica também compartilhar certos valores como democracia e estado de Direito. E, nesse caso, eu colocaria em dúvida se esses valores comuns continuariam existindo.

Annette von Schönfeld: Acredito que o governo alemão vai olhar com cautela o que acontecerá no Brasil no começo do ano. Berlim certamente respeita os resultados eleitorais de um país, mas a política real será o que vai definir a relação com o governo brasileiro.

Gerhard Dilger: Olhando do exterior, a situação atual no Brasil parece ainda mais absurda. Com Bolsonaro, o relativo ostracismo que o governo Temer já sofre vai aumentar ainda mais, possivelmente com a exceção de países com governos autoritários de direita. A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019, prevista para acontecer no Brasil, vai migrar para outro país. Com Haddad, o Brasil teria boas chances de voltar a ser um ator respeitado no mundo, como foi na época de Lula.

Pesquisas mostram segundo turno entre Bolsonaro e Haddad





Candidato do PSL cruza a barreira dos 40% dos votos válidos nos últimos levantamentos do Datafolha e do Ibope antes da eleição. Petista fica na casa dos 25%. Ciro Gomes cresce e aparece com até 15%.

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) manteve a liderança na disputa presidencial nas últimas pesquisas divulgadas pelo Datafolha e Ibope na noite deste sábado (06/10), a poucas horas antes das eleições. Fernando Haddad (PT) aparece na segunda posição. Segundo os dois levantamentos, os dois devem passar para o segundo turno.

No Ibope, Bolsonaro subiu mais quatro percentuais nos votos totais, chegando a 36%. Considerando os válidos, ele tem agora tem 41%. No Datafolha, aparece com 40% dos votos válidos.

Já Fernando Haddad (PT) registrou uma oscilação negativa nos votos totais, dentro da margem de erro, aparecendo com 22%. No levantamento de 3 de outubro, tinha 23%. Nos votos válidos, tem 25%. Já no Datafolha, o petista aparece com os mesmos 25% nos votos válidos.

O candidato Ciro Gomes (PDT) registrou oscilações positivas tanto no Ibope quanto da Datafolha, embora dentro da margem de erro. No Ibope, Ciro aparece com 11% dos votos totais. Antes, tinha 10%. Nos votos válidos, alcança 13%. Já no Datafolha, ele oscilou dois pontos para cima nos votos válidos e agora tem 15%. 

Geraldo Alckmin (PSDB), aparece em quarto lugar. Tanto no Ibope quanto no Datafolha, aparece com 8% dos votos válidos. Marina Silva (Rede) oscilou negativamente nos dois institutos, e agora aparece com 3% nos votos válidos. No Datafolha, ela está empatada com João Amoêdo (Novo), que também tem 3%. Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos), registaram 2% dos votos válidos no instituto. Em seguida aparecem, Cabo Daciolo (Patriota) e Guilherme Boulos (PSOL), com 1% cada.

No Ibope, a lanterna da disputa aponta Cabo Daciolo, Meirelles e Amoêdo com 2% dos votos válidos. Alvaro Dias e Boulos tem 1% cada.

Nos votos válidos são considerados os votos brancos e nulos e o percentual dos eleitores que se declaram indecisos. No Ibope, 7% dos eleitores apontaram que vão votar em branco ou nulo e 5% não responderam. No Datafolha, 6% declararam votar em branco e nulo e 4% não responderam.

Os institutos também perguntaram para os entrevistados em quem eles não votariam de jeito nenhum. Bolsonaro apareceu mais uma vez com a maior rejeição entre todos os candidatos nos levantamentos de ambos os institutos. No Datafolha, sua rejeição chegou a 44%. No Ibope, 43%. Haddad alcançou 41% no Datafolha e 36% no Ibope. Ciro Gomes, por sua vez, registrou 21% no Datafolha e 15% no Ibope.

Nas simulações de segundo turno, os dois institutos apontam empate técnico entre Bolsonaro e Haddad. No Datafolha, o ex-capitão tem 45% das preferências e Haddad, 43%. No Ibope, Bolsonaro registrou 45%, contra 41% de Haddad, com os dois empatados no limite da margem de erro. 

Ciro Gomes (PDT) também aparece empatado no limite da margem de erro de 2% com Bolsonaro nas duas pesquisas. O pedetista tem 45% dos votos no Ibope, contra 41% de Bolsonaro. No Datafolha, Ciro tem 47%, e Bolsonaro, 43%. 

O Datafolha entrevistou 19.552 eleitores de 382 municípios na sexta-feira e no sábado. Já o Ibope entrevistou 3.010 eleitores.  

#EleNão. #NósSim

É com corpos que se recusam a ser determinados pelo ato de ser violentada ou pelo ato de violentar que podemos criar um outro jeito de ser e de estar nesse mundo



 

ELIANE BRUM
JORNAL EL PAÍS
Demorei a entender que a violência de ter um corpo sempre em risco não era
um dado a mais na trajetória de uma vida. Não era um trauma ou uma história triste. Ou vários traumas ou várias histórias tristes. A violência é tão constituinte do que é ser uma mulher como nossos ossos, órgãos, sangue. A violência é estrutural no nosso ser e estar no mundo. Compreendemos o que somos pela ameaça aos nossos corpos.

Ser mulher é ser um corpo que não se sente seguro em lugar algum.

Se cada uma de nós pensar com coragem, descobrimos que a maioria de nossas decisões passa por onde colocar nosso corpo. Como colocar nosso corpo. Como nosso corpo é visto. E, principalmente, como proteger nosso corpo. Dos olhos, das mãos, das facas, dos pintos que não autorizamos a entrar.

Ser mulher é ser uma Palestina.

Se o olhar do outro é o que nos funda, nos descobrimos mulher antes de nos descobrirmos mulher, antes mesmo da podermos pronunciar a palavra mulher, pelo olhar que nos invade. Não o que nos ama, mas o que nos julga. Não o que nos reconhece, mas o que nos converte em objeto. Não o que pede permissão, mas o que viola. Se o olhar do outro nos diz quem somos, mesmo antes de compreender a palavra medo nós já tememos.

Ser mulher é ser uma ilha do Xingu arrebentada por Belo Monte.

É com esse corpo que pode ser violado que andamos pelas ruas nos defendendo dos olhares e das mãos. Que entramos no ônibus e no metrô nos defendendo dos olhares e das mãos, às vezes dos pintos. Que tememos os professores homens, os médicos homens, os chefes homens. Que tememos às vezes os tios e os primos. Que tememos os padrastos e às vezes o pai. Que tememos o homem que vende balas. Que tememos o homem que senta ao lado no cinema. Que tememos os colegas de escola e mais tarde os de faculdade. Que tememos os colegas do trabalho. Que tememos. E tememos.

Ser mulher é ser o povoado de Mariana que virou lama.

Nós que fechamos as pernas quando sentamos porque nossa vagina deve ser escondida, mesmo que ela seja um mistério muito mais para dentro do que para fora. Um maravilhoso mistério que somos ensinadas a silenciar, justamente nós que temos grandes e pequenos lábios e uma língua que fica ereta no meio do nosso sexo somos as caladas. E caladas ficamos quando nossas vaginas e nossos cus e nossas bocas são violadas.

Ser mulher é ser palavra que não pode ser pronunciada, é ser uma pintura censurada no Facebook.

Porque nos ensinarem que é nossa responsabilidade saber onde e como botar o nosso corpo, saber com que roupa vestir o nosso corpo, porque nos ensinaram que é nossa responsabilidade escapar dos pintos e das mãos e das facas. E porque é nossa responsabilidade escapar da violência do macho que não pode resistir à sua natureza de invadir, perfurar e atravessar, somos culpadas. Por ter escolhido o lugar errado, a hora errada, a roupa errada, o cara errado. Somos culpadas de sangrar e de doer e de querer morrer para não ser mais invadida, atravessada, perfurada.

Ser mulher é ser estuprada por 30 homens no Rio de Janeiro. Ser mulher é também ser estuprada 30 vezes ao longo de uma vida pelo marido ou pelo namorado ou por um homem numa festa.

Se converter de menina em mulher é uma história que pode ser narrada pelas mãos sobre nossas bucetas, pelos pintos que nos mostram nas ruas (ou em casa), pelas piadas nojentas na escola e no trabalho, pelas frases jogadas contra nossos corpos que tentam passar, pelas palavras vadia, puta, vagabunda. Vadia, puta, vagabunda. Vadia, puta, vagabunda. Mil vezes. Vadia, puta, vagabunda. Se converter de menina em mulher é um conto contado pelo medo, medo, medo. É saber que o peito que cresce será violado mesmo antes que ele termine de crescer e que a vagina que amadurece será tocada sem permissão. E olhada. Olhada sem amor.

Ser mulher é ter a cabeça arrebentada a balas por ousar desafiar o poder. É ser Marielle Franco, Dorothy Stang, Luana.

Quando não é o nosso corpo de carne que abusam, eles cortam e mutilam a nossa expressão com palavras que são navalhas afiadas. Eles cortam e mutilam as nossas palavras escritas com suas canetas e seus dedos. Eles cortam e mutilam nossas performances com seus gritos de “gostosa”. Eles chamam nossa literatura e nossa arte de feminina porque só podemos existir em caixas rotuladas. Eles interrompem nossas falas, eles completam nossas frases porque não somos capazes de chegar ao fim sozinhas. E quando reagimos eles nos chamam de vadias e de loucas. De putas e de histéricas. De mal comidas porque acreditam que seu pinto é o que nos falta.

Ser mulher é ser mutilada também sem sangue e sem marca. Ser mulher é ser palavra ausente, letra deletada com um clique no teclado.

Dizem que nem os criminosos perdoam o estupro, e por isso estupram os estupradores, como se alguma justiça houvesse em botar o pinto no cu de quem não quer ser comido, perpetrando mais uma violência e gozando com ela. Mas muitos desses homens que supostamente não perdoam o estupro violam suas esposas na cama, batem nas suas filhas, controlam as vaginas que consideram suas com mil olhos. E quando são presos delegam essa tarefa para quem está fora enquanto suas mães passaram décadas tendo a vagina e o ânus revirados na porta das prisões.

Ser mulher é ficar azul com choques elétricos nos seios e na vagina por ordem de Carlos Alberto Brilhante Ustra e depois testemunhar o coronel chamar os seus filhos de 4 e 5 anos para ver você nua, urinada e vomitada. Ser mulher é ser Amelinha Teles.

Nesse Brasil de sangue gerações de homens acreditaram virar homens violentando as empregadas domésticas como seus pais e avôs também o faziam. E viram. E fazem. Mulheres aterrorizadas, a maioria delas negras, sem nenhuma chance de denunciar ou mesmo de gritar. Mulheres submetidas à lógica de que sua carne é para uso (e abuso). Essa modalidade da Casa Grande e Senzala que nunca foi considerada estupro, porque a empregada doméstica era uma escrava que jamais poderia ter alforria.

Ser mulher é ter seu estupro definido como “traço cultural”. É gritar com o lençol dentro da boca no cubículo que chamam de quarto de empregada.

Por que #EleNão?

Porque queremos que a violência deixe de determinar a experiência do que é ser uma mulher. Porque queremos que a violência abandone nossos ossos.

Porque não queremos um presidente que diga: “Não vou estuprar você porque você é muito feia”. Porque não queremos um presidente que diga que seus filhos não namoram mulheres negras porque foram “muito bem educados”. Porque não queremos um presidente que defenda que as mulheres devem ganhar menos porque engravidam. Porque não queremos um presidente que prefere que o filho morra num acidente de trânsito do que seja homossexual. Porque não queremos um presidente que diga que os negros dos quilombos não servem nem para “procriador”. Porque não queremos um presidente que defenda a tortura. Porque não queremos um presidente que tenha Carlos Alberto Brilhante Ustra como herói. Porque não queremos um presidente que defenda que a solução para a violência que ele e os seus ajudaram a produzir é armar a população. Porque não queremos um presidente que defenda o ódio.

Por que #EleNão?

Porque não queremos que nossas netas vivam num país governado por um homem que faz sinal de atirar com as mãos. Nem queremos que vivam sob o governo de um homem que diz que elas nasceram de uma “fraquejada”.

Porque não queremos que as mulheres que nascem agora tenham que viver com medo como nós e nossas filhas vivemos. Dos homens que usam pintos como armas e armas como pintos.

Porque não queremos que as mulheres sigam sendo vítimas. E votar nele é apertar a tecla de vítima mais uma vez.

Porque ser mulher é também ser um corpo insurrecto. É ser um corpo que luta contra a opressão há milênios. Mesmo com o risco de ser destruído pelo fogo dos inquisidores.

Porque ser mulher é ter como passado grandes mulheres que lutaram pela liberdade e nos trouxeram até aqui fazendo do nosso corpo rebelião.

Porque ser mulher hoje é ter feito a Marcha das Vadias, é ter gritado Nosso Corpo, Nossas Regras nas ruas, é seguir afirmando #MariellePresente. É ter feito #PrimeiroAssedio. É ser #MeToo. Se mulher é dizer que Luto é Verbo.

Lutaremos.

Porque essa longa noite precisa terminar. E somos nós que precisamos barrar a violência colocando nossos corpos nas ruas. Nós, unidas com os homens que também inventam um corpo que não se constitui pelo ato de violentar. Corpos desejantes que se unem na luta também para recuperar a possibilidade de estar juntos sem violência.

O Brasil tem que parar de construir ruínas, o Brasil não pode mais ser um corpo em ruínas.

É com corpos que se recusam a ser determinados pelo ato de ser violentada ou pelo ato de violentar que podemos criar um outro jeito de ser e de estar nesse mundo.

Por que #EleNão?

Porque #NósSim.

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