Getting your Trinity Audio player ready...
Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Entrevista. Mostrar todas as postagens

Mercado de RP e assessorias cresce 31% no Brasil

Engenharia de Comunicação, sediada no Paraná, é exemplo, cresce nesse mercado e mira em startups



Ao longo dos últimos anos, a comunicação no Brasil sofreu modificações profundas advindas da ampliação do acesso à internet e do surgimento de tecnologias cada vez mais sofisticadas, criadas com a missão de informar. A velocidade da informação tornou-se quase instantânea, com uma demanda crescente por dados e conteúdos diversificados que agregassem cada vez mais valor ao jornalismo brasileiro, o qual entrou de vez na era da cultura digital.


Nesse cenário, as agências de assessoria de imprensa, que são aquelas que ajudam empresas a se conectarem com os veículos de comunicação contribuindo com a divulgação de conteúdos corporativos e institucionais, cresceram no país. A mais recente edição do Anuário da Comunicação Corporativa aponta que agências de relações públicas e assessoria faturaram, em 2022, R$ 4,88 bilhões – aumento de 31,1% em relação ao ano anterior.


A jornalista Patrícia Stedile, CEO da Engenharia de Comunicação, conta que há 20 anos - quando fundou a empresa, sediada no Paraná - as agências eram focadas em grandes corporações e órgãos governamentais. As pequenas e médias ainda estavam desprovidas desse serviço, nicho que a Engenharia de Comunicação buscou atender.


“Muita coisa mudou. Hoje, as pequenas e médias empresas são amplamente atendidas pelas agências e pelos próprios jornalistas, que migraram das redações para as assessorias de imprensa. E nada mais importante do que transmitir suas informações, já que são as pequenas e médias empresas as maiores empregadoras do país, com 1,78 milhão de postos de trabalho, segundo o Caged, e movimentam 30% do PIB nacional”, avalia a profissional.


Outro movimento importante, do qual a Engenharia de Comunicação se beneficiou, foi o boom das startups no Brasil. Segundo o Relatório Wrapped Brazilian Startups, da plataforma Sling, de 2020 para 2021 houve um salto de 200% no volume de recursos aportados nas startups brasileiras. Mais que isso: aumentou o valor médio dos investimentos – de US$ 5,5 milhões para US$ 13,7 milhões.


Como já estava focada no segmento de pequenas e médias empresas, logo passou a atender startups de diversos setores da economia, e de fora do Paraná também. Além de startups e pequenas e médias empresas, grandes corporações fazem parte desse portfólio.


A empresa conta com um time de dez colaboradores. São profissionais como redatores, jornalistas que fazem gerenciamento, divulgação e follow-up ativo, estabelecendo contatos dinâmicos com jornalistas. Para se ter uma ideia, no último triênio (abril de 2021 a abril de 2024), a Engenharia de Comunicação contabiliza quase 27 mil clippings (releases publicados em veículos de mídia) gerados, e média de 2.500 releases editados e publicados.


HISTÓRIA

Patrícia Stedile fundou a Engenharia de Comunicação em 2004, justamente no início da transição da comunicação ainda em parte analógica para a de intensa digitalização. A visão da empresa ganhou forma definitiva em 2006, sendo tese do projeto de conclusão de curso de sua pós-graduação em marketing empresarial.


Jornalista Patrícia Stedile CEO da Engenharia da Comunicação 

 

“Percebi a necessidade de uma assessoria voltada para empresas pequenas em fase de crescimento, de qualidade, e adaptei o formato para atender essa demanda”, relembra. Naquela época, a disciplina de assessoria de imprensa não estava presente na grade curricular do curso de jornalismo que Stedile havia concluído dois anos antes. “Imagine, nem assessoria de imprensa os jornalistas estudavam na época. Hoje, grande parte dos assessores do país são jornalistas, e muitos deles estão focados em assessorar startups”, compara.


De fato, segundo o levantamento “Perfil do Jornalista”, elaborado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e apresentado no 19º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), em 2021, mais de um quarto dos profissionais de jornalismo (26,1%) atua em assessorias de imprensa ou comunicação, ou em produtoras de conteúdo para mídias digitais.


O projeto da Engenharia de Comunicação deu certo. Aliás, deu tão certo que o trabalho contribuiu significativamente para o crescimento das empresas atendidas. Atualmente, a Engenharia de Comunicação expandiu sua atuação para assessorar grandes empresas também, uma vez que suas clientes evoluíram para esse patamar. “Conforme nossos clientes vão crescendo, aumenta também a demanda de serviços – mais releases, outros produtos. Afinal, a necessidade de se comunicar se amplia também. Com isso, a gente cresce junto”, celebra Stedile.


A Engenharia de Comunicação mantém firme o propósito original que está em seu DNA: viabilizar a assessoria de imprensa para pequenos empreendimentos, como startups, impulsionando seu crescimento. No entanto, ao alcançar duas décadas, a perspectiva é atender cada vez mais empresas já consolidadas.


Os serviços da Engenharia de Comunicação permanecem diversificados desde o início. Além da assessoria de imprensa clássica, que envolve a elaboração de releases e o contato com os veículos de comunicação (o follow-up, no jargão da área), a agência atua em comunicação interna, produção de revistas e jornais, endomarketing e produção de conteúdo.


A responsabilidade com a notícia e o rigor no cumprimento de preceitos éticos estão na essência da Engenharia de Comunicação. Essas marcas são reconhecidas por veículos de comunicação em todo o país, garantindo sua presença nesses meios. Além disso, a agência conta com uma metodologia própria, um time de profissionais qualificados e uma expertise acumulada ao longo de 20 anos, o que contribui para a credibilidade da empresa.


Atualmente, a agência mantém uma sólida base de clientes, contando com uma extensa carteira que inclui empresas renomadas como Engerey/Reymaster, Roit, Acom, Assespro-Paraná, Zetra, Apura, entre outras.


MAIS INFORMAÇÕES:



Família Madalosso celebra 2023 com um milhão de clientes atendidos em suas operações

Grupo gastronômico anuncia novo posicionamento de marca a partir de 2024 para continuar cultivando memórias afetivas


Família Madalosso comemoram resultados 100%. Foto:Munir Bucair


Os restaurantes da Família Madalosso comemoram resultados 100% positivos, em 2023. Segundo a CEO do grupo, Mariana Werner, de janeiro a novembro deste ano já foram quase 800 mil pessoas atendidas nos dois restaurantes de Santa Felicidade, o Família Madalosso e o Velho Madalosso. 


Desse total, 60 mil foram turistas que chegaram em excursões de diferentes pontos do Brasil e do exterior. Outros 75 mil foram convidados dos eventos realizados por seus clientes nos salões dos restaurantes e 640 mil foram pessoas que procuraram a Família Madalosso para saborear a tradicional gastronomia italiana da marca. 


As novas unidades de negócios do grupo – a unidade express e as duas lojas em shoppings de Curitiba – já somam 150 mil atendimentos em 2023. E o delivery da marca já entregou 40 mil pedidos “quentinhos” neste ano, com muito sabor e praticidade. Se juntar tudo, a Família Madalosso deverá virar o ano com mais de um milhão de atendimentos. 


“Eu sempre digo que a nossa operação é surpreendente! É muita gente que atendemos diariamente, em diferentes canais e de diferentes formas, mas sempre com o compromisso e a garantia de qualidade da Família Madalosso. Buscamos nos reinventar para atender as diferentes demandas do nosso público, melhorando a experiência dos nossos clientes. Estamos muito felizes com os resultados alcançados neste ano”, destaca Mariana. 


Para consolidar o sucesso nos números, a Família Madalosso iniciará 2024 com um novo posicionamento de marca. Com a tagline “Comida afetiva com gostinho de boas memórias”, a empresa solidifica seus pilares de uma forma mais técnica, mas sem deixar de lado suas raízes. 


"Sabemos que fortalecer a nossa marca é fundamental para seguirmos a nossa trajetória de expansão, mas sem deixar de valorizar a nossa história para buscar novas aspirações e inovações. Tudo isso vai nos permitir pavimentar o caminho de crescimento sólido e com foco”, afirma Mariana. 


O novo posicionamento já expressa no espaço que a marca deseja ocupar no mercado e no imaginário coletivo. “Uma grande mesa de almoço de domingo em família, que se expandiu para além de qualquer espaço físico, fronteira geográfica ou momento temporal.


Um encontro entre o Brasil e a Itália, que resultou numa mistura simples e bem temperada, igual comida de vó. Por isso, nossa maior tradição, e que nunca sairá de moda, é demonstrar afeto em forma de comida que dá água na boca e ativa boas memórias”. 


Com o rebranding, a Família Madalosso também definiu de forma clara os seus valores internos (tradição e aconchego, empreendedorismo, confiar e compor) e externos (anfitriã, acolhedora, familiar e encantadora), que definem toda a sua experiência e comunicação. A brand persona, fugindo do tradicional de ser uma pessoa em específico, passa a ser uma “família unida e empreendedora, que sonha e realiza junta”.

  • *Otávio Lucca
  • Família Madalosso 

Conter desigualdade e formar professores devem ser prioridade da Capes

A avaliação é de Mercedes Bustamante, presidente da instituição


@ Agência Brasil

Antonio Cruz/ Agência Brasil

@ Agência Brasil
O Brasil terá, até o fim do ano, um novo Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG). O documento vai definir estratégias e metas para políticas de pós-graduação, de pesquisa e de formação de pessoal para serem implementadas em cinco anos.

Para detalhar a elaboração e as prioridades do novo plano, a Agência Brasil conversou com a presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Mercedes Bustamante (foto).

Segundo ela, políticas e ações voltadas para a redução de desigualdades, para a formação de professores e para melhorar a relação da pós-graduação com as demandas da sociedade estarão entre as prioridades do plano.

O documento está sendo discutido internamente em grupos de trabalho. Ainda deverão ocorrer oficinas regionais, em parceria com as fundações de apoio à pesquisa dos estados e uma consulta pública. Após essas etapas, o documento deverá ser aprovado pelo Conselho Superior da Capes. A expectativa, segundo a presidente, é que o PNPG seja consolidado em dezembro e passe a vigorar em janeiro de 2024.

O novo programa deverá também nortear o Plano Nacional de Educação (PNE), que define metas para toda a educação, desde a infantil até a pós-graduação do país pelo prazo de dez anos. O atual PNE termina em 2024 e uma nova lei deverá ser aprovada.

A meta atual para a pós-graduação é elevar número de mestres no país para 60 mil e de doutores para 25 mil. De acordo com o painel de acompanhamento do PNE, a meta dos mestres já foi cumprida.

Bustamante destacou também, nesta entrevista, o papel da Capes para reduzir as assimetrias entre os cursos de pós-graduação. “É importante que o sistema de pós-graduação também englobe essa diversidade que é tão própria do Brasil, mas sem acentuar as desigualdades. A gente quer manter a diversidade, mas não as desigualdades”, diz.

Sobre as bolsas de estudos, a presidente da Capes comentou o recente reajuste e disse ainda não haver previsão para novos aumentos. “O ideal é que as bolsas tivessem uma certa previsibilidade de reajustes, mas isso está muito associado também à aprovação da lei orçamentária anual, que depende da proposta a ser levada para o Congresso e da aprovação do Congresso Nacional”, esclarece.

Atualmente, a Capes é responsável pelo pagamento de 50.699 bolsas de doutorado, 44.019 bolsas de mestrado e 3.542 bolsas de pós-doutorado no país, segundo o Sistema de Informações Georeferenciadas (Geocapes).

As bolsas - sem reajuste há uma década - tiveram aumento de 40% para alunos do mestrado e doutorado, chegando respectivamente a R$ 2,1 mil e R$ 3,1 mil; e de 25% para os pós-doutorandos, atingindo o valor de R$ 5,2 mil.
Principais pontos da entrevista

Agência Brasil: O que é o Plano Nacional de Pós-Graduação e qual o impacto que ele pode ter na educação brasileira?

Mercedes Bustamante: O PNPG é um documento que norteia as políticas de pós-graduação no Brasil. A cada cinco anos, a Capes coordena um processo de consulta da comunidade e discussão com as instituições de ensino para a definição de metas para a pós-graduação no Brasil. A ideia é definir um plano a partir de 2024. E ele terá uma conexão com o Plano Nacional de Educação (PNE), que tem validade de 10 anos e será votado até o final deste ano.

Agência Brasil: O que está sendo priorizado no novo plano?

Mercedes Bustamante: Grandes temas estão sendo discutidos em grupos de trabalho. A internacionalização da pós-graduação - como a gente pode continuar com o processo da inserção brasileira na ciência e na comunidade internacional e também atrair os talentos que estão fora do Brasil para que eles possam trabalhar aqui?

As relações entre a sociedade, o setor extra-acadêmico e as universidades e as instituições de ensino superior - um estudo que indica para onde vão os nossos egressos, para onde vão as pessoas que nós formamos, mas também outro estudo que permite identificar o perfil dos estudantes que ingressam na pós-graduação. A pós-graduação tem que ser desenhada para essa geração que entra hoje nas instituições de ensino superior, mas, também, pesando qual o papel que elas devem desempenhar na sociedade nos próximos anos.

Outro aspecto central para a pós-graduação são os mecanismos de avaliação da pós-graduação. Lembrando que a Capes é responsável pelo credenciamento, pela avaliação e pelo fomento dos programas de pós-graduação e isso só pode ser feito com uma avaliação muito robusta e uma avalição que considere as múltiplas dimensões da pós-graduação.

Outra questão que nos preocupa bastante [envolve] as desigualdades e as assimetrias. Assimetrias regionais, assimetrias de gênero, assimetrias étnico-raciais, ou seja, como nós incorporamos as questões de equidade, de redução das diferenças no âmbito da pós-graduação. E, por fim, aspectos relacionados a inovação e a interações entre educação básica, formação de professores para nossa educação básica e pós-graduação.

Agência Brasil: A Capes planeja mudar os atuais parâmetros de avaliação dos cursos de pós-graduação?

Mercedes Bustamante: O plano estabelece diretrizes gerais para a avaliação, o que esperamos do processo avaliativo, quais as dimensões que devem ser consideradas, como fazemos a avaliação do sistema que hoje cresceu bastante, que se diversificou, que está em diferentes regiões do país, e cobre diferentes áreas do conhecimento. A Capes hoje tem um Termo Autocomposição assinado com o Ministério Público Federal que limita de certa forma algumas possibilidades de alteração de parâmetros de avaliação. Estamos também em discussão com representantes das áreas de conhecimento e coordenadores de área de avaliação da Capes, no sentido de entender quais são essas limitações impostas pelo termo de autocomposição, mas, também, ao mesmo tempo, não queremos perder a oportunidade de fazer com que esse processo de avaliação acompanhe as mudanças do processo de educação e de geração de conhecimento do país.

Agência Brasil: É possível adiantar algum critério na avaliação que poderá será alterado?

Mercedes Bustamante: Ainda está muito precoce, eu diria, acho que o ponto fundamental que tem sido muito enfatizado pela comissão assessora é a necessidade que a avaliação seja baseada em múltiplos critérios. O programa de pós-graduação é um programa de formação de pessoas. Então, como avaliamos os processos formativos? E outro ponto essencial [é] quando falamos da redução das assimetrias, aquela concepção dos programas de pós-graduação atendendo demandas específicas de cada localidade. Um programa no sul do Brasil tem características que são próprias da sua região, assim como um programa no Acre, no Amazonas, em Roraima. Então, é importante que o sistema de pós-graduação também englobe essa diversidade que é tão própria do Brasil, mas sem acentuar as desigualdades. A gente quer manter a diversidade, mas não as desigualdades.

Agência Brasil: Quais serão, na prática, as ações para a redução de assimetrias que poderão ser propostas pela Capes?

Mercedes Bustamante: Devemos lançar, em breve, um edital que vai cobrir os cursos que têm nota na avaliação um pouco mais baixa, de modo a apoiar e alavancar a qualidade desses programas. Outros aspectos são importantes quando a gente fala na redução de desigualdades. [É] importante considerar as dificuldades que mulheres pesquisadoras têm na ascensão acadêmica, que são mais fortes em algumas áreas do conhecimento, como as chamadas ciências exatas e da terra; e, também, a necessidade aumentar a participação de discentes [alunos] pesquisadores de grupos sub-representados como pretos, pardos e indígenas dentro da comunidade acadêmica brasileira.

Agência Brasil: O plano irá abordar também a formação de professores? De que forma?

Mercedes Bustamante: Essa vai ser uma linha extremamente importante, lembrando que a Capes, a partir de 2007, ganha essa função que é trabalhar na formação inicial e continuada de professores de educação básica, que hoje é uma atuação, da mesma forma que a pós-graduação, central dentro da Capes. A maneira ideal é que essas duas estratégias de formação estejam integradas. A formação inicial dos nossos professores de educação básica se inicia dentro da universidade. Da mesma forma, os professores que já estão hoje em atuação na sala de aula da educação básica retornam para as universidades através dos programas de mestrado profissional em educação básica, para a formação continuada. Falo que são vasos comunicantes. Precisamos da formação de bons professores na universidade. As instituições de ensino superior, os institutos federais, os institutos de pesquisa têm que estar abertos para a formação continuada dos professores. O professor de educação básica, por sua vez, com uma formação mais adequada, é capaz de levar melhores alunos para as universidades, para as instituições de ensino superior ou do ensino técnico, contribuindo para o desenvolvimento do país.

Agência Brasil: Como a Capes pensa a questão do ensino a distância (EaD) na pós-graduação?

Mercedes Bustamante: A Capes é responsável pela Universidade Aberta do Brasil, que oferece, em parceria com os municípios, através da criação de polos, a possibilidade de formação de professores em áreas onde não há universidades. Os cursos são oferecidos pelas universidades na forma de EaD através desses polos e isso também é uma estratégia para disseminar a formação de professores onde as universidades não estão e tem sido uma estratégia muito importante.

Hoje, temos um grupo de trabalho constituído para discutir a educação a distância dentro dos programas de pós-graduação e como isso deve se organizar. A pandemia nos trouxe algumas mudanças que são irreversíveis no uso dessas ferramentas.

Na minha visão, o componente presencial continua sendo um componente muito importante na relação orientador aluno e também na aquisição de determinados conhecimentos. Então, de certa forma, a tendência é muito mais no sentido de sistema híbrido e que seja possível a utilização de ferramentas de EaD, mas sem perder a perspectiva ou importância da formação em nível presencial. E sempre considerando, mesmo no uso das ferramentas a distância, o critério da qualidade.

Agência Brasil: Em relação a bolsas de estudos, tivemos recentemente reajustes após anos sem recomposição. A Capes pretende estabelecer uma previsibilidade nos reajustes das bolsas?

Mercedes Bustamante: O reajuste era realmente uma demanda legítima da comunidade acadêmica, de discentes e docentes. As bolsas do país perderam poder de compra. O reajuste publicado foi, em média, de 40%. Algumas categorias receberam mais ou um pouco menos. Era a possibilidade que nós tínhamos com o orçamento aprovado para 2023. Novos reajustes estão efetivamente em planejamento, mas vão depender do orçamento previsto para a Capes para os próximos anos. O que já foi concedido será mantido e há a possibilidade de novos reajustes. O ideal é que as bolsas tivessem uma certa previsibilidade dos seus reajustes, mas isso está muito associado também à aprovação da lei orçamentária anual, que depende da proposta a ser levada para o Congresso e da aprovação do Congresso Nacional. Nós esperamos fortemente que os congressistas entendam a importância das bolsas dentro do sistema nacional de pós-graduação e apoiem esse pleito de maior orçamento para a Capes.

Agência Brasil: Em qual estágio de elaboração está o plano? Quais são os próximos passos e os próximos prazos?

Mercedes Bustamante: Os últimos grupos de trabalho formados pela comissão assessora estão concluindo agora os seus estudos e [o documento] será consolidado pela Capes. Há o planejamento de algumas oficinas regionais em parceria com as fundações de apoio a pesquisa dos estados para entender um pouco mais da demanda regionalizada de formação de recursos humanos. Depois dessas oficinas regionais, o documento será novamente consolidado e submetido à consulta pública. Depois, será encaminhado, para aprovação final, ao Conselho Superior da Capes. Esperamos que entre dezembro e janeiro seja possível fazer a consulta ao Conselho Superior para ter um plano vigente em janeiro de 2024. Mas sujeito a condições de temperatura e pressão.

Agência Brasil: Por fim, o qual o papel da pós-graduação para o país?


Mercedes Bustamante: Acho que o ponto central hoje é essa preocupação que a pós-graduação esteja atenta às mudanças em termos de desenvolvimento de economia do país. Então, se o país discute um novo processo de industrialização, quais serão os recursos humanos que serão necessários para esse novo processo de industrialização na construção de um caminho para a sustentabilidade? O Brasil vai sediar a COP-30 [Conferência do Clima das Nações Unidas] em Belém, em 2025. Como a pós-graduação pode contribuir com rotas de desenvolvimento sustentáveis para o país? Então, é realmente colocar a formação de recursos humanos a serviço da construção desse país que almejamos.

Entrevista do Ministro Juscelino Filho

 Brasil  Digital

Assista na íntegra a entrevista do Ministro das Comunicações,  Juscelino Filho, sobre as metas do MCom para os próximos meses. 




Frio aumenta riscos de infarto e AVC. Veja como cuidar do coração no inverno

Bianca Maria Prezepiorski, diretora médica do Hospital Costantini




Diretora médica do Hospital Costantini lista práticas saudáveis para o coração nesta época do ano

A chegada do inverno, que começa oficialmente nesta quarta-feira, 21, com a esperada queda na temperatura, alerta para o risco de doenças do coração. 

O frio pode aumentar em 30% os casos de infarto e de Acidente Vascular Cerebral (AVC), segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Por que isso acontece? "O frio leva à constrição dos vasos sanguíneos, aumenta a pressão arterial, o que pode ser preocupante para pessoas que têm hipertensão ou problemas cardiovasculares preexistentes, com risco de complicações", explica a cardiologista Bianca Maria Prezepiorski, diretora médica do Hospital Costantini, de Curitiba. O hospital é referência nacional em doenças do coração.

Com o frio, o corpo também trabalha mais para manter a temperatura interna, o que aumenta a demanda de oxigênio pelo coração. 

Para pessoas com doenças cardíacas, essa demanda adicional de oxigênio pode sobrecarregar o coração e desencadear sintomas como dor no peito ou, em situações mais graves, até mesmo um ataque cardíaco.

“Ou seja, o frio aumenta o risco para pessoas predispostas, como hipertensos, diabéticos, quem tem colesterol alto ou que já infartou ou teve AVC”, diz a doutora Bianca. 

O que fazer para cuidar do coração quando o frio chega? “Devemos manter os hábitos saudáveis, como atividade física, boa alimentação, não fumar, manter o corpo hidratado, controlar o colesterol, o diabetes e a pressão”.

A diretora médica do Hospital Cardiológico Costantini lista práticas saudáveis para o coração na estação fria:

  1. Use roupas quentes, em camadas, para evitar o resfriamento do corpo. Use gorros, luvas e meias para proteger as extremidades.
  2. Mantenha a casa em temperatura confortável para evitar que o corpo fique exposto a temperaturas muito baixas por longos períodos.
  3. Tenha uma dieta equilibrada e saudável, rica em frutas, vegetais, grãos, proteínas magras e gorduras saudáveis.
  4. O consumo excessivo de álcool e o tabagismo são prejudiciais para a saúde cardiovascular. Não fume.
  5. Mantenha-se fisicamente ativo, com o cuidado de evitar exercícios em temperaturas muito baixas.
  6. Beba bastante água, mesmo no inverno. O ar frio e seco pode levar à desidratação, o que pode aumentar o estresse no coração.
  7. O estresse afeta o coração. Pratique técnicas de relaxamento, como meditação, ioga ou respiração profunda.
  8. Vacine-se contra a gripe; A gripe pode sobrecarregar o coração, especialmente em pessoas com condições cardíacas preexistentes.
  9. Mantenha-se atualizado com seus exames médicos.
  10. Consulte um médico para orientações específicas sobre como cuidar do seu coração durante o inverno.

Edição: Flávio Costa
Literallink.com.br

Esquerda gere melhor economia e Lula está certo sobre juros, diz Nobel

Para Joseph Stiglitz, agenda econômica da direita levou a baixo crescimento e esquerda latino-americana no poder deve manter foco em crescimento inclusivo. AFP


Os governos de centro-esquerda se tornaram melhores gestores da economia do que a direita no século 21, defende Joseph Stiglitz, vencedor do Nobel de economia, professor da Universidade de Columbia (EUA) e antes economista-chefe do Banco Mundial (1997-2000).


Para Stiglitz, que completou 80 anos neste mês de fevereiro, a centro-esquerda volta ao poder na América Latina em momento “que não poderia ser pior”, com pandemia, inflação, restrições fiscais e a economia mundial em desaceleração.


Mas ele avalia que os governos da região poderão ser bem sucedidos se conseguirem manter o foco no fato de que foram eleitos para criação de uma “prosperidade compartilhada”, isto é, um crescimento inclusivo, que garanta a melhora de vida da parcela mais pobre da população.


Em entrevista exclusiva à BBC News Brasil, Stiglitz afirma que os bancos centrais do mundo erram ao combater a inflação atual com elevação de juros.

Isso porque, na avaliação do economista, a alta no custo de vida que aflige o mundo hoje é provocada principalmente por restrições na ponta da oferta causadas pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, além de mudanças no padrão de consumo também derivadas da crise sanitária.



Assim, no contexto atual, elevar juros – uma medida de política monetária que tem por objetivo aumentar o custo e restringir a oferta de crédito, esfriando a economia para reduzir a inflação – pode fazer mais mal do que bem, defende o Nobel.


No Brasil, na disputa entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o nível da taxa básica de juros e da meta de inflação do país, Stiglitz avalia que o petista está correto em suas preocupações.


“Há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país. Então o presidente Lula está absolutamente correto em estar preocupado com essas questões”, diz Stiglitz à BBC News Brasil.


“A pesquisa teórica mais recente, realizada em um período longo de tempo, mostra que, em momentos de rápido ajuste da economia e mudança estrutural – o tipo de coisa que estamos vivendo no mundo pós-covid e à medida que rumamos para a transição verde –, uma taxa de inflação mais alta na verdade facilita o ajuste”, afirma.


Conselheiro durante o governo do democrata Bill Clinton (1995-1997) e atualmente copresidente da ICRICT (sigla em inglês para Comissão Independente de Reforma Tributária Internacional de Empresas), Stiglitz defende que o combate à desigualdade deve estar no topo das prioridades da reforma tributária brasileira – cuja proposta o governo Lula pretende apresentar ainda neste primeiro semestre.


“Obviamente é importante ter um sistema tributário eficiente e isso exige simplificação. Mas o que é ainda mais ou igualmente importante para o Brasil é reformular o sistema tributário para combater a desigualdade”, afirma o economista, um dos defensores de um imposto global sobre multinacionais e do aumento da tributação sobre os mais ricos.


“Eu não posso opinar sobre a política brasileira, mas acredito que aumentar a progressividade do sistema tributário do Brasil deve ser uma prioridade. Diante do elevado nível de desigualdade do país, isso deve estar no topo da agenda.”


Confira abaixo os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil – Em um artigo recente, o senhor argumentou que elevar juros não é a melhor forma de combater a inflação quando ela é provocada principalmente por restrições de oferta e mudanças no padrão de consumo. O senhor acredita que os bancos centrais do mundo estão errados na forma como estão combatendo a atual alta global dos custos de vida?


Joseph Stiglitz – Primeiro, deixe-me dizer que as taxas de juros estavam anormalmente baixas, próximas de zero desde a grande recessão de 2008. Então fazia sentido para os bancos centrais aproveitarem a situação atual para normalizar as taxas de juros.


Mas agora estamos passando deste ponto, para além da normalização. E acredito que isso seja um erro.


BBC News Brasil – Por que o senhor acredita nisso?


Stiglitz – Quando escrevi aquele artigo, a evidência para mim era clara de que a principal fonte da inflação eram interrupções do lado da oferta causadas pela pandemia e, em alguma medida, pela invasão russa à Ucrânia. Havia ainda alguns choques do lado da demanda relacionados à pandemia que também eram inflacionários.


Desde que eu escrevi aquilo, a evidência tem reforçado minha conclusão, com a inflação [nos EUA] recuando ainda mais, à medida que os gargalos do lado da oferta foram sendo resolvidos, os preços do petróleo baixaram e outros preços se normalizaram.


Outra coisa que preocupa os bancos centrais, e com razão, são espirais de preços e salários [quando a inflação impulsiona aumentos de salários, o que alimenta ainda mais a inflação]. E não há evidências disso, os salários [nos EUA] não estão acompanhando os preços, o rendimento real está em queda e as expectativas de inflação seguem fracas, mostrando que os participantes do mercado parecem ter visões consistentes com o que eu apresentei.


Tudo isso significa que a política de elevar taxas de juros, que é a resposta normal para um excesso de demanda agregada, é inapropriada no contexto atual. E uma das coisas que eu argumento é que isso pode, na verdade, exacerbar as pressões inflacionárias.


Porque, por exemplo, uma das coisas necessárias para aliviar pressões no lado da oferta é investimento. E taxas de juros elevadas tornam esse investimento mais difícil.


BBC News Brasil – E o senhor acredita que isso é válido somente para os EUA ou o mesmo argumento pode ser usado para outros países que enfrentam inflação neste momento?


Stiglitz – Esse argumento serve para quase todos os países que enfrentam inflação atualmente. Na maioria deles, o argumento é até mais forte, porque, na maioria, muito da inflação é importada. Ou seja, vem de produtos trazidos ou precificados no exterior.


BBC News Brasil – No Brasil, o presidente Lula está travando há semanas um embate com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o nível da taxa básica de juros do país, que está atualmente acima dos 13%. Lula argumenta que os juros estão estrangulando a economia, enquanto Campos Neto defende o mandato do Banco Central de perseguir a meta de inflação do país, de cerca de 3%. Como o senhor vê essa disputa no Brasil?


Stiglitz – Primeiro, é preciso dizer que metas de inflação – que na Europa [e nos EUA] é de 2%, e você falou em 3% [no Brasil] – são tiradas do nada. Elas não têm base alguma na teoria econômica ou na experiência econômica.


Há preocupação com uma espiral inflacionária, mas neste momento não há evidências disso. Eu não sei todos os detalhes para o Brasil, mas posso dizer enfaticamente que não há evidência de uma espiral inflacionária nos EUA e, de maneira geral, globalmente.


Então não é um número mágico, 2% ou 3%, mas se há uma espiral inflacionária que está se tornando descontrolada.


Há um custo enorme em ter taxas de juros altas. Isso coloca o Brasil em desvantagem competitiva, estrangula as empresas brasileiras, enfraquece a economia do país. Então o presidente Lula está absolutamente correto em estar preocupado com essas questões.


Voltando à questão da meta de inflação, a pesquisa teórica mais recente, realizada em um período longo de tempo, mostra que, em momentos de rápido ajuste da economia e mudança estrutural – o tipo de coisa que estamos vivendo no mundo pós-covid e à medida que rumamos para a transição verde –, uma taxa de inflação mais alta na verdade facilita o ajuste.


Então a performance econômica em geral será melhor se a taxa de inflação for ligeiramente mais alta. Eu acredito enfaticamente nisso no caso dos EUA, que não devemos nos limitar a [uma meta de inflação de] 2%.


Por fim, mesmo que você acredite que deve haver uma meta de 2% ou 3%, não há nenhuma teoria ou evidência empírica de que voltar [de uma inflação mais elevada] para esses 2% ou 3% num período curto de tempo seja a melhor prática. Assim como o número é tirado do nada, a velocidade para voltar a esse número é tirada do nada.


BBC News Brasil – Enquanto esse debate acontece no Brasil, muitos economistas têm lembrado de intervenções mal sucedidas na política monetária feitas por governos em anos recentes. Eles citam casos como o da Turquia e da Argentina, que acabaram resultando em mais inflação e forte desvalorização das moedas locais. Como o senhor vê essas preocupações? Acredita que esse pode ser um risco para o Brasil, caso Lula seja bem sucedido em mudar a lei que atualmente garante a independência do Banco Central?


Stiglitz – Acredito que há questões distintas. Obviamente, alguns governos têm instituições fracas e herdaram problemas institucionais que vão além de apenas um aspecto, como o Banco Central. Então seria errado dizer que porque o Zimbábue ou a Venezuela têm um problema, devemos ficar de mãos atadas.


Falando na perspectiva dos EUA, nós temos uma democracia forte – ou pelo menos tínhamos antes de Trump – e nossos líderes políticos sabem que podem ser responsabilizados e que, se houver uma espiral inflacionária, eles vão pagar o preço.


Então é do interesse deles manter a inflação controlada, reduzi-la e, ao mesmo, proteger os trabalhadores e aqueles que são negativamente afetados pela inflação. Então é preciso fazer as duas coisas [controlar a inflação e garantir a geração de empregos].


De maneira mais ampla, quando enfrentamos mudanças sociais e econômicas complexas, é necessário coordenação entre as políticas fiscal e monetária [a política fiscal diz respeito ao controle dos gastos e da arrecadação do governo, já a política monetária trata do controle da quantidade de dinheiro em circulação na economia, o que é feito através da taxa de juros].


Nos EUA, nós temos um banco central independente. Mas Paul Volcker, um destacado presidente do conselho do Federal Reserve [Fed, o banco central americano], uma vez disse: “O Congresso nos criou, e o Congresso pode nos ‘descriar’.”


Então ele tinha muita ciência de que sua independência não era absoluta e de que precisava agir de determinadas maneiras que respondessem às necessidades da sociedade. Isso significa que ele precisava em certo sentido coordenar sua ação com o que estava acontecendo.


Então a questão da independência do Banco Central é às vezes tomada como algo sagrado. Na minha visão, é bom estrutural institucionalmente, mas precisa reconhecer a necessidade de coordenação, e também de conhecimento especializado e profissionalismo.

Economistas têm lembrado de intervenções mal sucedidas na política monetária feitas por governos em anos recentes, como na Turquia e Argentina. Na imagem, exemplo de twit da gestora de recursos Wealth High Governance. REPRODUÇÃO/TWITTER


BBC News Brasil – Mudando de assunto para outra área de sua especialidade, a equipe econômica de Lula espera aprovar uma reforma tributária esse ano. Essa reforma deve ter uma primeira etapa focada em simplificar impostos sobre o consumo em um imposto sobre valor adicionado, e uma segunda etapa focada no Imposto de Renda. Como alguém que vem discutindo há anos o uso da tributação como uma forma de combater a desigualdade, qual o conselho do senhor para o Brasil, às vésperas de uma reforma?


Stiglitz – Obviamente é importante ter um sistema tributário eficiente e isso exige simplificação. Mas o que é ainda mais ou igualmente importante para o Brasil é reformular o sistema tributário para combater a desigualdade, tornando esse sistema mais progressivo [que arrecada mais de quem tem mais renda e patrimônio].


Eu não posso opinar sobre a política brasileira, mas acredito que aumentar a progressividade do sistema tributário do Brasil deve ser uma prioridade. Diante do elevado nível de desigualdade do país, isso deve estar no topo da agenda.


BBC News Brasil – E quais seriam as formas de fazer isso? Mudar a tributação sobre a renda ou taxar os mais ricos, essas poderiam ser algumas das maneiras de conseguir isso?


Stiglitz – O imposto de renda, a taxação de fortunas, a taxação de heranças e a elevação do imposto de renda corporativo são instrumentos efetivos para enfrentar a desigualdade, mas não são os únicos. Diversos países da América Latina estão discutindo como aumentar o grau de progressividade de seus sistemas tributários, Chile e Colômbia em particular. E, diante do alto nível de desigualdade no Brasil, acredito que isso deve ser uma prioridade.



BBC News Brasil – Passando à relação entre Brasil e Estados Unidos. Os EUA indicaram que devem doar ao Fundo Amazônia brasileiro, após o encontro entre Biden e Lula no início de fevereiro. O valor da doação ainda não está definido, mas o número inicial de US$ 50 milhões teria desapontado as autoridades brasileiras. O senhor acredita que a gestão Biden está fazendo o suficiente para ajudar os países em desenvolvimento a combater as mudanças climáticas?


Stiglitz – Em resumo, não. Mas o espaço para manobra é limitado, porque os democratas não têm controle suficiente sobre o Congresso para garantir o orçamento necessário. Tivemos uma batalha dura para conseguir recursos para investimentos verdes nos EUA, que devem não somente acelerar nossa transição verde, mas também aumentar a produtividade no país.


Então acredito que deveríamos estar fazendo mais, que a mudança climática é uma questão global e, como somos o país mais rico do mundo, deveríamos fazer um esforço proporcional.


Mas tenho esperanças de que, com a escolha do novo presidente do Banco Mundial, que deverá ser anunciado em breve, o banco possa fazer um esforço maior, com o apoio dos EUA, para endereçar a questão da mudança climática em mercados emergentes.


[Nota da redação: O atual presidente do Banco Mundial, David Malpass, anunciou em 15 de fevereiro que deixará o cargo em junho, um ano antes do término de seu mandato. A renúncia inesperada do indicado por Donald Trump acontece em meio a críticas à atuação tímida do banco em temas como combate à pandemia, à pobreza e ao aquecimento global. Na semana passada, Biden indicou o empresário indiano-americano Ajay Banga, ex-CEO da Mastercard, ao cargo. A nomeação ainda terá de ser confirmada pelo conselho de administração do banco.]


BBC News Brasil – Num momento em que o Brasil tenta reafirmar seu lugar no mundo como uma liderança em sustentabilidade e o governo busca recuperar a economia após anos de baixo crescimento, qual pode ser o papel dos investimentos verdes nesse processo? O senhor acredita que o Brasil deve buscar seu próprio “Green New Deal” [proposta da esquerda do Partido Democrata americano que associa agenda ecológica e geração de empregos]?


Stiglitz – Sim. Acredito que todos os países precisam reconhecer que estamos caminhando rapidamente dos combustíveis fósseis para a energia verde.


Os países que se moverem mais cedo e mais rapidamente terão uma vantagem competitiva. Eles vão aprender a dominar as novas tecnologias. Em economia falamos em “percorrer a curva de conhecimento”.


Diante do alto nível de competência técnica do Brasil, da qualidade de seus engenheiros e da diversidade da sua economia, acredito que o Brasil está em posição para ter um papel de liderança entre os países emergentes nessa transição para uma economia verde.


BBC News Brasil – Numa entrevista à BBC em 2020, o senhor disse que a onda de protestos na América Latina naquele momento estava acontecendo tarde, diante do nível de desigualdade na região. Como resultado daquela onda de descontentamento, muitos países elegeram governos de esquerda. Mas há um temor de que esses novos governos tenham “luas de mel” breves, diante do descontentamento ainda presente, combinado à inflação elevada e restrições fiscais. O senhor acredita que é possível esses governos serem bem sucedidos nesse contexto, e em meio a uma economia mundial em desaceleração?


Stiglitz – Sim, mas vai ser difícil. Eles chegaram ao poder num momento muito, muito complicado. Tem a pandemia, a inflação.


No caso do Brasil, Lula herdou uma absoluta bagunça do governo Bolsonaro. Em certa medida, dá para dizer que não poderia ser pior, por que ele começa em um ambiente em que é preciso consertar o caos criado pela administração anterior.


Nos Estados Unidos, por exemplo, os republicanos vivem falando em responsabilidade fiscal, mas toda vez que chegam ao governo, eles criam déficits imensos. Trump fez isso, [Ronald] Reagan fez isso. Então toda vez os democratas precisam consertar a bagunça herdada. Foi necessário [Bill] Clinton para reequilibrar o Orçamento [após a gestão de George H. W. Bush].


Então há sempre uma desvantagem para os governos de centro-esquerda responsáveis, como Lula, de corrigir a desordem herdada. E o caos é ainda maior porque Bolsonaro, como Trump, dividiu a sociedade. E, obviamente, quando você tem uma sociedade polarizada é muito mais difícil conseguir a solidariedade e coerência que ajudariam a endereçar os problemas sociais.


Acredito que a resposta tem que ser, como dizemos nos EUA, que esses governos de centro-esquerda não podem tirar o olho da bola. Eles foram eleitos para criar um senso melhor de prosperidade compartilhada [uma outra forma de dizer crescimento inclusivo, que abrange a melhora de vida da parcela mais pobre da população].


É interessante que, em muitos sentidos, eles [os governos de centro-esquerda] se tornaram melhores gestores da economia. Digo isso porque a economia do século 21 é baseada em inovação, competição, alto nível de capital humano e boa infraestrutura pública.


E os governos de direita que eles substituíram eram centrados em monopólios, grandes empresas, competição limitada e investimentos insuficientes nas pessoas e em infraestrutura. A agenda econômica da direita levou a um baixo crescimento e fraca performance econômica.


Então, embora os governos de centro-esquerda tenham herdado uma bagunça, se eles mantiverem o olho na bola e o foco no objetivo de atacar esses problemas e criar uma prosperidade compartilhada, acredito que serão bem-sucedidos.

Portobello Grupo apresenta lançamentos na Cersaie 2022, feira de revestimentos que acontece na Itália


Empresa apresenta destaques e novidades em seu portfólio


O Grupo Portobello, líder em varejo entre nenhum segmento de revestimentos cerâmicos e uma das maiores empresas do país, participa dos dias 26 e 30 de setembro, da Cersaie 2022, em Bolonha - Itália. O evento é considerado uma das mais importantes feiras de revestimento do mundo e traz as principais tendências deste mercado. Em sua última edição, no ano de 2021, a Cersaie recebeu 63 mil visitantes, que trouxe 623 novidades como expositores, representantes de 28 países.


A empresa participa da feira com um estande fruto da colaboração criativa entre o arquiteto Giovani Bonetti, da  MarchettiBonetti+ Arquitetos Associados, e a equipe de Branding da Portobello . No local, o grupo irá exportar alguns dos lançamentos da Coleção 2022 Unlimited Dreams. Entre as novidades-se a linha Oh!Take assinada pelo mestre da arquitetura brasileira Ruy Ohtake.  


Para que o público possa vivenciar a empresa, o estande será melhor definido em cinco ambientes com fachadas dedicadas especialmente às últimas da Portobello. O principal diferencial desta solução é o formato das superfícies, que pode chegar ao tamanho de 1,80 por 3,60 metros. Uma revolução no universo da cerâmica, como lastras representa um novo patamar de soluções para a arquitetura, desde o revestimento de pisos e paredes com o aumento do rejunte, até a decoração, com móveis, e fachadas em grandes obras. 


“É muito importante para nós da Portobello sermos parte de um evento que é vitrine internacional para o mercado de revestimentos como a Cersaie. Participar de uma feira como essa, é o resultado de que estamos atentos às mais importantes tendências de comportamento cultural e local, um produto para continuarmos evoluindo e consolidando um portfólio inovador, forte e expressivo”, afirma Mauro do Valle CEO do Portobello Grupo.  


O evento que acontece todos os anos, os líderes de todo o mundo traz de maneira antecipada tendências e tecnologias em superfícies, banheiro e acabamentos para projetos de empresas.


Cersaie 2022 26 a 30 de setembro de 2022, Centro de Exposições de Bolonha, Itália Mais informações https://www.cersaie.it/


SOBRE O PORTOBELLO GRUPO

  • Sediada em Tijucas, Santa Catarina, o Portobello Grupo é hoje a maior empresa de revestimentos do Brasil, com a maior rede de varejo do segmento do país. A empresa é líder nacional e protagonista global do setor. Está listada na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), sob o código PTBL3. O grupo possui atuação multicanal, com operações estruturadas em quatro Unidades de Negócio - a Portobello com distribuição para Homecenters, Projetos e Exportação para mais de 670 países, a Portobello Shop, sua marca de varejo com quase 150 lojas em todo o Brasil, a Portobello America, pioneira na internacionalização do Grupo com sede nos Estados Unidos, ea Pointer, marca de design democrático consolidada no Nordeste do país. Com um processo de produção cada vez mais sustentável, que respeita o meio ambiente e o uso de recursos naturais, a Portobello países dos cinco continentes, conectando-se com clientes e profissionais de arquitetura de todo o mundo. Para mais informações, acesse www.portobello.com.br.

Steve Bannon: Estrategista de Trump e aliado de Bolsonaro se diz 'fascinado' por Lula

"Um enfrentamento, cabeça a cabeça, entre dois políticos carismáticos de estatura global."

Steve Bannon diz que as eleições de 2022 no Brasil são 'uma das mais intensas e dramáticas do século 21'


Steve Bannon, o ideólogo da nova direita radical populista e estrategista principal do ex-presidente americano Donald Trump, define assim a eleição presidencial brasileira, que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente das sondagens de intenções de voto, seguido por Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição.

A eleição, que Bannon afirma ser a segundo mais importante do ano para o seu movimento de direita, também será, nas palavras dele, "uma das mais intensas e dramáticas eleições do século 21".


Aliado de Bolsonaro, a quem chama de "herói", Bannon não esconde o fascínio que tem por Lula. "Eu sou fascinado por Lula", diz, afirmando que estudou o petista por "muitos e muitos anos".


"Eu acredito muito nos trabalhadores. E parte do nosso trabalho tem sido atrair democratas e sindicalistas para a nossa causa. Então, tem coisas que Lula defende em que nós acreditamos", diz Bannon, que reconhece "o tremendo sucesso financeiro" da gestão do petista no Brasil no começo dos anos 2000.


Ele, no entanto, atribui a Lula proximidade que o próprio petista jamais ostentou com o Partido Comunista Chinês e sugere que, no poder, o ex-presidente faria do Brasil uma base para a China nas Américas, o que seria "uma questão para a segurança nacional dos EUA".


Considerado um mentor pela família Bolsonaro, Bannon afirma ser uma espécie de "posto de intercâmbio", promovendo a conexão direta entre os políticos brasileiros e expoentes da direita radical global como o húngaro Viktor Orbán, o italiano Matteo Salvini ou o próprio Trump.


De acordo com Bannon, essas conversas e conexões são centrais não apenas por questões ideológicas, mas para que cada grupo compartilhe com os demais experiências de campanha que possam potencializar suas chances de vitória em cada país.


Ele sugere, por exemplo, que Trump poderia ter economizado muito dinheiro na corrida presidencial de 2016 se tivesse aprendido como usar o Facebook como Bolsonaro usou na campanha em 2018.


Sobre a campanha atual, Bannon aposta que a figura da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, será capaz de unir o apoio dos evangélicos cristãos e impulsionar uma onda que empurre Bolsonaro com Lula para o segundo turno no próximo dia 2 de outubro.


Já em relação às Forças Armadas, ele diz ver menos apoio a Bolsonaro do que o próprio Trump teve no setor militar. Vale lembrar que o então presidente americano se viu barrado em diversos momentos de usar as Forças Armadas em seu projeto político.


Bannon defende que os militares brasileiros são "ator-chave" em um momento em que o presidente brasileiro faz alegações de fraude nas eleições brasileiras, sem provas. Mas descarta em território brasileiro algum cenário do tipo como a invasão do Capitólio 6 de janeiro deste ano, como até mesmo integrantes do governo americano têm alertado ser possível.


"O mundo exterior não deveria estar metendo o nariz nisso, seja o governo dos Estados Unidos, o pessoal de (fórum econômico de) Davos ou outros globalistas", afirma.


Bannon, porém, admite que o 6 de janeiro foi um erro para seu grupo político — porque os impediu de lançar mão de manobras legislativas que pudessem, de acordo com sua perspectiva, contestar o pleito que elegeu Joe Biden a ponto de forçar nova votação.


Assim como três quartos dos republicanos, ele segue repetindo que Biden não é um presidente legítimo. Ele é investigado por seu papel na invasão — que ele diz ter sido nenhum — e também enfrenta um processo por ter se recusado a depor diante do Congresso sobre o assunto.


A despeito disso, diz que tanto o trumpismo quanto o bolsonarismo são movimentos democráticos. E reconhece que podem não triunfar nas urnas sempre.


"Você não vai ganhar todas as eleições. E quando você ganha, pode não estar no poder para sempre, mas faz parte de um processo. Se você olhar para o fluxo desde a crise financeira de 2008, não há absolutamente nenhuma dúvida de que a direita nacionalista populista não é apenas ascendente, que nós ganhamos muito mais do que perdemos, e fizemos algumas mudanças bastante significativas, seja (com) Trump nos Estados Unidos, (com) Brexit (no Reino Unido) e Bolsonaro no Brasil", afirma Bannon.


Na Justiça americana, Bannon enfrenta também uma acusação de ter enriquecido ilicitamente desviando recursos de doação de trumpistas para a construção do muro na fronteira com o México, uma promessa de campanha do ex-presidente. O caso já o levou, inclusive, a ser preso. Bannon nega qualquer crime.


Leia a seguir os principais trechos da entrevista — editada por concisão e clareza — que Bannon concedeu à BBC News Brasil via zoom, diretamente do estúdio onde grava seu programa político, o War Room.


BBC News Brasil - No ano passado, o senhor disse que a eleição brasileira é a segunda mais importante de 2022, atrás apenas das eleições legislativas de meio de mandato nos Estados Unidos, em novembro. Por quê?


Steve Bannon - Vamos voltar a 2016. O Brexit, que aconteceu em junho, e a vitória de Trump (na eleição presidencial americana em novembro daquele ano) estavam intrinsecamente ligados. Essas coisas tendem a se mover em ciclos, e a inspiração e as questões que surgiram no Reino Unido com o (partido de direita radical britânico) Ukip e o Brexit foram algumas das coisas sobre as quais estávamos discutindo nos Estados Unidos, basicamente soberania, fronteiras, imigração.


A mesma coisa se repete agora. Nós tivemos a vitória dos Democratas Suecos (partido de direita radical que saiu vencedor nas últimas eleições e comporá pela primeira vez o governo do país). Você tem Giorgia Meloni (de um partido pós-fascista e favorita a ser a primeira ministra da Itália), a quem conhecemos e com quem trabalhamos há anos, e com ela está surgindo na Itália e no sul da Europa uma coalizão de direita.


Mas o mais importante sempre foi o Brasil. E digo isso porque o pleito brasileiro é muito próximo da eleição americana de meio de mandato (em novembro), e as questões (discutidas nos dois processos) são mais ou menos as mesmas.


Steve Bannon é um aliado do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL)

Bolsonaro é um grande herói para todos nós. Ele está no nível de Viktor Orbán (na Hungria) como alguém que defendeu a soberania nacional e realmente construiu uma base. Ele tem evangélicos, ele tem pessoas da classe trabalhadora. Se você olhar para o Brasil, (o bolsonarismo) é muito parecido com o movimento Maga (Make America Great Again, de republicanos ligados ao Trump), os bolsonaristas são muito parecidos com os desvalidos do America First, o que chamamos de hobbits do condado (metáfora de Bannon para aludir à vida de anseios simples dos trumpistas).


Isso é o que você vê em Bolsonaro. E as pessoas alinhadas contra ele, particularmente os globalistas, são as mesmas (que estão contra Trump). E mais especificamente por causa dessa corrida eleitoral, a associação de Lula com o Partido Comunista Chinês, principalmente no que se refere a commodities e recursos naturais, fazem desta, eu acho, uma das eleições mais importantes, não apenas deste ciclo (eleitoral), mas nos últimos tempos.


BBC News Brasil - O senhor está dizendo que o Lula tem uma relação especial com a China, mas no ano passado, sob Bolsonaro, o Brasil foi o país no qual a China mais investiu no mundo. Como isso cabe no seu argumento?


Bannon - Obviamente, o Brasil é um país de recursos naturais com um grande negócio de exportação. O Partido Comunista Chinês precisa desses recursos. Mas eles foram comprados no mercado livre. Isso é bem diferente da relação de Lula com a China.


Lula foi várias vezes a Pequim. Lula tem uma visão de mundo comum à do Partido Comunista Chinês. E o sucesso econômico (do governo Lula) está diretamente ligado aos negócios de exportação e commodities do Partido Comunista Chinês, que essencialmente olha para o Brasil como quase uma espécie de colônia para eles, principalmente em recursos naturais.


Lula vai trazer tudo isso de volta. E os chineses veem o Brasil mais do que nunca como um necessário parceiro de commodities. Então, a relação entre Bolsonaro e o Partido Comunista Chinês é mais comercial. Com Lula é muito diferente. Ele dará uma grande base para o Partido Comunista Chinês na América Latina e isso se tornará uma importante questão de segurança nacional para os Estados Unidos.


BBC News Brasil - O senhor começou essa conversa fazendo claras conexões entre o Brexit e a eleição de Trump. Existe uma conexão clara tanto de projeto como de ideologia e de ações, entre as direitas radicais no Brasil, nos Estados Unidos com Trump, na Hungria de Orbán, na Alemanha com a AfD?


Bannon - Não há dúvida. Eu trabalho nesse projeto há vários anos. Lembre-se que logo após (vencer) a Casa Branca, acho que eu fui a primeira pessoa a recomendar que o Movimento Cinco Estrelas (partido italiano antissistema) e a Liga do Norte (partido italiano de direita radical) se unissem. Eu disse a eles: "Ei, vocês dois são partidos populistas, tentem colocar suas diferenças de lado". E eles fizeram isso e apoiaram Matteo Salvini.


Então, sim, há absolutamente conexões e não apenas na ideologia. São todos nacionalistas, são partidos da classe trabalhadora e populistas. Eles são antielite, são particularmente antielite financeira, antibanco central, anti-Wall Street, anticorporações globais. E há contra todos eles o mesmo tipo de resistência.


No Brasil, é um pouco diferente. Você tem os militares que, na minha visão, foram bastante comprometidos pelo Partido Comunista Chinês e acho que estão ainda menos alinhados com Bolsonaro do que pensamos que a maioria dos militares - não necessariamente as lideranças - está com o nosso movimento aqui nos Estados Unidos.


Então, há correlações diretas, eu acho, com Salvini e Giorgia Meloni na Itália, com Orbán, com quem acabei de encontrar no CPAC (conferência conservadora), em Dallas (Texas). São todos movimentos de direita que falam sobre as mesmas questões, com o apoio da polícia, da classe trabalhadora, e lidando com questões globais, enquanto em cada nação constroem suas próprias bases, um movimento nacionalista populista de, francamente, muita força e muito poder.


BBC News Brasil - Por que o senhor diz que Bolsonaro não tem apoio dos militares? Como viu o 7 de setembro, dos 200 anos de independência?


Bannon - Bolsonaro concorreu em 2018 tendo como seu vice-presidente um general (da reserva, Hamilton Mourão). E, no início, foi tão difícil para Bolsonaro quanto foi o primeiro ano do presidente Trump, para que ele conseguisse ganhar força e assumir o Estado administrativo em Washington.


Vimos Bolsonaro governando aos trancos e barrancos também no primeiro ano, e isso era impulsionado principalmente por seu vice-presidente, que fez parte das Forças Armadas. E você viu que os militares tinham seu próprio ponto de vista de como as coisas deveriam ser feitas.


Eu acho que hoje, com toda a questão da integridade eleitoral nos tribunais, os militares são obviamente um ator-chave. E eu sei que há muitas, muitas pessoas nas Forças Armadas que apoiam o presidente Bolsonaro, ele é um paraquedista egresso das Forças Armadas. Mas os militares, particularmente os membros seniores do quadro militar, inclusive o vice-presidente, fizeram mais do que qualquer um para realmente contrariar muito do que Bolsonaro queria levar adiante.


BBC News Brasil - Bolsonaro mobilizou o 7 de setembro para mostrar poder e conexão com os militares. Ainda assim, não te parece que ele tenha o apoio amplo desejado nas Forças?


Bannon - O 200º aniversário (da independência) foi muito impressionante. Parte disso era, obviamente, o patriotismo dos militares em geral. Mas as imagens que chegaram aqui aos Estados Unidos foram, francamente, de tirar o fôlego. O tamanho, a escala (do ato).


A grande mídia tem minimizado Bolsonaro, sugerindo que ele tem dificuldade em ganhar força nas pesquisas, que a campanha não está indo bem. É por isso que foi muito de tirar o fôlego, a escala das multidões e da celebração e, obviamente, os militares estarem lá. E principalmente porque o Lula, que eu acho que estava tendo um dia de Joe Biden, decidiu fazer campanha no conforto de sua casa.


Então, não me entenda mal, mas seria de esperar que os militares seriam ainda mais favoráveis a Bolsonaro, dado o que ele representa. Ele quer tornar o Brasil grande novamente, quer que o Brasil tenha soberania, quer deixar claro que o Brasil é um bom administrador da Amazônia, mas que, no limite, são do Brasil as decisões (sobre a floresta) e não de algum tipo de comunidade mundial.


Então, tenho percebido há tempos que há certos elementos das Forças Armadas que claramente não o apoiam. E eu acho que muito disso vai ficar claro nesta eleição, e particularmente nos tribunais, com os juízes que definem como as eleições são conduzidas.


Tivemos Eduardo (Bolsonaro) vindo ao simpósio cibernético em Dakota do Sul, em agosto do ano passado, promovido por Mike Lindell (empresário americano trumpista acusado de promover os atos de 6 de janeiro). Eduardo deu uma das melhores apresentações do Simpósio, lá ele listou os problemas que eles têm e as preocupações que eles têm sobre as urnas eletrônicas.


Então, eu espero que isso seja totalmente monitorado e fiscalizado pelas autoridades, pelos tribunais, pelos militares, por todos, para que haja uma eleição limpa e justa.


Tenho usado muito do meu tempo conversando com as pessoas nos bastidores (da disputa brasileira), e sinto que há uma grande onda pró-Bolsonaro agora. Um elemento que não estava na campanha de 2018 é a primeira-dama (Michele Bolsonaro). Ela assumiu agora um papel muito público e acho que ela pode ser uma força muito grande para essa onda, à medida em que vamos vendo os evangélicos se unirem.


Eu sempre digo que é muito difícil fazer pesquisas nos Estados Unidos por causa do movimento America First, o movimento Maga, eles desconfiam muito de qualquer tipo de mídia, então geralmente não respondem à pesquisas eleitorais. Eu acho que a mesma coisa pode estar acontecendo no Brasil, onde você tem esse ressurgimento desse movimento populista, particularmente a parte cristã evangélica, que eu não tenho certeza se é pesquisada com precisão. Então, acho que esta será uma das eleições mais intensas e dramáticas do século 21. E acho que Bolsonaro vai chegar à vitória a partir de uma onda.


Trump tem a aprender com Bolsonaro sobre como usar as redes sociais, diz o ideólogo

BBC News Brasil - O senhor afirmou que tem trabalhado nesse movimento populista de direita global há anos. O senhor tem atuação direta na campanha de Bolsonaro hoje?


Bannon - Não estou atuando na campanha de Bolsonaro, não trabalho em nenhuma campanha individual em nenhuma nação. Eu acho que isso é um papel para as pessoas de cada país desempenhar. O que eu tento fazer, especialmente com Eduardo, é falar sobre como (desenvolver) um movimento nacionalista populista na América Latina, em como conectá-lo, fazer com que as pessoas de cada país se comuniquem, compartilhem ideias, digam o que está dando certo ou não.


Sempre tentei ser uma espécie de posto de intercâmbio, para garantir que possamos fazer conexões e interconectar pessoas. Acredito que, nesses países, cabe a essas pessoas realmente tomar essas decisões, e as pessoas podem aprender a fazer campanha, aprender a enviar mensagens, aprender a construir redes, etc.

O que é mais impressionante, principalmente com Bolsonaro, é que foi ele quem nos ensinou muitas lições sobre redes sociais. Quando conheci a família Bolsonaro em Nova York, em 2018, fiquei fascinado com a campanha deles. A única preocupação que eu tinha era com a segurança. Naquela época, ele chegava aos aeroportos e era arremessado pra cima e carregado como um jogador de futebol. Eu disse para Eduardo que eles deveriam ser muito mais cautelosos com isso.


Mas o que eu achei mais incrível, tanto com Bolsonaro, quanto com Salvini na Itália, em menor grau, é como eles chegaram praticamente à perfeição no uso do Facebook, no manejo das lives de Facebook, como atraíram multidões quase sem usar dinheiro. Os recursos limitados que Bolsonaro tinha em 2018 e seus resultados são realmente uma lição de política moderna sobre como conduzir uma campanha popular. Obviamente, agora eles estão maiores e mais sofisticados. Mas, ainda hoje, Bolsonaro ainda teria ao menos uma coisa ou duas a ensinar ao presidente Trump sobre como conduzir uma campanha ou sair de uma cilada.


BBC News Brasil - Como foi essa aproximação com a família Bolsonaro?


Bannon - Quis conhecê-los porque eu tinha visto o que eles tinham feito até aquele momento, acho que isso foi em julho de 2018. E eu me lembro de dizer pra eles: "Pessoal, se vocês seguirem nessa direção, mantendo este ritmo, acho que levam no primeiro turno". E lembro que ele chegou muito perto disso. Acho que ele teve 46% dos votos, e precisava de 50% (mais um).


Quando nos encontramos, ele tinha apenas 16%,17% ou 18%, algo assim. Mas o que eu vi foi alguém que sabia não apenas enviar mensagens, mas se conectar. Eu digo às pessoas quando elas entram na política que precisam estar cientes de que hoje o público sabe identificar falsários. Esse é um dos poderes da Internet. Então, (pra ter sucesso na política) você tem que realmente acreditar no que está propagando e tem que ser capaz de se conectar com as pessoas. Não se trata mais de dinheiro. E eles venceram. Por quê? Em parte, porque eles se conectaram às mídias sociais e saíram interagindo com pessoas.


Bolsonaro obviamente é uma figura carismática, e Lula também. Isso é o que é tão único sobre esta corrida. Você tem duas figuras de estatura global, importantes para o mundo, e que sabem como se conectar com a pessoa comum.


E Bolsonaro tinha realmente o que nos ensinar, porque lembre-se, quando fizemos (a campanha de Trump no) Facebook, principalmente em 2016, gastamos muito dinheiro ali. Quer dizer, nós meio que jogamos o jogo deles no que diz respeito à publicidade. Bolsonaro, não. Ele se conectou com as pessoas com uma mensagem e com sua humanidade e realmente fez com que as pessoas fizessem parte da estratégia do Facebook, ele fez do público parte do processo, algo que realmente não havia sido feito antes, na escala de um país como o Brasil, por isso me surpreendi com esses caras. Essas pessoas realmente levaram a política moderna a outro nível.


Então não, não há conselho que Steve Bannon possa dar a Bolsonaro sobre como fazer uma campanha no Brasil, não apenas sobre as questões do país, mas como se conectar com seus compatriotas.


Acho que o que torna isso tudo tão fascinante é que eu acredito muito nos trabalhadores. E, parte do nosso trabalho tem sido atrair democratas e sindicalistas para a nossa causa. Então, tem coisas que Lula defende que nós acreditamos. Vocês realmente têm dois líderes populistas agora. Acho que o Lula se esgotou com o tempo, mas essa é realmente uma campanha de dois populistas se enfrentando, cabeça a cabeça, e por isso acho fascinante.


BBC News Brasil - O senhor esteve se informando sobre o Lula? Parece bastante interessado nele.


Bannon - Eu sou fascinado pelo Lula. Sou atraído por grandes personalidades. Eu estudei Lula por muitos, muitos anos, e, particularmente, no início dos anos 2000, antes do colapso financeiro global de 2008, ele teve um tremendo sucesso financeiro (no governo). Talvez as pessoas no Brasil não entendam, mas o carisma dele, de Eduardo, do presidente Bolsonaro, é algo que você não vê na política americana, com exceção de Trump e algumas outras poucas pessoas.


Então, eu estudo Lula há muito tempo. Acho-o um personagem fascinante. Acho-o um personagem trágico porque acredito que ele realmente acreditava no que dizia. E acho que ele é uma figura trágica por isso. Eu acho que ele é parte da rede (política) que o Partido Comunista Chinês corrompeu em todo o mundo. É um exemplo perfeito disso.


'Estudei Lula por muitos, muitos anos', afirma Bannon

BBC News Brasil - O senhor diz isso, mas Lula não admite essa proximidade e inclusive tem criticado publicamente a falta de divergências no Partido Comunista Chinês…


Bannon - Acho que ele entende que (a associação) é algo tão negativo, que ele precisa fazer algum tipo de separação, mesmo que ela não seja real. Ele é um político muito experiente, muito sofisticado quando se trata de mídia e, particularmente, mídia global. E acho que ele entende que as coisas pioraram com a questão dos uigures (minoria étnica que teriam seus direitos humanos violados pelo governo chinês).


Se você vai ser um político pragmático e tentar ser eleito em um país ocidental, você tem que sentar lá e dizer: "Oh, o Partido Comunista Chinês é ruim". Vemos a mesma coisa nos Estados Unidos. Mas a influência do Partido Comunista Chinês na América é bastante profunda. Então, acho que Lula apenas entendeu como é radioativa qualquer associação com o Partido Comunista Chinês e resolveu ser vocal sobre isso.


BBC News Brasil - O senhor mencionou a questão das urnas eletrônicas. Bolsonaro está atrás nas pesquisas de intenção de voto. Ele próprio já admitiu que não tem prova de fraude nas eleições. Inclusive, ele venceu todas as eleições que disputou com a urna eletrônica. Então por que bater nisso? Esse tipo de argumento é legítimo numa disputa política ou é uma forma de deslegitimar o sistema político e a democracia?


Bannon - Essa é uma boa pergunta. Eu nunca fui um sujeito afeito a máquinas. Dito isto, já vi o suficiente da tecnologia, o suficiente dos problemas que tivemos com as urnas eletrônicas nos Estados Unidos, de modo que sou um dos grandes defensores de que adotemos o sistema francês nos Estados Unidos, onde todas as cédulas de papel são preenchidas pelos eleitores no dia de votação, numa sessão eleitoral. E às 21h ou 22h do mesmo dia, você tem os resultados. Se a França pode fazê-lo, os Estados Unidos podem fazê-lo. E acho que o Brasil pode fazer.


Espero e rezo para que tudo aconteça bem (nas eleições brasileiras). E é por isso que estou pedindo um escrutínio e transparência, porque acredito muito que, independentemente do que as pesquisas digam, basta ver o que está acontecendo: acho que Bolsonaro vai subir a ponto de ir com Lula para o segundo turno e, depois, vencê-lo.


Vimos um público massivo no Dia da Independência, se a campanha de Bolsonaro for capaz de transformar cada uma daquelas pessoas em multiplicadores de votos, ele teria o potencial até de ganhar em primeiro turno. Então eu espero que as pessoas fiquem vigilantes sobre essas urnas, porque a última coisa que você quer é qualquer tipo de disputa sobre o resultado.


BBC News Brasil - Mas o senhor está ciente que, historicamente, no Brasil, o voto em papel foi uma enorme fonte de fraude e que até mesmo Bolsonaro, nos anos 1990, advogava pela informatização das eleições para diminuir o problema? Não há uma contradição nisso?


Bannon - Você está absolutamente correta sobre a história. Mas acho que a diferença é que hoje temos processos melhores, sofisticação para lidar com voto em papel, coisa que não tínhamos antes. Os franceses nos ensinaram como fazer. E eles são o modelo.


Por outro lado, máquinas podem ser hackeadas (o TSE nega que urnas possam ser hackeadas no Brasil), com toda essa loucura de servidores e o nível de ataque cibernético que se pode fazer hoje. Então, o sistema em papel pode ser aperfeiçoado, mas o das urnas eletrônicas não pode. Agora, espero que haja e acredito que haverá salvaguardas suficientes e no Brasil, que os agentes públicos estejam trabalhando nisso para que não tenhamos essa controvérsia.


No final das contas, o que você quer ter certeza que aconteça é, independente de quem seja o vencedor, você possa dizer: "Bolsonaro ganhou" e o pessoal do Lula aceita. Ou, "o Lula ganhou" e o povo do Bolsonaro aceita. As pessoas precisam aceitar a derrota, e você só consegue isso através da transparência.


Bannon destaca o engajamento da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na campanha

BBC News Brasil - Esse é um ponto central. Pessoas de diferentes países pelo mundo, incluindo os Estados Unidos, estão alertando de que poderia haver no Brasil um evento como o 6 de janeiro.


Bannon - Não acredito nisso, e também acho que o que foi o 6 de janeiro tem sido muito exagerado…


BBC News Brasil - Mas o Capitólio foi invadido, cinco pessoas morreram…


Bannon - (Interrompe a pergunta) A maioria das mortes (no episódio do Capitólio) foi motivada pela reação exagerada da polícia. O dia 6 de janeiro foi exagerado como uma questão política. Os democratas bateram nessa tecla, mas isso não ressoa com o povo americano. Isso até nos ajudou porque eles perderam muito tempo falando disso enquanto (aumentavam) os problemas nos Estados Unidos, particularmente a invasão (de imigrantes) em nossa fronteira sul e o colapso de nossa economia.


Os democratas estão focados nessa coisa da antidemocracia. Nós amamos a democracia. Vamos dar aos democratas um supositório de democracia em 8 de novembro. Como eu acredito que Bolsonaro e seu movimento vão dar a Lula e seus seguidores um supositório de democracia. O que esperamos é transparência, certo? Todo mundo só quer concordar que, afinal, foi uma eleição honesta.


Então, não, eu não acredito que o Brasil vai ter uma situação como o de 6 de janeiro. As razões pelas quais eu acho isso são: Bolsonaro vai ter uma onda e vai vencer, haverá transparência e todo mundo vai fazer o seu trabalho, e é nisso que as pessoas devem se concentrar.


Eu também digo às pessoas no Brasil: se apodere do seu próprio voto e assuma o controle de seu sistema eleitoral. O mundo exterior não deveria estar metendo o nariz nisso, seja o governo dos EUA, o pessoal de (fórum econômico de) Davos ou outros globalistas. Nesta eleição, não poderia haver mais coisas em jogo para o povo no Brasil. Ela deve ser decidida pelo povo do Brasil, por processos que são executados por brasileiros, que os brasileiros possam olhar uns para os outros depois e dizer: 'tudo bem, eu entendo que isso foi transparente e esse foi o resultado'.


BBC News Brasil - Há uma situação de medo de violência política no país, com sete a cada dez pessoas dizendo temer algum ataque por seu posicionamento político. As pessoas identificam essa violência com Bolsonaro e seu grupo, com as suspeitas lançadas sobre as urnas e a defesa de armamento civil. Nos Estados Unidos, Biden disse que o Maga é um risco à democracia. Esse movimento populista de direita radical respeita a democracia?


Bannon - É um movimento democrático, isso (dizer que não é) é (acusação) da mídia. Vamos ganhar nas urnas. Temos dois terços (do eleitorado) agora nos Estados Unidos. (agregado de pesquisas eleitorais do site FiveThirtyEight mostra que 44.9% dos americanos querem vitória democrata no Congresso, contra 43.4% que preferem republicanos). Vamos tomar a Câmara dos Deputados por, não sei, 30, 40 ou 50 cadeiras. Nós vamos manter nossas posições no Senado e ainda levar duas ou três.


Nós amamos a democracia e aqui está a razão: nós temos os votos. Então, quando Biden vem e demoniza as pessoas é simplesmente porque ele não pode falar sobre seus feitos. Seu governo é um colapso financeiro e econômico do nosso país: inflação fora de controle, recorde na queda do patrimônio líquido (das famílias) do nosso país foi anunciada na semana passada: são US$ 6 trilhões (a menos) para o povo americano.


Eles querem falar sobre 6 de janeiro e democracia, eu digo, vamos esperar até a noite de 8 de novembro (eleição nos EUA) e ver para quem a democracia funciona, ok? Acredito piamente, somos um movimento de base, temos estratégia de política local: assumir o governo local, assumir o conselho escolar local, assumir os postos de funcionários eleitos locais. E como você faz isso? Você vota em si mesmo e nos seus e então a gente vai ter mais votos.


Mesma coisa com Bolsonaro. Você vê o quanto a mídia global bate nele. É por isso que eu diria às pessoas no Brasil: vá votar e convença todo mundo a votar, é assim que as insurgências populistas ganham, nós ganhamos nas urnas.


E, lembre-se, viemos de trás. Quando assumi a campanha de Trump (em 2016), tínhamos 88 dias pela frente, o presidente Trump estava quatro, oito, doze pontos atrás nas pesquisas e nós ganhamos. Foi a maior surpresa de um azarão de todos os tempos. Por quê? Porque nós fomos e nos comunicamos com pessoas da classe trabalhadora em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. É o que estamos fazendo desta vez. Teremos vitórias arrebatadoras e faremos isso com uma coisa chamada voto. O Presidente Joe Biden fala em terrorismo doméstico? O que as mães que vão para os conselhos escolares têm de terroristas domésticas? É tudo um disparate. As pessoas veem isso, e vão às urnas e vão votar.


Bannon critica o presidente americano, Joe Biden, e o seu governo

BBC News Brasil - Algumas pessoas argumentam que o 6 de janeiro foi uma tentativa de golpe de Estado, já que estava acontecendo a certificação de votos do presidente Biden no Congresso, e essas pessoas interromperam isso, invadiram o prédio com armas…


Bannon - (interrompe a pergunta) Lamento dizer, mas isso é mentira. Ninguém nunca provou que as pessoas na multidão tivessem armas (a reportagem da BBC News Brasil presenciou pessoas com tacos de beisebol e hastes de bandeiras na área externa ao Capitólio e o FBI afirmou também que havia gente com spray de pimenta e artefatos explosivos de fabricação caseira). O 6 de janeiro e o que aconteceu, o motim no Capitólio, isso trabalhou contra nós, foi um erro, porque (derrubou) tudo pelo que trabalhamos. Estávamos prestes a ter 24 horas, 12 horas em cada Casa (Senado e Câmara) para passar por cada um dos seis estados em que havia controvérsias.


Eu nunca disse que eles seriam contados como eleitores de Trump, mas que os eleitores de Biden não poderiam ser certificados de acordo com as regras estabelecidas na Lei de Contagem Eleitoral de 1887. Isso forçaria o que chamamos de eleição contingente, que obrigaria a Câmara dos Deputados a entrar e não votar pela consciência do membro individual, mas por delegação estadual-partidária. Nessa votação, Trump ganharia por 27 a 23, ou se você incluir (a republicana anti Trump) Liz Cheney em Wyoming, por 26 a 24.


Eu ainda acredito nisso. Acredito que (o vice-presidente) Mike Pence (que presidia a sessão que sacramentou a vitória de Biden) tomou a má decisão (o atual entendimento majoritário no país é que Pence tinha responsabilidade apenas cerimonial, sem poderes para alterar a certificação dos votos. Pence se recusou a atuar no plano de Trump).


Eu acredito que você verá isso começando em janeiro ou fevereiro do ano que vem, com a nova (composição) da Câmara, quando eles vão julgar de verdade o que houve no 6 de janeiro (Bannon se recusou a testemunhar diante da Comissão Congressual que investiga o que aconteceu no 6 de janeiro e enfrenta processo judicial por isso). O que precisamos é de um fórum para julgar isso em um contexto adequado, com os democratas tendo posição minoritária.


Sou um grande defensor de que temos que fazer isso. O país está meio que em chamas. Lembre-se, 40% a 45% do povo americano não acham que Joe Biden é um presidente legítimo. Eu não acho que ele seja legítimo. Isso nunca aconteceu em nossa nação. Nunca tivemos dúvidas sobre a legitimidade de (Abraham) Lincoln. Na verdade, o fato de ele ser legítimo é o que causou a Guerra Civil.


BBC News Brasil - As semelhanças entre Trump e Bolsonaro são evidentes e já falamos delas. Mas o senhor vê algum paralelo entre Biden e Lula?


Bannon - Ele está fazendo uma campanha como Biden. Quer dizer, acho que o que é tão interessante ou curioso é que aqui temos uma figura populista dinâmica que não está realmente hoje executando uma campanha populista dinâmica. Acho que a comemoração dos 200 anos foi o exemplo mais contundente de que ele não é um populista numa campanha popular. As multidões não estão lá, a intensidade não está lá.


BBC News Brasil - Trump deixou o poder, Bolsonaro está atrás nas pesquisas agora, na América Latina governos de direita perderam as eleições, na Europa Ocidental isso também vem acontecendo, a candidata da direita radical Marine Le Pen não venceu Emmanuel Macron, na França…


Bannon - (interrompe) Calma lá, calma lá. Depois de Le Pen na presidencial, na eleição regional, Macron perdeu feio (pra direita radical) e, por isso, ele não consegue governar. Mas, na América Latina, eu concordo com você, houve um movimento recente de esquerda populista. Uma coisa que acho que podemos concordar é que o mundo está se tornando mais populista. Partidos mais tradicionais, seja à esquerda ou à direita, ou centro, não têm conseguido entregar para as pessoas o que as pessoas querem. Então, os vitoriosos têm sido mais os populistas.


Mas veja o Chile, onde você tem (Gabriel Boric) uma personalidade jovem e dinâmica vinda da esquerda populista que prometeu muito e, de repente, houve o golpe esmagador que o povo chileno deu na votação da Constituição (que acabou rejeitada), acho que isso mostra que ainda há uma forte soberania nacionalista e uma direita populista no Chile que também pode trazer moderados e centristas. Então, há, sim, um fluxo e refluxo.


Acho que as coisas estão mais populistas agora. Acho que o Brasil é um exemplo perfeito disso. Acredito que a direita populista está em ascensão, mas você tem que entregar. Lembre-se, uma vez que você está no poder, você tem que ser capaz de entregar (bons resultados) para as pessoas. Acho que isso é fundamental.


BBC News Brasil - Que críticas você faria aos governos da direita populista?


Bannon - Tudo é um processo. Se você olhar para o primeiro ano do governo Trump, uma das coisas que mais nos prejudicaram é que tínhamos 4 mil posições para preencher na administração no governo americano, mas nós não tínhamos (pessoas suficientes para isso), éramos um movimento relativamente novo que vencia a primeira grande eleição nacional e precisávamos de pessoas de qualidade para colocar lá.


Se você olhar para o Bolsonaro, essas situações também acontecem, (a dificuldade) de preencher o governo com pessoas competentes que possam realmente efetuar mudanças. E acho que você vai ter algumas vitórias dos populistas em que talvez os governos não tenham um bom desempenho. Isso não é o fim do mundo. Lembre-se, tudo isso é um processo.


Com Salvini e o que eles fizeram, é quase um exemplo perfeito. Tínhamos a esquerda e a direita se juntando e no final, eles não conseguiram deixar suas diferenças totalmente de lado e esse governo durou apenas alguns anos, mas foi um bom experimento. Mas agora você tem Giorgia Meloni liderando uma coalizão realmente à direita e o grupo de Salvini e outros fazem parte dela. Você tem mais pessoas, elas são mais qualificadas, são mais gente numericamente.


Nos Estados Unidos, estamos treinando pessoas hoje para que, quando vencermos em 2024, estejamos prontos para assumir o comando imediatamente. Eu acho que você vê isso em governos em geral, particularmente na América Latina, a escassez de pessoal que também pode implementar políticas.


Não é um mundo perfeito. Você não vai ganhar todas as eleições. E, quando você ganha, pode não estar no poder para sempre, mas faz parte de um processo. Se você olhar para o fluxo desde a crise financeira de 2008, não há absolutamente nenhuma dúvida de que a direita nacionalista populista não é apenas ascendente, que nós ganhamos muito mais do que perdemos, e fizemos algumas mudanças bastante significativas, seja Trump, Brexit e Bolsonaro no Brasil. Portanto, acreditamos direcionalmente que estamos avançando não apenas em marcha, mas também em ascensão.


- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62944023

©1999 | 2024 Jornal de Curitiba Network BrasilI ™
Uma publicação da Editora MR. Direitos reservados.