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Cúpula em Paris discute quem paga a conta das mudanças climáticas

Destaque do evento será a primeira ministra de Barbados, Mia Mottley

© Reuters/ Gonçalo Fuentes 


©Agência Brasil 🇧🇷 

A primeira-ministra da pequena ilha caribenha de Barbados, Mia Mottley, é um dos destaques do evento organizado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que começa nesta quinta-feira (22), em Paris. Chamado de Cúpula para o Novo Pacto Financeiro Global, o encontro deve contar com a participação de mais de 300 entidades públicas, privadas ou não governamentais, incluindo mais de 100 chefes de Estado, entre eles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


O destaque de Barbados, que deve abrir o evento junto ao presidente Macron, se deve ao fato de o país liderar a chamada “Iniciativa de Bridgetown”. A ex-colônia britânica, que se tornou independente em 1966, lidera proposta que exige que os países mais industrializados e desenvolvidos arquem com as despesas e os financiamentos necessários para fazer frente às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento.


Primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, é destaque na Cúpula para o Novo Pacto Financeiro Global, que acontecerá em Paris. - Mia Mottley/Facebook


Entre as propostas, estão a suspensão de dívidas para os países mais pobres, a expansão dos empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) em US$ 1 trilhão para países em desenvolvimento investirem em “resiliência climática”, além da criação de um fundo global de até US$ 5 trilhões para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Nesse último caso, os recursos não passariam pelas atuais instituições multilaterais como Banco Mundial e FMI, tornando, em tese, mais democrático o acesso aos recursos.


“Problemas globais como a crise climática nos mostram que simplesmente não podemos abordar questões modernas com instituições que foram criadas para um mundo muito diferente, há quase 80 anos”, defendeu a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley. 



Já o presidente Emmanuel Macron defende que é preciso criar “melhores meios para enfrentar esses desafios nos países pobres e emergentes do mundo em desenvolvimento, no que diz respeito à quantidade de investimento, à reforma abrangente da infraestrutura como o Banco Mundial, o FMI e instituições públicas e fundos privados”.


Países ricos x pobres

A ilha de Barbados tem 432 km² – área menor que o município de Porto Alegre (495 km²) – e fica localiza em uma região que costuma ser afetada por fortes tempestades. Por isso, é apontado como exemplo de país mais vulnerável aos eventos extremos causados pelas mudanças climáticas.


O professor-associado do Instituto de Economia da Unicamp, (Foto) Pedro Paulo Bastos, destaca que o aquecimento global resulta basicamente do crescimento econômico dos países desenvolvidos. “Os países desenvolvidos são largamente responsáveis pelo problema, mas calcula-se que 97% dos problemas vão ocorrer sobretudo nos países pobres”. O especialista explica que esses países estão localizados nas zonas tropicais mais vulneráveis a secas ou inundações provocadas pela elevação das temperaturas.


“Mais de 50% dos gases de efeito estufa do planeta são emitidos por não mais do que cinco ou seis países, e por não mais que 20 grandes empresas multinacionais”, aponta a pesquisa do professor José Luís Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre esses países, estão China, Estados Unidos, Índia, Rússia, Japão e Alemanha.


“Então existe uma base científica para exigir uma enorme transferência de recursos dos países que são culpados, responsáveis pelo problema, para os países que, não tendo nenhuma responsabilidade significativa no aquecimento global, vão ser os mais prejudicados”, analisou o professor Pedro Paulo Bastos.


Para o especialista, a proposta francesa não está muito clara, enquanto a proposta de Barbados tem mais força “Macron está tentando tomar a iniciativa para moderar e esvaziar as propostas que vêm do Sul (global)”. Bastos avalia que o presidente francês quer, por prestígio político, se apresentar como liderança global mais que a Mia Mottley e, ao mesmo tempo, mitigar a radicalidade da proposta de Bridgetown.


Bancos Multilaterais

Uma das principais propostas da iniciativa de Bridgetown é a de reformular o FMI e o Banco Mundial para favorecer os países com menor capacidade financeira, além da criação de um novo fundo com regras mais igualitárias. Atualmente, a capacidade de captar empréstimos via mecanismos multilaterais depende, em boa medida, dos depósitos prévios que os países fazem nessas instituições.


Esse modelo de financiamento reproduz as desigualdades de poder entre os países, segundo avalia o professor de Sociologia Econômica Edemilson Paraná, da LUT University da Finlândia. “Um mecanismo de compensação, financiamento, apoio e reparação climática precisa levar em consideração esse limite estrutural desses organismos”, destacou.


O sociólogo acrescenta que os mecanismos de financiamento não podem mais tomar decisões somente com base na maximização dos ganhos típica da racionalidade de mercado que governa essas instituições. “É preciso então adotar critérios políticos que governem a decisão e a ação econômica para mitigar os efeitos e reparar as injustiças climáticas”, avaliou Edemilson Paraná.


Brasil na Cúpula

O presidente Lula vai defender na Cúpula em Paris que o combate às mudanças climáticas precisa ser acompanhado de ações contra a pobreza.


“Quando você discute financiamento para o desenvolvimento sustentável, você não deveria, segundo nós defendemos, apenas canalizar esse financiamento para questões de clima. Você tem que olhar o desenvolvimento sustentável com base em três pilares: o econômico, o social e o ambiental”, explicou o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, diretor do Departamento de Política Econômica, Financeira e de Serviços do Ministério das Relações Exteriores brasileiro. O embaixador brasileiro, ponderou, contudo, que a Cúpula tem “um caráter relativamente limitado em termos de participação, uma vez que não é um exercício de todos os países”.


Diretor do Departamento de Política Econômica Financeira e de Serviços do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, Philip Fox-Drummond Gough - Tv Brasil - TV Brasil


Além do presidente brasileiro, estão previstas falas do primeiro-ministro da China, Li Qiang; da secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen; do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz; do príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman; do presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, entre outros.


Edição: Aline Leal

Suspeito do ataque em Paris acusado de homicídio



De  Euronews  •  Últimas notícias: 26/12/2022 - 23:03

O suspeito do ataque de sexta-feira em Paris foi presente a um juiz de instrução e foi acusado de homicídio e tentativa de homicídio por motivos de raça, de etnia, de nação e de religião. Segundo as informações avançadas pela agência France Press, o maquinista reformado, de 69 anos, foi também indiciado por aquisição e posse não autorizada de arma e ficou em prisão preventiva.


Esta segunda-feira, milhares de pessoas participaram numa marcha silenciosa que passou pelo centro de Paris em memória das três vítimas mortais do tiroteio. Ao contrário do que aconteceu no fim de semana, desta vez não houve registo de confrontos com a polícia.


O ataque provocou uma forte condenação da comunidade curda, que fala num ato "terrorista" e aponta responsabilidades à Turquia. Ancara recusa as acusações e denuncia uma propaganda contra o país em França depois da morte dos três curdos. Ancara também censura Paris por ter permitido aos apoiantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) manifestarem-se nas ruas da capital, com alguns dos cartazes a referir-se a ligações entre a Turquia e o atirador francês.

No Brasil, Macron tem vitória esmagadora e conquista 88,9% dos votos


Se dependesse dos franceses que moram no Brasil, Emmanuel Macron teria sido reeleito com margem muito mais significativa de votos. O presidente de centro-direita obteve no território brasileiro 88,9% dos votos, cerca de 30 pontos a mais do que indicam neste domingo (24) os primeiros resultados em toda a França.


Como em todo o continente americano, os franceses no Brasil votaram no segundo turno da eleição presidencial francesa no sábado (23), um dia antes dos eleitores europeus, que foram às urnas neste domingo.


A vitória de Emmanuel Macron foi esmagadora em todas as cidades brasileiras onde o voto era possível.


Tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, o presidente obteve 87%, em Belo Horizonte foram 91,5%, em Brasília e no Recife, o centrista obteve 80% das preferências. Ao todo, nas oito cidades brasileiras onde os franceses puderam votar, o centrista conquistou 88,9% dos votos, contra 11,1% para Marine Le Pen, do partido Reunião Nacional de extrema direita.


O resultado no Brasil é muito melhor do que aquele conquistado na França como um todo. De acordo com os resultados preliminares, Emmanuel Macron foi reeleito com cerca de 58% dos votos.


O geógrafo francês Hervé Théry, grande conhecedor do Brasil, considera que o resultado espelha a composição da comunidade francesa no Brasil. “São pessoas expatriadas (que trabalham para empresas francesas), que tem um certo nível cultural, engajadas na economia e que não se aventuram”, explica.


Julie Brancante, francesa que mora no Rio de Janeiro, confirma essa percepção. Em entrevista à RFI antes da eleição, ela afirmou que “um voto radical não faz tanto sentido quando a gente mora fora”.


Alta taxa de abstenção

Como em anos anteriores, a taxa de abstenção no Brasil na eleição presidencial francesa é impressionante. Cerca de 30 mil franceses moram no país, pouco mais de 14 mil estão inscritos para votar e muito menos de um terço compareceu aos locais de votação neste domingo. A taxa de participação no Brasil foi de apenas 23,9%.


Para Hervé Théry, ao contrário de muitos franceses que são binacionais e que moram no Brasil há anos, os expatriados formam um grupo muito específico que ainda se preocupa com a política nacional e se inscreve no consulado para votar. “Os que estão instalados no Brasil há muito tempo não querem nem saber”, avalia.


O cientista político Thomás de Barros relativiza esse desinteresse, lembrando que em muitas cidades brasileiras não existe um consulado francês, e que os eleitores têm de fazer procurações para poder votar.


Mas muitos imigrantes, principalmente de esquerda, que moram há anos no Brasil estão mobilizados e já aguardam com expectativa as eleições legislativas que acontecem no mês de junho.


Patrick Maury, pesquisador francês que mora em Belo Horizonte, espera que a futura Assembleia Nacional seja mais representativa da sociedade e seja capaz de contrapor o Executivo. 


Ele aposta que após a eleição presidencial haverá “um segundo tempo parlamentar que, de fato, represente as aspirações da sociedade, em que as pessoas não votarão somente útil, mas em função de suas convicções”.


A eleição legislativa na França acontece em 12 e 19 de junho de 2022.

Macron vence Le Pen e promete unir os franceses

 


Presidente reuniu 58,6% dos votos. 

UE ameaça novas sanções contra Rússia e não descarta suspender importação de gás e petróleo

Por: Silvano Mendes/ RFI


Os líderes dos países da União Europeia (UE) se reuniram no Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, para discutir as consequências da guerra na Ucrânia e como a bloco deve se organizar diante das ações da Rússia. Após dois dias de conversas, o grupo ameaçou lançar novas sanções ainda mais rígidas contra Moscou caso a ofensiva militar continue. A suspensão da importação de gás e petróleo russos, até então poupada, não foi descartada.


“Se o presidente [Vladimir] Putin intensificar os bombardeios, o cerco a Kiev e as cenas de guerra, sabemos que teremos que adotar sanções maciças novamente", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, no final da reunião de dois dias no Palácio de Versalhes, nesta sexta-feira (11).


Macron disse que o bloco fará tudo o que considerar eficaz para impedir a progressão da violência na Ucrânia. “Nada é proibido, nada é tabu", insistiu o presidente francês, indicando que as sanções poderiam visar até mesmo as importações de gás ou de petróleo russos, um setor que vinha sendo poupado até então em razão da dependência europeia dos hidrocarbonetos vendidos por Moscou.


Atualmente, 45% do gás e 25% do petróleo usados pelos países da UE são fornecidos pela Rússia. Essa dependência torna mais delicada a imposição de um embargo a esse tipo de produto.


Os líderes europeus também assinaram uma declaração conjunta na qual confirmaram a intenção de aumentar, de maneira substancial, os gastos com a Defesa no bloco. Desde a Segunda Guerra Mundial os países europeus vêm reduzindo seu orçamento de proteção, o que torna o anúncio feito em Versalhes um fato histórico.


Ajuda aos ucranianos

O chefe da diplomacia Europeia, Josep Borrell, também propôs a aprovação de um envelope adicional de € 500 milhões (mais de R$ 2,7 bilhões) em ajuda militar à Ucrânia. Com a medida, Bruxelas dobraria sua contribuição às Forças ucranianas.


Segundo Borrell, esse volume sairia do Fundo Europeu de Apoio à Paz, um instrumento financeiro dotado de cerca de € 5 bilhões disponibilizados pelos Estados-membros do bloco, que não faz parte do orçamento comum. Mas o uso destes recursos exige a aprovação por unanimidade dos países da UE. Os membros do bloco têm a possibilidade de se abster, a fim de evitar o bloqueio da ajuda às forças ucranianas.


Adesão da Ucrânia à União Europeia descartada

No entanto, os europeus se mostraram menos abertos à possibilidade de uma adesão da Ucrânia ao bloco, uma hipótese almejada por Kiev. O processo de entrada no grupo geralmente leva anos e o primeiro ministro holandês, Mark Rutte, jogou um balde de água fria nas esperanças ucranianas, declarando que não existe nenhum procedimento para integração acelerada.


Emmanuel Macron disse que a porta não está fechada para sempre. Mas diante de um gigante russo cada vez mais agressivo, criar uma fronteira direta entre a União Europeia e a Rússia não parece ser uma prioridade, nem uma vontade para o bloco europeu.


Essas declarações não foram bem vistas do lado de Kiev. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse, logo após a reunião de Versalhes, que a União Europeia deve fazer mais para ajudar a Ucrânia, alegando que seu país está diante de uma catástrofe humanitária.


(Com informações da AFP)

Historiadora segue os passos dos modernistas brasileiros na Paris dos “anos loucos”

 A Semana de Arte Moderna completa 100 anos. Mas as ideias de uma arte genuinamente brasileira não foram o único ponto em comum do grupo de artistas que ocupou o Theatro Municipal de São Paulo em fevereiro de 1922. Muitos deles, salvo o escritor Mário de Andrade, viveram em Paris uma intensa experiência de rupturas de padrões e a proposta de uma nova liberdade de criação.


Por Andréia Gomes Durão, da RFI


A aventura vivida por esses modernistas na capital francesa no período entre guerras, os chamados “anos loucos”, influenciaria em definitivo suas produções artísticas e o modo do Brasil ver sua própria cultura, além de dar visibilidade internacional a muitos talentos brasileiros.


Bairro emblemático de Paris, onde arte e boemia se misturam, Montmartre é um cenário que traduz muito dessa passagem. “Nossos modernistas passaram por aqui porque depois da célebre Semana de 22 muitos vieram para Paris, [...] como Tarsila [do Amaral] e Oswald [de Andrade], Victor Brecheret, Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Di Cavalcanti e Villa-Lobos, que vieram beber diretamente na fonte parisiense as últimas novidades em termos artísticos e literários”, conta a pesquisadora e escritora Marcia Carmargos, em entrevista à RFI.Clique na imagem acima para assistir a entrevista na íntegra



Ela acrescenta que foi em Paris que estes artistas brasileiros modernistas absorveram e retrabalharam, cada um a seu modo, os influxos das vanguardas europeias, incluindo Picasso, Leger, Braque, Jean Cocteau, Satie, André Lhote, Albert Gleizes, entre muitos outros. Com alguns deles, os modernistas brasileiros conviveram ou mesmo estudaram. “Foi no decorrer desse período que o grito iconoclasta da Semana [de Arte Moderna] foi sendo teorizado e construído para dar vida, corpo ao que hoje conhecemos como modernismo.”


O casal Tarsioswald


Próximo à Place de Clichy, vizinha ao bairro boêmio de Montmartre, também no norte da capital francesa, o número 9 da Rua Hégésippe Moreau abrigou o ateliê de uma das artistas-símbolo do Modernismo: Tarsila do Amaral, que não participou da Semana de 22 justamente por estar em Paris. Ao lado de Oswald de Andrade, ela forma o casal emblemático do movimento modernista, conhecido não somente por aproveitar intensamente a vida cultural parisiense, mas também por animar a vida social da cidade luz naqueles “anos loucos”.


“Neste ateliê, o celebrado casal recebia a nata da vanguarda, em almoços em que serviam pratos brasileiros regados a cachaça, que os ilustres convidados adoravam. Dentre todos os modernistas que estiveram aqui ao longo da década de 1920, eles eram os que tinham uma situação financeira mais tranquila, o que lhes permitia levar uma vida social agitada, usufruir do ambiente mundano e cultural da capital francesa,” comenta a escritora, que tem diversas publicações sobre o modernismo brasileiro, entre estas, "Semana de 22: entre vaias e aplausos" (Editora Boitempo).


Marcia descreve ainda algumas curiosidades sobre a vida social promovida pelo casal Tarsila e Oswald: “Foi num desses almoços que [Heitor] Villa-Lobos conheceu o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, amigo íntimo do casal, além do músico Erik Satie e Jean Cocteau. Vale a pena citar também Paulo Prado, que no prefácio do livro Pau-Brasil, escreveu, de forma irônica, como esses brasileiros acabaram descobrindo suas raízes nacionais nesse outro lado do Atlântico: ‘Oswald de Andrade, por ocasião de uma viagem a Paris, do alto de um ateliê da Praça de Clichy – umbigo do mundo –, descobre, maravilhado, a sua própria pátria’”.


“O bairro sossegado de Montparnasse”


Além de Montmartre e a Place de Clichy, Montparnasse foi outro importante bairro da vida cultural parisiense onde os modernistas marcaram presença. No n° 1 da Rua du Maine fica o Hotel Central, que acolheu outros artistas brasileiros. “Por ali passaram Di Cavalcanti, Anita Malfatti e [Victor] Brecheret, porque era bem localizado, próximo dos locais de trabalho, das escolas de pintura, dos restaurantes mais em conta, e oferecia quartos simples a um preço acessível aos bolsos dos modernistas, que tinham poucos recursos e estavam ainda decolando nas respectivas carreiras”, ela explica.


A pesquisadora cita que em uma das primeiras crônicas de Di Cavalcanti, que estava em Paris como correspondente do jornal carioca A Manhã, ele descreve em 7 de outubro de 1923 sua vida no bairro e onde estava hospedado: “Aqui estou no meu hotel. Vim para ele alegre como uma criança. Defronte, uma praça minúscula recebe meus primeiros olhares ansiosos. É o bairro sossegado de Montparnasse, cheio de artistas, de estudantes, de gente pobre e honesta. Minha Paris, boa noite!”.


Entre as muitas escolas de arte, academias e ateliês dos grandes mestres da época, onde não somente os modernistas brasileiros teriam oportunidade de produzir, mas também de realizar importantes trocas com artistas locais e de todas as nacionalidades, estaria a Académie Grande-Chaumière, localizada até hoje na avenida de mesmo nome.


“Nessa época, as academias eram bem populares e importantes, no sentido de democratizar o aprendizado das artes, as escolas como a Académie Colarossi, a Ranson, onde Di Cavalcanti estudou, e a da Grande-Chaumière. Elas tinham mensalidades acessíveis e eram voltadas para um ensino um pouco mais livre. [...] Já a Academie Julian oferecia certas vantagens para o ingresso de obras dos seus alunos nos Salons, e também preparava os candidatos para os concursos da École de Beaux-Arts.”


De acordo com Marcia, na Grande-Chaumière estudava gente de todas as partes do planeta, em uma convivência rica e cosmopolita: “Obviamente agora a academia não tem mais o glamour de antigamente, quando tinha, entre seus professores, Antoine Bourdelle, Fernand Léger e André Lhote”.


O ateliê do escultor Antoine Bourdelle, um dos grandes mestres da Paris dos anos 1920, foi frequentado pelo modernista ítalo-brasileiro Victor Brecheret. O espaço, na rua que recebe o nome do escultor francês, também em Montparnasse, abrigaria o Museu Bourdelle a partir de 1949.


“Brecheret tinha grande admiração por Bourdelle e com ele trabalhou, não exatamente como aluno, e sim como uma espécie de colega, em cujo ateliê ele praticava. Foi por intermédio dele que Brecheret conheceu Maillol e Bracusi.”


A escritora revela que “toda essa gente muito talentosa provocou nele [Brecheret] uma espécie de trauma logo na sua chegada, em 1921, com uma bolsa de cinco anos do Pensionato Artístico de São Paulo. Em contato com aquelas novas propostas estéticas, ele teve uma verdadeira ‘indigestão artística’, que iria levá-lo a rever a própria produção, confrontada com as experiências desses escultores. Ele escreveu a Mário de Andrade dizendo que sentia que alguma coisa se desfazia dentro dele, e que ele não podia continuar fazendo o que fizera até então, e não podia aceitar uma arte para a qual não se achava suficientemente preparado”.


“Se gostarem, ficarei. Senão, voltarei para minha terra”


Mas não foram só os artistas plásticos ou escritores que fizeram história na Paris dos “anos loucos”. A música brasileira também passa por grandes transformações. E o autor de uma verdadeira revolução da música nacional, inclusive por aproximar o popular e o erudito, morou no n° 11 da Place Saint-Michel: ninguém menos que Heitor Villa-Lobos.


“O maestro e compositor esteve aqui em Paris por duas vezes na década de 1920: de 1923 a 1924 e de 1927 a 1930, sempre hospedado nesse apartamento da Place Saint-Michel, emprestado pelos irmãos Guinle. E, ao contrário dos demais modernistas, que vieram aprender, estudar, ele chegou com um patrocínio do Governo Federal, justamente com o objetivo de representar o Brasil no Velho Continente. Por isso, ao desembarcar, em julho de 1923, declarou que não vinha para estudar, mas para mostrar o que já fazia: ‘Se gostarem, ficarei. Senão, voltarei para minha terra’”, teria dito o maestro, conta Marcia.


Mas além das escolas de arte e da vida cultural intensa da capital francesa nos anos 1920, eram também nos cafés que muito da vida social acontecia. O Boulevard Montparnasse abrigava alguns dos endereços preferidos de alguns modernistas, como o Café La Rotonde, Le Dôme e La Coupole.


“O célebre La Rotonde [...], assim como o Dôme, eram frequentados pelos modernistas mais endinheirados, como Tarsila e Oswald. Ele diria, mais tarde, nas suas memórias, que ali, sem saber, naquele tempo, talvez ele estivesse bebendo ao lado de Picasso ou de Appolinaire. Lá, Anita Malfatti e Brecheret, por exemplo, só se davam ao luxo de jantar quando convidados por Blaise Cendrars, pelo mecenas Paulo Prado ou pelo próprio Oswald. [...] a ‘colônia brasileira’ batia ponto no Gismond, uma pequena cantina italiana no limite extremo de Montparnasse”, explica Marcia.


A presença destes artistas na capital francesa dos anos 1920 foi objeto da sua mais recente pesquisa de pós-doutorado na Sorbonne, “Les modernistes brésiliens à Paris dans les années folles” (Os modernistas brasileiros em Paris nos anos loucos, em tradução livre), e será publicada em breve no Brasil e na França.

Semana de Arte Moderna "sintetiza trocas culturais entre França e Brasil nos anos 1920", diz historiadora


Por: Adriana Brandão / RFI

A Semana de Arte Moderna, cujo centenário é celebrado neste momento, é um marco da história cultural brasileira. Qual foi o eco desse movimento modernista brasileiro na França? Para a historiadora francesa Anais Fléchet, o evento passou a sintetizar “todas as trocas culturais da década de 1920” entre a França e o Brasil.


Anaïs Fléchet é professora da Universidade de Versailles Saint-Quentin em Yvelines. Ela é autora de vários livros e ensaios sobre as relações culturais entre o Brasil e a França, entre eles “Histoire Culturelle du Brésil” (IHEAL, 2019) e “Villa-Lobos à Paris: un echo musical du Brésil” (l’Harmattan, 2004). O músico brasileiro foi um dos vários modernistas que vieram passar uma temporada na capital francesa logo após a realização Semana de Arte Moderna, há cem anos.


O evento paulista buscava romper com os modelos culturais europeus para criar uma cultura genuinamente brasileira. Mas foi paradoxalmente em Paris “umbigo do mundo”, que os modernistas brasileiros “descobriram, deslumbrados, a sua própria terra", segundo a famosa frase de Paulo Prado sobre Oswald de Andrade.


Villa-Lobos não foi exceção e “se descobriu brasileiro e reinventou o nacionalismo musical” em Paris. Anaïs Fléchet explica que as composições que Villa-Lobos apresentou na Semana eram ainda “muito inspiradas em uma estética francesa do início do século 20, muito inspiradas no Debussy. A grade ruptura estética na obra dele aconteceu depois da Semana”.


Entre 1923 e 1930, Villa-Lobos passa duas longas temporadas na capital francesa. “Foi nesse vai e vem entre o Rio de Janeiro e Paris que ele criou uma nova estética muito mais assumida como brasileira. Claro que já tinha elementos disso na produção anterior dele, mas o evento catalisador não foi a Semana de Arte Moderna, mas a chegada em Paris logo depois em 1923”, aponta a historiadora.Vanguardas artísticas

Paris era nos anos 1920 a capital cultural do mundo e das vanguardas. “O movimento modernista se constrói como muito brasileiro, muito paulistano, mas ao mesmo tempo é um movimento que se insere numa história transnacional, global, das vanguardas artísticas. E nesse momento, o lugar onde as pessoas tinham que estar era Paris.”


A historiadora ressalta que outro elemento muito importante na época foi o impacto da Primeira Guerra Mundial. “Os franceses buscavam outras experiências. É como se a civilização francesa, a civilização europeia, tivesse morrido nas trincheiras. Tinha um apelo, uma busca de novos horizontes que se manifestou no primitivismo, por exemplo, que estava muito na moda.” 


Maior visibilidade da cultura brasileira

Os anos 1920 foram um momento importante para a cultura brasileira na França. “Antes da década de 20, a cultura brasileira era muito pouco conhecida na França. O Brasil era frequentemente confundido com a Argentina. Os franceses não sabiam onde ficava o país e sabiam muito menos sobre cultura brasileira. Tinha uma visão muito estereotipada e o modernismo ajudou a mudar essa representação, ao revelar obras de artistas brasileiros que estavam aqui, como Tarsila do Amaral, que trabalhou com Fernand Léger.” Outro artista brasileiro importante que marcou presença em Paris foi Di Cavalcanti.


Anaïs Fléchet aponta que “a visão dos franceses na década de 20 era modelada por um paradigma primitivista. O que interessava os franceses era o outro, era a cultura indígena, as tradições afro-brasileiras, toda essa parte da cultura brasileira que os modernistas revalorizaram. Foi um pouco essa aproximação entre cultura erudita e cultura popular, essa ideia da mestiçagem ou da antropofagia cultural, que atraiu os franceses na época e durante muito tempo depois aliás”.


Para a historiadora, a Semana de Arte Moderna acabou se transformando também em um marco das relações culturais entre a França e o Brasil.


“Não teve repercussão imediata, não foi um marco em 1922, mas com o passar do tempo virou um marco, um lugar de memória. É como se a semana tivesse sintetizado todas as trocas culturais da década de 1920. (...) Um momento importante entre a afirmação do modernismo brasileiro, afirmação de uma arte nacional, brasileira de verdade, e a busca de uma alteridade, de novos horizontes culturais do outro que era muito forte na França daquele período”, conclui Anaïs Fléchet.

França assume presidência rumo a Europa "poderosa" e "soberana"

 

De  Euronews

Treze anos depois, Paris volta a ser o centro da Europa após a França assumir este sábado a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, sucedendo à Eslovénia. O programa de governação francês é ambicioso, demasiado para um mandato de apenas seis meses, dizem os críticos, e aponta a uma Europa "poderosa" e "soberana".


Emmanuel Macron, que tenta assumir-se como a voz da Europa após a saída de cena de Angela Merkel, sublinha que podem contar com o seu "compromisso total para fazer deste momento um momento de progresso para o controlo das fronteiras, a defesa, a transição climática, a igualdade entre mulheres e homens, a construção de uma nova aliança com África, um melhor enquadramento das plataformas da internet e a cultura na Europa."

A presidência rotativa obriga Macron a lutar em várias frentes. Apesar de o chefe de Estado francês continuar a alimentar um tabu em relação a uma candidatura é impossível ignorar as presidenciais francesas marcadas para abril.

Em discurso aos franceses, Macron pede união e diz que 2022 pode ser o ano do fim da pandemia


O tema não poderia ser outro na tradicional mensagem de votos para o Ano Novo. No dia em que a França registrou um novo recorde no número de casos positivos, de Covid o presidente Emmanuel Macron lembrou que as próximas semanas devem ser difícieis para os franceses e voltou a pedir que todos se vacinem. O chefe de Estado não deixou, no entanto, de mostrar otimismo e afirmou que há motivos para ter a esperança de que 2022 seja o último ano da pandemia.

Texto por: Cristiane Capuchinho RFI

Diante do jardim do Palácio do Eliseu, Macron iniciou seus 14 minutos de discurso com uma homenagem às vítimas e aos trabalhadores da pandemia. E fez menção às dificuldades impostas pela nova onda causada pela variante ômicron --232 mil casos registrados nas últimas 24 horas e 1.928 novas internações hospitalares, segundo o ministério da Saúde.


Em seu balanço, o chefe de Estado alertou que as próximas semanas "serão difíceis" no país, com o risco de desorganização dos serviços básicos por falta de trabalhadores, devido ao número de doentes. Macron enfatizou a importância da vacinação, "nossa verdadeira arma", e do uso de máscaras, e disse que havia "verdadeiras razões de ter esperança" e que "2022 pode ser o ano da saída da epidemia".O presidente evocou o alto número de vacinados, mais de 53 milhões em todo o país, e fez um chamado aos que ainda não se imunizaram: "A França toda conta com você".



Um presidente e um candidato? 

A pouco mais de três meses das eleições presidenciais e ainda ser ter anunciado oficialmente sua candidatura à reeleição, Macron usou o discurso televisionado para pedir união e lançar mensagens subliminares ao tom desagregador da campanha feita por alguns dos candidatos, como os representantes da extrema direita Marine Le Pen e Éric Zemmour. 

 Sem fazer referência à eleição, o político reafirmou sua disposição e seu otimismo para os anos que se seguem e assegurou que "continuará a servir aos franceses", pouco importa em que posição ou sob quais circunstâncias. 

 A eleição presidencial acontece nos dias 10 e 24 de abril de 2022, e é seguida por eleições legislativas para escolher a Assembleia Nacional em junho. França na presidência da União Europeia Com a bandeira da União Europeia ao lado da francesa dentro do enquadramento do vídeo, o presidente dedicou alguns minutos para falar sobre a importância do bloco econômico durante a epidemia e para superá-la. 

No sábado (1°), a França assume por seis meses a presidência transitória da União Europeia, substituindo a Eslovênia. Macron prometeu seu "total" compromisso com o cargo e disse que 2022 deve marcar uma mudança de rumo para a Europa. 

 O presidente francês anunciou que trabalhará os temas da proteção das fronteiras, da defesa, das mudanças climáticas, da igualdade de gêneros e da construção de uma nova aliança com o continente africano. 

 Ao final do discurso, além dos clássicos "Viva a República, viva a França", Macron incluiu um viva para a Europa, enquanto a torre Eiffel se iluminava com as cores do bloco econômico.

À frente da União Europeia, Macron pretende banir importação de produtos de área de desmatamento

O presidente Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira (9) os principais objetivos do mandato da França à frente da União Europeia © AFP - LUDOVIC MARIN

Texto por: Cristiane Capuchinho RFI
Às vésperas de assumir a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, em janeiro de 2022, o presidente francês Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira (9) seus objetivos para o mandato de seis meses da França. Entre planos de ampliar a soberania europeia e refundar as regras de fronteira, o chefe do Estado francês afirmou que pretende implementar um instrumento para barrar a importação de produtos originários de áreas de desmatamento, como soja, carne bovina, café e cacau.


O instrumento jurídico teria como objetivo “proibir a importação europeia de soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau e café produzidos em área desmatada”, declarou Macron, durante um longa coletiva de imprensa organizada no Palácio do Eliseu.


O projeto seria avançar para colocar em prática o plano da Comissão Europeia de exigir que empresas que exportem produtos como soja e carne bovina comprovem que suas cadeias de produção não usam áreas desmatadas, anunciado em outubro.Se implementado, o projeto deve afetar o Brasil, que tem na soja e na carne duas de suas principais commodities de exportação. Segundo um levantamento feito pela ONG WWF, a importação europeia de produtos como carne, óleo de palma e soja responde por 17% do desmatamento em áreas tropicais do planeta, entre elas a Amazônia e o cerrado brasileiro.


Uma Europa poderosa diante do mundo

Ao longo de mais de duas horas, Emmanuel Macron apresentou um projeto ambicioso para os seis meses em que a França assume a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, a partir de 1° de janeiro de 2022.


"Se eu tivesse que resumir em uma frase o objetivo desta presidência, eu diria que devemos passar de uma Europa de cooperação dentro de suas fronteiras a uma Europa poderosa diante do mundo, completamente soberana, livre de suas escolhas e dona do seu destino", declarou o presidente francês.


Ainda marcado pela saída do Reino Unido do bloco econômico em um turbulento Brexit, Macron defendeu a importância da união entre os países europeus contra as tendências nacionalistas, e pregou a construção de uma soberania europeia como complemento das soberanias de cada país.


Desde o início de seu mandato, em 2017, Macron assumiu a postura pró-Europa e tem defendido a tomada de decisão dentro do bloco ao longo dos anos. No período, o francês celebrou algumas vitórias ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, como o plano de investimento europeu de retomada da economia pós-Covid no valor de € 750 bilhões.


Há quatro meses da eleição presidencial que pode mantê-lo no poder por mais cinco anos, Macron deve usar a presidência do Conselho da União Europeia para reafirmar sua posição contra os candidatos nacionalistas e de extrema-direita que enfrentará no pleito, ainda que o presidente francês ainda não tenha declarado oficialmente sua candidatura à reeleição. 


Um novo Schengen

Em relação à imigração, o presidente francês defendeu a reforma das regras de fronteira e do pacto Schengen, e fez menção sobre a necessidade de repensar o pacto de migração e asilo para evitar tragédias como a que vitimou em novembro 27 pessoas no Canal da Mancha. 


"Proteger nossas fronteiras é uma condição essencial, tanto para garantir a segurança dos europeus quanto para enfrentar o desafio migratório e evitar as tragédias que temos vivido", explicou o presidente francês.


Ele pretende implementar reuniões regulares dos ministros europeus responsáveis por questões de migração, a fim de poder "reforçar os controles fronteiriços" quando necessário.


Emmanuel Macron também pretende promover a criação de mecanismos de apoio de emergência no caso de uma crise na fronteira de um Estado-membro, como a que acontece entre a Polônia e a Belarus.


O presidente francês também espera "progredir" discussões sobre o Pacto sobre Migração e Asilo, apresentado em setembro de 2020 pela Comissão Europeia, e que pretende harmonizar as regras e evitar os fluxos migratórios dentro do bloco europeu.


(Com informações da AFP)

França abre mercados de Natal em meio à chegada da nova variante sul-africana na Europa

Entrada do mercado de Natal de Estrasburgo, no leste da França, inaugurado nesta sexta-feira, 27 de novembro de 2021. © AP/Jean François Badias

Por: Adriana Moysés RFI

A um mês do Natal, os franceses já estão em clima de festas de fim de ano, apesar da aceleração da quinta onda da pandemia de coronavírus. Os mercados de Natal de rua abriram esta semana em todo o país. 


A cidade de Estrasburgo (leste), que tem a feirinha de presentes e especialidades natalinas mais antiga da Europa, realizada desde 1570, abriu seus 350 chalés ao público nesta sexta-feira, até 26 de dezembro. No programa, a venda de produtos artesanais, como velas e enfeites para a árvore de Natal, vinho quente, chocolates e pão de mel.


Em Paris, o mercado do Jardim das Tulherias, ao lado do museu do Louvre, já recebe visitantes há uma semana, e hoje foram inaugurados os de Montmartre, especializado na degustação de vinhos, e La Defense.


Mas qual é a estratégia do governo francês para combater o aumento de casos da Covid-19, que chegou a 23 mil infectados por dia, na última semana, e ante o aparecimento da nova variante sul-africana do coronavírus? Um primeiro caso da nova cepa foi diagnosticado na Bélgica.

5ª onda da Covid : França estuda liberar dose de reforço para maiores de 40 anos

A quinta onda da epidemia de Covid-19 chegou e a França caminha para um reforço da vacina para maiores de 40 anos, recomendado nesta sexta-feira (19) pelas autoridades sanitárias. JORGE GUERRERO AFP/File

Texto por: RFI

A quinta onda da pandemia de Covid-19 se consolida no continente e a França caminha para um reforço da vacina para todos os maiores de 40 anos, recomendado pelas autoridades de saúde nesta sexta-feira (19). Atualmente, a idade mínima para a terceira dose é de 65 anos, além de pessoas com riscos de desenvolver formas graves da doença.


A eficácia das vacinas contra infecções sintomáticas diminui com o tempo, o que explica em parte a volta da pandemia na França e na Europa.


Para enfrentar o declínio desta eficácia, a Alta Autoridade para a Saúde (HAS) da França recomendou nesta sexta-feira (19) a administração de uma dose de reforço para todos os franceses de mais de 40 anos. O conselho da HAS é geralmente seguido pelo governo francês.


Até agora, a terceira dose só dizia respeito na França a pessoas com mais de 65 anos ou em risco de desenvolver formas graves da doença, como portadores de comorbidades.


O presidente Emmanuel Macron anunciou no início de novembro que a dose de reforço estaria disponível para pessoas de 50 a 64 anos a partir de 1º de dezembro.


Pouco antes da publicação do parecer do HAS nesta sexta-feira, Macron antecipou em linhas gerais a ampliação aos mais jovens: “Não me surpreenderia que estejamos gradativamente caminhando em direção a reforços de vacinas para todos os adultos que foram vacinados", disse ele durante um deslocamento no norte da França.


A convocação sistemática da terceira dose para todos, decidida pela Alemanha e provavelmente em breve pelos Estados Unidos, porém, não é consenso entre todos os cientistas. Alguns argumentam que duas doses ainda são muito eficazes contra formas graves da doença e contra a morte, e que a necessidade urgente é vacinar aqueles que ainda não receberam nenhuma dose.


Na França, isso diz respeito a cerca de 6 milhões de pessoas entre a população elegível (maiores de 12 anos).


Com informações da AFP 

França se despede do último herói da Resistência ao nazismo

 

O presidente Emmanuel Macron deposita coroa de flores no túmulo do soldado desconhecido, localizado no Arco do Triunfo, em Paris. 11/11/2021 REUTERS - POOL

Texto por: RFI

A França comemora nesta quinta-feira, 11 de novembro, o Armistício de 1918 que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. Este ano, a tradicional cerimônia no Arco do Triunfo prestou homenagem ao último combatente francês da Segunda Guerra, Hubert Germain, que faleceu há um mês, aos 101 anos. O corpo deste herói da Resistência repousará no Memorial do Mont Valérien, a oeste de Paris.


"Será que estaríamos aqui sem Hubert Germain?", perguntou o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, durante um discurso proferido no final da manhã sob o Arco do Triunfo. O monumento parisiense acolhe o túmulo em homenagem ao soldado desconhecido, que representa todos aqueles que perderam a vida defendendo a nação francesa.


Germain fez parte de um grupo de 1.038 franceses, entre eles seis mulheres, que receberam o título de "Companheiros da Libertação" por terem atuado para livrar a França da ocupação nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele tinha 19 anos quando ouviu e atendeu ao chamado do general Charles de Gaulle para resistir ao Exército de Hitler. 


Dois anos após o início da guerra, o marechal Philippe Pétain, chefe do governo de Vichy, havia assinado um armistício com as forças nazistas, encerrando a resistência oficial da França. No célébre apelo feito por De Gaulle, em 18 de junho de 1940 pela rádio BBC, em Londres, o general convocou os franceses a não aceitarem a colaboração de Pétin com os nazistas e incentivou os patriotas a darem continuidade aos combates. Germain abandonou os estudos na escola militar que cursava, entregando uma prova em branco, para se juntar a De Gaulle na capital britânica. 


Nesta quinta-feira, em seu discurso no Arco do Triunfo, Macron citou vários nomes dessa confraria heróica, "ilustres e anônimos", que "seguiram o general De Gaulle naquela aventura inacreditável". "O último companheiro já não está entre nós (...) Mas esses 1.038 que se uniram à França não desaparecem" da mémória, afirmou o chefe de Estado.


"Missão cumprida"

No meio da manhã, sob um lindo céu azul, o caixão com o corpo de Germain, que morreu no dia 12 de outubro, deixou o monumento dos Inválidos, onde havia sido exposto na véspera, para seguir em direção à avenida Champs-Elysées e ao Arco do Triunfo. 


A urna, coberta com a bandeira tricolor francesa, foi transportada por um tanque de guerra AMX-10, adaptado para a circunstância com a inscrição da batalha de Bir Hakeim, uma das inúmeras ocasiões em que Germain defendeu a liberdade de seu país. 


No meio do caminho, atendendo a um pedido feito pelo combatente antes de morrer, o tanque com o caixão parou em frente à estátua de De Gaulle para uma última continência. O combatente havia deixado escrito o que desejava dizer: "Missão terrestre cumprida, meu general". 


No início da tarde, o corpo de Germain foi transportado para o Memorial da Segunda Guerra, em Suresnes (a oeste de Paris), onde foi sepultado. Em junho de 1960, ao inaugurar este monumento, Charles de Gaulle expressou que a cripta de número 9 fosse reservada para o último dos membros da Ordem da Libertação, que ele tinha criado para "recompensar as pessoas ou as comunidades militares e civis que tenham se destacado na obra de liberação da França e de seu império".


Kamala Harris: "longa história compartilhada"

Em visita à França, a vice-presidente americana, Kamala Harris, participou da cerimônia no Arco do Triunfo. Ela disse que era "importante" estar presente nas comemorações do Armistício de 1918 porque Estados Unidos e França têm "uma longa história compartilhada". 


Na véspera, Kamala e seu marido, Doug Emhoff, estiveram no cemitério militar americano de Suresnes, onde 1.565 soldados estão enterrados, ao lado do memorial francês da Segunda Guerra. Para a Casa Branca, o local simboliza os "valores comuns" dos dois países. 


O presidente francês, assim como ministros e personalidades que participaram da cerimônia no Arco do Triunfo, exibia uma flor azul (Bleuet de France) na lapela de seu casaco. Macron anunciou que a Ordem da Libertação, criada em novembro de 1940, "viverá" após o desaparecimento do último membro da resistência, para que continue "uma fonte eterna de inspiração aos filhos da França, sempre unidos".


A líder de extrema direita Marine Le Pen, candidata à eleição presidencial de 2022, esperava comparecer ao tributo a Germain nesta quinta-feira. No entanto, o Palácio do Eliseu se opôs à proposta, já que nenhum parlamentar ou líder partidário foi convidado. A socialista Anne Hidalgo, que também é candidata à sucessão de Macron, participou das comemorações como prefeita da capital.


Com informações da AFP

França: relatório sobre pedofilia domina assembleia episcopal em Lourdes

 

Os números do relatório Sauvé são assustadores. Cerca de 216 mil pessoas foram vítimas de violência ou agressão sexual quando crianças ou adolescentes por clérigos ou religiosos e religiosas desde 1950. REUTERS/Jason Cohn


Texto por: 
RFI

Quatro semanas após a apresentação do relatório sobre os crimes de pedofilia da Igreja Católica na França, o encontro anual dos bispos do país, que será realizado a partir desta terça-feira (2) em Lourdes, será marcado pela onda de revelações dos crimes. Os cerca de 120 bispos que estarão reunidos durante sete dias dedicarão quase metade do seu trabalho "à luta contra a violência e as agressões sexuais contra menores", de acordo com o programa divulgado à imprensa.A assembleia, inicialmente prevista para seis dias, terá um evento de abertura voltado para o tema. Jean-Marc Sauvé, presidente da Comissão de Pedocriminalidade que publicou o relatório que leva seu nome, não foi convidado.


Os bispos têm por objetivo “dar oportunidade à recepção, ao trabalho e à leitura” do relatório publicado em 5 de outubro, e que revelou a extensão dos crimes de pedofilia na Igreja Católica desde 1950.


Os números são assustadores: cerca de 216 mil pessoas foram vítimas de violência ou agressão sexual quando crianças ou adolescentes por clérigos (padres ou diáconos) ou religiosos e religiosas, desde os anos 50. O relatório estima um número de cerca de 3 mil predadores envolvidos ao longo de 70 anos.




Resposta insatisfatória


A reação do episcopado é aguardada pelos católicos . Cerca de 76% deles acreditam que a resposta dada até agora não é satisfatória, de acordo com uma pesquisa Ifop para o jornal La Croix, publicada nesta quinta-feira (28).


As vítimas serão convidadas a falar em plenário na sexta-feira (5), com membros da Conferência de Religiosos e Religiosos da França (Corref), leigos e clérigos que participaram de grupos de trabalho, membros de células de escuta e responsáveis ​​pela educação católica.


Na manhã de sábado (6), um "gesto memorial" simbólico está previsto em respeito às vítimas. Paralelamente, será organizado um encontro de coletivos de vítimas, na cidade de Lourdes e em Paris, em frente à sede da Conferência Episcopal, com uma fita roxa simbolizando o apelo ao reconhecimento da responsabilidade da Igreja, à reparação e a um programa de reforma.


Para François Devaux, cofundador da associação La Parole Libérée, é  fundamental que os bispos pronunciem no dia 7 de novembro o "reconhecimento da responsabilidade da Igreja e iniciem um processo de reparação".


Responsabilidade civil da Igreja


As questões envolvendo a "responsabilidade" e o dispositivo financeiro que permitirá pagar, no futuro, uma indenização às vítimas, serão estudadas durante esta semana entre "as prioridades" deste encontro, ainda de acordo com o episcopado. Depois de uma semana de trabalho, muitos assuntos de conteúdo ainda desconhecidos serão colocados para votação dos bispos no encerramento, em 8 de novembro.


Entre as 45 recomendações do relatório, a Comissão Sauvé propôs reconhecer a responsabilidade civil e social da Igreja, "independentemente de qualquer culpa pessoal dos seus dirigentes". Também recomendou individualizar o cálculo da indenização para cada cada vítima de acordo com o “dano sofrido”. Para financiar o fundo de indenização, a comissão rejeita a possibilidade de um apelo a doações por parte dos fiéis, recomendando financiar a indenização paga às vítimas "com o patrimônio dos agressores e da Igreja da França".


Esta última recomendação contradiz as intenções do episcopado francês, que anunciou, em março, o pagamento às vítimas, a partir de 2022, de uma "contribuição financeira", mas que não pode ser considerada como uma “indenização”. Além disso, foi anunciado um fundo que pode ser comparado às “doações de bispos, padres, fiéis e qualquer pessoa que deseje participar". Os estatutos deste fundo foram "apresentados" nos últimos meses, asseguram os bispos que começaram a contribuir.


(Com informações da AFP)

Com apenas 3 gols em 2021, jornal francês diz que "Neymar se apagou" no PSG e ninguém sabe como religá-lo

 

Neymar (à direita) e Lionel Messi durante duelo entre PSG e Olympique de Marseille, pelo Campeonato Francês, em 24 de outubro de 2021. CHRISTOPHE SIMON AFP/Archives


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RFI  ⌚2 min

Neymar continua ocupando as manchetes dos jornais franceses nesta sexta-feira (29). Mas não por um bom motivo: a queda na performance do brasileiro preocupa os jornalistas esportivos e os torcedores do Paris Saint-Germain. A reportagem do jornal Le Parisien dedica duas páginas a Neymar. 

Para o diário, atualmente, o atacante não passa de uma sombra dele mesmo. Prova disso são as estatísticas: apenas três gols em 2021 pelo PSG, fora os pênaltis. 

Le Parisien lembra que no último domingo, quando o PSG enfrentou o Olympique de Marseille pelo Campeonato Francês, Neymar sofreu apenas uma falta. "Isso mostra que o brasileiro não faz mais nenhuma diferença, não elimina ninguém, foge das zonas de perigo e, consequentemente, não se arrisca em nenhum duelo", diz a matéria.

Segundo Le Parisien, há uma grande preocupação sobre o que acontece com Neymar e sua performance ruim nos campos inspira tristeza. "O número 10 que encantou os amantes do futebol nesses últimos oito anos na Europa, primeiro no Barcelona, depois no PSG, se apagou e ninguém mais sabe onde está seu interruptor", reitera. 

Contrato até 2025

O jornal questiona até mesmo se valeu a pena para o PSG ter renovado o contrato com o jogador até 2025, quando Neymar terá 34 anos. Em maio, quando o atacante assinou o compromisso, a notícia foi comemorada. No entanto, a matéria lembra que o brasileiro não tinha mais nenhuma outra oferta de qualquer clube, "outro sinal da queda de seu potencial atrativo". Além disso, o salário astronômico de Neymar - cerca de € 35 milhões por ano - e seu comportamento festeiro levaram os grandes clubes a perceber que o craque não é mais um bom negócio, diz Le Parisien. 

O diário também salienta que a diretoria do PSG considera exageradas as críticas sobre o atleta. Segundo a matéria, o clube prefere se apoiar na ideia de que Neymar é um ícone mundial e que ele mantém ainda certa popularidade tanto na França como no Brasil. 

Mas Le Parisien questiona se será possível ver o futebol mágico do craque novamente. A matéria cogita se a degradação em campo do brasileiro tem a ver com seu estilo de vida e seu cotidiano de festas, coisa que o próprio jogador já disse em entrevistas que não pretende mudar.

Para o jornal, Neymar não tem mais a mesma forma física de sua juventude e esse tipo de decisão pode impedi-lo de voltar a brilhar nos gramados. 

Pandemia: 40% dos franceses não voltaram a frequentar espaços culturais mesmo com reabertura

O presidente francês Emmanuel Macron e a ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot, visitam a exposição 'Coleção Morozov, Ícones da Arte Moderna' na Fundação Louis Vuitton em Paris, França, 21 de setembro de 2021. REUTERS - POOL

Texto por: RFI
Quase 40% dos franceses não voltaram a frequentar locais de cultura durante a reabertura no verão do Hemisfério Norte, de acordo com uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura da França para avaliar o impacto da crise sanitária nos programas e estruturas culturais.


Os resultados do relatório, realizado pelo instituto Harris Interactive e publicado nesta quarta-feira (27), demonstram uma tendência que confirma a grande crise no setor cultural francês. A pesquisa foi realizada entre 31 de agosto e 3 de setembro de 2021, antes mesmo da reabertura cultural.


"Foi em um momento em que a quarta onda da Covid-19 ainda estava muito presente na mente das pessoas e, portanto, no comportamento; não sabíamos se o início do ano letivo ocorreria em condições normais", disse Arnaud Roffignon, vice-diretor do instituto.


Entre os 88% dos franceses que foram a um local cultural em um ano "normal" [sem pandemia], 61% disseram ter retornado pelo menos uma vez a estruturas culturais desde a introdução do passaporte sanitário em 21 de julho, e 39% nunca mais voltaram a frequentar programas culturais.


Em detalhes, apenas 25% dos franceses assistiram a uma apresentação ao vivo (música, teatro, dança ou circo), 31% visitaram uma exposição ou museu, e apenas 41% deles retornaram aos cinemas.


Nos próximos meses, 30% dos entrevistados afirmaram que sua frequência em locais culturais provavelmente seria menor do que antes da pandemia, de acordo com a pesquisa realizada numa amostra de 3.025 franceses com 18 anos ou mais.


Medo de pegar ou transmitir covid

Outros impactos da crise sanitária na Cultura na França: 54% dos entrevistados disseram que ainda temem lugares movimentados pelo risco de pegar ou transmitir Covid, enquanto 46% se acostumaram a usar os meios digitais para acessar conteúdos culturais (filmes, exposições, shows etc.).


Quanto ao passaporte sanitário, 25% dos entrevistados indicaram que este seria um potencial obstáculo para um retorno às atividades culturais. Um segundo estudo será realizado em dezembro.


Roffignon indicou que atualmente, "estamos a par de uma certa atitude com tendência a esperar para ver, sem que isso se configure como uma tendência geral".


O diretor da Ópera de Paris, Alexander Neef, disse recentemente ao site do Forum Opera que as assinaturas de fidelização desta prestigiosa instituição caíram 45%.


A ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot, havia evocado há uma semana uma situação "contrastada ou indiferente", ao "afirmar que uma recuperação "começou".

(Com informações da AFP)

Metaverso: as implicações legais e econômicas que irão reger mundo paralelo digital

Texto por: RFI   ⌚7 min


 Mundos virtuais mais ou menos absolutos são velhos sonhos da ciência digital e alguns já vêm se tornando realidade, com destaque para aqueles idealizados pelo Gafam, sigla que identifica os cinco gigantes da web, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft, sonhos considerados tão desproporcionais quanto irreais. Do mesmo tamanho são as questões econômicas, jurídicas e ambientais resultantes desse sonho, antes que o brinquedo se torne um pesadelo virtual, segundo especialistas ouvidos pela RFI.


Na segunda-feira (18), o Facebook anunciou a criação de 10.000 empregos na Europa para os próximos cinco anos. Mais de 10.000 mãos para uma empresa que tinha pouco menos de 60 mil no final de 2020. O objetivo? Ajudar a empresa de Mark Zuckerberg a realizar a realização de seu metaverso, um universo digital virtual paralelo ao nosso.


O metaverso é um sonho cujos contornos são difíceis de definir: o conceito, nascido da ficção científica, inspirou muitos projetos de videogame e mídias sociais, tornando difícil isolar uma única definição para esse termo.


Metaversos mais ou menos desenvolvidos

Daí o interesse em distinguir claramente os diferentes tipos de metaverso. A palavra é a contração francesa de metauniverso ("metaverse", em francês), para "além do universo". De todo jeito, os mundos metaversos não estão em nosso universo físico tangível. Ir para [o parque de atrações medieval francês] Puy-du-Fou não pode ser considerado entrar em um metaverso: você pode ter a impressão de estar em um universo medieval paralelo, é claro, mas este último permanece físico, regido pelas leis da gravitação, durante o tempo em que se desenrola.


O metaverso é todo desenvolvido no universo digital e o código do computador determina o que pode ser feito lá. O ser humano interage com esses mundos por meio de uma interface, uma tela, um fone de ouvido de realidade virtual, direcionando um avatar, um “boneco de pixel”, para usar a expressão consagrada pelo psiquiatra Serge Tisseron.


François-Gabriel Roussel, especialista em Ciências da Informação e da Comunicação, define o metaverso como “mundos virtuais, digitais, persistentes” que "abrem o campo de possibilidades e nisso são mundos de poder, são virtuais com uma impressão no real".


Como no Second Life, um dos primeiros metaversos de videogame, que conduzem seus avatares em outro mundo, podendo interagir com avatares de pessoas do outro lado do planeta e, portanto, desenvolver, através dessa interação, uma influência no mundo real.


Os metaverso também são comparáveis ao open-world, aqueles videogames nos quais o personagem que você está comandando pode se mover em espaços muito grandes, e o nível de interação com outros indivíduos reais é maior. Em Fortnite, o famoso videogame que faz sucesso entre adolescentes, existe uma espécie de metaverso desde 2020, onde os jogadores podem bater um papo, assistir a trailers ou até mesmo assistir jutnos a shows de avatares de artistas, como os da cantora norte-americana Ariana Grande, ou do rapper Travis Scott.


Mas o Fortnite só leva a fama de metaverso, segundo Caroline Laverdet, advogada da Ordem dos Advogados de Paris e especialista em direito dos mundos virtuais. “Fortnite tem uma dimensão lúdica, com uma moldura roteirizada. Existem trocas entre avatares, mas uma estrutura definida pelo editor limita as possibilidades. No Second Life, há 15 anos, havia uma liberdade real, um espaço criado por milhões de usuários ”, afirma a advogada.


Os chamados metaversos também são persistentes, pois continuam a funcionar mesmo depois que o usuário faz logout.


Os metaversos do Gafam, o "Eldorado" da imersão total

Mas o “Metaverso”, com M maiúsculo, descreve um tipo específico de dispositivo. Trata-se daquele sonhado pelas grandes empresas digitais, e imaginada pelos maiores pensadores da ficção científica. Ele difere dos outros por seu grau de imersão e substituição da realidade. O objetivo é estender a realidade ao espaço digital: mas, até agora, o metaverso ainda não tinha tido um impacto fundamental no funcionamento das sociedades.


Em teoria, seria possível em um metaverso criar um negócio que produza valor, prestar serviços, festejar junto com pessoas, filosofar em torno de um incêndio com amigos virtuais... Mas também voar, lutar contra Godzilla ou embarcar em um navio pirata.


“No geral, nesses universos, podemos tanto replicar experiências que existem no mundo real, virtualizadas, quanto nos libertar de seus limites físicos terrenos para imaginar outros tipos de experiências. Eta será a vontade dos desenvolvedores ”, explica Julien Pillot, especialista em estratégias dos gigantes digitais à RFI. Tudo graças a capacetes de realidade virtual e, no futuro, todos os outros aparelhos que irão reproduzir os cinco sentidos, do olfato ao tato.


Qual é o interesse do Gafam (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft) ou do BATX, seus alteregos asiáticos (Baidu, Alibaba, Tencent e Xiaomi) em embarcar na corrida do Metaverso? Encontrar novos pontos de venda para um mercado que eles dominam, segundo explicam especialistas.


O Facebook, por exemplo, espera aumentar o faturamento de sua subsidiária Oculus. “Há um duplo interesse em que o Facebook seja um pioneiro desse metaverso: por um lado, porque faz parte de seu DNA conectar pessoas; por outro lado, porque a chave para acessar o metaverso certamente serão os capacetes de realidade virtual, e o Facebook passa então a ser um grande fornecedor desse material", continua Pillot.


Mais controle sobre a vida e o comportamento das pessoas?

Frédéric Bordages, especialista digital independente e chefe do coletivo Green IT, em vez disso, vê um controle adicional sobre nossas vidas. “O desafio para os Gafams é obter ainda mais receita, tentando mobilizar mais tempo útil do nosso cérebro. Essas empresas fazem isso adicionando finalidades que não existiam antes. O metaverso vai competir com a televisão e vai absorver outras horas de lazer dedicadas à leitura, apenas para a interação com outras pessoas”, lamenta.


Por enquanto, o metaverso continua sendo apenas uma possibilidade de ouro: criar um espaço digital real onde bilhões de avatares podem interagir com seus ambientes, onde o mundo é suficientemente palpável, perfumado e vivo para torná-lo crível, é um feito tecnológico ainda distante, e irrealista.


Que leis para reger o metaverso?

Os metaversos serão um espaço digital legislado como qualquer outro? Caroline Laverdet considera que a lei se aplicaria perfeitamente a eles: “Só porque você está em um mundo virtual não significa que a lei não se aplique. É verdade que alguns usuários, por estarem atrás de um avatar em um mundo virtual, esquecem que a lei é algo a que também estão sujeitos", lembra a advogada.


A especialista em direito em mundos virtuais também admite que o legislador ainda tem que cobrir algumas falhas na malha legislativa. “Em primeiro lugar, existe o problema internacional, nem todos os países têm as mesmas regras no que diz respeito à lei da Internet. Então, quando você quiser vestir um avatar, pode querer recriar marcas, fazer falsificações, portanto problemas em termos de propriedade intelectual. Também pode haver questões em termos de direito do trabalho, direito penal... Pretende-se que haja vários campos, e a reflexão sobre este assunto é particularmente estimulante", afirma.


Por exemplo, a questão da "herança virtual". "No Facebook, medidas estão sendo tomadas em caso de morte de um usuário. E quanto ao Metaverso? Quem herda se um empreendedor virtual morrer enquanto coleta milhares de moedas virtuais, conversíveis em dinheiro real? O editor? O cônjuge do empresário? E se seu avatar levava uma vida dupla, qual cônjuge é o principal?", contemporiza.


No lado político, no entanto, Frédéric Bordages não tem a impressão de que as autoridades internacionais tenham se dado conta das questões ambientais e legislativas que um metaverso representa. “Trata-se de um termo que o corpo político não conhece. Isso é muito novo e, como os políticos franceses e europeus estão muito ligados às questões mais tradicionais da estrutura digital, a noção de realidade virtual ainda não está no radar dos tomadores de decisões políticas", lamenta.


Os projetos do metaverso vão superar, de longe, os atuais universos digitais de videogame. Embora ainda não sejam reais, já possuem questões econômicas e ambientais, e também questões de soberania dos Estados, que devem acompanhar o assunto de perto para não legislarem tardiamente, como foi o caso das redes sociais.

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