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Francisco: Bispo Angelelli, não um herói, mas um mártir e um presente para a Igreja

Publicamos o prefácio do Papa no livro “Enrique Ángel Angelelli. À escuta de Deus e do povo”, que será lançado em 12 de fevereiro. Publicado pela Livraria Editora Vaticana (LEV), o volume reúne as homilias de 1968 a 1976 do bispo argentino que foi assassinado por seu compromisso com os oprimidos e beatificado em 2019.



O bispo argentino Enrique Ángel Angelelli 

Francisco

“Cada homem, cada mulher, cada cristão: todos somos um dom do Senhor, um dom muito precioso. Cada um de nós é um dom para todos e para toda a Igreja, que se encarna em um contexto específico, em um tempo e lugar bem precisos. Somos dons concretos para pessoas concretas; deste modo, somos também um dom para todos, na simplicidade da vida que vivemos. Com efeito, quanto mais crescemos na amizade com o Senhor e com os outros, mais os rigores, rigidez e incompatibilidades se atenuam ou, ainda melhor, deixam de ser um obstáculo à comunhão, tornando-se, paradoxalmente, o nosso modo único e irrepetível de viver, a cor específica do dom que somos para os outros. Logo, todos nós somos dons. No entanto, a Igreja reconhece nos santos pessoas que são dons de forma um pouco mais ampla, isto é, universal. Por isso, são canonizados, para que a sua existência e amizade possam chegar até às pessoas, lugares, contextos e tempos, que não são mais próximos deles. De fato, os santos são irmãos tão parecidos com Jesus, que até podem se tornar pontos de referência seguros (com o exemplo, ensino, amizade e devoção) para cada filho de Deus.


A capa do livro da LEV

Assim, todos nós estaremos mais unidos ao Pai e aos nossos irmãos, mais parecidos com Jesus, mais unidos entre nós como irmãos e irmãs. O Beato mártir Enrique Angelelli, bispo de La Rioja, foi e ainda é um dom do Senhor para a Igreja na Argentina; foi um homem de grande liberdade e grande amor por cada pessoa: amigo ou adversário, irmão ou inimigo; foi um bispo realmente católico, porque esteve unido à Igreja universal, na escuta e obediência filial ao Papa e no seu firme compromisso de atuar, em sua diocese, as indicações e os impulsos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Foi muito lindo, por exemplo, - diria até comovente - o modo com o qual comunicava ao seu povo o encontro que tinha tido com Paulo VI, por ocasião da Visita ad limina Apostolorum; com o mesmo entusiasmo, transmitia também aos fiéis o resultado do seu encontro e as mensagens e cartas recebidas de Roma. Ao mesmo tempo, apesar dos perigos e das crescentes hostilidades, por parte dos seus adversários, apesar do medo e das ameaças, ele cumpriu o mandato de ser pastor de um rebanho da Igreja: um rebanho, no entanto, que não era destinado a ficar fechado na sacristia, mas a difundir o amor de Deus, recebido e celebrado nos sacramentos, na vida diária do trabalho, da família, das associações e da solidariedade. Não acho que Angelelli tenha sido um herói, mas um verdadeiro mártir (assim como a Igreja o reconheceu).


Um mártir testemunha que, se o coração e a mente estiverem em Deus, então sempre surgem nele certas atitudes: o amor sincero para com todos e a rejeição de toda instrumentalização e pretextos, para o próprio interesse ou para uma vida tranquila, se em jogo estiverem os direitos e a vida dos mais fracos, marginalizados e dos que – como dizemos hoje – vivem nas periferias. Por isso, Dom Angelelli e as suas homilias, coletadas neste volume intitulado “À escuta de Deus e do Povo”, podem ser também fonte de inspiração e crescimento no discernimento evangélico dos desafios e situações, que cada um de nós é chamado a viver na Igreja e na vida profissional e familiar. Dom Enrique também foi um pastor dos simples: valorizou a piedade popular (ligada aos lugares, tempos e festas da sua terra e do seu povo), para favorecer a adesão do povo – na unidade e solidariedade – a Cristo e à Mãe Igreja. A sua pregação era bem popular – como lemos neste volume –, dirigida a todos e acessível a todos: era ligada também às circunstâncias concretas da vida social, com o intuito de demonstrar que o Evangelho não é uma ideia e a fé não é uma crença. A fé em Cristo, de fato, é a aceitação de uma relação que muda os nossos corações, as nossas mentes e o modo com que olhamos a nós mesmos e os outros. O Evangelho faz-nos olhar (desculpem o trocadilho e o forçamento linguístico) e olhados, olhar com amor.

O Papa: "lepra da alma", uma doença que nos torna insensíveis ao amor

Francisco presidiu a missa de canonização da primeira santa argentina, Mama Antula, com milhares de fiéis vindos de seu país e também o presidente Milei. Na homilia, convidou a redescobrir "a alegria de nos doar aos outros, sem medo nem preconceito, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão".


Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco presidiu a missa de canonização de Maria Antónia de San José de Paz e Figueroa, mais conhecida como Mama Antula, na Basílica de São Pedro, na manhã deste domingo, 11 de fevereiro, Dia Mundial do Enfermo.  A primeira Leitura e o Evangelho deste domingo "falam da lepra, uma doença que causa a progressiva destruição física da pessoa e que muitas vezes, infelizmente, ainda está hoje associada em certos lugares com atitudes de marginalização". "Lepra e marginalização são dois males de que Jesus quer libertar o homem que encontra no Evangelho", disse Francisco em sua homilia.


"Aquele leproso é obrigado a viver fora da cidade. Fragilizado pela doença, em vez de receber ajuda dos seus concidadãos, é abandonado a si mesmo, acabando duplamente ferido pelo afastamento e a rejeição", sublinhou o Pontífice. As pessoas mantinham distância dele, pois tinham medo de serem contagiadas e ficarem como ele. Mantinham distância também por preconceito, pois pensavam que fosse "um castigo de Deus por alguma falta que ele cometeu, e também por uma falsa religiosidade, porque pensavam que tocar um morto tornava a pessoa impura, e os leprosos eram pessoas cuja carne lhe «morria no corpo». Trata-se de uma religiosidade distorcida, que levanta barreiras e mina a piedade", disse ainda o Papa.


«Lepras da alma»

"Medo, preconceito e falsa religiosidade: aqui estão três causas de uma grande injustiça, três «lepras da alma» que fazem sofrer uma pessoa frágil, descartando-a como qualquer desperdício", disse ainda o Papa, acrescentando que "não se trata de coisas só do passado".


“Quantas pessoas sofredoras encontramos nos passeios das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão. Esses medos continuam ferindo essas pessoas ainda mais! Também no nosso tempo há tanta marginalização, há barreiras a serem derrubadas, «lepras» a serem curadas.”


"Mas como?", perguntou Francisco, indicando como resposta dois gestos que faz Jesus: tocar e curar.


Jesus sente compaixão daquele homem, para, estende a mão e o toca.


O Senhor poderia evitar de tocar naquela pessoa; bastava «curá-la à distância». "Mas Cristo não pensa assim; o seu caminho é o do amor, que o faz aproximar de quem sofre, entrar em contato, tocar as suas feridas. A proximidade de Deus. Jesus está próximo, Deus está próximo. O nosso Deus, queridos irmãos e irmãs, não se manteve distante no céu, mas em Jesus fez-se homem para tocar a nossa pobreza. E perante a «lepra» mais grave, que é o pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora das muralhas da cidade, rejeitado como um pecador, como um leproso, para tocar a fundo a nossa realidade humana. Um santo escreveu: «Ele se tornou leproso por nós»", sublinhou Francisco.

Veja o vídeo breve da missa

 

 O Papa convidou a tomar cuidado com a «lepra da alma».


“Uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do egoísmo, preconceito, indiferença e intolerância.”


"Tenhamos cuidado", advertiu ele, "também porque, como acontece na fase inicial da doença com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não se tomar medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora".


Deixar-se tocar por Jesus na oração e na adoração

"Diante desse risco, da possibilidade dessa doença em nossa alma, qual é a cura?", perguntou o Pontífice. A resposta se encontra no segundo gesto de Jesus: curar. "De fato, aquele seu «tocar» não indica apenas proximidade, mas é o início da cura. A proximidade é o estilo de Deus: Deus é sempre próximo, compassivo e terno. Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. Estamos abertos a isso? Pois é deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos intimamente, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na adoração, se Lhe permitirmos agir em nós através da sua Palavra e dos Sacramentos, o seu contato muda-nos realmente, cura-nos do pecado, liberta-nos de fechamentos, transforma-nos para além daquilo que podemos fazer sozinhos, com os nossos esforços", disse ainda o Papa.


“As nossas partes feridas, as do coração e da alma, as doenças da alma devem ser levadas a Jesus. É isto que faz a oração; não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, e os medos.”  "Eu deixo Jesus tocar as minhas «lepras», para que me cure?", perguntou o Papa. "   Ao «toque» de Jesus", respondeu Francisco, "retorna a beleza que possuímos, a beleza que somos; a beleza de ser amados por Cristo, redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos e sem preconceitos, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer cálculo e conveniência". Vive-se a cada dia a "caridade sem alarde: na família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, no escritório e no mercado; a caridade que não busca publicidade nem precisa de aplausos, porque ao amor basta o amor".


"Proximidade e discrição", é o que Jesus nos pede, e "se nos deixarmos tocar por Ele, também nós, com a força do seu Espírito, poderemos tornar-nos testemunhas do amor que salva", como nos ensinou Santa Maria Antónia de San José, conhecida como «Mamã Antula».


“Ela foi uma viajante do Espírito. Percorreu milhares de quilômetros a pé, por desertos e estradas perigosas, para levar Deus. Hoje, ela é um modelo de fervor e audácia apostólica para nós. Quando os jesuítas foram expulsos, o Espírito acendeu nela uma chama missionária baseada na confiança na providência e na perseverança.”


Ela invocou a intercessão de São José e, para não cansá-lo muito, também a de São Caetano Thiène. Por essa razão, introduziu a devoção a este último, e sua primeira imagem chegou a Buenos Aires no século XVIII. Graças a Mama Antula, esse santo, intercessor da Divina Providência, entrou nas casas, nos bairros, nos meios de transporte, nas lojas, nas fábricas e nos corações, para oferecer uma vida digna por meio do trabalho, da justiça, do pão de cada dia, na mesa dos pobres. Peçamos hoje a Maria Antónia, Santa Maria Antónia de Paz de San José, para que ela nos ajude muito.


"Que o Senhor abençoe a todos nós", concluiu o Papa.

Tribunal Eclesiástico Gaúcho promove novo curso de Pós-Graduação

A proposta desse Curso de pós-graduação vem ao encontro da crescente demanda de servidores devidamente preparados para atuarem de forma competente e tempestiva junto aos Tribunais Eclesiásticos das dioceses brasileiras. Visa proporcionar a graduados em Teologia e Direito uma formação básica para atuarem como notários, advogados, promotores de justiça, defensores do vínculo e juízes de Tribunais Eclesiásticos.



Vitral na Igreja Nossa Senhora das Graças em Maputo. (Reuters/Siphiwe Sibeko) 

Pe. Gerson Schmidt*


O Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Porto Alegre promove um novo curso, on-line, de Pós-graduação em Processo Matrimonial Canônico – Turma 2024, com duração de 360 horas-aula (19 meses), 100% REMOTAS, por meio da PLATAFORMA ZOOM. O público-alvo são Graduados em Teologia e/ou Direito e atuais ou futuros servidores dos Tribunais Eclesiásticos. O início das aulas será agora em março/2024.

Este curso é proposto e coordenado pelo Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Porto Alegre, por Dr. Pe. Carlos José Monteiro Steffen e Dr. Pe. Maikel Herold e oferecido pelo Instituto de Educação, Cultura e Humanidades – INSECH. O INSECH nasceu a partir de uma longa experiência de docência nas diversas instâncias do Ensino Superior: extensão, graduação e sobretudo pós-graduação Lato Sensu. De matriz humanística Cristã Católica, o INSECH procura estabelecer pontes que favoreçam a interação do Campo Acadêmico com os cidadãos que buscam adquirir novos conhecimentos e aperfeiçoar sua formação.


A programação do curso


A proposta desse Curso de pós-graduação vem ao encontro da crescente demanda de servidores devidamente preparados para atuarem de forma competente e tempestiva junto aos Tribunais Eclesiásticos das dioceses brasileiras. Visa proporcionar a graduados em Teologia e Direito uma formação básica para atuarem como notários, advogados, promotores de justiça, defensores do vínculo e juízes de Tribunais Eclesiásticos.


O Papa Bento XVI, em sua Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum Caritatis, nº 29, em vista das prementes necessidades advindas da pastoral matrimonial, alerta para a necessidade, em cada diocese, de um número suficiente de pessoas devidamente preparadas a fim de garantir o caráter pastoral e uma atividade correta e pressurosa dos Tribunais Eclesiásticos.

A crescente demanda de processos de declaração de nulidade de Matrimônio, unida à necessidade das dioceses brasileiras de agilizarem tais processos, geram uma dupla demanda: capacitar melhor os servidores que já atuam nesses Tribunais Eclesiásticos e preparar novos colaboradores a serem contratados para os diversos ofícios desses mesmos Tribunais necessários para o encaminhamento de um processo de nulidade matrimonial.

Informações maiores e inscrições pelo link arquipoa.com/pgpmc ou pelo fone (51) 9929-3100 – Pe. Maikel (somente mensagens de WhatsApp).

*Pe. Gerson Schmidt – Jornalista colaborador
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