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Cuidado com os cookies e as curtidas na internet, alerta revista francesa

A coleta de informações pessoais nas redes sociais é tema de reportagem da revista semanal francesa Challenges. AP - Karl-Josef Hildenbrand


Por: Adriana Moysés RFI

Na era do big data, o recolhimento de informações deixadas pelos internautas na web é um negócio bilionário. Manter a privacidade está cada vez mais difícil, apesar das legislações de proteção adotadas no Brasil ou na União Europeia. Nesta semana, a revista francesa Challenges publica uma reportagem sobre o tema e dá algumas dicas para as pessoas protegerem seus dados pessoais.As marcas descobriram a riqueza das pegadas que os consumidores deixam registradas nas redes sociais e nos sites que visitam. Empresas se especializaram na coleta dessas informações, apesar da transferência de dados para outras companhias ser punida pelo Código Penal francês, se não houver autorização expressa do usuário. Mas há buracos na legislação. 


Uma pesquisa publicada em junho e realizada pela consultoria Arlington para a Kaspersky, empresa especialista em segurança de sistemas de informação, mostrou que 87% dos internautas franceses concordam em compartilhar seus dados com os gigantes da web. "Seis em cada dez até dizem sim a todos os cookies, quando navegam em um novo site", relata a Challenges. 


No entanto, quando questionados se não temem as consequências do compartilhamento de informações, apenas 40% afirmam ter confiança no Facebook e na Amazon, e só 24% acreditam que o americano Mark Zuckerberg respeitará a confidencialidade dos dados pessoais de seus clientes. A maioria dos franceses continua a utilizar alegremente os serviços do Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagram, Snapchat, TikTok ou Clubhouse, apesar das críticas que são feitas à forma como essas empresas ganham dinheiro explorando o perfil de cada um. 


A aspiração de dados para entender o comportamento dos usuários de uma determinada faixa etária, uma cidade ou a opinião que eles compartilham sobre uma marca é muito comum, observa a Challenges. Cuidado com os cookies e as curtidas, adverte, no entanto, a revista. 


Mina de ouro

"Um único perfil pode conter até 30.000 pontos de dados, e é mais eficiente do que um psicanalista para conhecer alguém", explica Laurane Raimondo, especialista do Centro de Segurança e Defesa de Lyon. "Os rastros que deixamos na maneira como utilizamos os cookies, as curtidas, os metadados de fotografias ou os anúncios publicitários que consultamos se tornam uma mina de ouro", afirma. Geralmente, um usuário da internet só pensa em proteger seus dados bancários, mas esquece de ocultar informações sobre a saúde. 


"No Instagram, cada vez mais posts se referem ao drama de um familiar com câncer ou mostram um estudante que acabou de comprar uma motocicleta, algo que aumenta o risco de acidente grave. A rede social impulsiona esse tipo de mensagem, seja para comover o internauta, chocá-lo ou estimular o consumo de produtos relacionados. As seguradoras e empresas de crédito são ávidas desse tipo de informação", explica Laurane Raimondo. 


Na Europa, o montante da venda de dados pessoais, às vezes previsto nas longas listas de condições de utilização publicadas pelas empresas, já teria ultrapassado € 1 trilhão em 2020, segundo o Boston Consulting Group. O scraping, ou raspagem na web, técnica que automatiza a coleta de dados em um site ou aplicativo, é cada vez mais popular. Em abril passado, um banco de dados de 533 milhões de contas e números de telefone de usuários do Facebook vazou ao público. 


Dicas de proteção

Para se proteger de uma invasão de publicidade e até evitar problemas de segurança, a Challenges recomenda aos seus leitores que tenham apenas um perfil no LinkedIn, para uso profissional, com o menor número possível de informações.


Não compartilhar em hipótese alguma dados sobre a saúde de familiares e amigos, muito menos sobre salário e nível de renda.


Em lugar de gigantes da web como Google, Apple, Amazon e filiais do Facebook, dar preferência às redes Mastodon, Signal – considerado um bom substituto ao WhatsApp –, e ProtonMail, que de fato protegem os dados pessois de seus usuários e não têm a venda de informações como modelo de negócio.


A revista sugere ainda aos jovens e pais que assistam às reportagens e documentários sobre o modo de funcionamento das gigantes da web, para que compreendam os riscos e evitem os abusos.

WikiLeaks: tribunal britânico julga recurso americano para extradição de Assange

A justiça britânica vai julgar um recurso de apelação apresentado pelos Estados Unidos, que busca obter a extradição de Julian Assange, fundador do WikiLeaks. JUSTIN TALLIS AFP

Texto por:RFI


A partir desta quarta-feira (27), a justiça britânica examina um recurso de apelação apresentado por Washington para obter a extradição do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, após um pedido inicial ter sido recusado em janeiro. A audiência é crucial para o australiano, avalia o jornal francês Libération, pois Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão caso a extradição seja concedida.

O processo sobre as denúncias do WikiLeaks já dura mais de dez anos. Assange é acusado de ter publicado, entre 2010 e 2011, quase 500 mil documentos confidenciais do Exército americano sobre as guerras do Iraque e Afeganistão, além de 250 mil telegramas diplomáticos e documentos sobre prisioneiros de Guantánamo. A exposição dos dados contou com a colaboração da imprensa no mundo inteiro.


Assange é acusado principalmente de ter “incitado” a militar transexual Chelsea Manning, na época Bradley, a acessar informações secretas e proporcionar os vazamentos de 2010, colocando em perigo fontes da administração americana. A defesa contestou e denunciou, durante o processo, que as acusações eram “estritamente políticas”, lembra o jornal Libération.


No final de junho de 2020, Washington acrescentou novas acusações contra Assange, como a de “conspirar” com hackers e “hacktivistas” para obter dados confidenciais.


Estado psicológico

O australiano obteve uma vitória importante em janeiro, quando a juíza britânica Vanessa Baraitser rejeitou o pedido de extradição aos Estados Unidos. Ela levou em conta um relatório apresentado pela defesa sobre o estado psicológico do fundador do WikiLeaks – problemas de autismo, depressão e tendências suicidas. Para a magistrada, uma prisão de segurança máxima nos EUA poderia piorar o estado mental de Assange.


Sem surpresa, Washington apelou da decisão e conseguiu que o testemunho do psiquiatra que elaborou a perícia fosse reexaminado. No relatório final, o psiquiatra britânico Michael Kopelman não menciona o relacionamento de Assange com Stella Moris, uma das advogadas que se tornou sua companheira, e os dois filhos do casal. Em seu recurso, Washington questiona a confiabilidade de um especialista que testemunhou a favor de Assange sobre a fragilidade de sua saúde mental atual. De fato, o psiquiatra reconheceu que enganou a Justiça ao "ocultar" o fato de que seu cliente se tornou pai durante o período em que esteve na embaixada do Equador em Londres.


A análise da apelação americana, que vai durar dois dias, é um dos últimos recursos de Washington. Se fracassar, restará apenas a Suprema Corte britânica.


Assange continua detido na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste de Londres, desde a sua espetacular prisão na embaixada do Equador, há dois anos. Ele ficou no prédio consular durante sete anos, enquanto a Suécia pedia sua prisão por violência sexual contra duas mulheres. Posteriormente, o processo sueco foi arquivado.


Em meados de outubro, uma coalizão de 25 ONGs, entre elas Anistia Internacional, Human Rights Watch e Repórteres sem Fronteiras, fizeram um apelo para que o governo de Joe Biden abandonasse as acusações lançadas durante o governo de Donald Trump. Mas Washington mantém sigilo a respeito, diz o Libération.

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